Jekyll and Hyde
ShiryuForever94
Categoria: Yaoi, Cavaleiros do Zodíaco, Saga e Shura, MxM relationship, Songfic (Jekyll and Hyde – Plumb)
Advertências: Insinuação de sexo, linguagem imprópria em algumas cenas.
Classificação: R
Capítulos: 2
Completa: [X] Yes [ ] No
Resumo: Amor e razão podem gerar agonia. Escolher nem sempre é algo que consiga fazer.
Beta-reader: Akane Mitsuko
Disclaimer: Esta obra é totalmente ficcional, sem fins lucrativos. Os direitos da obra Saint Seiya são todos de Masami Kurumada.
Jekyll and Hyde
Capítulo UM
O Santuário de Atena estava especialmente quente naquele dia. Cavaleiros andavam por todos os lados, se abanando, suando, lutando, tomando banho, tentando se refrescar. Era o calor do verão da Grécia e beirava os 45 graus.
Nem eram dez da manhã e já havia cavaleiros, amazonas e aprendizes atirados embaixo de árvores, em busca de lenitivo para tanto sol e tanta energia.
Ah, sim, porque em dias como aquele os nervos de todos pareciam ficar tão quentes quanto a temperatura e manter um monte de homens e mulheres treinados para matar quietos e tranquilos era dever realmente para uma deusa.
Era preciso apenas que houvesse uma pequena faísca, um simples mal entendido, e a briga aconteceria.
Dohko de Libra tinha uma teoria a respeito. Eram muito poucas as amazonas, muitos os cavaleiros e por isso, excesso de testosterona num clima quente em que muitos andavam seminus.
Excitação sexual.
Era isso que estava sempre à espreita, a cada luta, a cada choque de corpos, a cada gota de suor nos corpos apolíneos vestidos em togas ou em roupas curtas de treino.
Nos corpos delineados e fortes das amazonas, nos seios e nas cinturas por vezes expostas.
Como deixar de notar homens com mais de um metro e oitenta de altura, perfeita saúde e poder exalando pelos poros? Era provocação extrema, para qualquer um.
As amazonas tinham lutas internas com seus pensamentos nada sacrossantos sobre aquele monte de pecados em formas de gladiadores modernos e rezavam para Atena abolir de uma vez o costume absurdo de elas terem que amar ou matar quem lhes visse o rosto. Pois elas queriam mostrar, e não apenas o rosto, para alguns cavaleiros.
Aliás, para a maioria deles... Pelo menos para aqueles que realmente se interessavam pelas curvas femininas, pois alguns tinham atenção despertada pelos corpos seminus, mas não os femininos.
Os cavaleiros, independentemente de suas orientações sexuais, também tinham sua dose de desejos e vontades insanas. Alguns eram mais calmos e discretos, outros apenas pareciam predadores natos em busca da diversão do dia. Alguns tinham compromissos amorosos desde a adolescência e outros nem sabiam o que era compromisso, fosse com homens ou mulheres. E assim também ocorria com as amazonas.
Naquele dia quente em especial, um cavaleiro arfava desesperado de agonia, tentando controlar seu cosmo e entender o que estava sentindo. Era o calor, só podia ser! Estava tendo uma crise causada pela alta temperatura. Nunca fora de se sentir daquele jeito!
Shura sempre fora reconhecido por ser um homem forte e metódico, plenamente devotado a Atena. Não se deixava abalar por quase nada, era sério e circunspecto nos treinos e somente relaxava um pouco quando saía com os amigos. Só que naquele dia estava zonzo, perdido e muito zangado.
Por que?
Estava se dando conta, a duras penas, que não era indiferente a uma determinada pessoa. Que não era tão forte quanto pensara e que sua mente parecia não obedecer ao que deveria ser o certo, além de que seu corpo e coração pareciam estar tomados por algum feitiço.
Shura estava indignado consigo mesmo. Dentre todas as pessoas, por que ele? Por que não conseguia se livrar daquela sensação, daquele sentimento? Era um inferno em vida suportar aquele homem todo dia e nada poder fazer. Ou melhor, queria conseguir não notar que precisava fazer alguma coisa.
Fazia um ano, ou mais, que haviam sido trazidos da morte pela condescendência dos deuses e ele, Shura, apenas esperava cumprir seu papel e ter uma monótona e calma vida capricorniana em seu templo repleto de história e de honra. Tinha tido lá um relacionamento ou outro, mas não queria mais. Disciplina, concentração e dedicação férrea sempre haviam sido seus códigos de vida.
Mas...
Ele não contava com que, aos vinte e quatro anos de idade, teria que se deparar com desafio pior que vencer o muro das lamentações. Como venceria o que sentia por aquele ser oriundo de algum rio de sangue das prisões do inferno de Hades? Sim, porque aquele homem não podia ser algo além de uma assombração! Como iria ignorar?
Como?
Shura agora subia correndo as escadas que o levariam a seu templo. Tal como todos por ali, usava uma toga curta, sandálias de couro e cinto. Do que corria? Do que fugia? Da realidade de que não era tão poderoso quanto pensara. Não perto "dele".
Tudo correra bem até que "ele" começara a se aproximar. E agora, num dia escaldante como aquele, Shura chegara à beira do precipício ao descobrir que não era fácil passar incólume pela atenção de Saga de Gêmeos, pelo charme dele, pelo sorriso debochado e sincero ao mesmo tempo.
Justamente um homem tão métodico e afeito a tradições como Shura tinha que ter reparado "demais" no homem mais misterioso e cheio de enigmas do Santuário? O fogo que queimava dentro da roupa de Shura tinha uma explicação. A culpa era do geminiano!
A vida de Shura estava programada e perfeita. Só que, nada podia ser planejado quando se tratava de Saga de Gêmeos, um homem que parecia não ter um único dia de rotina em toda a existência!
Mas, o que mesmo perturbara tanto o capricorniano? Ah, a toga. Claro que Saga não podia usar uma toga normal, ou não seria Saga. Havia tão menos pano no corpo do grego geminiano que Shura quase cuspiu a água que bebia na hora em que ele chegou.
O espanhol estava acostumado a ver seus companheiros todos os dias, muitos usavam togas, nada demais. Só que Saga não. Ele não apenas usava uma toga, ele a moldava no corpo perfeito, deixando os longos cabelos louros correrem por seu peito nu como se fossem uma faixa. E o comprimento? Não dava para ser MAIS curta? O que eram as coxas fortes cobertas de pelos aloirados que apenas chamavam mais atenção? Os punhos firmes do cavaleiro adornados por pulseiras de couro marrom que ele punha para... Shura não sabia para que! Para deixá-lo doido? Imagens alopradas de correntes e couro permeavam a mente de Shura com frequência assustadora.
E o olhar entre sorridente e tarado aloprado que recebera do geminiano não havia melhorado em nada a situação de calor interno e externo de Shura.
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Não haviam trocado palavra, nem era preciso. O olhar muito azul e fulminante do cavaleiro da terceira casa haviam sido suficientes para despertar toda a libido há muito esquecida do capricorniano com fama de "certinho".
Shura acabara de terminar seu relacionamento atribulado com o maníaco assassino chamado de Máscara da Morte. Se é que seis meses era ter "acabado de terminar". No entanto, não estava procurando nada, com ninguém, muito menos com o louco do Santuário!
Shura sabia diversas histórias, todas verídicas, daqueles que porventura, ou azar, se apaixonavam por ele. Sabia do quanto ele era envolvente, atencioso e meigo. Enquanto queria. Saga prezava a liberdade, tinha a risada mais impressionante do Santuário e o porte de um Deus. Por isso era assediado por amazonas, cavaleiros e até mesmo por pessoas comuns, quando saíam vez por outra para Rodório ou outro lugar.
O cavaleiro de capricórnio prometera a si mesmo que não daria chance a um louco daqueles. Até que se pegara reparando nos treinos de Saga, há três meses.
Não sabia o motivo, se era a implicância inesgotável do geminiano para com seu jeito sério de portador da excalibur, ou se era porque Saga parecia adorar ficar perto dele, Shura, mesmo que em silêncios infindos.
Saga era ótima companhia e Shura estava começando a gostar demais disso. E lá se haviam ido mais dois meses até um dia em que Saga perguntara diretamente se Shura sentia alguma atração sexual por alguém no Santuário.
O capricorniano pensara seriamente em apenas partir a cara do intrometido guarda da terceira casa do Santuário, mas não podia fazer isso. Do ponto de vista de Saga, era uma pergunta pertinente.
Flashback
"Ah, Shura, fiquei sabendo que o Shaka está arrastando asas e bunda para o meu irmão. Nunca imaginei aquele indiano sendo fogoso, mas pelo visto, eu estava enganado."
"Saga, a vida sexual alheia não é da minha conta." Shura murmurara enquanto vertia água de uma moringa nos dois copos embaixo da árvore ao lado da Arena.
"Será que se eu me passar pelo Kanon consigo um test-drive com o loiro? Nunca pensei em Shaka como parceiro sexual, ele é muito cheio de manias, mas quem sabe, vai ver é falta de um bom isqueiro."
"Como é que é?" E quem disse que Shura entendia a mente daquele desatinado?
"Ué, sexo é combustão, é entendimento, vai ver o que falta para acender o fogo do virginiano seja um bom fósforo ora."
"E você é um fósforo?" Shura viu-se forçado a esboçar um sorriso. Aquele homem era completamente imprevisível.
"Não sei, eu sou? Aliás, quem é um fósforo para você, Shura? Alguém te faz acordar de pau duro?" O olhar imensamente azul, o meio sorriso escrachado, os cabelos ao vento. Lindo era pouco para se descrever Saga de Gêmeos.
"Saga! Deixa de ser indecente!" Shura engolira a água toda de uma vez, reparando nas coxas enormes e firmes do seu companheiro. Melhor pensar em árvores... Árvores que muitas vezes não tinham a grossura do tronco de Saga... Grosso... Não! Tinha que pensar em outra coisa!
"Indecente por que? Por acaso você nunca transou na vida? Ou só pegou mulheres? Se bem que, era namorado do Máscara da Morte. Aliás, bom gosto você tem, que pernas e que bunda aquele homem tem. Eu pegava fácil."
Shura parou com o copo no meio do caminho. Saga era maluco! Louco! Psicopata! "Nunca saiu com Máscara da Morte?" Shura quis saber achando totalmente doido o rumo daquela prosa embaixo de uma árvore, depois de um treino, como se fosse muito natural falar de com quem seus amigos iam para a cama...
"Eu? Não. Vocês começaram a namorar dois meses depois que renascemos. Eu não dou em cima nem me interesso por homem alheio, Shura. Posso ser meio oscilante, talvez bem humorado demais umas vezes e um tanto seco outras vezes, mas respeito o coração e corpo dos outros."
Shura ficou calado e os olhares se encontraram. Havia uma sinceridade bonita naquele homem. Sem citar a virilidade estampada no queixo marcado, nos lábios masculinos e no olhar dominador. Pela primeira vez em algum tempo Shura se viu sentindo o coração acelerar por conta de um simples olhar.
"Então, me conta, Shura, tem vontade de transar com alguém do Santuário ou vai virar celibatário depois que o Máscara da Morte se foi? Seria um desperdício, você sabe."
Shura corara tão intensamente que agradeceu o calor escaldante. Desperdício? E, como assim se ele tinha vontade transar? Ora, quanto atrevimento! "Sou um homem normal, gosto de sexo."
"Sei..." Saga se levantou e caminhou lentamente até Shura, seus um e oitenta e oito de altura parecendo ainda maiores pelo olhar firme. "Como gosta de sexo, Shura? Apaixonado? Lento? Meigo? Selvagem? Sabe que pode me contar o que quiser."
Shura não conseguia sustentar o olhar daquele homem. Era demais para ele. O cheiro inebriante de Saga, a presença poderosa, os músculos aparecendo com a toga justa, os fios loiros esvoaçando por todos os lugares.
"Não falo de minha vida sexual, Saga." Shura deu dois passos para trás, procurando ar. O cosmo do grego era... Asfixiante de tão poderoso, inebriante de tão honrado, sedutor de tão quente. Era como seduzir à distância e Shura não havia sentido nada daquilo antes. Nem com Máscara da Morte.
"Tudo bem, não precisa falar, apenas ponha em prática. Eu vou indo. Quando quiser conversar, eu estou sempre à disposição."
Fim do Flashback
Rememorando a conversa, um calafrio subiu pela coluna dorsal de Shura. Sempre à disposição... Era muita tentação num único homem.
Não queria admitir, mas a presença de Saga o perturbava num grau que ainda não experimentara. E era tão errado. Não podia! Sabia que Aiolos estava apaixonado por Saga e apenas esperando o momento certo para se declarar.
E ele, Shura? Não pensava em ninguém, estava bem do jeito que estava. Ou não mais. Era uma tortura diária pensar se havia algo que deveria fazer, se podia pensar em Saga como alguém por quem se apaixonar. Se devia se apaixonar. Questionamentos demais para quem apenas programara a vida para ser calma e pacífica. E o "jamais me apaixonarei por Saga" não era mais verdade para Shura.
Shura seguia observando Saga treinar, com suas MALDITAS togas justas e curtas e recortadas. Com seus perfumados cabelos rebrilhando ao sol, com o olhar que lhe dirigia um sorriso de encorajamento vezes sem fim.
E ele, Shura? Claro que jamais pensara em Saga daquele jeito. Estava começando a pensar nele de todos os jeitos. Todos os dias. Era desesperador!
Capricórnio apenas prendia seu olhar ao corpo perfeito de Saga quando treinavam juntos e também quando treinavam separados. Sentia um ciúme inexplicável das longas conversas que ele tinha com Camus ou com Milo e se via bebendo muito mais água que seria aconselhável apenas porque Saga sentia muita sede e ia beber água o tempo todo.
E Shura ia atrás. Como se não fosse nada além de coincidência. E conversavam por algum tempo, trocando ideias sobre treinos, sobre a vida...
Saga era fascinante. Inteligente, forte e, para assombro de Shura, tinha um coração até dócil, sempre buscando o melhor para todos, fosse no Santuário, fosse em Rodório.
De todos os cavaleiros que conhecia, e Shura conhecia todos, Saga era o único que o fazia rir sem reservas, que o fazia destrancar seu lado mais alegre e comentar fatos que jamais comentaria com outro.
De tantos amigos e namorados, Shura jamais se vira pensando tanto em alguém e lutando contra o que pensava, sentia e queria.
Aiolos era seu amigo! Não podia se apaixonar por Saga! Não combinavam! Iam se matar, iam se magoar, se odiar, brigar para sempre...
E, no entanto, por mais inusitado que eles fossem como casal, Shura não parava de pensar em como seria ao menos uma vez se deixar levar, no estilo próprio de Saga, sem pensar em nada mais, sem medir consequências, sem ficar dez dias analisando se era certo ou errado.
Saga era liberdade. Era uma vastidão de pensamentos e ideias, de sopros de ar num mundo sem oxigênio e uma sabedoria que poucos homens, e até mesmo deuses, teriam.
Shura estava apaixonado. E não dormia de puro pavor de constatar que estava começando a sofrer de amor... Revirava-se na cama lembrando todas as conversas, os olhares, os comentários ácidos e por vezes intrigantes que Saga fazia.
Nunca percebera nada demais por parte de Saga, nenhum tipo de demonstração de que ele poderia estar interessado. Eram amigos, colegas, companheiros de armas, apenas isso. E o loiro era um sedutor nato, aquele que agradava a todo mundo, fazia todos felizes e Shura não tinha como saber se eram apenas brincadeiras as vezes em que Saga o chamara de gostoso.
Ou desejável. Ou encantador. Tantos adjetivos que eram ditos a meia voz, apenas para ele, Shura, em qualquer ocasião que Saga achasse interessante. Shura não era de se deixar levar facilmente, não era nada. Apenas estava... Curioso.
Não.
Impressionado. Só isso.
Então, por que a sensação de vazio quando o geminiano ia embora?
Por que?
Continua.
