PRÓLOGO

Aquele inverno tinha tudo para ser o inverno mais lindo de todos. Hermione sabia disso. A barriga grande, grande até demais para um único bebê, que a impossibilitava de colocar seu mais lindo vestido vermelho, não a incomodava. Não se sentia triste por ter de escolher o vestido verde esmeralda no lugar do vermelho sangue. Não tinha como estar triste estando grávida.

Arrumava os cabelos cacheados em uma trança meio solta quando sentiu. Um chute forte, muito mais do que todos aqueles que havia sentido durante os nove meses com sua criança no colo. Pôs a mão em seu ventre, sentindo o já familiar apertar. Doía, mas era uma dor tão deliciosa que não havia como deixar de rir. Ele estava vindo! Seu pequeno Brendon estava vindo, finalmente. Em uma noite de natal.

Gritou pelo marido, que correu ao seu encontro, os cabelos ruivos despenteados e a blusa desabotoada até a metade do peito suja de gordura e suor. Ronald odiava cozinhar, mas ele tinha de fazê-lo naquela noite, pois era natal e Hermione estava prestes a ter seu terceiro filho. Um sorriso meio torto abriu-se nos lábios de Ron, mas a esposa fez questão de ignorá-lo por completo. Sua alegria não seria abalada nem mesmo pela infelicidade do marido em ter aquele filho. Não no natal.

Ronald não iria. Ele disse ter de preparar a ceia, pois Molly precisava dele. O que era uma mentira, pois Molly tinha a ajuda de mais quatro filhos para preparar tudo. Hermione franziu o cenho, mas não reclamou. "Não se importe. Não hoje. Pense em Brendon." O pai saiu do quarto com murmúrios e gritou pela filha mais velha. Em instantes Rose apareceu com seu usual vestido de bolinhas natalino e os cabelos ruivos presos para trás em um coque. Os 15 anos fizeram bem para a garota. Linda como um pôr-do-sol, como o namorado dizia. Seus olhos castanhos amendoados brilharam ao ver a mãe. "Vamos." Ela sussurrou ternamente segurando a mão de Hermione com um sorriso.

Rapidamente estavam em um hospital. Não o trouxa que costumavam frequentar. St. Mungus. Hermione arfou. O que faziam ali? Seus olhos buscaram por Rose, mas ela ocupava-se falando com uma enfermeira de vestes azul celeste. A mesma lançou um sorriso para a futura mãe, arrastando a cadeira de rodas flutuante por um corredor extenso e muito bem iluminado. Crianças corriam para todos os lados, e choros ocasionais eram abafados por detrás de portas.

Ela não entendeu como, mas estava em uma maca, usando apenas uma camisola, quando o médico chegou. Era indolor, ela sabia. Aquele não era seu primeiro filho. O que a fez soltar uma exclamação foi o andar firme e os ombros tensionados do médico que vinha ao seu encontro. Uma prece passou pela cabeça da mulher, que não podia acreditar no que estava acontecendo naquele momento. Milhares de "nãos" martelavam seu cérebro. Seria possível que em uma noite boa como aquela ele estaria ali? O sorriso de escárnio comprovou suas suspeitas.

- Granger. – ele disse, mas ela não tinha como responder. Estava hipnotizada por tão belos olhos azuis, como sempre acontecia – Scorpius me contou que viria até aqui. Sabe como é, ele e Rose, não? Talvez tenham mais sorte do que alguns amantes desafortunados.

Hermione recusou-se a responder tais insinuações. Apenas fechou os olhos e contou até dez, sentindo o Doutor, o chamaria assim, pois usar seu nome pioraria as coisas imensamente, tocou suas pernas, e ela tentou se convencer de que os dedos dele demoraram o tempo exato, e não um pouco mais do que deviam, ao tocá-la com delicadeza. E ao retirar a varinha do jaleco branco.

No próximo minuto, ali estavam os dois. O Doutor, e seu mais novo filho. Mas o Doutor carregava outra criança. Eram duas. Dois bebês. Hermione quase desmaiou quando o viu carregar duas crianças com uma perfeição nada compatível com seu andar duro e rígido. Dois? Mas todos os estudos, todos os exames...

- Parabéns, senhorita Granger. – a voz do Doutor chegou aos seus ouvidos enquanto o mesmo colocava duas crianças em seu colo – São gêmeos.

A primeira coisa na qual Hermione reparou foi nos lindos cabelos castanhos de Brendon... Nenhum dos seus filhos tinha cabelos castanhos. Os dois primeiros eram ruivos como o pai. A garotinha era loira. Um loiro platinado que fez o sangue de Hermione gelar. Ia escurecer. Claro. Escureceria rapidamente e viraria a cor de mel que seus cabelos tinham ou o ruivo alaranjado dos cabelos de Gina. Certamente a platina daqueles fios não duraria muito.

A mãe passou os dedos levemente pela cabeça das crianças, sorrindo mesmo com as lágrimas nos olhos. Levantou o olhar, esquecendo-se por um momento de quem aquele homem a sua frente era. Pensando nele como o homem que havia ajudado-a a dar a luz aos seus quatro filhos. Ronald nunca estivera com ela. Mas ele... Ah, o Doutor sempre esteve lá. Ia dizer um sincero "obrigada", mas foi interrompida por um gemer das crianças em seus braços.

A pequenina se contorcia. Qual seria o nome dela? E, como em um gesto programado, eles abriram os olhos. Hermione gritou, mesmo sabendo que ninguém além do Doutor conseguiria ouvi-la. Ela estava novamente hipnotizada. Hipnotizada por tão belos, e pequenos, olhos azuis. Não era o presente de natal que ela queria.