ele respira bem baixinho, Mello percebe.
ele tem seis anos e cabelos muito brancos - ele é todo muito branco, e dorme com um dedo numa mecha de cabelo, e ele é muito pequeno, frágil e silencioso. L olha para os dois, pés sobre a cadeira. Morde um polegar. "Você não vai dormir?", pergunta no tom de sempre - Mello já ouviu dizerem que o tom de sempre era monótono e arrastado, mas para Mello aquele é o tom preciso da paz. Mello puxa um pouco o cobertor, o que faz o pequeno novato se mexer um pouco.
"Não queria acordá-lo," diz o menino de oito anos. Ele tem vontade de dizer que gostaria que L lhe contasse alguma história para dormir, como a mãe dele fazia quando não chegava exausta do trabalho, mas L já havia feito tanto fazendo os pesadelos pararem que Mello hesita. "Qual o nome dele?", pergunta.
"Vamos chamá-lo de Near," responde L. "Se você estiver incomodado por estarem dividindo a cama, não será por muito tempo, Mello. Foi muito súbito e o Sr. Wammy não queria que ele dormisse sozinho hoje."
"Tudo bem," Mello responde, olhando de novo para o garoto que agora ele sabe que vai se chamar Near. "Ele é tão pequeno e quieto, mal ocupa espaço. Nem atrapalha. E... eu sempre quis um irmão." completa. Isso parece pegar L de surpresa, mas depois ele assente devagar. Mello tem noção de que L não é nada como um pai. A começar pela idade, apenas dez anos mais velho do que ele. Mas é o mais próximo que ele já tivera disso.
os olhos de Mello são muito atentos. Near se remexe um pouco, como se fosse possível se encolher mais. não consegue entender como uma criança consegue se encolher tanto, porque ele sempre fora espaçoso. amplo. pensa que ele parece calmo demais para alguém que acabou de perder os pais - as primeiras noites de Mello eram pesadelos e gritos e depois, L o observando e conversando com ele até que ele caísse no sono; e quando acordava, L ainda estava lá, olheiras profundas e olhos abertos. Mello estende a mão e toca de leve na bochecha do outro, e é tão macia. ele parece uma pequena nuvem branca e plácida no meio de um dia ensolarado.
"L..." sussurra de novo. "Você nunca dorme?"
L mexe os pés sobre a cadeira. "Quem me fazia dormir foi embora." responde, simplesmente. Mello faz uma pequena careta, virando-se de lado, seu braço - e corpo inteiro, como alguém poderia ser tão pequeno? - cobrindo o de Near. pensa nele como um irmãozinho, ainda que fosse só por um noite. alguém que havia se tornado órfão merecia um abraço, afinal.
alguns instantes depois, seus pensamentos começam a ficar borrados. novamente, percebe que Near respira baixinho. esse som tão suave traz uma tranquilidade quase nunca sentida quando ia adormecer. isso o faz querer cuidar daquele menino, e pensa que daqui a alguns anos ambos poderiam ser grandes detetives juntos, tão bons quanto o L.
então, Mello adormece e não há a menor sombra de pesadelos dessa vez.
n/a: porque eu senti sua falta - e queria te dar algo melhor, mais grandioso e digno de você, mas pensei... por que não?
