Viúva Negra
Capítulo 1
- Ah, pára com isso, Izzy, tadinha! – repreendeu Louise tirando minha máscara de monstro e me afastando da pirralha da minha irmã, que corria pro quarto assustada. A Louise era minha melhor amiga, toda certinha.
- Qual é, Lou, cortou meu barato. – eu disse chateada.
- Aff...
- Que saco! Em pleno Halloween e a gente aqui. Sem nada pra fazer. – comentei.
- Iiii, já tava até esquecendo. – ela falava enquanto pegava sua bolsa – Eu roubei alguns filmes de terror do meu irmão.
- Hum, beleza. Quais têm aí? – perguntei pegando alguns.
- A Bruxa de Blair...
- Velho!
- Sexta-feira treze...
- Mentirada total!
- Sillent Hill...
- Fraco!
- A Lenda da Viúva Negra.
- Esse parece interessante. – eu disse me levantando do sofá e vendo a sinopse. E era, a sinopse era a seguinte:
"Baseado em fatos reais, A Lenda da Viúva Negra conta a história de uma mulher maquiavélica que, por dinheiro, se casou com vários homens e os matou quebrando um espelho em suas cabeças, para ficar com a herança.
Amaldiçoada pelos deuses foi condenada à prisão perpétua dentro de um espelho. Cem anos se passaram desde o acontecimento e tudo estava bem, até que um jovem desafiado pelo seu grupo de amigos se tranca no banheiro e chama a Viúva Negra três vezes em frente ao espelho.
A caçada começa agora. "
- Que show! Vai ser esse. – eu comemorei por finalmente ter achado alguma coisa que preste.
- All right, man. – disse Lou batendo continência.
- Lou... – eu comecei, torcendo para que ela deixasse – Eu posso?
- Não, Izzy, tá maluca? – a garota questionou.
- Por favor, é tão bom!
- Não, não é bom. É maldade ficar assustando sua irmã.
"Como essa maluca poderia saber tanto sobre mim?" eu pensei.
Fizemos um baldão de pipoca e uma jarra enorme de suco de maracujá para assistir o filme.
Era muito show. O suspense, o sangue, tudo era o máximo. Mas, na melhor parte, as necessidades fisiológicas provocadas pelo suco falaram mais alto.
- Izzy, dá um pause aí que eu vou no banheiro. – falou Louise se contorcendo de vontade de fazer xixi.
- Segura as pontas, vai, a Viúva Negra vai arrancar os olhos do cara. – eu disse vidrada na tela.
- Num dá, tô muito apertada. – ela esganiçou.
- Eu sei muito bem que que cê tá fazendo. Você tá é fugindo do filme, sua medrosa. – eu acusei me virando pra cara de tacho da minha amiga.
- Não tô não... – Lou se defendeu com a cara no chão.
- Prova! Entra no banheiro e chama a Viúva Negra. – eu a desafiei esbugalhando os olhos.
- Pra quê...? – ela questionou.
- Viu? Fraca!
- Não sou não. – Louise se levantou do sofá e entrou decidida no banheiro. Eu a segui, é claro, para ver onde isso iria dar.
Fiquei esperando do lado de fora do banheiro e o tédio simplesmente tomou conta de mim. Então, lembrei que semana retrasada eu paguei um eletricista para ligar todas as coisas elétricas da casa a um controle remoto. Para fazer as luzes piscarem e assustar minha irmã.
Corri rapidinho até a escrivaninha do meu quarto e tirei de uma das gavetas o tal controle. Cheguei à porta de banheiro um pouco ofegante, esperando ansiosamente Louise falar as palavras mágicas. Não ouvi nada, provavelmente a covarde ainda tava tomando coragem.
Encostei meu ouvido mais perto da porta, até que eu ouvi: "Viúva Negra", já fiquei alerta. "Viúva Negra", meus dedos foram em direção ao controle. "Viúva Negra", meu dedo indicador apertou um botão e tudo que eu ouvi depois foram os gritos desesperados de Louise e uma tentativa em vão de abrir a porta, talvez as mãos dela estivessem tão trêmulas que nem conseguiam girar a chave.
- Lou! – eu gritei desligando o pisca-pisca de luzes no banheiro. Comecei a bater na porta desesperadamente gritando: "Lou... Louise eu não tô brincando, abre a porcaria dessa porta!"
Demorou um tempo pra ela abrir a porta, acho que tava tentando se acalmar, quando Louise abriu, eu já estava a ponto de arrombar aquela maldita porta.
- Lou, você tá... AAAAAAAAAAHAHAHAHAHAHAHAHAHA, EU NÃO ACREDITO! – a visão que meus santos olhos estavam assistindo era super engraçada. Louise saia do banheiro descabelada e com o short todo molhado – VOCÊ FEZ XIXI NA CALÇA!
- Ótimo! Fala mais alto, talvez o surdo que tá passando lá na China ainda não tenha ouvido. – ela retrucou nervosa.
- E tudo obra de um simples controle remoto. – eu disse apontando para o controle em minhas mãos.
- FOI VOCÊ?! SUA FILHA DA PUTA, DESGRAÇADA, EU TE ODEIO SUA ÉGUA PIRANHA! – ela gritou furiosa me dando um monte de tapas seguidos.
- Hey, hey – eu comecei, afastando os braços da minha amiga – foi uma brincadeira. Você me conhece desde os doze anos, devia saber que eu gosto de brincar.
- Isso não foi legal, tá?
- Tá, desculpa, eu não faço mais isso. – "Pelo menos não com o controle remoto" – Vem, eu te empresto uma roupa.
Enquanto ela se vestia, eu voltei a me sentar no sofá e comer pipoca. Quando Louise apareceu, eu não pude deixar de rir com a lembrança de uma velha com dezoito anos na cara, fazendo xixi na calça.
- Ah, pára! – ela disse sem graça.
Foi aí que eu senti. Um tremor vindo do chão, a televisão ficou fora do ar e as luzes começaram a piscar.
- Tá, já chega. Pára com isso, Izzy. – Lou disse com aquela cara de "OK, até parece que você vai me enganar de novo".
- Não sou eu. – eu respondi assustada.
- Já falei pra parar. – ela repetiu, dessa vez ficando desconfiada.
- PORRA, JÁ DISSE QUE NÃO SOU EU! – eu precisei gritar porque agora começava a crescer um barulho vindo por debaixo do chão, pelo menos era o que eu achava.
Louise parecia ter finalmente acreditado em mim, digo isso porque ela tava agarrada ao meu braço com tanta força que até formou uma casquinha.
Nada no mundo poderia descrever o que eu tava sentindo, nem eu mesma sabia direito, só sei que eu tinha o medo como emoção principal.
Meu pavor só aumentou quando o chão em frente à TV começou a se despedaçar, isso mesmo, o piso tava se partindo ao meio e um buraco se abriu no meio do tapete.
Uma moça muito bonita de pele branca como a neve saiu do buraco se arrastando pelo chão. Eu não sabia exatamente como sabia, mas eu sabia exatamente que aquela era a mulher maligna que eu tinha acabado de ouvir falar. Sua aparência e seu jeito de atacar não eram como o filme, mas o pânico que a Viúva Negra causava era igual em qualquer parte do sistema solar.
Paralisei na hora, intimidada por seus olhos totalmente negros que escureciam todo globo ocular. Quase não reparei nas mãos macias da Viúva agarrando firmemente as pernas de Louise. A garota não conseguia se mexer, paralisada que nem eu. Observei a Viúva Negra arrastar minha melhor amiga para o meio daquela toca infernal.
Acha que consegui me mover? É claro que não, tentei desesperadamente tirar pelo menos meus braços desse transe, para poder salvar a Louise dessa besta, mas parecia que cada osso do meu corpo era revestido em cimento.
A Viúva Negra estava indo embora, com minha amiga do lado. Tudo que pude fazer agora é chorar, porque nem gritar eu conseguia.
O buraco se fechou e após alguns segundos eu voltei ao meu estado normal. Eu nunca tinha visto, em meus dezenove anos de vida ,algo como o que acabou de acontecer. Não iria ficar parada, em meio às lágrimas, comecei a gritar e a bater no chão para ver se tinha algum lugar oco. Nada.
Minha mãe estava chegando da igreja e ouviu meus gritos, entrou preocupada pela porta da frente e me abraçou me levantando.
- O que aconteceu, meu amor? – minha mãe perguntou carinhosamente.
- Ela a seqüestrou mãe. – eu contei chorando – Ela seqüestrou a Louise.
- Quem?
- A Viúva Negra!
