Anjo de Gelo
Colocando
Buracos Na Felicidade O céu estava loiro como ela Modos
de fazer a pequena satisfação
desaparecer (refrão) Colocando buracos na felicidade Mas você veste bem a sua ruína (refrão)
Era
dia de tirar a criança de si e atirar nela
Eu poderia
enterrar todos os meus mortos na cabeça sepulcral dela
Ela
tinha palavras feias de bruxaria
Eu estava no fim profundo de sua
pele
Depois, tudo parecia como um carro destruído
Mas eu
sabia que era uma tragédia desagradável
Apague as velas em todos os
meus Frankensteins
Pelo menos meu desejo de morte se
realizará
Você tem o sabor de um dia dos namorados e
nós choramos
Você é como um aniversário
Eu
deveria ter pegado a fotografia
Duraria mais tempo que
você
Nós
pintaremos o futuro de preto
se precisar de alguma cor
Minha
sentença de morte é uma história
Quem estará
cavoucando
quando finalmente você me deixar morrer?
O
romance do nosso assassinato
Se você é Bonnie, eu
serei seu Clyde
Mas a grama é mais verde aqui e
Eu posso
ver todas suas cobras
Por
favor, corra comigo para o inferno.
Apague
as velas em todos os meus Frankensteins
Pelo menos meu desejo de
morte se realizará
Você tem o sabor de um dia dos
namorados e nós choramos
Você é como um
aniversário
Eu deveria ter pegado a fotografia
Duraria
mais tempo que você
Putting Holes Happiness – Marilyn Manson
O frio era cortante, algo comum naquela época do ano, era demais naquele dia, o vento cortava a pele e a dor se tornava insuportável, ele estava ali parado tentando controlar a respiração, sentado sobre as gramas verdes e amassadas de uma das áreas do quintal da casa.
Não importava, nada importava realmente, ele segurava o braço tentando lembrar de ser forte, que era tudo o que ele precisaria aquele ano. Ele inclinou a cabeça para trás, e tentou com todas as forças não gemer, passou os dedos pelos braços encontrando os espinhos cravados na pele, olhou de novo para eles, estavam cravados em sua carne até a metade, devia ter dezenas deles ali no braço. Em torno do pulso a pele branca estava arroxeada.
Ele tirou o primeiro espinho, olhando para ele, sentindo sua dor como uma necessidade quando deixou que ele caísse no chão, mantendo apenas o sangue e um pequeno furo.
- Porcaria. – exclamou algo que para ele seria um palavrão máximo se ao menos o outro que o caçava tão deliberadamente e com razões para tal, o ouvisse, então teria problemas.
A respiração ficou maior, mais pesada, como se o ar estivesse congelando a sua respiração. Ele apertou os olhos e virou o rosto para não ver os dedos que começavam a puxar espinho por espinho de seu braço, a pele toda furada e a dor era forte demais, era aquela dor irritante e ardida que incomoda.
Ele não ouviu seus passos, ele apenas abriu os olhos e o viu ali parado, a varinha de madeira escura na mão erguida apontando diretamente para ele, e o medo de ser atingido novamente o fez se levantar rápido.
- Pai, chega, estou cansado. – disse mais como uma súplica do que qualquer outra coisa, o olhar sobre si era severo, quase inexpressivo, chegando a ser um olhar cansativo e tedioso.
- Draco, enquanto não conseguir bloquear os meus ataques com feitiços mudos não vamos sair daqui. Não importa que esteja cansado, eu não ligo se esteja doendo, apenas concentre-se e me obedeça.
O garoto soltou todo o ar dos pulmões e apontou a varinha ao pai tomado de uma nova coragem estranha. Ele tentou se concentrar, mas logo sentiu as costas baterem no chão, o feitiço escudo tinha saído mais forte do que ele realmente esperava.
Ele apoiou os cotovelos da terra, já estava sujo e cansado, e se levantou dominado por uma raiva estranha, uma vontade de gritar, talvez de bater no outro, mas respirou fundo, ele precisava controlar sua fúria, precisava abrandá-la até o nada para agir meticulosamente e friamente.
Os olhos cor de gelo se acalmaram, ele relaxou as sobrancelhas claras e o vento sobrava seus cabelos quando ele riu, poderia ser a loucura o dominando? Talvez a dor e a exaustão, não sabia, mas ele gostou de rir um pouco, ele gostava de provocar, o outro lhe lançou um olhar intrigado.
- Isso é ridículo, vamos aprender isso na escola talvez no quinto ou no sexto ano. – disse com calma. – Esta perdendo o seu tempo Lucius.
- O que disse Draco? – a voz era gelada e a sonoridade causaria medo em qualquer um, mas que Draco já estava absolutamente acostumado, então passou a mão pelos ferimentos do braço, tirando um pouco do sangue que tinha ali. Mas o fato é que a voz do pai mais lhe irritava do que lhe dava medo.
- Isso mesmo que você ouviu. – disse com um leve tom de provocação. – Que eu poderia estar aproveitando a merda das minhas férias enquanto você esta tentando fazer com que eu aprenda algo sem sentido que eu vou ter só no sexto ano.
O pai sorriu também, mas era um sorriso do qual ele absorvia as provocações mimadas do filho. Aproximou-se mais de Draco, o garoto tremeu, mas não saiu do lugar, não moveu um só músculo quando o pai lhe acertou com um tapa no rosto com as costas da mão.
- Quem você pensa que é para falar assim comigo Draco, sou seu pai. – disse cuspindo, como se ser o pai do outro fosse apenas ter um herdeiro com o seu sobrenome mais nada. – Não lhe perguntei sua opinião sobre o treino e nem se gostaria de fazê-lo, estou apenas ordenando que me obedeça.
Draco sentiu o rosto quente, mas aquela dor era insignificante para ele, tinha sofrido dores piores naquele treinamento maldito que o pai o estava submetendo.
- Você esta com raivinha do seu plano frustrado do segundo ano, esta com raivinha por que Sirius Black fugiu da prisão e os planos do "seu" amado Lord estão dando errado e fica descontando em mim, acha gostoso ficar tacando magia das trevas no próprio filho? Seu pai fazia isso em você quando era um estudante de quarto ano?
Ele se calou logo depois de suas palavras serem proferidas, o pai não se moveu, ele apenas ergueu a varinha mais alto, sem demonstrar a raiva pelas palavras de Draco, sem nem menos alterar a voz.
- Petulante. – começou e nesse ponto, Draco sentiu uma dor interna que o fez curvar lentamente o corpo para frente, os cabelos cobrindo o rosto enquanto ele começava a morder os lábios para conter, como tinha aprendido. – Se entregando a dores meramente humanas?- disse e a dor apenas cresceu em seu corpo.
Ele sentiu o corpo começar a perder a força, fez um sacrifício de levantar a varinha com os dedos, os músculos do corpo todos rígidos, um corte se formando nos lábios, ele sentiu o sangue sair do nariz leve e quente. Antes do joelho direito despencar com um baque surdo no chão.
- Você é fraco Draco, e devia me agradecer por estar ensinando a você como ser forte. – disse e então a dor cessou, ele continuou tremendo no chão.
Levantando os olhos e encontrando um manto vermelho sangue, algo como um longo vestido arrastando no chão, mas ele procurava respirar, pouco importava quem tinha parado com aquilo.
- Suas palavras não me afetam Draco, devia saber disso antes de ter começado com esse discurso ridículo. – a voz do pai se fez ouvir e logo ele viu ainda no chão a capa negra deixar o local.
Relaxou o corpo antes tenso. Ele viu a pessoa na sua frente se aproximar e ajuda-lo a levantar. Os cabelos perfumados tocaram seu rosto enquanto ele procurava se apoiar nela para ficar em pé.
- Venha Draco, chega por hoje, vamos cuidar disso.
Sua voz era suave, ele pensava que a voz da mãe poderia ser equiparada à voz de uma veela. O calor vindo do corpo dela era bom, era especial, ele foi levado para dentro e não havia nem sombra de seu pai na casa, foi levado para o seu quarto.
O carpete branco era a única coisa clara no quarto, os móveis eram escuros e o quarto tinha bastantes espaços vazios, estava levemente escuro, iluminado com um pouco de luz que entrava pela fresta da cortina pesada de veludo negro que cobria as janelas. A cama era grande e espaçosa, extremamente confortável.
Ela o levou até a cama, e só ai ele percebeu o seu cansado de um dia inteiro de treinamento com o pai e seu pai nem apresentava cansaço. Ele se sentou na cama, era extremamente macia, cedeu ao seu peso quando ele sentou. Ele afastou a mão delicada da mãe de seu rosto, que ainda estava manchado de sangue.
- Deixe isso mãe. – disse ele após tirar as mãos dela, ele estava se controlando para não sorrir ao gesto da mãe, ele sabia que a mãe sempre era por ele.
- Que foi? O meu garotinho esta velho demais para deixar que eu cuide de seus machucados?
Ela se abaixou na frente dele, as mãos nos joelhos, ela olhava com o rosto sério para o filho, com uma sombra de um sorriso se formando nos lábios, ele passou as mãos nos cabelos os ajeitando para trás, tirando os fios loiros do rosto.
Ele sentia o corpo pedir uma chance de ficar sozinho, ele queria a escuridão e se sentir seguro, ele queria sentir o calor de seu corpo se formando em baixo dos cobertores, ele sentia a pele dormente por causa do frio.
Ele era frio com a mãe, e logo lhe pareceu um pouco injusto, não que ele quisesse e fizesse de propósito, era muito diferente que isso, ele apenas não sabia como reagir, como se relacionar, era muito diferente para ele, parecia que ninguém seria melhor que seu eu interior. O pai agia assim com ele, como se os humanos não precisassem de relações mais humanas, como se a vida fosse um grande negócio.
Então ele supria todos os poucos sentimentos que tinha, os que demonstravam eram nada mais que superficiais, ele era um ator que gostava de representar e a vida o seu palco.
Ele passou os dedos pelos lábios, ainda havia sangue ali, como o seu pai tinha coragem de usar um cruciatus nele? Parecia que seu pai era frio a ponto de não tocar no filho nem para castigar.
- Não precisa mãe, não estou com dor nem nada, só quero dormir um pouco. – responde e de fato ele não foi frio nem nada.
- Se precisar de mim chama, e eu venho correndo. – disse ela e então sorriu, nada poderia tranqüilizar mais do que aquele sorriso, ela se levantou e passou os dedos pelos cabelos de Draco e saiu.
Ele ainda sentia um arrepio no lugar que a mãe tocou quando se deitou na cama, se entregando ao sono, a fresta iluminava um pouco o seu rosto.
Ele nem sequer tirou a roupa que estava em seu corpo, totalmente conspurcada. Que os lençóis se sujem, ele pensou com uma leve excitação de quem faz arte.
Sua mente estava vazia, ele não se deteu em pensar antes de dormir, em ter aquela conversa interior que tinha sempre enquanto era dominado por uma insônia freqüente. Ele conversava consigo mesmo, às vezes se entendia outras vezes não.
Quando acordou era a manhã do dia seguinte, ele nunca havia dormido tanto na vida, seu corpo estava todo dolorido, e ele percebeu que estava sem os machucados do braço, e sabia o que tinha acontecido, Narcisa esperou que ele dormisse para cuidar dos seus ferimentos.
Ele foi para o banheiro do quarto, era todo de mármore negro, com uma banheira de canto rodeada por espelhos que tinham nos cantos desenhos de veelas e sereias. Ele abriu todas as torneiras da banheira, algumas delas soltavam um liquido verde e outras um azul anil.
Ele se despiu, os movimentos faziam seu corpo doer, e sentia um vazio por dentro como se nada tivesse real significado, ele era maior do que aquela mera dor no corpo, de fato achava até prazeroso senti-las, assim poderia ter certeza de que estava vivo.
Ele sentiu vontade de chorar, mas essa vontade lhe causou uma estranheza, ele nunca havia chorado, não sem motivo, ele via o choro como uma arma desde que era pequeno, se você quer que seus pais lhe dêem as coisas, fingir um choro impertinente e vergonhoso na frente dos outros podia adiantar.
Entrou dentro da banheira e se banhou, logo não tinha mais aquelas dores, ele sentia-se plenamente relaxado com aquele cheiro bom de ervas finas. Depois que tomou o banho relaxado de horas, pensando no novo ano na escola, e que queria voltar para lá, por que esse ano teria uma coisa especial, seria no dia seguinte às 11 horas, finalmente Hogwarts.
Vestiu uma roupa simples, calça de couro de dragão preto, uma camisa de gola alta e mangas longas e botas. Assim esconderia a evidencia de que sua mãe o teria ajudado, por que assim o pai lhe daria um pouco de sossego, e sentou-se a grande mesa da sala de jantar, era uma mesa longa de madeira decorada, havia uma lareira na parede escura e um longo lustre de cristal no meio, além, claro de candelabros espalhados com velas que nunca acabavam iluminando o lugar.
Seu pai estava na ponta da mesa como sempre, havia frutas e todo o tipo de coisa para se comer, porém Draco não tinha fome, a mãe estava sentada no lado esquerdo do pai, comendo tortas de abóbora, e assim que Draco sentou, ela lhe empurrou um envelope.
- Sua carta chegou essa manhã, já compramos o material, então faça as malas essa noite, para não termos problemas amanhã.
- Sim.
Ele nem se deu ao trabalho de abrir a carta de Hogwarts, olhou para a mesa procurando alguma coisa que lhe chamasse a atenção e logo encontro, pegou um copo de chocolate quente apenas. E continuou ali com o silencioso café da manhã em família até que o pai lhe permitisse sair da mesa.
o0o
O chão tremia sob seus pés, ele gostava daquela sensação, estava de costas para a porta da cabine do expresso Hogwarts, a cortina estava fechada, ele olhava diretamente para a janela, tirou as luvas das mãos e depois se desfez da camisa, a suas costas Goyle e Crabbe se trocavam também, ele vestiu a camisa social branca e colocou a gravata apenas se atreveu a deixar a calça de pele de dragão negra.
Ouviu a porta se abrir e um cheiro doce no ar, agora o grupo estava completo, ele deixou um sorriso desenhar seus lábios, um meio sorriso fraco e simples, nada mais que um enfeite.
Ele se virou e viu Pansy Parkison caminhar até si, ela ajeitou a gravata verde e espalmou a mão em seu peito assim que terminou. Ela raspou as unhas ali e por fim tirou as mãos cruzando os braços.
- Soube que já teve uma discussão com o Santo Potter hoje? – perguntou.
Ele sorriu e se sentou no banco da cabine, Crabbe e Goyle estavam sentados olhando aflitivamente para a porta, esperando pelo carrinho de doces.
- Nada demais, apenas o de sempre, não posso culpá-lo, afinal andando com aquela gente é de esperar que fique agressivo. – disse com calma, e Pansy sorriu. – Afinal não é exatamente assim que os animais agem?
- Nossa Draco, você devia ser indiferente a coisas assim e não se irritar. – disse ela com calma em resposta ao que ele disse, ela cruzou as pernas expondo as coxas grossas pela saia curta.
Draco olhou o todo que formava Pansy, a achava tão vulgar e tão metida, mas no fundo ela era divertida, ele gostava dos comentários na hora certa e ela parecia ter um pouco mais de cérebro do que suas duas outras companhias que nem ligavam para conversa ainda esperando sedentamente os carrinhos de doces.
O que sabia é que ela era o tipo de mulher que ele nunca iria olhar, vamos aos fatos, ele não se imaginava tendo romances com ninguém, talvez até saísse com algumas pessoas, mas prazer para ele era uma coisa tão banal, que ele chegava mesmo a não gostar às vezes.
O fato é que gostava de ter Goyle e Crabbe como seguranças, e a amizade que tinha mesmo era com Pansy, apesar de uma amizade estranha e interesseira, ele só andava com ela por ela ser uma Parkison e ela por ele ser um Malfoy, nada mais, nada de muito profundo.
Ele tinha mudanças de humor constantes, às vezes simplesmente ficava irritado como ali, como agora, e sentia vontade de sair e ficar sozinho, não que ele não gostasse de Pansy e sua companhia, talvez era a que ele mais gostava.
Mas ele sabia separar o que pensava em relação a si do que pensava em relação aos outros. Ele começou a se questionar o porquê ele tinha que andar com pessoas ao seu lado, só para se assemelhar ao Santo Potter e seus amigos?
Ele sentiu vontade de gritar por causa daquele pensamento infame, ele nunca iria querer se parecer com o outro, e essa era a única certeza que tinha na vida.
- Não acha que sua implicância com Potter passou do limite normal aceitável para um "não gostar"? – perguntou Pansy cortando seus pensamentos.
- Não acho. – responde ele, era uma resposta curta e grossa. – Nunca parece o suficiente.
- Não que eu não goste quando você fala as coisas para ele, acho divertido, mas sei lá, acho que você precisa de distração, por que não esquece Potter por um tempo, teremos o torneio tribruxo esse ano.
- Ah claro. – subitamente ele pensou que talvez o que Pansy queria era mais a atenção dele, talvez ela não fosse tão indiferente a ele quanto ele era em relação a ela.
Ela se levantou e se sentou ao seu lado, seu perfume era enjoativo para ele, o trem balançava demais ele começava a sentir o seu estomago revirar.
- Não quer dormir um pouco Draco? – perguntou, e ele fez que sim.
Ela o trouxe para o seu colo, ele deitou a cabeça nas pernas dela esticando as pernas pelo banco vazio. Ele tinha uma relação de prazer e ódio com Pansy, essas eram as palavras certas, ele fechou os olhos enquanto ela começava a deslizar os dedos pelos seus cabelos com calma. Ele sabia que não iria conseguir dormir ali, ele sabia que Pansy queria mais do que ele podia dar, ele sentiu o corpo dela tocar o seu braço, enquanto ela se curvava para ele, os cabelos lisos e curtos tocaram seu rosto.
Ele sentiu os lábios doces dela em sua testa, uma leve pressão sendo feita, arrepiando o seu corpo o fazendo abrir levemente os olhos. Ela estava perto dele, ele sentia a respiração dela perto, os narizes chegando a roçar um no outro de tão próximo e naquele momento ele pensou que ela não era toda indesejável, sua pele tinha um aspecto macio, era branca, e os cabelos negros fazendo um quadro bonito.
O rosto era redondo e parecia levemente como uma boneca, não sabia por que nunca a tinha visto assim, tão de perto. A porta foi aberta e ele viu Pansy se afastar como se tivesse levado um choque, era a mulher do carrinho de doces. Ele sorriu para Pansy e se levantou, viu com desagrado Goyle e Crabbe se encherem de doces e depois resolveu sair da cabine.
Ele começou a andar, alguns alunos o olhavam com desejo outros com curiosidade e também tinha os que o olhava com certo medo desviando-se de seu caminho, ele tinha as mãos balançando ao lado do corpo depois de ter colocado a capa presa ao pescoço ele continuou andando sem se importar.
O rosto era impassível, ele poderia ser quem quisesse, poderia ser simpático ou continuar com aquela pose fria e superior, ele gostava que as pessoas o vissem como o Sonserino malvado, saiu para o pequeno espaço aberto na ponta do vagão.
Ele olhou ali para os trilhos no vão entre um vagão e outro, ele olhou a sua volta, o céu estava claro ainda, talvez fosse chover, estava com aquele clima de chuva.
Logo ele estava ali, os cabelos cheio de pontas rebeldes apontando para todos os lados, os óculos de vidro dando um ar límpido aos olhos estupidamente verdes, o rosto era branco e o cabelo preto, seus lábios tinham um sorriso simpático e verdadeiro, um sorriso que Draco nunca conseguiria dar em vida.
Ele voltou a olhar para os trilhos, indiferente ao perfume amadeirado que desprendia do corpo do outro, algo parecido com flores selvagens. Ele riu um pouco, riu alto e ouviu o som da sua voz, uma melodia lunática.
- Por que me odeia tanto Draco? – a voz era suave, e ao mesmo tempo tinha uma masculinidade que ele desconhecia, aquele tom de voz chegava a ser erótico. Diferente da voz cuspida cheia de mágoa de sempre.
Ele se pegou desenhando o rosto do outro na mente, as pequenas covas que se formavam ao lado de seu rosto quando ele sorria. A forma como os seus olhos brilhavam, e pareciam ter sido pintados com tinta a óleo. Era magro e delicado como uma garota.
- Não odeio você, apenas não sinto nada. – disse com calma, dando um tom indiferente às palavras, era mais fácil se não estava olhando naqueles olhos perturbadores. – Sou indiferente a você, e isso é a pior coisa que poderia acontecer, não é?
- Talvez você queira ser, mas na verdade não é. O que quer de mim Draco? Será que as respostas estão dentro de você e não quer enxergá-las?
- Não, claro que não, eu não sinto nada, sou incapaz de sentir alguma coisa. – disse ele agora se voltando para o outro encostando as costas no ferro do trem e o encarando, enfrentando e sustentando o olhar verde sobre si.
O outro não respondeu, apenas caminhou segurando seu rosto com as mãos macias, o perfume lhe invadiu a mente e ele fechou os olhos entreabrindo os lábios. Sentiu o seu corpo se aproximar de si, sentiu que o tocava.
- Harry... - disse e toda aquela sensação boa desapareceu quando ele abriu os olhos encontrando os trilhos frios do trem e se vendo sozinho naquele lugar.
Um vazio por uma cena que não passará de uma ilusão de sua mente, uma peça de sua mente contra si. Ele riu daquilo, não se deixaria levar por sentimentos banais como aqueles.
A porta foi aberta, dessa vez era uma pessoa de carne e osso, não seu eu interior aprontando com ele, era Pansy Parkison.
- Vim chamá-lo para comer, vão servir o jantar logo.
- Não estou com fome Pansy.
- Mas precisa comer.
- Estou com enjôo. Sabe como essas viagens de trem me deixam.
- Vamos e eu te dou uma poção para melhorar. – disse.
Logo estavam sentados no vagão comendo, ele ao lado de Pansy com Goyle e Crabbe a sua frente, os dois comiam como porcos e isso só tirava mais ainda o apetite de Draco, ele comia um pouco de salada de ameixas secas, e tomava suco de abóbora.
- O que estava fazendo lá sozinho Draco?
- Nada demais Pansy, estava ruim e precisava de um pouco de ar fresco.
- Toma aqui a poção. – disse ela empurrando um frasquinho rosa para as suas mãos, e aquele simples toque lhe causou um choque estranho.
Ele sabia que ela havia trazido com o propósito de estar precavida, ela fazia isso desde o primeiro ano em Hogwarts. Ele sentia a salada gelada nos lábios, e depois pousou o garfo começando a tomar a poção, e o enjôo foi abolido rapidamente, ele sentia agora um sono leve, e sabia que dormiria o resto da viagem depois do jantar.
Obrigado Pansy. – disse ele devolvendo o potinho à dona, Crabbe olhou para ele e depois comentou.
- Draco, o que é isso no seu braço?
Ele baixou o olhar para o pulso que estava à mostra, para Crabbe devia ser tudo braço mesmo, ele não sabia o que era pulso, cotovelo e mão. Puxou a blusa incomodado, fechando ali a mancha preta que era a única coisa que sobrou dos treinamentos com o pai.
- Não é nada demais, só um treinamento que deu errado.
- Quem diria que meu Slytherin gostava de treinar em casa. – comentou Pansy com um toque de desconfiança.
Draco se se encostou ao banco e depois de todos comerem e a mesa sumir bem como os pratos e o que tinha sobrado de comida, claro que do seu prato e do de Pansy, ele deitou de novo no colo da morena e simplesmente apagou.
o0o
Ele corria por um corredor escuro, as paredes de limo verde eram fétidas, ele corria mais até seu corpo doer, até a boca ficar seca e o coração bater mais rápido, o joelho dava pontadas reclamando do exercício forçado. As lágrimas eram pesadas, ele sentia e ouvia o coração bater.
Ele correu até chegar a um lugar vazio, até encontrar uma parede e começar a raspar os dedos nela, tateando as pedras soltas e escorregando os dedos no limo verde da parede.
Ele bateu o rosto ali, ele ainda chorava e sentia o corpo tremer por frio.
"Quem é você de verdade? Quem sentiria falta de você?"
Ecos em sua cabeça, ela doía e pesava, ele queria e precisava fugir, ele precisava sangrar, ele precisava sentir que estava vivo mais uma vez, ele precisava de mais dor.
"Acabar com a dor logo... Morrer...".
Não, ele não queria aquilo, ele só precisava da dor, da dor saudável e gostosa, ele precisava fazer as vozes pararem em sua cabeça, mas elas continuavam misturadas ao mesmo tempo, diferentes ecoando como uma maldição.
"As pessoas mentem você é dispensável."
"Estão com você por que seu pai tem o prestígio do Lord, se o prestígio acabar, você acaba."
"Não significada nada mais do que um nome famoso no mundo dos bruxos."
"Você quer o que ele tem. Você o quer Draco, por que é diferente de tudo o que você provou, ele é bom."
"Não toque nele, você é sujo, vai sujá-lo, ele não quer isso, olhe para você, não pode ter, ele vai negá-lo mais uma vez."
Ele chorava com força, ele sentia seu corpo todo doer, ele queria fazer as vozes pararem, ele começou a esfregar os dedos na cabeça, fazendo com que as vozes parassem, começou a gemer enquanto fazia isso, como se isso as impedissem de voltar.
- Para, chega, não quero mais ouvir.
Disse e se levantou, voltou a correr, fugir de si mesmo, do desespero que o tomava, da dor, dos dedos sangrando e das vozes acusadoras que tinha dentro de si.
Ele se deitou a um canto do corredor, era úmido ali, ele se encolheu como um feto no ventre da mãe, ele se encolheu e quando deu por si mordia os lábios, e arrancava todas as cascas de seus machucados, eles tornavam a sangrar, ele sentia ali arder quando o sangue escorria.
Era uma dor interna, uma dor que ele não poderia explicar, a dor de estar sozinho, ao mesmo tempo em que pessoas o rodeiam e o admiram. Uma vontade de morrer, mas a falta de coragem para acabar com tudo, sabendo que todos ficariam melhor sem ele, um egoísmo.
E depois venho à dor lenta e calma, aquela mais conformista, aquela que o fazia sentir como se estivesse morrido dentro do próprio corpo. Ele se levantou com calma, seu corpo ainda tremia, mas ele estava sério.
As vozes tinham parado deixando um zunido no ouvido. Ele se encostou à parede e abraçou os braços de frio. A dor ainda existia, mas ele agora não a sentia mais, tinha retomado o controle.
o0o
Quando acordou tinham chegado a Hogwarts, ele ainda sentia aquela sensação de vazio do seu último sonho, ele ainda sentia aquela tristeza conformista quando saiu com Pansy, calado enquanto Goyle e Crabbe conversavam animadamente sobre o Durmstrang e o torneio tribruxo, eles seguiram para o castelo.
Toda aquela apresentação dos alunos foi excelente para Draco, claro que ele adorava a escola de magia da Durmstrang, assim como todos os alunos da Sonserina, logo depois ele estava sozinho com Pansy na sala comunal da Sonserina, todos tinha ido dormir muito ansiosos com o torneio.
- Nossa, eu mal posso esperar para ver sangue nesse torneio, meu pai falou que pessoas morrem nesse lugar, e me parece que a primeira tarefa será um dragão, imagina Draco, um dragão, adoraria o ver comendo alguém.
A garota se jogou no sofá, Draco estava encostado à lareira olhando-a jogar os braços para o alto e se espreguiçar como uma felina, ela lhe lançou olhares cheios de sedução, as pernas dela completamente a mostra pela saia que estava caída conforme ela apoiava as pernas no braço do sofá.
Por um momento ele se sentiu sozinho de novo, ele se sentiu comprimido em seu próprio corpo, e a vontade era de espancar Pansy, de ficar sozinho e deixar a garota ali com seus pensamentos infames. Ele se sentou no sofá ao lado dela.
- Não vejo graça nenhuma nisso, claro que vou torcer pela Durmstrang.
Ela caminhou até ele e sentaram-se no seu colo sem cerimônias, colocando uma perna de cada lado do corpo de Draco, os joelhos no sofá as pernas dela roçando do tecido da calça de couro dele.
O preto dos cabelos dela lembrava algo a ele, até aquele cheiro de flor que no começo ele achava enjoativo lembrava alguém, ele não queria, porém confirmar o nome que estava no seu subconsciente, se a outra tivesse olhos verdes talvez.
Ele passou as mãos pelas pernas dela, sentindo na ponta dos dedos ela se arrepiar aos poucos, ele encostou para trás, estavam sozinhos e eram jovens, mas por que ele não conseguia sentir atração por ela?
Ele sabia que não sentia, mas sabia que poderia fingir muito bem até certo ponto. Ela curvou-se de novo para ele, os seios se comprimindo em seu peito, quando ele passou os braços em torno da cintura dela e a beijou.
Não foi um beijo normal, apenas algo sem significado que poderia ser esquecido no momento seguinte, depois que o beijo terminou, tão fraco como começou, ele sorriu para ela e passou os dedos nos seus cabelos, não era ela que ele queria beijar, e isso era estranho, no fundo ele queria acreditar que queria estar sozinho, e não importava sempre seria mesmo se um dia acabasse amando.
Ele a tirou do seu colo, ela era leve, ele sentia algo dentro do peito apertar, a vontade de ficar sozinho de novo, o seu eu interno chamando para uma conversa.
- Boa noite Pansy, nos vemos amanhã.
- Boa noite.
O escuro era confortável, ele sabia que somente ele mesmo poderia se compreender, somente ele compreendia suas dores e medos. E isso nunca mudaria para ele, nunca ninguém seria forte o suficiente para penetrar aquela casca que o cercava.
Ele se deitou nos cobertores, com o pijama, somente a calça, sentindo o tecido do cobertor tocar o seu corpo e se sentiu protegido, era o único lugar que ele poderia ser ele mesmo, na sua mente perigosa como a mente de um assassino que planeja o próximo crime.
Ele se sentia mal, ele sentia falta de coisas que ele não sabia colocar em palavras, ele vivia tanto mal que estava se acostumando aquilo, ele se acostumou a sentir aquela dor e aquele vazio.
Ele se pegou imaginando como seria se ele simplesmente fosse outra pessoa, por que ele não gostava de ser Draco Malfoy, ele queria ser outra pessoa, com outros sentimentos, mas não Potter.
Ninguém poderia compreendê-lo quando ele não se compreendia. E por quê? Simples, por que as pessoas precisam de respostas para a suas perguntas egoístas, suprir suas necessidades de saber de tudo.
Não bastava ouvir, tinham que questionar até o fim, e ele não era do tipo que gostava de dar respostas, ainda mais as que não conhecia como aquele sentimento estranho se formando por Potter, aquela obsessão estranha, aquela raiva irracional.
- Horas, eu não sei por que estou me sentindo assim, apenas sinto e pronto. Sinto vontade de me machucar, de ficar sozinho e de me fechar em mim, qual o problema?
Mas ninguém aceitaria uma resposta assim. Ele calou seus pensamentos, era hora de treinar sua indiferença, de fingir que não sentia mais um pouco, fingir sempre, um vicio.
Ele era Draco Malfoy, apenas isso, um nome, sem sentimentos, que era o que as pessoas esperavam dele nada mais. Talvez um anjo de gelo esperando no sol para derreter aos poucos e deixar de existir. Ou então ele só estava cavando buracos na sua própria felicidade.
Nota: Bem, eu vou explicar o porquê dessa fanfic, como vocês devem notar pelo nick e tudo o mais, eu gosto muito do Draco Malfoy, e resolvi escrever uma história dele como personagem principal, escrever o que ele sente em relação ao mundo, a parte que ele esconde de todo mundo. E por que age como age.
Por favor, comentem a história,
já que faz um tempo desde Fel. Quero saber o que estão
achando e o que pensam do personagem central.
Estava ouvindo essa
música do Marilyn, ando ouvindo muito ele, por isso a fic é
inspirada nas músicas dele. Sei que disse em Fel, que a
próxima história seria Amor macabro e até
comecei a escrevê-la, mas a inspiração parou,
então a publico quando tiver mais vontade de escrever.
Outra fic que eu indico é Inocente como um Humano, vou publicar o primeiro capítulo amanhã, como é um personagem muito incomum, até mesmo no livro falam muito pouco dele, ficaria feliz se lessem.
Beijos e comentários por favor.
