Kuroko no Basket e seus personagens pertencem a Fujimaki Tadatoshi;
— Esta é uma fanfic BL, ou seja, envolve o relacionamento amoroso e/ou sexual entre homens. Se você não gosta ou sente-se ofendido com esse tipo de leitura sugiro que vá ser feliz lendo shoujo;


Yesterday

A última vez que Himuro Tatsuya fez uma tabela de tarefas foi no ginásio, quando precisou balancear os estudos, treino de basquete e aulas de inglês. As colunas e linhas não serviam unicamente para avisá-lo quando uma tarefa começava e outra terminava, mas também para lembrá-lo de fazer suas refeições, escovar os dentes e passar alguns momentos na companhia dos amigos, na quadra próxima ao seu apartamento. Foi em uma dessas escapulidas que ele eventualmente conheceu Kagami Taiga, embora, a partir daquele encontro, sua tabela houvesse perdido completamente o sentido. Himuro ficou tão encantado pelo garoto que todas as demais atividades passaram a vir em segundo plano.

Anos depois ele se encontrava em frente à geladeira, encarando a tabela que havia feito há algumas semanas e recordando-se com carinho de seu passado. Aluno do terceiro ano do ensino médio, ele viu seu tempo tornar-se escasso. Por mais dois meses ele ainda faria parte do time de basquete do colégio Yousen, porém, já não podia abrir mão dos estudos para a universidade, ainda que o convide estivesse fixado bem diante de seus olhos.

A universidade de Tokyo exigia um exame de admissão que era temido por todos os estudantes japoneses. Eu terei uma bolsa de estudos para jogar na universidade, mas não adiantará nada se eu reprovar na prova. Realmente, a vida é difícil. Se seu drama educacional não fosse o bastante, Himuro lutava para encaixar naquela agenda tão apertada algumas horas de amor e carinho, que pareciam tão necessárias naquele momento delicado. O nome de Murasakibara havia sido escrito em caneta roxa propositalmente, no entanto, em cima de ao menos meia dúzia de Atsushis havia um risco vermelho e um pequenino "cancelado" acima.

Um longo suspiro roubou sua atenção da folha de papel e ele fechou os olhos, tentando não deixar que o sentimento de culpa o possuísse. Quase todos os encontros foram atrapalhados pelos treinos e dois deles coincidiram com as aulas extras que ele estava tendo com outros alunos de sua classe. Eu não tenho como fazer cursinhos, então alguns colegas organizaram grupos de estudos. Infelizmente todos são aos sábados à tarde. O contato com o amante nas últimas três semanas se limitou ao horário do almoço e os minutos de descanso durante o treino. Não precisaria ser a mais atenta das pessoas para imaginar que Murasakibara não estava feliz com a situação e não media esforços em deixar claro que estava fazendo sua parte como namorado.

Himuro abriu a geladeira e pegou a garrafa de chá verde, saindo da cozinha e seguindo pelo curto corredor. Mais um domingo havia passado e com o céu escuro ele sentia como se a segunda-feira já houvesse começado. Eu vou tentar manusear melhor meu tempo essa semana. Sábado não teremos aula e se eu não for ao grupo de estudos eu e Atsushi poderemos passar o final de semana juntos.

O prospecto de dois dias inteiros ao lado de Murasakibara levou uma coloração rosada às suas bochechas. Sexualmente falando ele sabia que estava frustrado, visto que não restava tempo sequer para conversarem quanto mais se engajarem em atividades eróticas, mas seu coração acelerou-se somente com a ideia de poder passar algum tempo ao seu lado. Eu sinto que nos distanciamos um pouco. Eu quero ouvir as novidades e as histórias de Atsushi. Verdade seja dita, eu quero apenas tê-lo comigo.

O moreno entrou no quarto, sentando-se à mesa de estudos e abrindo o notebook. O celular ao lado vibrou e o nome da pessoa que ele estava pensando piscou embaixo de uma foto tirada no último verão. Murasakibara estava com o rosto vermelho e os cabelos presos em um charmoso rabo de cavalo. Aquele dia fora passado na praia e os dois se divertiram tanto que a foto não só servia como identificadora, como seu plano de fundo.

O largo sorriso que brotou em seus lábios ao ver a mensagem se desfez lentamente e os olhos brilhantes se arregalaram devagar. Oh não... Himuro apressou-se em apertar o botão para realizar a ligação, mas o tom de espera foi tudo o que ele escutou, não importasse quantas vezes tentasse. Ele não quer me atender. O moreno levantou-se da cadeira, tirando o conjunto de moletom que vestia e correndo até o guarda-roupa para procurar por uma nova troca de roupas.

Em menos de cinco minutos Himuro deixava seu apartamento, correndo pelo corredor e descendo as escadas enquanto pulava os degraus o máximo que conseguia. Se eu correr estarei lá em vinte minutos. Se pegar o trem levarei quinze... muito tempo. A escolha de pegar um táxi pareceu a mais óbvia possível e ele não hesitou em entrar no carro, passando o endereço e pedindo que o motorista fosse o mais rápido possível.

Recostado ao banco e sentindo o coração pular em seu peito, o moreno releu a mensagem e martirizou-se por sua falta de atenção. "Obrigado por me deixar esperando por duas horas, Himuro." Estava escrito em um japonês perfeito, sem emojis ou honoríficos. Himuro fechou os olhos, imaginando que quando retornasse da casa de Murasakibara precisaria riscar mais uma vez seu nome com a caneta vermelha.

Ele havia se esquecido de que tinham um encontro naquela tarde.

x

Perseverança nunca foi uma de suas qualidades mais marcantes, mas Himuro tentou. Realmente, tentou.

Durante toda a semana ele esforçou-se além de seus limites para conseguir o perdão de Murasakibara, mesmo que todas as suas tentativas houvessem sido em vão. No domingo, ao chegar à casa do amante, ele foi recebido por um sério Atsushi, que permaneceu imóvel enquanto o ouvia explicar-se e desculpar-se. Nada foi capaz de dissuadi-lo e o alto pivô o mandou friamente embora antes de dar meia-volta e entrar novamente em casa. O moreno precisou de alguns minutos para acordar daquele estupor. A realização o atingiu no caminho de volta para o apartamento e ele pegou-se rindo sozinho na rua, amargurado e sentindo-se uma completa falha.

Himuro rejeitava, ele não era rejeitado.

Durante sua curta existência, amantes vieram e amantes se foram e todos os relacionamentos, sem exceção, terminaram por suas mãos. Pela primeira vez na vida ele encontrava-se na posição em que havia deixado dezenas no passado. A única diferença era que ele não planejava desistir. Desde o começo Atsushi foi a exceção. Ele é a primeira pessoa que amei de verdade. Himuro estava convencido de que não havia a menor chance de abrir mão de Murasakibara, ainda que isso custasse todo seu orgulho e resultasse em uma chuva de humilhações e vergonha alheia. Seu namorado valia muito mais do que qualquer sentimento de autoestima que ele possuísse.

A indiferença do rapaz de cabelos roxos parecia ter evoluído. Quando se conheceram, ambos não se deram bem à primeira vista e o modo que Murasakibara encontrou para demonstrar sua antipatia foi ignorá-lo quase por completo. Com exceção dos treinos de basquete, o rapaz fingia não vê-lo ou ouvi-lo e isso durou até o primeiro verão, durante uma briga no vestiário. Socos foram dados nos armários, bolas atiradas na parede e o que começou com um tolo mal-entendido terminou com um passional e intenso beijo. A partir daquele dia o tratamento silencioso desapareceu e toda a indiferença transformou-se em amor.

Por cinco dias Himuro tentou aproximar-se, implorando por meros minutos para que pudesse explicar a situação. Entretanto, em cada abordagem o humor do amante parecia pior. Os olhos violetas o fitavam com uma mistura de desdém e tristeza e mesmo não demonstrando Himuro sabia que o havia magoado.

Na sexta-feira, após o treino, o moreno apressou-se em deixar o vestiário, já que durante a semana Murasakibara saiu do treino direto para casa, provavelmente para evitá-lo. Seus músculos estavam cansados, mas ele não se importaria de correr até a saída do colégio se isso significasse mais uma tentativa em fazer-se ouvir. Sua mão empurrou a porta do vestiário e ele jogou-se para fora, trombando com a parede e perdendo o equilíbrio. A queda teria sido iminente se uma grande mão não houvesse segurado seu braço.

"O-Obrigado, mas estou ocupado, com licença..."

Ele abaixou-se, pegando a alça da bolsa esportiva e passando pela pessoa em frente ao vestiário.

"Você está sempre ocupado, não é?"

Os passos cessaram e o moreno virou-se devagar, apertando a alça com mais força e sentindo-se duplamente idiota: por não ter percebido que não havia uma parede em frente à saída do vestiário e por ter ignorado quem o havia ajudado.

"Eu estava apressado porque estava lhe procurando, Atsushi." O momentâneo alívio foi substituído pelo imediatismo que a situação exigia.

"Eu estava aqui o tempo todo." Himuro tentou ignorar o modo como aquela implicação era verdadeira em vários níveis.

"Desculpe..."

"Desculpas, desculpas, é a única coisa que você tem para me dizer?" Murasakibara aparentava estar estranhamente irritado. Normalmente, o Pivô do colégio Yousen era uma pessoa fácil de lidar e não se importava com nada que não fosse seus doces.

"A princípio, sim." ele aproximou-se. "Eu tenho tantas coisas para me desculpar que precisaria de um pouco do seu tempo para conversarmos. Por que não vamos para o meu apartamento? Você pode tomar b—"

"Eu não vou a lugar nenhum com você, Himuro." Murasakibara olhou para o lado antes de voltar a encará-lo. "Eu ainda estou bravo por ter ficado te esperando por duas horas."

Himuro... Himuro... ele não me chama de outra coisa desde domingo.

"Eu sei, e você tem toda razão para estar bravo." Ele colocou a franja atrás da orelha, sentindo-se nervoso. "Eu estava concentrado em estudar e esqueci o nosso encontro, mas isso não vai voltar a acontecer."

"Não vai mesmo, porque eu não vou mais a nenhum encontro com você."

"O-O quê?" Himuro vacilou. "O que você quer dizer com isso?"

"Exatamente o que você ouviu, Muro-c—, digo, Himuro! Vá para a sua universidade estúpida, eu não me importo!"

"A-Atsushi, espere, nós precisamos conversar! Eu não vou deixar que você fale essas coisas." Ele deu um passo à frente, segurando-o pela jaqueta branca do time de basquete.

Murasakibara engoliu seco e o segurou pela mão, retirando-a de sua jaqueta, mas sem soltá-la. Sentir o calor daquela pele depois de tanto tempo o desarmou completamente.

"Sabe, Muro-chin, eu estava realmente ansioso pelo encontro de domingo, porque nós raramente nos vemos agora. Eu tinha comprado ingressos para o Aquário porque você disse que queria ir, e depois pensei em seguirmos para o parque..."

"Eu sei, eu também estava, acredite." Seus dedos entrelaçaram os do amante, mas sua companhia desvencilhou-se. "Atsushi, por favor. Eu sei que se sentarmos e conversarmos tudo ficará bem."

"Talvez, mas não agora. Eu falei sério quando disse que estou bravo. Você me machucou, Muro-chin."

Himuro abaixou os olhos, colocando as mãos ao lado do corpo e inclinando-se à frente. A reverência foi seguida por um formal pedido de desculpas que não foi respondido. Murasakibara conservou-se à sua frente por alguns segundos antes de afastar-se. O moreno sentiu os olhos úmidos, mas as lágrimas não caíram. Não é justo com Atsushi que eu chore. Eu não sou a vítima.

Os passos que deixaram o colégio foram lentos e desanimados e a ideia de voltar para seu apartamento solitário parecia impossível. Só há um lugar para eu ir. O aparelho celular dançou em sua mão e o número que ele procurava estava entre os favoritos. Seu interlocutor atendeu no segundo toque e a voz afastou momentaneamente sua tristeza.

"Você está sozinho?" Não haveria treino no final de semana e ele já decidira que não estava com bons humores para estudar. Se eu correr chegarei a tempo... "Então espere por mim. Eu vou passar esta noite com você."

Desculpe, Atsushi... de novo.

Continua...