Você acorda achando que é um dia comum. Mais um dia comum na sua existência comum. Mas descobre que não é quando abre os olhos, porque quando o faz, a mesma sensação angustiante e paralizante, que de vez em quando insiste em te visitar, te assola. Você abre os olhos e seu coração pesa mil toneladas, seu peito se comprime numa tristeza que está além do que você consegue descrever. Você suspira.
Você odeia sentir tudo isso porque sabe que só pode significar uma coisa: hoje não é um dia bom. E em dias como esse tudo que você pode fazer é chorar porque, por mais que tente sair disso, não sobra espaço para mais nada em sua mente. Então você fica parada, encarando o teto de um branco infinito e antes que perceba o seu corpo inteiro é sacudido pelos soluços, você treme, sua respiração engata. E você odeia isso.
Odeia mais ainda porque mesmo sem que queira, as cenas começam a passar uma atrás da outra por trás de suas pálpebras. E, de repente, você está presa num filme onde as cenas são as suas lembranças e a alegria de outrora passa a zombar da tristeza que agora você se tornou. As cenas alegres e felizes que uma vez te fizeram sorrir, oprimem seu peito até te deixarem sem ar.
Você sente os dedos dos pés e das mãos formigarem e instantaneamente sabe que a primeira crise se aproxima. O peito subindo e descendo rápido buscando por um oxigênio que sua mente perturbada insiste em dizer que você não está conseguindo captar, embora você saiba que seus sinais vitais estão ótimos, perfeitos até.
A crise vem e vai embora mais de uma vez, te deixando cansada e sonolenta, mas você sabe que é melhor se levantar porque tem feito isso dia após dia por mais de um ano e sabe que é melhor encarar todas as obrigações agora do que se isolar e se afundar no buraco de solidão que às vezes cria para si mesma.
Ao se olhar no espalho você mal se reconhece e um pânico cresce minuto após minuto, se espalhando por seu corpo como veneno em sua corrente sanguínea. Aonde foi parar aquela menina positiva e cheia de vida? Você joga água em seu próprio rosto enquanto repete várias vezes para si mesma: é só mais um dia ruim.
O dia passa lento e não ajuda o fato de que a pessoa que faz tudo isso passar é também a causa de tudo isso. Então você luta contra a vontade sobre-humana que tem de puxar assunto, pedir ajuda, falar qualquer coisa só para se distrair.
À noite, como de manhã, o sangue corre lento por suas veias te deixando letárgica. A agonia que te oprime te dá vontade de arrancar um por um dos fios do seu cabelo, de abrir o peito e pegar na mão o responsável por bombear o seu sangue, de chorar até que de alguma forma você consiga se engolir e acabar com essa sensação avassaladora. Mas, como de costume, você só senta e espera. Espera o dia passar como espera todos os sentimentos irem embora.
E no dia seguinte, depois que o aperto no peito deu um sossego, depois que a respiração voltou ao normal e você conseguiu voltar a pensar num futuro, seu celular vibra e uma luz renasce dentro de você.
"Sinto muito, Demi. Vamos começar de novo?"
Você sorri, porque embora pouco, aquilo é um raio de sol na escuridão do seu coração. Esse é o seu dilema e você sabe que por mais que deseje o contrário, sempre ficara feliz com pequenas coisas como essa, e isso é tão certo para você quanto a noção de que os dias ruins estarão sempre à espreita.
