Nome do autor: Fla Cane

Título: Fair

Sinopse: Edward foi embora, levando sua família. Seis anos depois, o causador de tudo isso e a vítima, se encontram.

Ship: Jasper/Bella

Gênero: Romance/Friendship

Classificação: M (por segurança)

N.A.: Dessa vez só posso culpar as traduções e fics em inglês desse casal inusitado. Amei de paixão. Espero que gostem também. A fic é depois do começo de New Moon, quando Edward deixa a Bella. Pode se dizer que é insano, mas é meu e se você me conhece, sabe que seria assim. Ignoro milhões de coisas, podo se dizer que é AU, RA, sei lá. Você decide. Ela é dividida em duas partes, eu achei que ficaria melhor assim.

Agradeço ao Google Maps, sem ele não saberia das 3 horas e 14 minutos que separam Oak Harbor de Forks, nem da balsa no caminho.

Bom, se gosta, aproveite.

Se não gosta, boa sorte e clique em Voltar ou X.

Se vai se arriscar, valeu!

Não ganho nada com essa fanfic e por escrever com esses personagens. Nenhum deles me pertence, pois se me pertencessem tudo seria muito diferente.

Boa Leitura.


Fair

por Fla Cane

Parte 1

Olhou para os lados, atravessando a rua quando os carros pararam no farol, tendo apenas algum tempo antes de ele se tornar verde e os loucos atrás dos volantes começarem a acelerar, assustando quem passava. Puxou a bolsa que escorregava do ombro, fechando com a outra mão o casaco de frio.

A pior época do ano era aquela. Frio, neve e falta de paciência das pessoas ao andarem na rua. Bella tentava ao máximo ficar o mais encostada possível na parede, deixando que os outros se esbarrassem no meio da calçada, era de sua natureza ser desastrada, não precisava de ajuda. Mas as outras pessoas pareciam não se importar com isso, apenas continuavam a colidir com ela, empurrando-a com seus ombros.

Não importava-se de verdade, apenas gostaria de chegar em casa sossegada, ligar o som, tomar um banho quente e deitar com uma xícara de café fumegante nas mãos, descansar e dormir. O dia fora estressante como qualquer outro em Oak Harbor. O trabalho, as pessoas, o vento e o tempo úmido era algo que Bella odiava, mas que aprendera a aceitar.

Subiu os dois lances de escada ao entrar no prédio onde morava, tropeçando no último degrau. Ouviu o telefone tocar dentro do apartamento, mas não daria tempo de destrancar as três fechaduras, entrar e atender. Quem quer que fosse teria que ligar novamente. Achou as chaves dentro da bolsa, abriu a porta e entrou. O apartamento não era grande, na verdade, parecia um estúdio. Apenas oito paredes no total, o que realmente ficava dividido era o banheiro. A cozinha era separada do resto da casa por um balcão, o quarto era no canto esquerdo e a sala no canto direito. Era somente ela e não recebia visitas, poderia se dar ao luxo de ter uma apartamento assim.

Deixou a bolsa na poltrona na sala, trancou a porta e parou ao lado da secretária eletrônica, apertando o botão para escutar as três mensagens que foram deixadas. Tinha certeza de que uma delas era de sua mãe, desesperada por ela ainda não ter ligado. Foi para a cozinha, abrindo a geladeira e escolhendo por alguns pedaços de frango congelado. Os colocou para descongelar na bancada, enquanto a secretária eletrônica avisava que tinham três mensagens novas e dizia que passaria a primeira.

A mensagem era do rapaz da biblioteca da cidade avisando que o livro que Bella pedira já estava lá e que ele reservaria para ela. Sorriu feliz, já estava ficando louca sem poder ler livros novos, os que ela tinha já estavam caindo aos pedaços. Andou até a sala, ouvindo a segunda mensagem, deixando o casaco de frio na bancada da cozinha. Claro, era sua mãe, um pouco desesperada e exigindo notícias dela. Ela nunca mudava.

"Bella, por que ainda não me ligou? Aconteceu algo? Me ligue, quero saber como você está. Logo."

Bella riu, sua mãe sempre desesperada e sem a mínima noção da diferença de fuso horário entre as duas. Apagou essa mensagem e a primeira e escutou a terceira, sentando-se no sofá de dois lugares ao lado da mesa do telefone. Fechou os olhos e cruzou os braços, sentindo o corpo implorar por banho quente e descanso. A voz que veio da secretária assustou um pouco a morena, que virou-se e abriu os olhos.

"Bella? Bella, sou eu, Mike. Mike Newton. Tudo bem? Espero que sim. Seu pai me passou esse telefone, disse que você foi morar em Oak Harbor, pensei em te ligar e saber se tem problema fazer uma visita." Houve uma pausa e Bella olhava fixamente para o aparelho, achando aquilo estranho demais, mas a mensagem continuou. "As cosias aqui continuam as mesmas desde que você foi embora. Nada mudou." Outra pausa, e aquilo irritou Bella. "Ah, só uma mudança na verdade, os Cullen voltaram. Mas não todos eles, apenas aquele tal de Jasper, acho que esse é o nome dele. Ele sozinho, pelo que ouvi, eu mesmo não cheguei a vê-lo. Mas é isso, me liga na Loja pra avisar quando podemos ir te ver, ok? Estamos com saudades. Tchau."

Bella ouviu três vezes a mensagem para ter certeza de que estava realmente escutando aquilo. Jasper estava de volta a Forks, mas sozinho ao que parecia. Aquilo cutucou feridas que ela não queria lidar no momento. Afastou todo e qualquer pensamento sobre isso e pegou o telefone, ligando para sua mãe e a acalmando.


Deitou na cama, sabendo que esse seria o momento em que a notícia sobre a volta de Jasper lhe pegaria e lhe traria todas as lembranças horrorosas sobre os Cullen e Edward. Sobre ele a deixando e cumprindo o que prometera de nunca mais aparecer em sua vida. Ficara em estado catatônico por quase um ano, parecendo um zumbi, indo à escola e terminando o segundo grau sem realmente estar presente. Na verdade, pouco se lembrava daquilo, apenas lembrava de que doera e muito, e não só porque Edward afirmara que não a queria, doera porque todos os Cullen não se despediram, todos eles simplesmente sumiram e a esqueceram.

Virou-se e escondeu o corpo no edredom pesado, abraçou um travesseiro e fechou os olhos, vendo a última vez que tivera com eles, como todos eles. No seu aniversário de dezoito anos, quando se descuidara e se cortara, quase sendo morta por Jasper. Claro que fora sua culpa, nunca pensaria o contrário, mas era horrível se lembrar de que isso desencadeara todo o sofrimento seguinte, toda a dor que se seguiu.

Seus dedos trilharam as linhas de cicatrizes que se estendiam por seu braço cortado naquele dia, enquanto ouvia as palavras de Edward a dizer que Jasper e Alice já haviam ido embora e que ele e os outros estavam indo também. Que ela nunca mais os veria. E foi real, a promessa fora mais do que real, fora cruel. Seis anos desde que o acontecimento marcara sua vida acontecera e ela nunca mais viu ou soube dos Cullen. De nenhum deles. No início fora horrível, mas depois tivera ajuda. Após passar pela fase de zumbi vira que os amigos, alguns, ainda estavam ali por ela.

Jacob foi o melhor, sempre prestativo, sempre presente. Eram amigos até hoje, mas falavam-se bem menos do que ela gostaria, e do que ele também. Não tivera namorado algum depois de Edward, não conseguia namorar ninguém pensando que seu primeiro namorado fora algo tão sobrenatural, tão distante da realidade. Já era difícil aceitar o que Jacob era, e ele era seu amigo, e de coisas sobrenaturais, ela já achava que isso era o suficiente.

Apertou mais o travesseiro contra si e fechou com mais força os olhos. Aquela noite, aquela maldita noite em que tudo dera errado fora sua culpa, ela afastara os Cullen e fizera Jasper se sentir o pior ser da face da Terra querendo sangue humano outra vez. Sentira tanta pena dele e tanto ódio de si mesma. Porém, agora de nada adiantaria sentir tudo isso outra vez, apenas poderia chorar e quem sabe o dia de amanhã fosse um pouco menos pesado.

Depois de mais de duas horas chorando, Bella finalmente dormiu. Mas teve pesadelos, que incluíam todos os Cullen e as promessas de Edward.


Sexta à noite. Não tinha mais nada a fazer, já estava de banho tomado, café pronto e deitada em sua cama. Poderia muito bem ligar a TV assistir alguma coisa antes de dormir, mas sua mente ainda estava na notícia do dia anterior. O que Jasper poderia estar fazendo sozinho em Forks? O que será que estava acontecendo para depois de tanto tempo ele voltar para a cidade, e sozinho?

Encostou a cabeça no travesseiro e pensou. Talvez estivesse ali para vender a casa. Não, isso eles poderiam fazer sem precisar aparecer na cidade. Não, tinha algo mais ali e Bella queria saber o que era. Na verdade, ela queria poder ver um deles que fosse, para que tivesse certeza de que eles realmente existiram. De que sua mente imaginativa demais não criara a Família Cullen e muito menos a passagem deles em sua vida. Passagem caótica e rápida, na opinião dela. Respirou fundo e afastou o edredom, saindo cama. Não era tão tarde para se fazer uma ligação, e tinha certeza de que quem a atendesse não se importaria tanto com o horário. Tomou um gole de seu café e sentou-se no sofá, discou o número há muito não usado e esperou três toques e uma voz conhecida atendeu, um pouco alarmada por causa do horário. E Bella disse calma:

-Pai?


Estava cansada. Saíra cedo de casa, dirigira por mais de três horas para chegar a Forks, o mais rápido que conseguira com a balsa indo tão devagar no caminho. Sua mente lhe dizia que não era uma patética tentativa de ver Jasper e pressioná-lo até que ele contasse onde os outros estavam e por que foram embora sem se despedir dela, que ela também estava indo em direção a Forks para ver seus amigos e Charlie. Mas na verdade, ela sabia que era para ver Jasper que ela estava saindo de sua rotina normal e entrando naquele mundo outra vez.

Charlie ficara feliz de saber que ela estaria em Forks no dia seguinte, já havia passado mais de um ano desde que se viram pela última vez e Bella sabia como isso afetava Charlie. Desligou o rádio ao entrar na cidade, vendo que os anos não mudaram nada Forks. Era a primeira vez desde que saíra de lá que voltava, que se dignava a entrar na cidade que lhe trouxeram tantas dores. Era como abrir novamente todas as feridas, só para vê-las sangrando.

Entretanto, era sádica e sabia disso. Ela tinha, precisava estar ali e sofrer outra vez. E se encontrasse realmente Jasper sofreria o dobro quando tivesse que deixá-lo, mas ao menos marcaria novamente em seu cérebro que eles existiam e como eles eram. Mesmo que isso fosse lhe magoar e a fazer sangrar novamente por muito mais tempo.

Chegou à casa de Charlie e ficou a conversar com ele até pouco depois do almoço, qual ela prepara com muito prazer. Perguntou por novidades sem realmente querer saber ou escutar de verdade, apenas colhia informações para posteriormente fazer comentários necessários e deixar o velho Chefe de Polícia mais alegre. Saiu da casa de seu pai dizendo que visitaria as outras pessoas e que somente iria embora no dia seguinte, mas que não dormiria ali, talvez fosse na casa de Jéssica, ela ainda não tinha certeza. Uma mentira, mas não se importou, já tivera que contar muitas quando morava com ele, que aquela parecia inofensiva.

Andou por Forks sem realmente prestar atenção no que passava pelas janelas de seu carro, nem pelas pessoas, nem por casas e comércios, sua mente só focava a saída que daria na estrada de terra e que levaria para a antiga casa dos Cullen. Começou a desejar e a falar sozinha, como um mantra, para que Jasper estivesse lá, e que ele lhe recebesse e conversasse com ela, lhe contasse o que aconteceu. Virou na entrada para a casa, quase a perdendo devido às árvores que quase tomaram conta da entrada, tapando-a parcialmente. Aparente ninguém mais fora ali nos últimos anos, talvez fosse melhor assim, ninguém saberia que ela estava ali e ninguém poderia perturbá-la.

As árvores deixavam o dia ainda mais escuro, tampando quase que totalmente o céu cinzento e fazendo a pequena estrada até a casa mais sombria do que antigamente era. Foi necessário Bella se acalmar algumas vezes até conseguir divisar a casa no fim da pequena estrada. Seu coração pulou várias batidas, fazendo com que arfasse e a visão embaçasse. Sua mente e suas emoções não estavam preparadas para a torrente de sentimentos que desabaram sobre ela quando viu a casa, as janelas e a pintura se desfazendo com o tempo.

Parou o carro, desligando o motor, mas não desceu. Ficou fitando a casa com seus olhos bem abertos, sem piscar e sentindo a ardência disso. Não queria perder nenhum detalhe, queria marcar novamente aquele lugar em sua mente para nunca mais esquecer. Queria ter aquela casa para sempre em sua memória, os detalhes que a dor apagara. Ficou vários minutos ali, apenas fitando a casa que fora palco de sua ruína, da separação da família que queria como sua. Das pessoas que eram imortais, e que ela amava mais que sua própria vida; todos, sem exceção.

Segurou a maçaneta e abriu a porta do carro, descendo devagar, os olhos ainda presos na casa, nas janelas sujas e nos degraus desfazendo. Trancou o carro por hábito e andou, olhando as marcas na grama, vendo marcas recentes de pneu. A garagem estava fechada, mas sabia que um carro estava lá dentro. Tinha que estar, Jasper ainda tinha que estar ali. Subiu os degraus e pensou antes de bater na madeira da porta, mas não o fez, girou a maçaneta já sem cor e ouviu o rangido alto que a folha de madeira fez ao se mover.

Tudo vazio. A casa não tinha um móvel. Era quase um cenário doloroso demais de se ver, quase que apocalíptico. Entrou, seus olhos focando-se na poeira que estava no chão, nas paredes sujas e nos vidros encardidos. Aquilo destoava demais de Esme e sua casa sempre limpa e imaculada. Aquilo ela realmente não queria lembrar, mas sabia muito bem que iria. Era uma parte de seu passado, passado que ela mesma afastara de si, que ela mesma destruiu.

Olhou para a escada e viu que o andar de cima, até onde via, estava exatamente igual, luz fraca entrava pelas janelas e poeira dançava lentamente no ar. O que não daria para ter novamente a casa cheia outra vez? O que não daria para ver o rosto de cada um deles outra vez ali, lhe tratando como uma deles? A ferida se abriu mais um pouco e a dor apertou o peito de Bella mais forte, quase a curvando. Ouviu passos leves vindo da cozinha, virou-se e o choque correu em suas veias como o veneno uma vez fizera.

-Jasper. – sua voz era só um sussurro.

-Isabella.


continua...