Sirius tivera muitos bons natais. O primeiro quando recebeu um irmãozinho para brincar, o segundo quando entrou para a Grifinória. Também nunca ia se esquecer daquele em que ele se tornou um animago ou do passado na torre de astronomia em companhia feminina e nua.

Mas nenhum, nenhum mesmo, se comparava a esse que estava tendo agora.

Nem quando se transformara em cachorro e assustara Lily no meio da noite. Ou, sei lá, quando fugira de casa alguns dias depois da vinda do bom velhinho para morar com seu melhor-amigo-irmão. Nem mesmo – e olha que isso é muita coisa – quando ele vira Harry levar o primeiro tombo em sua vassourinha de brinquedo e se reerguer, determinado a continuar.

Não, ver Harry andando na sua vassoura e vencendo a Sonserina nela era incomparável. Mesmo.

O prisioneiro se viu livre como se fosse ele a voar.

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Walburga nunca fora de olhar para o céu em nenhum dia do ano, e achava hipocrisia fazê-lo justamente no Natal. As estrelas brilhavam sozinhas, ela pensava e, portanto, não havia nenhuma razão para deixar sua cadeira e sua amargura para admirar o céu.

Mas, sei lá, naquele dia ela foi. Pé ante pé até a janela, como se fosse uma espécie de criminosa e não pudesse acordar nem Orion nem Regulus. Nem se lembrava muito bem de ter passado os dedos pelas cortinas para abri-las, mas se lembrava do céu.

Canis Major ainda era a estrela mais bonita e brilhante de sua constelação.*

E ela viu-se prisioneira de seu brilho, só mais uma vez.

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Foi em um Natal que Orion descobriu que Regulus estava, senão morto, desaparecido.

Passava os dias pela casa a imaginar seus risos, mais ou menos como fizera quando achara que perdera Sirius. Ele se esqueceu, claro, de todos os outros Natais ali – sem mais desculpas para ver os puro-sangue ou para rir dos trouxas que sofriam os ataques brincalhões dos Black.

Ele não tinha mais filhos e, portanto, não tinha mais noites com desculpas para sorrir.

E foi pensando nisso, no quanto sua vida mudara, que ele soltou uma baforada de fumaça no seu último 24 de dezembro. Originalmente, não vira nem sentira nada mas, pouco a pouco, teve a certeza que, no meio de seu devaneio, viu o rosto dos filhos.

O sorriso se tornou prisioneiro em seu rosto morto quando, pela primeira vez, ele se viu livre da culpa que sentia e do peso que o consumia.

Regulus era criança de novo, e Sirius sorria com o distintivo da Sonserina na meia-noite do dia 25.

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Regulus acreditava no Natal. Mesmo quando criança, quando sua mãe lhe dera uma bronca por lhe perguntar quem era "Papai Noel", ele não deixara de acreditar que era alguém maior que um ser humano lhe deixava os presentes na árvore.

Então, naquela noite do dia 24, ele se escondera atrás do sofá para saber quem colocava os presentes na árvore. E, acredite, ele gostou muito de ver seu irmão mais velho e o pai arrumando os presentes do jeito que ele gostava. Acreditava piamente que eles, com seus olhares idênticos e seus sorrisos de canto, eram seres superiores.

Aquele fora seu melhor Natal até hoje, quando a sensação de ter o poder nas mãos era melhor que a de todas as outras.

Com o medalhão prisioneiro em suas mãos, ele acreditava ter feito a sua parcela para livrar o mundo.

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*A estrela de Sirius é vista principalmente na passagem do ano, mas acho que uns dias menos não fariam taaaanta diferença assim.

Mudei a fic por descobrir que, se continuasse do jeito que eu queria, ia demorar até a Páscoa X) Capítulo que vem vamos ter uma nota maior porque estou completamente sem tempo, ok?

Beijinhos e até a resposta das reviews! X)