1. Esperando

Serene Kennedy vagava pelo seu quarto em Hogwarts, da porta para a janela e de lá para a porta novamente. Ela se sentia como se estivesse marchando os cinco metros a noite inteira, o que não estava muito longe da verdade, uma vez que não tinha conseguido dormir e tinha começado a andar pelo quarto bem cedo pela manhã. De vez em quando ela parava tentando respirar com calma, como Dumbledore tinha a ensinado. Finalmente, quando o sino do hall anunciou que o café da manhã dos alunos tinha terminado e eles iam sair, ela se ajoelhou e pegou uma pequena caixa de madeira debaixo da cama.

Para evitar qualquer professor que estivesse atrasado para a aula, ela desceu pela pequena escada que levava para o jardim ensolarado. O sol de outubro ainda estava quente o suficiente e o céu azul lavanda límpido, então Serene colocou sua capa na escada e sentou para pensar o que havia dado tão errado.

Sua vida nunca havia sido calma ou fácil. Crescera no subúrbio, sempre soubera de seus poderes especiais e nenhum dos médicos a que seus pais, desesperados, a tinham levado puderam convencê-la do contrário. Ela sabia que era uma bruxa - mesmo quando todo o mundo assegurava que ela apresentava problemas mentais. Olhando para as torres que coroavam as paredes, ela riu melancolicamente. Oh, o alívio que fora descobrir Hogwarts!

Eventualmente ela havia chegado na escola, mas muito, muito tarde. Ela havia aprendido muito nos últimos três anos e Dumbledore até deixara que lecionasse como assistente de Sybill Trelawney. Mas ela ainda se sentia como uma intrusa neste mundo, da mesma forma que havia sido uma intrusa no mundo Trouxa. Ela não tinha feito muitos amigos nesses três anos, suspirou. Eles podiam ser facilmente contados nos dedos da mão. Havia Laurel que havia vindo para Hogwarts para o mesmo curso para alunos adultos que ela. Mas enquanto Serene tinha ficado feliz por ser aceita, Laurel tinha lutado contra o diagnóstico de ser um a bruxa durante todos os passos do caminho. Mesmo assim, elas possuíam um tipo de amizade, o que não deixava de ser uma conquista, Serene tinha que admitir. Afinal de contas ela quase havia matado a outra mulher.

Severus Snape, amante de Laurel, Mestre de Poções da escola, nunca a perdoaria por isso, tinha certeza. Apesar de admirá-lo por sua habilidade, se mantinha afastada dele tanto quanto podia. Realmente, ela não conseguia manter amigos do sexo masculino. Sirius Black, por exemplo, famoso fugitivo de Azkaban, até recentemente trabalhava em Hogwarts usando o nome de White - estava novamente fugitivo desde poucos dias atrás. Agora ele estava desaparecido e Serene não podia dizer que estava sofrendo com isso, porque parecia que não conseguia trocar mais de duas frases com ele sem começar uma discussão. Mas ela gostava de Claire, a esposa dele. Gostava muito dela. E Claire, sendo um aborto, sabia como uma pessoa estranha se sentia. O que era mais importante - ela acreditava nas visões de Serene sem a relutância de Laurel ou a zombaria aberta dos homens.

Dumbledore, ela contou o terceiro dedo, Albus Dumbledore, apavorante com seu olhar de sabedor de tudo, era amigo dela e ela considerava esta amizade um presente precioso. Apesar de ocupado dirigindo uma escola como Hogwarts com suas centenas de alunos e – bem, excêntricos funcionários - ele gastava uma hora todas as semanas apenas para falar com ela. Claro que ela reconhecia aconselhamento quando o via, mas ele era o primeiro conselheiro que ela realmente respeitava, mesmo não podendo dizer a ele toda a verdade. Porque isso certamente significaria perder a amizade dele.

Três amigos em três anos, ela estremeceu.

Minerva McGonagall não confiava nela, Serene sabia disso. E Sybill… Sybill tinha inveja por causa de seu "dom" como ela gostava de chamar. "Ah, dom!" Serene murmurou. "Parecia mais uma maldição."

Mas enquanto Sybill quisera durante toda a vida ter as visões, Serene sofria. Sabia que era difícil ver o futuro - se ninguém acreditava em você… E ela sabia que não era fácil interpretar as visões de eventos futuros. As visões de Serene mostrando Snape matando Dumbledore tinham causado a sua tentativa de envenenar Laurel, de seqüestrá-la e mantê-la presa – apenas para descobrir que ela havia interpretado a situação de maneira totalmente errada. Mas, por outro lado – ela não havia previsto a morte de Cedrico Diggory no Torneio Tribruxo? E ela também havia tido uma visão em que Sirius voltava para Azkaban, e isso tinha ajudado Claire a remediar a situação e conseguir salvar a vida do bruxo que ela tanto amava.

Amor… Serene afundou a cabeça nos joelhos, sem esperança. Amor. Ela havia conseguido três amigos em Hogwarts. E havia Remus Lupin. Doce, gentil, lindo Remus Lupin, que ensinava Defesa Contra as Artes das Trevas e dizia estar apaixonado por ela. Ela nunca o encorajara, apesar de às vezes não ter desejado nada além do abraço dele e a afirmação que tudo ficaria bem.

E agora o bastardo estúpido tinha ido embora, se deixado prender em uma cela em Azkaban, entre todos os lugares, para salvar seu melhor amigo. Lupin era desse jeito, ela suspirou, nunca pensando em sua própria segurança. Ela se lembrava muito bem como ele e Severus tinham entrado pela porta da câmara que desaparecia, onde ela havia mantido Laurel prisioneira. Como Severus tinha levantado sua varinha e como a força do feitiço a jogara contra a parede. Remus não tinha hesitado um segundo, mas pulado entre ela e o furioso Mestre de Poções. O impacto do feitiço havia quebrado os braços dele e algumas costelas. Ele salvara a vida dela naquele dia, porque Snape certamente a teria matado sem pensar duas vezes.

E agora Remus tinha partido sem dizer que poderia nunca mais voltar...

Ela cerrou os punhos. Tanto para confiar… Todos em Hogwarts sabiam a respeito do plano idiota, todo mundo menos ela! De repente ela se exaltou e chutou com violência a pequena caixa de madeira. A tampa se abriu e o conteúdo se espalhou pelo gramado.

"Oh, droga!" Serene murmurou e se ajoelhou para catar as pequenas coisas que guardava na caixa.

"Precisa de ajuda?"

Ela olhou para cima e protegeu os olhos contra o sol. Laurel sorria para ela, com o pequeno menino que Severus tinha trazido no mês anterior, sentado em seu colo, balançando uma vassoura de brinquedo, feliz.

"Eu apenas…" Serene corou e tentou esconder a sua coleção embaixo das vestes.

Laurel sentou o menino na grama e disse a ele para brincar. Então se ajoelhou perto de Serene, ignorando o segredo da amiga. Na opinião de Laurel algumas pessoas construíam uma parede em volta do coração de forma a não permitir que ninguém as ferisse, mas de alguma forma, acabavam se tornando prisioneiras dessa mesma parede. Tinha sido dessa maneira com Severus, e agora com Serene. Laurel há muito tempo tinha decidido que não ia se importar com a grosseria de nenhum dos dois, mas se concentrar em suas respectivas virtudes. Serene e ela eram muito diferentes. Onde Serene era fogo, Laurel era terra. Onde Serene era impulsiva, Laurel era calma. As diferenças entre elas podiam ter feito delas inimigas, mas Laurel estava feliz por elas terem conseguido se tornar amigas.

Ela pegou o bonito baralho de tarô trabalhado, com figuras do sol e lua. "Eu lembro disso." ela disse suavemente. "Remus me pediu para entregar a você, quando encontrei com ele em Provence há dois anos atrás."

Serene tirou as cartas da mão dela e as colocou de volta na caixa.

"Você disse que não as queria, naquela época." Laurel não pararia. "E duvido que você tenha agradecido a ele por essas coisas bonitas". Ela pegou um vidro que continha uma miniatura do sistema solar e o colocou contra o sol. Quando um raio de luz bateu no vidro, o menininho bateu as mãos de alegria.

"Eu nunca pedi nada a ele." Serene replicou desafiadora.

Laurel riu e colocou o vidro dentro da caixa, junto com uma flor seca. "Você tem certeza de que você e Severus não são parentes?" ela perguntou. "Essa é a natureza dos presentes, Serene. Você não precisa pedir por eles." Seu sorriso se tornou mais caloroso quando ela pensou em Snape e em como tinha sido difícil para ele aceitar presentes. "Essa também é a natureza do amor." "Pare com isso, Laurel." Essa era a conversa que elas tinham todas as semanas, mas hoje Serene se sentia muito cansada para agüentar. "Eu não estou a fim."

"Como quiser." Laurel deu de ombros e deixou um bracelete de prata se enroscar em seus dedos. "Só mais uma pergunta: Foi ele quem lhe deu esse bracelete, também?"

Sem dizer nada, Serene tirou o bracelete da mão dela e o trancou na caixa. Laurel balançou a cabeça e suspirou. "Isto é prata, Serene."

"Eu sei. Eu disse a ele que era muito caro. Mas ele sabia que eu tinha ficado admirando o bracelete em uma pequena joalheria em Hogsmeade. Ele insistiu para que eu o aceitasse como presente de aniversário."

"Isto é prata." Laurel comentou novamente.

"Eu já disse que sabia disso. E sei que ele não pode comprar presentes como este."

"Remus é um lobisomem. Você já viu o que a prata faz na pele dele? Queima como se fosse um ferro em brasa." Laurel olhou para ela sem acreditar.

Serene engoliu em seco. "Eu nunca pensei nisso." ela admitiu suavemente. Então, antes que as lágrimas pudessem denunciar que ela estava sem forças, pediu: "Por favor, Laurel. Dê-me um desconto hoje. Já é bem difícil, saber que ele está longe, com os Aurores e os Comensais da Morte atrás dele."

Laurel colocou a mão sobre a dela, e a sensação estranha que Serene não podia explicar aconteceu novamente: o calor da outra mulher a atingiu, deixando-a calma e forte.

"Obrigada." ela murmurou, evitando a piedade nos olhos de Laurel.

Sua amiga deu a ela um último olhar preocupado, então colocou um tom animado e se virou para o menino. "Agora quem tem uma vassoura bem rápida, hein?"

Serene olhou como a criança brincava feliz com a vassoura de brinquedo que a Professora Hooch tinha dado a ele. Tinha apenas noventa centímetros e não voava de verdade, mas se levantava a poucos centímetros do chão e a criança gostava de fazer a vassoura decolar e pousar.

Ela sorriu levemente. "Ele parece muito feliz com você e Snape."

Laurel acariciou a cabeça da criança indulgentemente. "Ele é tão bonzinho. Quero dizer, não sei muita coisa a respeito de crianças dessa idade. Mas ele tem muita paciência comigo."

"Você ainda não deu um nome para ele?"

Uma sombra passou pelo rosto de Laurel. "Severus não permite. e ele está certo. Se eu der um nome, vou abrir meu coração ainda mais para ele. E quando os pais dele aparecerem e o levarem embora…" ela reprimiu um soluço. "Vai machucar mais do que já machuca."

Serene acenou concordando e pegou o dragão de pelúcia que Severus tinha dado a Laurel na Feira de Hogsmeade. Três meses, ela suspirou silenciosamente quando olhou triste para o brinquedo. Naquela manhã da feira Remus tinha pedido ela em casamento. E ela havia recusado, naturalmente. Ela nunca esqueceria a mágoa nos olhos dele… Mas ela precisava se lembrar que tudo isso evitaria uma dor muito maior que a da rejeição. Snape tinha razão – muitas vezes uma pequena dor no presente pode evitar dores muito maiores no futuro.

Acompanhada pelas gargalhadas excitadas do menino, sentou o dragão na vassoura e fez com que o brinquedo voasse mais alto do que deveria. Laurel pegou a varinha e fez o dragão balançar a cabeça quando passava por eles. De repente a criança se esqueceu da vassoura e olhou na direção da porta de entrada com tal expressão de adoração no rosto que Serene se virou, surpresa.

Severus Snape estava de pé no arco da porta de entrada, usando suas costumeiras vestes pretas, um olhar sombrio no rosto. O menino olhava na direção dele, os braços esticados, gorgolejando feliz.

Serene olhou atentamente o bruxo alto, enquanto ele observava a criança. Ele deu um passo para o lado, evitando qualquer contato com a criança, enquanto descia a escada, o menino tentando, em vão, abraçá-lo.

Laurel também tinha visto ele se manter afastado da criança, mas não disse nada. A criança, desapontada, aninhou seu rosto novamente nos ombros dela, quando ela o pegou no colo.

Serene se levantou quando Severus curvou a cabeça para cumprimentá-la. Sem qualquer palavra de cumprimento, ela perguntou ansiosa: "Alguma notícia de Remus Lupin?"

O Mestre de Poções deu de ombros. "Não. A lua cheia foi apenas ontem à noite, mas o Ministério vai tentar esconder o fato tanto tempo quanto possível."

"Se ele conseguiu escapar…"

Ele olhou para ela, uma expressão impenetrável nos olhos. "Lupin é inteligente e muito capaz." ele disse, mais gentil do que normalmente.

"Eu continuo repetindo para ela que é um longo caminho do litoral até Hogwarts, mesmo para um lobisomem." falou Laurel. "Ele provavelmente vai descansar um pouco e deve chegar amanhã."

Serene continuou a roer as unhas até Laurel bater na mão dela. "Pare com isso!"

"O quê?" Ela olhou para a amiga. "Parar o quê?"

"Roer as unhas em desespero." Laurel sacudiu a cabeça em uma leve reprimenda. "Remus vai voltar em segurança. Mas quando se encontrar com ele novamente, você deve deixar claro o que sente!"

"Não dê uma de mãezinha para cima de mim, Laurel Hunter!" Serene falou asperamente e afastou a mão dela. "Só porque você pode dizer a esse pequenino o que fazer, não quer dizer que pode fazer o mesmo comigo!" Ela pegou a caixa de madeira e deu um beijo na testa do menino. "Eu tenho uma aula para dar." E ela foi embora em um floreio de suas vestes esmeralda.

"Deixe-a roer as unhas antes que ela corte sua cabeça fora." Snape sugeriu secamente.

"Ela está preocupada com Remus." Laurel mordeu os lábios, um hábito que demonstrava que ela também estava preocupada.

"Eu não tenho dúvidas de que ele conseguiu escapar de Azkaban." falou Snape e sentou na escada. Laurel colocou o menino de volta na grama e deu a ele vassoura para mantê-lo ocupado.

"Mas?" ela perguntou suavemente.

"Nós não podemos esquecer que Lupin na forma de lobisomem não é tão racional como em forma de bruxo. Por isso ele tolera os efeitos colaterais da poção Wolfsbane todos os meses. Sem a poção a fera toma conta dele – e eu asseguro a você que não é um filhote de lobo que você possa acariciar."

"Mas ele não vai continuar lobisomem quando a lua minguar, vai?" Laurel perguntou, não pela primeira vez se indagando se tinha sido uma boa idéia deixar Remus no lugar de Sirius em Azkaban.

"Ele vai se transformar, sim. Mas nós só podemos esperar que ele não venha causando destruição no seu caminho de volta." Distraidamente Severus se abaixou para afastar alguma coisa que estava fazendo cócegas em sua perna e parou no meio do movimento.

O menininho riu quando o bruxo alto olhou para ele. "wassoa!" ele disse e riu novamente, como se tivesse feito uma grande piada.

"Você ouviu isso?" Laurel olhou para Severus. "Ele disse vassoura!"

"Não, minha querida, ele disse 'Wassoa'."

"Acredite-me, Severus, ele quis dizer vassoura. Ele diz isso sempre que vê você."

Snape franziu a testa e se levantou da escada. "Você está insinuando que eu pareço uma vassoura?"

Ela riu tanto que o coração dele deu um salto.

"Não, mas eu me pergunto se ele se lembra do vôo de vassoura para Hogwarts depois que você o salvou, naquela noite."

Ele olhou para a criança que balançava o dragão pelo rabo. "Ele estava dormindo naquela noite. Eu duvido que ele se lembre de alguma coisa." Passando a mão pelo cabelo ele acrescentou. "Albus pediu para nos reunirmos com ele na hora do chá."

"Dumbledore? Você acha que ele achou os pais da criança?" De repente ela pôde entender Serene muito melhor. Talvez você devesse experimentar o medo de perder alguém antes de realmente gostar dessa pessoa.

Pegando o rosto subitamente pálido dela, Severus se curvou e a beijou suavemente nos lábios. "Seja lá o que for, Laurel, vamos passar por isso juntos."


"Agora quero que vocês estudem os recortes de jornais que dei a vocês e façam um trabalho sobre as fraudes envolvendo profecias e leituras de sorte." Serene olhou para os alunos do sexto ano, expectantes. "Não aceitarei nada com menos de mil palavras. A menos, é claro, que vocês decidam fazer um trabalho sobre a bolsa de valores dos Trouxas." Ela arqueou as sobrancelhas para Hermione Granger, que já havia lido os artigos, sublinhando passagens inteiras nos seus recortes. "Nesse caso seriam pelo menos mil e quinhentas palavras, porque seria muito mais fácil. Mas isso vai dar a vocês créditos adicionais em seus estudos sobre Trouxas."

Silenciosamente, rezou para a aula terminar logo. A sua paciência estava se esgotando e os alunos da Sonserina e Grifinória estavam especialmente irritantes esta manhã.

Ela pulou e com dois passos rápidos estava de pé em frente a Draco Malfoy, forçando-o a entregar a varinha.

"Agora já é suficiente, Sr. Malfoy." Ela tentou manter a calma, quando viu que ele tinha enfeitiçado a mochila de Ron Weasley. "Isto não é engraçado, é infantil. Se você quer pregar peças, faça com que elas valham a pena, por Merlin!" Seu cabelo tinha escorregado do coque que ela usava para dar aulas e ela empurrou o cabelo para trás das orelhas impacientemente.

"Eu vejo você hoje às oito da noite na sala de Astronomia para detenção, Malfoy. E você, Potter, pare de sorrir ou você e Malfoy vão passar a noite juntos." O fato de Harry parecer gostar de saber que Malfoy ia ser punido não a incomodava tanto quanto ele ter dito a ela, no começo da aula, que Remus voltaria logo.

O sino tocou e os alunos e a professora deram um suspiro de alívio. Enquanto os alunos saíam, Serene guardou seus livros e papéis dentro da bolsa. Quando ouviu alguém pigarrear, ela se virou com um suspiro impaciente, esperando que fosse a Srta. Granger com outra pergunta. Mas era apenas um elfo doméstico, que sentindo que ela estava chateada, mantinha uma distância de um metro, como segurança.

Serene ficou chateada. Grande, agora até os elfos a detestavam!

"Sinto muito." ela disse. "Eu não quis ser rude com você. Apenas estou de cabeça quente."

"Você quer um copo de limonada?" o elfo perguntou esperançosamente. Normalmente a bruxa de cabelos vermelhos era muito gentil com os elfos, mesmo tendo levado algum tempo até ela entender como eles gostavam de ser tratados. Em troca, os elfos de Hogwarts passavam com muito cuidado os lençóis dela, porque ela gostava dos lençóis passados. Não que eles não passassem os lençóis dos outros também… "Você quer limonada? Com cubos de gelo?" ele tentou.

Ela suspirou. "Não, mas obrigada. Cabeça quente, você entende? Mau humor?"

O elfo olhou o rosto dela, em dúvida. "Você está fazendo uma piada, Professora?"

"Uma piada, sim. O que eu posso fazer por você?"

O elfo empalideceu visivelmente por baixo de sua pele verde. "Não, você está entendendo errado novamente! Nós que temos que fazer coisas por você! Você não faz nada!"

"Certo." Serene teve que sorrir, contra a vontade, do óbvio pânico demonstrado nos olhos do elfo. "Agora, o que você pode fazer por mim?"

Pegando um pedaço de pergaminho, o elfo relaxou um pouco. "A senhorita Claire, da Mansão Winterstorm, convida você para um chá amanhã." ele leu orgulhosamente. A maioria dos elfos domésticos de Hogwarts podia ler e escrever, o que não era comum na população dos elfos. Muitos bruxos achavam que seus elfos não precisavam aprender e por que eles precisariam saber escrever seus nomes se eles não saíam da cozinha mesmo? Mas Dumbledore tinha encorajado os elfos a estudar, e um deles tinha até escrito um livro sobre o tipo de mágica deles, que fazia com que eles dessem conta do serviço de um castelo tão grande como Hogwarts.

"Ela não está se sentindo bem?" Serene ficou preocupada. Afinal Claire estava esperando bebê e as últimas semanas haviam sido muito inquietantes para ela, com seu marido em Azkaban e sua recente fuga após ter sido recrutado como Comensal da Morte.

"Ela está esperando bebê, então ela está muito, muito bem!" comentou o elfo. Os elfos da Winterstorm e de Hogwarts mantinham contato assíduo e a fofoca fluía nas duas direções. Então não era segredo nas duas casas que Claire estava feliz a respeito do bebê, mesmo agora que Sirius Black estava fugindo novamente e não havia chance dele retornar em um futuro próximo, Serene pensou.

"Você quer mandar uma resposta?" O elfo pulava para chamar a atenção dela. "Você não está me ouvindo!"

"Sinto muito." suspirou Serene. Por que ela sentia que precisava pedir desculpas a todo mundo que encontrava hoje? "O que você disse?"

"Você não tem que se preocupar." a pequena criatura balançou as orelhas para enfatizar suas palavras. "Professor Lupin vai voltar logo."

Resmungando irritada, Serene passou a mão pelos cabelos. "Pare com isso! Eu não quero ouvir uma palavra sobre Lupin novamente." ela gritou.

"Azkaban pode ser um lugar ruim." o elfo continuou, sem se impressionar com a explosão dela. "Mas o Professor Lupin, ele vira um grande lobo mau se ele quiser. Ele vai voltar para casa logo." Guardando a carta com cuidado ele curvou a cabeça e saiu da sala, deixando Serene atordoada. Então até os elfos tinham sabido a respeito do plano. Até mesmo aquelas criaturas com olhos redondos, de cabelos parecidos com grama, aquelas pequenas criaturas tinham sabido…


"Laurel, Severus." o Diretor sorriu distraidamente enquanto continuava a procurar alguma coisa em uma pilha de pergaminhos em cima de sua escrivaninha. "Sentem, sentem." ele murmurou sem olhar para eles. De repente, ele suspirou exasperadamente e pegou sua varinha. "Accio!"

Um rolo escorregou de baixo da pilha e se colocou na mão do bruxo. "Ah, aqui está."

Ele olhou para o Mestre de Poções e para Laurel, que haviam sentado perto do fogo, ambos olhando ansiosamente para ele. Estalando os dedos ele conjurou um bule de chá e um prato com biscoitos de gengibre. Quando os dois convidados polidamente recusaram, ele deu de ombros. "Está esfriando rápido este ano. Gengibre e uma lareira, isso é o que um bruxo precisa nesse momento."

Esticando as mãos na direção das chamas, ele relaxou por um momento, como freqüentemente acontecia durante os últimos meses, ele parecia completamente exausto. Mas quando abriu os olhos, ele parecia renovado e alerta.

"Bem, bem. Vocês não querem doces, vocês não querem chá." Colocando os óculos na cabeça, ele sorriu para eles. "O que mais eu posso oferecer a vocês? Que tal um menininho?"

Laurel franziu a testa. "Do que você está falando, Albus?"

Ele pegou a mão dela, mas olhou atentamente para Severus. "Chegou ao meu conhecimento que os pais do seu pequeno convidado estão mortos."

Laurel ofegou, chocada.

Dumbledore continuou: "Os dois. E não há parentes próximos dos quais tenhamos conhecimento."

O Mestre de Poções sentou muito ereto e evitou o olhar de Laurel quando perguntou: "Como eles morreram? Um ataque dos Comensais da Morte?"

"Os pais dele morreram de uma forma muito semelhante à dos assassinatos no Godric Hollow." as sobrancelhas de Dumbledore se agitavam enquanto ele lia o pergaminho. "Esse relatório diz que alguém - e nós podemos concluir que não foi Voldemort, mas Pettigrew ou alguém do primeiro escalão – entrou na casa, matou Elias Kramer, então entrou no quarto do bebê, onde a senhora Kramer estava colocando o bebê para dormir. Eles foram encontrados mortos em cima da cama, e eu imagino que ela estava tentando proteger a criança. Os Aurors não encontraram pistas do pequeno Jonah."

"É esse o nome dele? Jonah?" Laurel estava sentada na cadeira, muito pálida, as mãos cruzadas no colo.

"Jonah Kramer. Sim." Dumbledore concordou. "Você sabe da infiltração no Ministério, como eles reportam tudo a Voldemort. Nós não podemos deixar eles saberem que o menino está vivo. Eles fizeram tudo para a morte dos pais dele parecer com a dos Potters, e eu fico me perguntando, por quê."

"Primeiro foi o sangue." Severus se levantou da cadeira e andou para perto do fogo, feliz com a oportunidade de esconder seus sentimentos confusos depois de ouvir as revelações de Dumbledore a respeito do menino. "Malfoy disse que era extremamente caro e pelas minhas análises eu sei que eles tentaram chegar o mais perto possível do sangue de Potter. Mas aparentemente isso não foi suficiente e eles tentaram outra coisa. Recriar um novo Potter, um outro menino que sobreviveu."

"Mas… você realmente pensa que o poder que Lily Potter evocou na época pode ser reproduzido por alguém?" Laurel perguntou, confusa. Devagar as conseqüências das palavras de Dumbledore começaram a entrar em sua mente e um sentimento de alegria se espalhou em seu coração e em seu corpo.

"Temo que Severus esteja certo." disse Dumbledore e pegou outro biscoito. "Voldemort ainda está fraco e mantê-lo vivo é caro. Harry nos contou a respeito do ritual em que Pettigrew trouxe seu mestre de volta. Por Claire e Sirius nós ficamos sabendo que eles iam repetir o ritual e na falta do sangue de Harry eles iam usar algo similar. Eles não vão parar agora que essa criança está fora do alcance deles. Eles vão tentar um substituto pra Jonah.

"Mas isso vai levar tempo." Laurel interrompeu. "Jonah está em segurança e se você achar que nós podemos ficar com ele, nós ficaremos muito felizes." Pegando a mão de Severus, ela olhou para ele. "Nós ficaremos, não é, Severus?"

Snape fechou os olhos por um momento e respirou fundo. "Você sabe o que isso significa, não sabe, Laurel?"

Ela concordou ansiosa. "Ele vai ser nosso filho."

"Sim, ele vai ser nosso filho. Mas e se algum parente no futuro aparecer e quiser tirá-lo de nós? Você vai conseguir abrir mão dele?"

"Não." Ela olhou para o chão, e ele sentiu a dor dela como se fosse a própria. Indefeso, pegou a mão dela.

Dumbledore pigarreou. "Se isso ocorrer - e isso não é muito provável, eu vou colocar toda a minha força a seu favor, Severus. Eu prometo isso a vocês."

"Um ex-Comensal da Morte. Uma bruxa criada como Trouxa, que faz pouco tempo aprendeu a controlar seus poderes devastadores. Nenhum tribunal vai nos deixar ficar com Jonah, se o outro lado for apenas meio respeitável."

"Não se deprecie, Severus." repreendeu o Diretor gentilmente. "Vocês dois vão ser excelentes pais para esse menino ou qualquer outra criança que vocês tenham."


"Você está realmente irritante ultimamente, Sr. Malfoy!" Serene falou quando o louro da Sonserina apareceu na sala circular no topo da torre de Astronomia para pagar sua detenção.

Draco levantou os ombros de forma desafiadora e deu a ela um de seus famosos olhares frios. Ela pôde ver porque metade das garotas do seu ano tinham uma queda por ele - e porque a outra metade queria matá-lo...

"Esta é a sua terceira detenção em quatro semanas. Você está planejando fazer a minha vida miserável?" ela perguntou, fechando seu caderno. "Não pense que eu não tenho coisas melhores para fazer do que ficar vendo você limpar as xícaras da Professora Trelawney."

Novamente não recebeu resposta, mas um olhar frio dos olhos cinzentos dele. Ela deu de ombros. Normalmente ela se dava bem com a maioria dos alunos mais velhos, era por isso que Sybill deixava as turmas mais adiantadas para ela ensinar, enquanto ficava com a adoração dos mais jovens, mais fáceis de impressionar.

No ano anterior Draco Malfoy nunca havia causado problemas, mas isso havia mudado esse ano, e ela ouvia dos outros professores o mesmo tipo de experiência. Dumbledore tinha até marcado isso como um tema de discussão na reunião dos professores, frisando que desde que Severus Snape tinha sido descoberto como espião da luz, Draco não podia mais confiar nele como Chefe da Casa. Quando ela olhou a postura do menino, sentiu pena dele. Não tinha sido fácil ser uma adolescente clarividente, mas não devia ser fácil ser filho do Terceiro no Comando de Voldemort, também. Ela duvidava que Lucius Malfoy daria a seu filho a oportunidade de decidir se queria se unir aos Comensais da Morte ou não.

"Não, não usando sua varinha." ela o repreendeu. "Você sabe que a Professora Trelawney adora sua porcelana chinesa. Precisa de sabão líquido, água morna e um toque gentil."

Ele franziu a testa e pegou uma xícara com dois dedos para colocar na água.

"Oh, vamos lá!" exclamou Serene, de repente exasperada com a atitude dele. "Não é como se eu mandasse você lavar os caldeirões de Snape!"

Draco relaxou visivelmente com a voz severa dela. Serene franziu a testa. "Pare de brincar com as xícaras e sente-se." ela determinou. Quando ele secou as mãos e sentou na cadeira de Sybill, Serene cruzou os braços e observou atentamente o rosto dele.

"O que está acontecendo, Malfoy?"

Ele zombou. "Estou feliz que você não possa continuar falando do seu jeitinho doce."

"Jeitinho o quê?"

"Por que eu estou sendo tratado de repente como se fosse um indisciplinado?" Ele se levantou e cerrou os punhos, manchas vermelhas aparecendo em seu rosto pálido. "Sei muito bem que a maioria dos professores na escola me despreza pelo que meu pai é..." ele tossiu. "Quero dizer, o que ele era."

"Isso não é verdade." Serene balançou a cabeça.

"Oh, por favor, Professora! Não sou mais uma criança, posso encarar a realidade. Sou um Malfoy, sou da Sonserina. Mas, ultimamente, todos tentam ser condescendentes comigo, não importa quão mal eu venha a me comportar." Ele mantinha os olhos fixos em seus sapatos como se nunca os tivesse visto antes. "Mesmo você."

"Ser condescendente com você? Meu querido Sr. Malfoy, o dia que eu for condescendente com você, a lula gigante vai conseguir ser professor de

Defesa Contra as Artes das Trevas nessa escola.

O rosto dele se iluminou. "Então você não está tentando ser gentil comigo?"

Serene tentou manter seu rosto inexpressivo, quando replicou gravemente: "Não, eu não estou sendo gentil."

Suspirando, Draco sentou novamente e Serene se segurou na beira de uma das mesas. "É tudo culpa dela!" ele murmurou, olhando para a lareira apagada.

Serene levantou uma sobrancelha. "Culpa de quem?"

"Da professora Hunter." os olhos de Draco soltavam chispas de raiva. "Ela é tão... piegas. E Professor Snape... Quero dizer, ele devia ser um bruxo inteligente! Como ele pode engolir isso? É culpa dela se ele rompeu com seus amigos, inclusive meu pai!"

"Piegas..." Serene pigarreou. "Eu asseguro a você, Draco, a Professora Hunter pode parecer piegas às vezes, mas ela é a pessoa mais honesta que já conheci. E ela ama Snape." Ela levantou as mãos em um gesto de descrença. "Não me pergunte por quê."

"Mas..."

Uma batida na porta aberta os interrompeu.

"Professora Kennedy. Um minuto do seu tempo, por favor."

Draco viu com interesse como o rosto de sua professora de Adivinhações ficou branco.

"A detenção acabou, Sr. Malfoy." ela conseguiu falar, de repente, respirando com dificuldade.

Quando ele se levantou, viu de relance o bruxo na porta. As roupas de Lupin estavam mais rasgadas e sujas do que nunca - se isso fosse possível. E ele parecia ter sido torcido e cortado – nenhuma novidade no dia seguinte ao da lua cheia. Draco lembrou como seu pai tinha explodido quando soubera a respeito da licantropia do Professor. Draco tinha ficado silenciosamente desapontado. Quem imaginaria que os lobisomens fossem tão... tão, entediantes?

"Boa noite, Professores." ele murmurou e desceu as escadas espirais, não sem antes ouvir as primeiras palavras de Serene. Ele riu e correu para a sala comunal da Sonserina, para pensar no que ele tinha visto e ouvido.

"Você. Estúpido. Bastardo."

A voz de Serene quase falhou com raiva e alívio ao mesmo tempo. Ela pensou rápido. Oh, ele parecia terrível, com um longo arranhão na mandíbula, profundas sombras sob os olhos e seu cabelo emaranhado. Ela sentiu uma necessidade de se esconder nos braços dele, beijar cada pedaço do seu rosto, de implorar que ele nunca mais a deixasse tão apavorada novamente – mas ao invés disso tudo, ela deu um tapa em cheio no rosto dele, tão forte que ele foi empurrado para trás.

O tempo parou. Remus se sentiu totalmente entorpecido. Ela havia batido nele. Ele tinha pensado nela o tempo todo nestes três últimos dias, a imagem dela tinha sido sua estrela guia que o trouxera de volta a Hogwarts, a única coisa constante quando sua mente se tornara selvagem - e ela batera nele.

Ele não tinha tido tempo para tomar um banho, nem se refrescar, ou trocar suas roupas por limpas, ou comer qualquer coisa. Com todo o seu cansaço, sua exaustão pela luta incessante contra a fera dentro dele – ele não tinha sentido falta de qualquer outra coisa, exceto dela. E ela havia batido nele. Ela nunca entenderia o que aquilo significava para ele. Que ele não tinha escolha, que não podia desistir de seus sentimentos, escolher outra mulher, mais doce, mais gentil, mais suave...

Antes que ela o atingisse pela segunda vez, Remus pegou o pulso dela no ar. Seus olhos lançavam chispas.

"Nunca mais faça isso." ele disse muito suavemente, por entre os dentes.

"Você deveria ter me contado!" ela gritou e bateu com os punhos cerrados no peito dele. "Maldito, maldito, maldito!"

Com um som que mais pareceu um rugido do que um gemido, ele a puxou para seus braços.

O beijo foi violento no começo, quase brutal. Remus era surpreendentemente forte e a apertava sem piedade. Toda a raiva contida, a frustração de três anos fluíram naquele beijo e embora Serene lutasse no início, ela parou assim que entendeu o que estava acontecendo.Ela havia batido nele! Ela havia batido no único homem que nunca a magoara, que nunca havia dirigido uma palavra dura para ela. O único homem que... Não, ela se repreendeu. Isso não podia acontecer, para o bem dela, para o dele e para o bem do mundo em que viviam. O que significava a felicidade de duas pessoas comparada com a vida de tantas outras?

Ela havia decidido há muito tempo atrás que teria que viver sem o amor de Remus. Mas como poderia continuar vivendo sabendo que ele a odiava? Ela precisava fazer alguma coisa, dar a ele algo para remediar o tapa, e então ela respondeu cada investida dura dos lábios dele com suavidade, até que o beijo se tornasse o que devia ser, não uma punição, mas uma carícia.

O olhar que ele deu a ela, quando de repente a soltou, era uma mistura de exaustão e cansaço, e alguma coisa mais profunda.

"Teria feito alguma diferença se eu tivesse contado a você?"

Quando ela não disse nada, ele deu de ombros e saiu, deixando Serene parada no meio da sala com lágrimas espontâneas rolando pelo rosto.

Continua...

NA: Eu não esperava demorar tanto para postar a continuação de Voltando a ser um só... os dois primeiros capítulos, na realidade, já estão traduzidos faz tempo. Mas é que eu não tive férias de julho e a faculdade nesse quarto semestre está realmente pesado. Muitas das minhas fics foram para hiatus. Não quero fazer isso com WA, mas talvez seja preciso, até as coisas aliviarem um pouco na minha vida fora do computador.

Eu irei postar o segundo capítulo em breve. Mas não esperem o terceiro tão cedo. Principalmente porque, pra mim, a parte do Remus é a mais difícil de se traduzir.

E mil perdões pelos erros de português, mas não consegui entrar em contato com minha beta... acho que até ela desistiu dessa fic...