Para Srta. Montero, Madri, Espanha.

Tóquio, 17 de novembro de 94.

Buenos días, Paola. Em primeiro lugar, desculpe-me por mandar cartas ao invés de ligar, sabes como eu não me dou muito bem com tecnologia.
Enfim cheguei a Tóquio. Depois de uma longa viagem (de Madri até aqui tem um bom pedaço de caminho), foi bom descansar, apesar de eu ter demorado a achar um hotel com recepcionista que fale espanhol.
Sei o que estás pensando; eu perdi uns parafusos ao longo de minha vida.
Mas esta viagem é necessária. Eu preciso aliviar minha mente, mesmo depois de tantos anos ela continua confusa.
Mudando de assunto, ficarei alguns dias (cerca de duas semanas) por aqui, e depois partirei para a América do Sul, vou alugar um carro e sair sem rumo. É uma viagem meio solitária, eu sei; mas depois do que eu passei – e por onde eu passei – nenhum lugar é solitário o suficiente.
Sinto imensas saudades suas, Paola. Amo-te e sabes disso. Não sei por quanto tempo ficarei viajando – seriam dias, meses, anos? – mas quando voltar, quero que esteja aí, esperando por mim.
Lembro de você a cada segundo, mandarei cartas com freqüência, e mando outra antes de sair daqui do Japão.
Beijos, lembre-se de mim como me lembro de você.

Para sempre seu,

S.

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Para Srta. Montero, Madri, Espanha.

Tóquio, 4 de dezembro de 94.

Hola, Paola!

Minha estadia aqui no Japão me fez bem. Estou mais calmo e paciente, mas ainda sinto necessidade de sair por aí e conhecer lugares novos.
O Japão é lindo, conheci lugares que nem pensava em conhecer quando era um cavaleiro de Atena.
Amanhã eu vou pegar um avião para o México, e sinceramente eu gostaria de receber notícias suas, como faço? Não gostaria de ter que usar o telefone, mas se necessário fosse eu faria o sacrifício.
Aí em Madri eu vivia cercado de pessoas e vivia reclamando disso, lembra? Pois é, hoje, depois de cerca de 15 dias sozinho, eu sinto falta de falar com alguém, alguma pessoa que fosse um pouco mais que um conhecido.
Sinto saudades da Espanha e da comida espanhola, mesmo que essa viagem esteja me fazendo bem, se tem uma coisa a que eu não consigo me acostumar é a comida. Nem todos os anos que passei na Grécia me fez deleitar nos pratos gregos, o que a comida japonesa poderia fazer nesse tempo?
Semana passada eu vi uma cena que lembrou da minha infância... Um casal fazendo compras com o filho, e a criança pedindo para comprar doce... Isso atiçou minha vontade de ter filhos – sentimento que posso te dizer com certeza que nunca tive. O que acha de termos um time de futebol, a começar quando eu voltar para casa? No primeiro menino quero por o nome de Aiolos, meu grande amigo a quem eu não escutei quando deveria... Como sinto saudades dele... Parece que foi ontem que estávamos cuidando de Aiolia, que ainda era uma criança, e comendo bolo de chocolate que a cozinheira nos dava em horas folga.
Já fazem cerca de 20 anos que eu... Que ele morreu, dá pra acreditar? Parece que foi ontem, eu ainda sinto a mesma dor que senti na hora... Que saudade eu tenho dos outros meninos também! Como será que eles estão? A última notícia que tive foi que os gêmeos estavam trabalhando em Atenas, Milo e Aiolia estavam morando em uma pequena ilha, não muito longe de onde fica o Santuário e Afrodite se mudou para Estocolmo. Dos outros – Máscara da Morte, Mu, Shaka, Aldebaran e Camus – nunca tive notícias. Será que estão felizes? Será que realizaram seus sonhos, vontades, se estão com família, se mantém contato, ou estão como eu?
Bem, é melhor eu me esquecer desses assuntos, só vão me deixar mais triste.
Beijos, te amo com todo o meu ser, não demoro a mandar outra carta.

Para sempre seu,

Shura

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Para Srta. Montero, Madri, Espanha

Cidade do México, 8 de dezembro de 94

Buenos Días, minha bela!

A viajem foi chata – também não gosto de viagens de avião. Aqui está um calor infernal, a despeito da época do ano. Apesar de ter sido mais fácil achar um hotel, o espanhol deles é muito diferente, e me dá nos nervos. Eu já comprei um carro – alugar fica demasiado caro – para sair sem rumo até parar no Brasil. Quem sabe, por sorte do destino, encontro meu amigo Aldebaran?

Ah, sabes o que me aconteceu dentro do avião? Achei um cavaleiro de Atena, Dio de Mosca, que estava vindo para cá visitar a família. Sempre o achei um cara estranho, mas ele não é tão ruim de se conversar. De primeira hora ele nem me reconheceu, tive que virar pra ele e dizer que eu era Shura de Capricórnio e blá blá. Ele disse que encontrou os gêmeos em Atenas há alguns meses, e que um deles (ele não soube dizer se era o Saga ou o Kanon) já é casado e tem filhos. Disse também que ambos estão bem de situação e têm um emprego estável.

Fiquei feliz com isso, e espero que todo o peso de consciência que Saga tinha tenha acabado.

Relatarei aqui meu encontro com Dio.

X . x . X . x . X

Avião com destino a Cidade do México, 5 de dezembro de 94.

Como é de se esperar, cheguei no avião e me sentei, no banco da janela. Ao meu lado havia um homem estranho, com as feições feias, mas que em seus olhos dava para ver lealdade e um bom coração. Fiquei fitando-o por um bom tempo, imaginando se o conhecia de algum lugar, e vi que ele fazia o mesmo.

- O que gostariam, senhores? – a aeromoça perguntou primeiro em japonês, para depois perguntar em inglês, e quando viu que não obteve resposta, falou em espanhol.

- Vou querer uma vodca.

- O mesmo.

Nessa hora eu olhei bem nos olhos de Dio, e ele me olhou de volta um tanto confuso; quando escutei a voz dele, uma voz um tanto limitada e rouca, descobri de onde eu o conhecia – como disse era um cavaleiro de Atena, de prata, Dio de Mosca.

- Você é o cavaleiro de Mosca?

Não sei o que se passou na cabeça dele quando eu disse aquilo, mas imagino. Afinal, não são todos que o conhecem pelo nome da armadura.

- Como disse?

- Perguntei se você é o Cavaleiro de Mosca.

- Você? Quem é?

É, ele fez bem em não me dizer na hora se era ou não o que eu dizia, no entanto eu fiquei demasiado triste ao perceber que ele não me reconheceu.

- Capricórnio. Eu era.

- Ah. Sou sim, Dio de Mosca. Pode me chamar apenas de Dio, não estou como cavaleiro.

- Eu também não. Aliás, nem sou mais cavaleiro.

- Você é Shura, certo? Aquele que matou Aiolos?

Paola, você sabe muito bem como eu me sinto quando alguém me reconhece apenas pelo "cavaleiro que matou Aiolos", e o pior é que eu não posso fazer nada a respeito disso.

- É. Sim.

Ficamos um tempo em silencio, cada um tomando sua vodca, até que ele resolveu se pronunciar:

- Fazendo o que no México?

- Viajar. Esfriar a cabeça um pouco. E você?

- Visitar minha família. Está aproveitando muito a vida? Pelo que eu saiba o prêmio que vocês receberam foi ter a vida livre.

- É isso mesmo. Eu estou aproveitando na medida do possível, né? E sua família? Como vai?

- Minha mãe está meio adoentada, por isso recebi permissão para vê-la.

- Sinto muito.

Ficamos um tempo calados, particularmente eu estava criando coragem para perguntá-lo sobre os meus amigos, que há tempos não vejo.

- Shura, você tem visto os outros ex-cavaleiros de ouro?

-Não. Você tem notícias deles?

- Só dos gêmeos, já que eles estão em Atenas. Um deles, que eu não sei quem é, já é casado e tem filhos.

- Que bom.

- Mas os dois têm boa situação financeira, e parece que são amigos.

- Ah. E o santuário?

- Ainda não arranjamos cavaleiros de ouro, sabe? Por isso tudo lá está tenso, com perigo de ameaça iminente.

- Olha, se precisarem de mim, sabe como me achar. Pelo cosmos.

- Certo.

Passamos o resto da viagem em silêncio, que em parte partiu de mim, já que ele tentou puxar papo algumas vezes. Eu sabia sobre o que ele queria falar comigo: se eu me arrependo de ter matado Aiolos. Não gosto desse assunto, será que ninguém desconfia? Alguém já até chegou a me perguntar, e eu fui até grosso com essa pessoa. Esse foi um dos principais motivos que me fizeram aceitar a proposta de Atena.

Beijos e fique bem, meu amor.

Te amo mais que minha própria vida.

Para sempre seu,

Shura

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Hi, Everyone!

Sim, eu sei: Outra fic de capítulos. Mas não me canso de dizer que não se pode perder um vestígio de inspiração, então aí vai minha nova fic. Eu, mais sinceramente do que nunca disse, não sei onde essa fic vai parar. A única coisa que sei é quem é o personagem principal e que NÃO vai ter yaoi. Absolutamente não.

Sim, Paola Montero é um personagem meu.

Antes que eu me esqueça, essa fic se passa alguns anos (não tenho a quantidade certa) depois da batalha de Hades, e os cavaleiros de ouro foram revividos, não são mais cavaleiros de ouro e tomaram o rumo de suas vidas.

Eu acho que os outros cavaleiros de ouro – além do personagem principal – vão aparecer, mas não prometo nada nem ninguém.

Beijos, até o próximo capítulo.