Aquilo que mora no coração

A Descoberta e a Atitude

Sesshoumaru caminhava em passos largos pela mata fechada juntamente com seu lacaio sapo e a menina humana, Rin.

Ele havia sentido uma presença conhecida, e algo dentro dele o fez ir até onde estava indo para confirmar suas suspeitas.

Chegou a clareira onde ficava o famoso poço come ossos e confirmou suas suspeitas.

A miko humana, Kagome Higurashi, estava próximo ao poço, arriada no chão contorcendo-se.

Ele podia sentir o cheiro de suor e sal vindo do corpo dela, indicando que ela devia estar passando por algo doloroso...

No alto de sua arrogância e prepotência, ele disse para que Rin e Jaken não se aproximassem, pois ele mesmo iria verificar o estado da "humana de Inuyasha".

- O que está acontecendo miko? – perguntou com desinteresse sem sequer abaixar-se ou demonstrar preocupação.

Kagome sobressaltou-se ao ouvir a voz fria e conhecida do irmão mais velho de Inuyasha e gemeu novamente antes de responder.

- Eu não sei... – dizia entre gemidos e suspiros – Eu estava indo para a minha era quando senti uma dor infernal no estômago. Acho que a comida não me fez bem.

Sesshoumaru percebeu que a humana estava com a testa suada e extremamente pálida. Seja lá o que ela ingeriu, certamente a mataria se não se tratasse.

- Você é uma miko, deveria ter conhecimento de ervas para curar tal problema. – disse ele seco e direto.

- Eu já ingeri algumas... – disse ela fracamente – mas não resolveu. – tomando fôlego completou – tenho que voltar para minha era e ir para um hospital, mas estou muito fraca para ir sozinha.

- Onde está o inútil do meu meio-irmão? – Sesshoumaru perguntou impaciente.

- Eu não sei... – ela disse bem baixo – nós brigamos... Talvez atrás da boneca de barro da Kikyo.

Sesshoumaru rolou os olhos e pensou que esse comportamento ridículo era a cara do meio irmão.

Detestava humanos. Sempre mantinha total distância deles, pois se chegasse muito perto, mataria à todos. Sua única excessão era Rin, por motivos que nem ele tinha conhecimento.

Kagome tinha ajudado, e muito, na batalha contra Naraku. Sem ela, talvez não tivessem tido êxito. E ele a reconhecia como uma boa adversária e guerreira, qualidades muito apreciadas em companheiras youkais. O que ele não entendia era porque havia pensado nisso justo agora.

Viu Kagome querendo fechar os olhos e sabia que isso não era nada bom.

- Jaken! – chamou o lacaio.

- Sim, senhor Sesshoumaru? – o youkai respondeu prontamente, puxando bastante na letra "s".

- Leve Rin para o palácio e cuide dela até eu voltar! – disse firme.

- O que vai fazer Sesshoumaru-sama? Não posso ir junto? – perguntou a linda menina de cabelos castanhos, que no momento usava uma tiara com flores que ela havia colhido no caminho.

- Vou levar essa humana para sua era antes que ela morra. – disse de maneira simples e direta – E não Rin, você não pode ir! Vá com Jaken e comporte-se como uma boa dama.

- Sim senhor! – disse a menina sorrindo.

Com tudo acertado, Sesshoumaru carregou Kagome facilmente em seu braço, notando o quanto ela estava debilitada, e pulou dentro do poço come ossos. Viu-se envolver por uma luz forte e colorida e em poucos segundos estava em outro lugar.

"Deve ser a tal outra era.", pensou com seus botões.

Saiu de dentro do poço com um salto e se viu dentro de uma espécie de templo. Como nunca havia ido até lá, não sabia onde levar Kagome.

- Miko, acorde. – disse sacodindo levemente a humana em seus braços – Vamos miko, estamos em sua era, onde precisa ir?

Kagome abriu os olhos com dificuldade e respondeu com dificuldade:

- Saia e procure minha mãe na casa ao lado desse templo... – desmaiando em seguida.

Sesshoumaru não pensou duas vezes e com sua velocidade de youkai, logo estava DENTRO da casa de Kagome, assustando a todos que estavam ali.

- Por todos os deuses! – exclamou a mãe de Kagome – Quem é você? O que aconteceu com a minha filha?

- Encontrei sua filha ao lado do poço come ossos na minha era, nesse estado que está vendo. – Sesshoumaru respondeu com tranquilidade.

- O que ela tem? – perguntou a mulher em pânico indo em direção a filha, no intuito de pegá-la do colo de Sesshoumaru.

- Mulher... se eu soubesse o que ela tem não teria vindo até aqui... – respondeu já ficando impaciente – chame um médico imediatamente – ordenou e continuou com Kagome em seu braço.

A mãe de Kagome estava tão atordoada que não sabia o que fazer. Quem ligou para chamar uma ambulância foi o irmão mais novo de Kagome.

Poucos minutos depois, Sesshoumaru ouviu um alto barulho vindo do lado de fora da casa e viu através de uma das janelas uma máquina branca com rodas pretas e uma luz vermelha piscando, que ele não sabia diabos como funcionava. Viu sair de dentro da máquina alguns homens e mulheres trazendo consigo bolsas e uma espécie de cama de metal com rodas. E apesar de nunca ter visto tais coisas, não expressou sequer uma marca de curiosidade.

- Onde está a paciente? – ouviu com sua audição aguçada, uma mulher perguntar na porta aberta pelo pequeno garoto, e o mesmo respondendo que ela estava na sala.

Rapidamente viu o local se encher com mais três pessoas, todos com roupas esquisitas e cheios de parafernálias que nunca veria em sua era.

- Senhor... – disse a mulher à Sesshoumaru – coloque a moça aqui para que possamos examiná-la melhor e medicá-la. – apontando para a cama com rodas.

Apesar de Sesshoumaru detestar que lhe dessem ordens, ainda mais vindas de uma humana inferior, ele depositou Kagome sobre a cama cuidadosamente.

Viu com olhar atento os médicos trabalhando rápido, examinando Kagome com aparelhos estranhos e colocando coisas que furavam sua pele para injetar algum tipo de líquido transparente.

- Temos que levá-la imediatamente para o hospital! – disse a mulher – Pelos sintomas, ela está com uma forte infecção e deve ser tratada com urgência! – e olhando para Sesshoumaru completou – Se quiser pode ir conosco na ambulância senhor.

Ambulância? Sesshoumaru perguntou-se mentalmente.

- Não tenho vínculos com a mulher... – disse secamente – Apenas a trouxe para receber a ajuda necessária.

- Eu vou! – disse a mãe de Kagome, pegando em cima de um móvel uma pequena bolsa com seus pertences.

Em seguida, Sesshoumaru viu o turbilhão de gente saindo da casa como uma ventania. E pode observar Kagome sendo levantada e colocada dentro do transporte branco e barulhento.

Ficou seguindo com os olhos o transporte se afastar e sumir pelo portão de entrada. Logo tudo não passava de silêncio incômodo e absoluto.

Deu um longo suspiro e resolveu voltar para sua era, mas algo, ou alguém o impediu.

- Você é o irmão de Inuyasha? – ouviu o velhote perguntar.

- Meio-irmão. – respondeu sem mais delongas.

- Hm... – resmungou o velhote – Vocês são muito parecidos, por isso perguntei. – E antes que Sesshoumaru desmentisse o velho homem, dizendo que ele e seu irmão inútil eram totalmente diferentes, o velhote concluiu – Obrigado por trazê-la em segurança. Kagome é muito importante para nós... Quase não a vemos mais. Ela vive na era de vocês e esquece que estamos aqui preocupados com ela.

- Hm... – resmungou Sesshoumaru pouco interessado nos dramas familiares daqueles humanos ridículos. – Estou indo embora! Acredito que agora ela está em boas mãos. – disse dando as costas ao velhote.

- Não gostaria de tomar um pouco de chá com biscoitos enquanto esperamos notícias? – perguntou o velhote sem sequer imaginar que estava falando com um lorde youkai sanguinário.

Sesshoumaru fechou os olhos e lembrou-se das regras de etiqueta que sua mãe havia lhe enfiando na cabeça. O respeito aos mais velhos e algo em relação a convites para o chá. Mesmo que esses "mais velhos" fossem humanos asquerosos.

- Não quero tomar o pouco tempo que o senhor possui com a minha pessoa. – apesar da polidez na voz, Sesshoumaru já estava no limite do que era aceitável para ele em relação ao contato com humanos.

- Eu faço questão meu jovem. – disse o velhote sorrindo abertamente.

"Eu vou matar esse homem!", pensava Sesshoumaru com uma veia saltando a testa. Sua mãe dizia que quando o anfitrião insistia, recusar era de péssimo gosto e falta de educação. E um Taisho jamais poderia ser mal educado.

- Aceito apenas uma xícara, pois preciso voltar a minha era... – respondeu vencido. Vencido por um velho e educado humano inútil. Estava ficando mole demais.

- Está vendo a mesinha logo ali embaixo daquela cerejeira? – apontou o velhote para o lado de fora da janela. E ao ver Sesshoumaru concordar completou: - Me aguarde lá, por favor. Irei colocar a água do chá no fogo e pegar os biscoitos.

Sesshoumaru apenas meneou com a cabeça em concordância e saiu da casa em direção ao local indicado. Aproveitou para dar uma conferida no local onde a miko vivia.

O lugar era amplo, com muitas árvores de cerejeira e carvalhos enormes, tendo o templo como objeto central. Um silêncio agradável imperava no local e ouvia-se apenas o canto de alguma cigarra.

Logo avistou o velho homem vir em sua direção com uma bandeja na mão com um jogo de chá antigo, mas de boa qualidade, como Sesshoumaru aprendeu a reconhecer.

- Aqui está. – disse o ancião servindo à ambos – Espero que esteja de seu agrado. Fique a vontade.

A hospitalidade daquele homem com um total desconhecido era impressionante. Sesshoumaru se viu obrigado a admitir que alguns humanos eram interessantes de se conhecer.

- Qual é o seu nome meu jovem? – o velhote perguntou dando um pequeno gole no chá quente.

- Sesshoumaru Taisho. Lorde Youkai das terras do Oeste. Filho de Inu no Taisho. – respondeu com elegância, mas não perguntou o nome do velho senhor. – E não sou jovem como aparento.

- Oh. – exclamou o avô de Kagome – Isso eu já tinha certeza. Inuyasha me disse o quão antigos vocês são.

"Típico de Inuyasha ficar abrindo a boca para falar sobre coisas íntimas e que não dizem respeito a ninguém...", pensou Sesshoumaru levemente irritado.

- O que eu não entendo é, porque você, e não ele, veio trazer a minha neta até aqui. – perguntou encabulado.

- Kagome se desentendeu com o inútil do meu meio-irmão por algum motivo fútil. – disse Sesshoumaru segurando elegantemente a xícara de chá e tomando um gole generoso da bebida, sentindo o sabor cítrico e meio amargo das ervas usadas no chá. Gostou.

- Hm... Eles brigam bastante mesmo. – concordou o avô – Mas no fim eles sempre se entendem.

Os minutos seguintes passaram rápidos e Sesshoumaru pegou-se dando respostas monossilábicas ao velhote, tomando todo o chá do bule e comendo todos as guloseimas que o velhote chamava de biscoito, uma iguaria adocicada e crocante.

Viu o fim de tarde se aproximar, percebendo que passou mais tempo do que pretendia naquela era e naquele lugar.

- Vovô, vovô! – viu o irmão de Kagome vir correndo em direção a eles, ofegante – Mamãe ligou para avisar que Kagome está bem. Ela já foi medicada e vai precisar ficar de repouso essa noite por lá. Só será liberada amanhã, se tudo correr bem. – completou amuado.

Sem perceber que estava prendendo o ar firmemente, Sesshoumaru soltou um suspiro baixo. Quando viu o menino ofegante, imaginou que o pior havia acontecido. "Moleque inútil" – pensou com raiva por ter ficado preocupado com alguém que sequer tem convívio.

- Agora eu realmente preciso retornar a minha era. – Disse ficando de pé, e sem se despedir, caminhou em direção ao templo onde ficava o poço come ossos.

O avô de Kagome apenas observou a silhueta alta e imponente do homem se afastar e sumir dentro do templo. Um pequeno sorriso moldou-se em seus lábios.

- Do que está rindo vovô? – perguntou o garoto.

- Nada não rapaz... Nada que você possa entender agora... – disse indo para dentro de casa assistir TV.

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Sesshoumaru voltou para sua era* com um sentimento estranho lhe assaltando. Algo que dificilmente sentia. Alívio. Kagome estava bem. E apesar de não entender o porquê de alívio, não se negou a senti-lo.

- O que fazia no poço que leva até a era de Kagome, Sesshoumaru? – ouviu a voz exaltada de Inuyasha lhe recebendo.

Sesshoumaru revirou os olhos de maneira debochada, pouco se importando com o nervosismo do mais novo.

- Porque lhe daria explicações seu inútil? – disse grosseiramente.

- O que fez com Kagome hein? Posso sentir o cheiro dela impregnado em você seu verme! – dizia ele já com a mão querendo empunhar a tessaiga. – Se você fez algo de ruim contra ela, eu vou...

- Guarde suas ameaças ridículas para você Inuyasha! – cortou Sesshoumaru já irritado – Você se preocupa com o que eu posso fazer com ela, mas não pensa nenhum pouco no que VOCÊ pode fazer de mal para ela.

- Eu? Ficou maluco Sesshoumaru? – perguntou Inuyasha, pego de surpresa com a acusação.

- Sim! Você! – disse fechando o punho com tanta força que suas garras afiadas fizeram pequenos cortes na palma – Por acaso não foi com você que ela discutiu e veio para cá quase morrendo para voltar para sua era?

- Quase morrendo? – perguntou o mais novo com os olhos arregalados.

- Tsc... – Sesshoumaru fez o som de reprovação, como se estivesse falando com uma criança. – Você é um tapado mesmo. A mulher que anda com você o tempo inteiro estava muito mal e você sequer notou. Belo companheiro você é não?

- Eu não sou companheiro dela, somos apenas amigos! – disse Inuyasha com o rosto vermelho.

Sesshoumaru sorriu abertamente: - Então fica muito pior não é mesmo? – e sem se dar ao trabalho de explicar ou responder mais alguma coisa para aquele inútil, deu as costas e sumiu na densa floresta escura rumo à suas terras.

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Já haviam se passado uma semana inteira e Sesshoumaru não sabia mais o que fazer. Sua mente estava sempre tomada com a imagem da humana desfalecida em seus braços, sofrendo com alguma dor alucinante.

Já havia tido o pensamento ridículo de ir até a era dela novamente para ver como ela estava. Mas que loucura!

- Senhor Sesshoumaru, o senhor está bem? – Ouviu uma voz de criança lhe perguntar.

- Sim, Rin! Estou bem. – Disse sem rodeios. Não precisava esconder nada da pequena garota.

- Mas você está mais preocupado que o normal, sempre pelos cantos... não saiu mais comigo e Jaken pelas suas terras. Isso já faz uma semana inteira! Desde que... – ela se deteve.

- Desde o que, Rin? – Perguntou com uma sobrancelha levantada.

- Desde que levou Kagome para a era dela. – Disse a menina em um único fôlego.

Sesshoumaru não moveu um músculo, dando a entender que aquela informação não lhe afetava em nada. Mas por dentro seu coração se acelerou como nunca havia acelerado.

- Jaken disse que estou pensando bobagens, mas eu acho que o senhor está preocupado com a Kagome. – Disse a menina olhando diretamente nos olhos dele.

Apenas Rin dizia as coisas tão cruamente para Sesshoumaru sem sofrer uma punição severa. Até hoje ele não entendia como podia deixar isso acontecer. E o pior, com uma frequência assustadora. Mas ele sabia que o que ela dizia sempre fazia sentido, ela era uma menina muito observadora.

Ele suspirou rendido e em seguida respondeu a menina.

- Você é muito observadora menina. – Disse fazendo um cafuné em Rin, que sorriu largamente. – Acha que devo ir até a era dela para ver como ela está?

Rin balançou a cabeça vigorosamente: - SIM! E leve umas flores minhas para ela.

- Não Rin! Isso é demais! – Ele disse já saindo de onde estava e se encaminhando para a saída.

- Mas senhor Sesshoumaru! – Ela correu atrás dele choramingando.

- Não Rin! Essa é minha palavra final.

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Já em frente ao poço come-ossos e segurando um buquê de flores (não perguntem a ele como isso aconteceu), Sesshoumaru respirou fundo antes de pular, pensando no quanto estava sendo ridículo. Logo ele estava na era de Kagome, dentro do templo.

Saiu do poço novamente com apenas um impulso e foi andando dessa vez, vagarosamente, para dentro da casa de Kagome.

Ao chegar na entrada, bateu na porta de madeira, logo ouvindo uma voz meio infantil responder que já estava indo abrir.

Quando Souta abriu a porta e deu de cara com um aborrecido Sesshoumaru, ficou estático.

- Kagome se encontra? – Sesshoumaru perguntou frio, olhando na direção do menino, que estava quase tremendo.

Não obteve respostas. O menino estava deveras assustado. Então apenas se desviou dele e seguiu para dentro da sala, onde viu o avô de Kagome e a mãe da humana.

- Oh, Sesshoumaru-sama, que honra recebê-lo novamente! – Disse o avô em um reverencia que Sesshoumaru retribuiu com um leve aceno de cabeça.

- Por favor, entre e se acomode, quero lhe agradecer por ter salvado a minha filha. – Disse a mãe de Kagome tocando em seu braço, que ele por mais pura educação, não puxou enojado. E seguindo a orientação da mulher, foi em direção a um móvel que eles chamavam de sofá, sentando um pouco desconfiado com a maciez do mesmo. Não tinha esses costumes em sua era. Geralmente sentavam-se com os nobres sobre os tatames forrados em sua sala de visitas.

- Volto já com um bom chá! – A mulher disse quase saltando no mesmo lugar e sumindo em seguida dentro da residência.

Logo ele ficou apenas com o ancião, em um silencio desconfortável, e o buquê de flores em sua mão. Por uma fração se segundos, sentiu-se envergonhado com olhar escrutinador daquele homem.

- São para Kagome? – O velhote perguntou com um sorriso jocoso.

- Uma amiga pediu que trouxesse para ela. – Disse rapidamente, antes que o velho tirasse conclusões precipitadas. – Vim apenas ter certeza de que ela está bem e voltar para minha era.

- Oh sim, sim... O médico pediu repouso absoluto, afinal, ela estava envenenada. Precisa de muitos dias para se recuperar completamente.

A mente de Sesshoumaru parou na palavra "envenenada", como assim?

- Kagome acredita que tenha misturado alguma erva sem querer em sua era, ela diz não conhecer todas.

"Mentira", ele pensou. Kagome era uma exímia conhecedora de todas as ervas de sua era, por causa da irmã de Kikyo. Mas porque Kagome estava escondendo esse fato? Quem ela estava acobertando?

- Posso ir vê-la? – Ele perguntou simplesmente.

- Oh sim, claro, venha comigo. – Falou o velhote o guiando por dentro da casa até chegar a uma porta de correr com desenho de sakuras.

- Kagome querida, alguém está aqui para lhe visitar, disse ele batendo levemente na porta.

- Não quero receber ninguém vovô! – Sesshoumaru ouviu a voz abafada através da porta. E sem pensar duas vezes, puxou a porta de correr, revelando Kagome deitada em sua cama, com uma roupa curta que revelava as pernas torneadas e de pele alva, um travesseiro no rosto, escondendo as lágrimas que ele já havia sentido de longe, mesmo que ela tentasse esconder.

- Eu disse que não quero... – ela ia dizer alguma coisa, mas travou assim que tirou o travesseiro do rosto e viu em pé na entrada de seu quarto nada mais nada mesmo que Sesshoumaru-Taisho, com um buquê de flores? – O que você... – a voz sumiu.

- Precisamos conversar. – Ele disse simplesmente – A sós! – Completou olhando para o ancião que via a conversa com um brilho no olhar.

- Oh sim, claro, com licença. – Disse o velhote fazendo uma reverencia e deixando ambos a sós.

Sesshoumaru entrou de vez no quarto e fechou a porta atrás de si, estendendo em seguida a mão com o buquê de flores. – Rin pediu que eu lhe entregasse essas flores, e lhe deseja melhoras.

Kagome estendeu a mão para receber as flores de maneira mecânica e assustada, apenas concordando e agradecendo timidamente, sem conseguir sair do lugar. Sua cama parecia bem mais segura naquele momento.

- Então você foi envenenada? – Ele perguntou sem rodeios.

- Eu não fui envenenada! - Ela respondeu exaltada – Acho que misturei ervas erradas.

- Ora Kagome! – Ele disse com desdém – Você pode enganar sua família, mas a mim você não engana. – Kagome se encolheu ao ouvir a voz dele alterada. – Eu sei muito bem que a velha Kaede lhe ensinou tudo sobre as ervas de nossa era e você as reconhece de olhos fechados, depois de todo esse tempo.

Kagome sentiu-se encurralada.

- Okay... – ela disse suspirando derrotada – Acredito que Kikyo tenha me envenenado.

- Como? – Perguntou Sesshoumaru arqueando uma das sobrancelhas.

- Ela me chamou, para ter uma conversa "amigável", para pôr um fim nas nossas desavenças, também por causa da minha última discussão com Inuyasha e nós tomamos um chá.

- Provavelmente devia estar nas ervas do chá! – Disse Sesshoumaru sem mudar muito sua expressão vazia, mas por dentro estava fervendo. Detestava esse tipo de atitude covarde. Era adepto de uma boa luta para resolver desavenças. Uma luta até a morte de preferência.

- Sim... no início eu não desconfiei, por que ela tomou o chá junto comigo, da mesma chaleira. – Disse ela com o olhar vago – Mas depois, parando para pensar, eu lembrei que só passei mal um tempo depois. Tempo suficiente para ir embora de perto deles e ela poder tomar um antidoto e se curar sem sequelas. O que obviamente não ocorreu comigo... e demorou para os médicos notarem que eu estava envenenada. Por que a hipótese de uma infecção intestinal foi levantada e eles se focaram nisso. Mas depois, outro médico chegou e deu o real diagnostico, me tratando o mais rápido possível.

Sesshoumaru anuiu com a cabeça em concordância. E sentou-se ao lado dela na cama, deixando Kagome desconcertada, logo em seguida perguntou:

- E o que ela conversou com você "amigavelmente"?

Kagome ficou vermelha como um pimentão, mas não conseguia deixar ele sem resposta.

- Ela me disse com todas as letras que devia esquecer Inuyasha! Que ele iria sempre pertencer a ela. E que nada do que eu fizesse, ia importar mais para ele do que ela importava. – Concluiu com tristeza e vergonha no olhar.

A audição aguçada de Sesshoumaru podia ouvir o menor dos sons, e nesse momento ele pode ouvir como o coração de Kagome havia diminuído as batidas, como se ele tivesse se apertado... quebrado...

- Infelizmente tenho que concordar com ela. – Disse Sesshoumaru olhando para frente e depois diretamente nos olhos marejados e assustados de Kagome. – Meu estúpido irmão sempre vai correr atrás da sombra daquela mulher, mesmo tendo outra ao lado dele que claramente é superior.

Kagome ficou abrindo e fechando a boca, como um peixe fora d'água, diante da afirmação de Sesshoumaru.

- Acho que você deve seguir sua vida daqui por diante. – Ele continuou falando, mesmo ouvindo o coração dela bater com tanta força – Invista sua vida e sentimentos em outra pessoa! Alguém que realmente a veja como é. Não desperdice mais nenhum segundo pensando naquele retardado. Siga em frente.

Sem pensar duas vezes, Kagome lançou os braços ao redor do pescoço de Sesshoumaru, abraçando-o docemente, deixando uma lágrima escorrer solitária em seu rosto. Sesshoumaru estava estático.

- Obrigada por suas palavras! – Ela sussurrou no ouvido dele, fazendo-o arrepiar inteiro – Eu estava precisando de alguém para desabafar e nunca imaginei que iria fazer isso com você. – Ela estava sendo sincera ao extremo e quando sentiu ele passar o braço ao redor da cintura dela e retribuir o abraço, ela apenas fechou os olhos e suspirou rendida ao lorde das terras do Leste.

Sesshoumaru não entendia o porquê de estar sendo tão sentimental com aquela humana. Mas sabia que ela precisava de apoio, assim como um dia ele precisou e não recebeu... E o cheiro dela era tão... tão... delicioso. A fera dentro de si remexia-se impaciente, mesmo já tendo sido dominada. A fera pedia para possuí-la, ali mesmo, naquele lugar! Mas Sesshoumaru estava com o controle naquele momento e jamais se juntaria a uma humana, isso ia contra todas as suas convicções em relação ao seu desprezo por humanos em geral. Não iria fraquejar como um dia seu pai fraquejou quando conheceu Izayoi, mãe de Inuyasha.

- "Ela tem o sangue de uma guerreira! – Gritou a fera dentro de si – Ela é uma miko poderosa e seria uma grande aquisição ao lado deste Sesshoumaru. Nossos filhos seriam hanyous, mas seriam os mais poderosos, diferente dos filhos que ela teria com o bastardo Inuyasha. Eu a quero! O sangue dela é doce no meu olfato, quero prova-lo na hora de marca-la! " – Rugiu ensandecida.

Sesshoumaru estava perdendo o controle. Sentiu os olhos arderem e aquilo não era bom. Afastou Kagome bruscamente de si, encarando-a longamente, vendo-a ficar assustada e sem reação ao notar os olhos vermelhos igual sangue. E sem dizer mais nenhuma palavra, levantou-se e saiu praticamente correndo de dentro do quarto, consequentemente de dentro da casa e indo em direção ao templo, para o maldito poço. Ainda podia ouvir ao longe, o avô de Kagome e a mãe dela o chamando, perguntando se estava tudo bem, mas ele ignorou a todos e simplesmente fugiu...

Logo ele encontrava-se em sua era, respirando com dificuldade para controlar sua fera interior, coisa que não tinha precisado fazer a muito tempo.

- Sesshoumaru? Você de novo aqui? – Ouviu a voz do meio irmão, distante, mesmo ele estando quase ao seu lado. A besta rugiu dentro de si e sem pestanejar, desferiu um golpe mortal na direção do hanyou. Inuyasha conseguiu desviar do ataque, graças ao seu reflexo, mas foi por bem pouco. – Está maluco Sesshoumaru?

Não era Sesshoumaru quem estava ali naquele momento, mas a besta que habitava dentro dele, a qual achava que nunca mais iria ver. Algo havia mudado dentro dele naquele momento e sabia que a besta somente se acalmaria quando tivesse seu desejo realizado.

Os ataques foram se intensificando, obrigando Inuyasha a sacar Tessaiga e defender-se mais seriamente. O impacto da luta fazia o chão tremer ao redor deles. O barulho dos gritos de Sesshoumaru podiam ser ouvidos de longe e Inuyasha sabia que logo ele se transformaria no cão demônio gigante e prateado.

- Você não a merece! – Disse Sesshoumaru em meio a rosnados furiosos – Ela é minha! Eu a marcarei e você vai será colocado no seu lugar bastardo inútil.

Inuyasha não estava entendo mais nada. De quem Sesshoumaru falava?

- De quem você está falando seu maluco? – Inuyasha perguntou desferindo um forte golpe, que acertou parcialmente Sesshoumaru, fazendo-o recuar.

- DA MIKO! – Ele berrou desferindo outro ataque com suas garras venenosas.

- Kikyou? – Perguntou aturdido.

- Não seja imbecil! Para que iria querer aquele espólio de barro ridículo e peçonhento? Uma covarde sem escrúpulos. – Vociferou mantendo distância.

- Kagome então?

- Você não merece pronunciar o nome dela, como se fosse intimo ou algo do tipo.

- Sesshoumaru, volte a si! Você odeia humanos! – Disse berrando – Como pode querer Kagome como companheira?

- Este Sesshoumaru precisa dela ao lado dele.

E foi aí que Inuyasha se tocou do que estava acontecendo. Fazia muito tempo que não via Sesshoumaru falar como se estivesse em terceira pessoa. Ele só agia assim quando a besta interior o dominava. A besta havia aceitado Kagome como companheira e nem ele poderia se meter diante disso, era algo de sua raça. Depois que um membro da sua raça encontrava uma companheira, outros youkais não podiam ter nada com ela, a não ser que matassem o atual membro. Colocou as mãos para cima e suas orelhas de cachorro retesaram-se para baixo em sinal de entendimento, dando o sinal que não iria se meter na escolha de Sesshoumaru e que não iria tentar tirar Kagome dele.

Ao ver esse gesto, a besta interior de Sesshoumaru acalmou-se, ocultando-se novamente. Sesshoumaru conseguiu respirar profundamente, voltando a si.

- Por que ela Sesshoumaru? – Ele perguntou cabisbaixo.

- Por que ela merece alguém como este Sesshoumaru. – Disse ainda com os resquícios da besta – Ela merece alguém que a trate como merece, em primeiro lugar e não como segunda opção, como você tem feito todo esse tempo.

Inuyasha apenas anuiu com a cabeça, não poderia fazer nem dizer nada.

- E só mais uma coisa, a sua miko idiota envenenou Kagome na última vez em que ela esteve em nossa era. – Disse sem rodeios como era de seu costume.

- O que? – Perguntou Inuyasha incrédulo.

- Só lhe digo isso e afirmo a você... – disse aproximando-se de maneira ameaçadora – se a sua miko se aproximar de Kagome novamente, nem toda a magia do mundo irá fazer ela voltar do lugar para onde a mandarei. – E tendo dado seu aviso, deu as costas ao meio irmão e sumiu na densa floresta. Deixando um perplexo Inuyasha para trás.

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Sesshoumaru já estava em seu quarto a dois dias, martelando como iria mudar sua situação com Kagome, afinal, haviam regras a serem seguidas... e para piorar, ele e Kagome não tiveram um bom início.

Quantas vezes ele falou coisas ruins para ela? Ou tentou matá-la quando ela estava com Inuyasha atrás da joia de quatro almas?

Naquele tempo, sua fera interior não se manifestou. Talvez estivesse esperando um momento de vulnerabilidade dela, uma falha na defesa de Inuyasha... não sabia e nem iria perder tempo com isso. E ainda havia mais um problema: seu braço!

Que fêmea iria se interessar por um macho maneta? Com apenas um braço para defende-la? Podia ser um Lorde, podia ser um Taisho, mas nem título, nem nome mudam o seu físico atual. Será que Kagome iria gostar de ser cortejada por ele? Por que era assim que funcionava...

Ele não poderia força-la a aceitá-lo. Ele deveria seguir três passos: cortejar, criar laços e por fim marca-la, com a permissão dela. Mesmo que passe pelas duas primeiras etapas, e no fim, Kagome não se permitir ser marcada, ele não pode forçar.

"Ela vai querer..." – Rosnou a fera que estava quieta esses dois dias.

Sesshoumaru apenas aceitou a observação feita pela fera e continuou pensando em como iria conseguir a primeira regra: cortejar Kagome.

- Sssenhor Sessshoumaru – ouviu Jaken chama-lo.

- O que quer Jaken? – Perguntou impaciente.

- Sssenhor, não deixei de notar que está isolado... – afirmou o demoniozinho – o que o atormenta? Posso lhe ser útil?

- Não Jaken, não me pode ser útil, na verdade, você iria tentar me atrapalhar.

- Nunca amo! – Disse ele sentindo-se ofendido.

- Certo, então vamos ver... Quero cortejar uma fêmea! – Disse Sesshoumaru virando de costas e caminhando para a varanda de seu quarto, sendo seguido de perto pelo sapinho.

- Achou a escolhida mestre? – Ele disse entusiasmado – Jaken ficará honrado em ajudá-lo nessa tarefa. Posso saber quem é a mulher em questão? Seria por acaso a filha do Lorde do Sul? Ela é forte e iria unir os reinos.

- Não, não é a princesa do sul... – disse Sesshoumaru debruçando-se sobre o parapeito, olhando para longe.

- Então... – o sapo parou um pouco – seria aquela que o senhor visita as vezes? A youkai do clã dos leopardos?

- Não Jaken, minha pretendente não tem vínculos comigo, a não ser o de conhecidos. Nunca tivemos nenhum tipo de... intimidade.

- Hum... isso torna as coisas mais... complicadas? – Ele perguntou com receio.

- Sim! Eu corro o risco de ser rejeitado por ela.

- Nunca nenhuma fêmea iria rejeitar o Lorde das Terras do Leste! – Jaken disse com o peito inflado, como se ele mesmo fosse o tal Lorde.

- Mesmo que a fêmea em questão seja, Kagome Higurashi? – Sesshoumaru perguntou sem alterar sua fisionomia nenhum milímetro.

O sapo estava duro no lugar. Parecia que haviam jogado alguma magia poderosa nele. Até que um dos olhos começou a tremer, como um tique e em seguida, todo o corpo pequeno tremeu, como se estivesse convulsionando.

- O SENHOR ENLOUQUECEU? – Gritou a plenos pulmões – ELA É APENAS UMA HUMANA IMUNDA! NUNCA ESTARIA A SUA ALTURA! SEM CONTAR QUE OS OUTROS LORDES IRÃO DECLARAR GUERRA NO MESMO MOMENTO! ESQUECEU O QUE HOUVE COM O SEU PAI?

Jaken sequer conseguiu ver como foi atingido! Em um momento estava em pé ao lado de Sesshoumaru, e agora estava enterrado em um muro depois de ter recebido um ataque direto e violento. E ao olhar para Sesshoumaru, pode apenas ficar aterrorizado, pois não conseguia se mexer. Os olhos vermelhos como sangue estavam lhe encarando, injetados de ódio.

- Este Sesshoumaru não vai permitir que, sua futura noiva, seja insultada dessa maneira por um subalterno inútil como você sapo! – Disse ameaçador – Quando for se referir a Kagome, chame-a de Kagome-sama, pois ela será sua Senhora também verme inútil.

- S-sim Sssenhor Sessshoumaru... – disse o sapo ainda preso na mureta. Já estava acostumado a ser castigado por sua língua enorme.

- E quanto aos outros Lordes, no momento certo eu irei me entender com eles. Um por um...

E terminando de dizer o que queria, retirou-se da varando e indo em direção a saída do castelo. Precisa ver Kagome novamente e iniciar o processo de cortejo.

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Kagome estava em sua casa tomando chá com o seu avô ao lado da árvore sagrada e com o pensamento distante... para ser mais exata, estava pensando em Sesshoumaru. O youkai de cabelos longos e prateados não havia saído de sua mente desde a sua última visita. A forma como ele a consolara e abraçara, lhe dando forças...

- Quando será que o senhor Sesshoumaru vai vir aqui novamente não é Kagome? – Perguntou o velhinho observado a neta suspirar.

- É... É verdade... – concordou Kagome sem prestar atenção.

- Será que ele já percebeu também? – O velhinho perguntou tomando um gole de chá.

- Não, sei... percebeu o que mesmo? – Perguntou Kagome ainda distraída.

- Que você está apaixonada por ele ora bolas!

- Apaixonada? Do que você está falando vovô? E de quem? – Perguntou Kagome de forma enfadonha.

- Ora do que estou falando Kagome? Estou falando de você e o senhor Sesshoumaru. – Respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Kagome cuspiu todo o chá que estava na boca, engasgando-se no processo. Depois de uma crise de tosse, respondeu com o rosto vermelho para o ancião.

- EU NÃO ESTOU APAIXONADA POR ELE! – Disse alto – Ele sempre me tratou como um inseto, me chamava de "humana do Inuyasha", sequer me chamava pelo nome. Como eu poderia me apaixonar por alguém assim?

- Realmente é impossível! – Kagome ouviu aquela voz atrás de si, arrepiando-se no processo, virando-se vagarosamente para encarar o dono da voz – Mas este Sesshoumaru fara o possível e o impossível para mudar essa visão ruim que ajudei você a ter de mim.

Kagome estava estática. Seu avô estava apenas com um sorriso bobo.

- Senhor Higurashi, venho aqui humildemente mostrar meu interesse em cortejar sua neta e futuramente desposá-la! – Disse Sesshoumaru depositando um enorme baú em frente ao velhote, que ele estava carregando até o momento – Isso é uma pequena prova das minhas boas intenções e também de que poderei dar tudo do bom e do melhor para sua neta.

Ao abrir o baú, o velhote quase morreu ao ver a enorme quantia de ouro e pedras preciosas que estavam dentro.

- O que significa isso? Você acha que pode me comprar? – Disse Kagome saindo de seu torpor e ficando furiosa com aquela atitude arcaica.

- Nunca este Sesshoumaru iria tentar ofendê-la dessa forma! – Disse baixo e fazendo uma leve reverência, depois olhando-a diretamente nos olhos – Esse é apenas o costume de nossa era.

Kagome estava paralisada.

- Kagome, antigamente, desde os tempos de Sesshoumaru, era dessa forma que os homens mostravam seu apreço por suas escolhidas. Não é uma ofensa, é uma atitude muito honrada. – Informou o velhote ficando sério de repente.

- Não estamos mais nesses tempos! As coisas mudaram! E nem todo o ouro do mundo vai me comprar como sua esposa. – Falou Kagome dirigindo-se para dentro de casa – Vá embora, e leve esse ouro inútil com você!

Sesshoumaru apenas observou sua "pretendente" afastar-se furiosa. Se fosse em sua era, ele estaria sendo levado para dentro da sala de chá para acertar os detalhes com o pai da noiva.

- Tente entender senhor Sesshoumaru... – ouviu o ancião falar – Kagome não pertence a sua era. Ela vive em tempos modernos, onde uma mulher não pode ser "vendida" por sua família.

- Este Sesshoumaru não está tentando comprá-la... – disse Sesshoumaru pensativo.

- Eu sei... mas ela não sabe e não entende. E dificilmente vai entender... essa daí é cabeça dura demais.

- Este Sesshoumaru sente muito o inconveniente. Irei voltar para minha era. – Mas antes que pudesse ir embora o ancião o segurou pelo tecido de sua túnica.

- As mulheres dessa era, admiram homens com honra e que demonstram seus sentimentos com atos. Elas não ligam para riquezas, elas querem apenas alguém que as compreenda e as trate bem, que as escute acima de tudo e não a tratem como servas ou uma extensão das mães de seus pretendentes. Elas gostam que sua opinião seja levada em consideração em uma decisão, que seus maridos não a tratem como bibelôs que não sabem nada e que dependem deles para tudo. – Disse o ancião – Kagome não vai aceitá-lo se não começar a agir como ela espera.

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Kagome estava em seu quarto, tremendo muito. Havia rechaçado Sesshoumaru veementemente, mas até agora, seu coração não parava de bater forte em seu peito, como se a qualquer momento fosse sair correndo através de sua garganta. E até o momento, as palavras "cortejar" e "desposar" não saiam de sua mente... A voz dele dizendo aquelas palavras a deixaram com as pernas bambas e o corpo quente... Ouviu uma batida leve em sua porta e mesmo estando de costas para a mesma e com o pensamento distante, disse que a pessoa poderia entrar.

A pessoa entrou e fechou a porta atrás de si, nesse momento Kagome virou para ver quem era e novamente seu coração quis fugir para longe. ELE estava ali, olhando-a serenamente. Um olhar que nunca pensou que receberia dele... ele a olhava com cobiça. Institivamente ela cruzou os braços sobre os seios, como se quisesse se proteger daquele olhar que a desnudava. Ela viu ele dar alguns passos em sua direção e ela não conseguiu se mexer do lugar. Ele parou bem diante dela, poucos centímetros de distância e ela teve que levantar o rosto e olhar para cima para encará-lo.

- Kagome... – a voz grave e masculina fez com que todo o seu corpo se arrepiasse – Me perdoe.

Kagome apenas piscou sem entender nada, mas Sesshoumaru tratou de continuar.

- Todo esse tempo, este Sesshoumaru te tratou mal por causa do meu irmão... este Sesshoumaru achou que você seria a escolhida dele e que automaticamente ele deveria odiá-la na mesma intensidade. Este Sesshoumaru foi um tolo e muitas vezes um cretino com você. Peço sinceramente o seu perdão. – E ao terminar de dizer isso, Kagome o viu ajoelhar-se diante dela, o rosto olhando para o chão, como se estivesse envergonhado. Por Kami! O Lorde das terras do Leste estava de joelhos na frente dela! Sesshoumaru estava de joelhos na frente dela esperando o seu perdão! Que diabos estava acontecendo ali?

- Este Sesshoumaru vai entender se não quiser aceitar o seu pedido de perdão e sendo assim irá voltar para sua era e não irá mais lhe importunar! "Mas, por favor, me perdoe! " – Ele pensou em segredo.

- Por que essa mudança repentina? – Kagome conseguiu perguntar depois de sair de seu torpor.

- Este Sesshoumaru só pôde perceber agora a sua importância para ele. Antes, você estava o tempo inteiro acompanhada com o meu inútil irmão, amando-o... – Ele disse baixo, ainda olhando para o chão – Quando este Sesshoumaru viu que você estava só, sofrendo e quase morrendo, minha fera interior renasceu, depois de tanto tempo subjugada, conseguindo finalmente enxergar você. Conseguindo finalmente ver o quão magnifica e forte você é! O quanto é especial e única, com as características de uma verdadeira líder. E o quanto seria maravilhoso ter uma mulher tão forte ao nosso lado.

O peito de Kagome já estava doendo de tão forte que seu coração batia. Sentia como se fosse desmaiar a qualquer momento. E sem saber como, subiu a mão vagarosamente para tocar o topo da cabeça de Sesshoumaru, que ao sentir o toque gentil, retesou-se. A voz dela saiu baixa e falhada: - Eu te perdoo...

Sesshoumaru não se mexeu do lugar, esperava mais alguma coisa e ela instintivamente desceu a mão passando pelo rosto másculo até segurar o queixo dele, forçando-o a olhar para ela e encará-la. Ao cruzar o olhar com o dele, Kagome sentiu como se uma descarga elétrica percorresse seu corpo e Sesshoumaru sentiu o mesmo. O elo estava se formando.

Ele ficou em pé vagarosamente e disse aproximando o rosto do dela:

- Você aceita este Sesshoumaru como seu pretendente Kagome? Permite a ele lhe cortejar e provar que mudou? – Ele disse com o rosto quase colado ao dela, os lábios raspando deliciosamente nos dela.

- Aceito com uma condição... – ela disse passando a língua nos lábios, já antecipando aquele momento.

- Qualquer condição! – Ele respondeu também lambendo os lábios.

- Para de falar em terceira pessoa, é muito estranho! – Ela disse com um sorriso mínimo, fazendo-o sorrir também minimamente, jogando um pouco de ar na pele quente dela.

- Isso eu posso fazer desde já! – Ele disse parando imediatamente de falar da forma que a desagradava, ouvindo um tímido "obrigada" da parte dela. – Agora se me permite, gostaria de selar nosso compromisso com um beijo.

Kagome corou violentamente. Havia beijado apenas um homem, que havia sido Inuyasha, e agora iria beijar o irmão dele. Que loucura.

Ela apenas assentiu e fechou os olhos, aguardando o contato dos lábios dele.

Sesshoumaru admirou o rosto bonito e rosado dela, sorrindo ao vê-la oferecer os lábios para ele, o qual ele desejou com muita intensidade, e em seguida desceu a mão pelo braço dela e segurando delicadamente sua mão direita, para em seguida leva-la de encontro aos lábios mornos.

Kagome abriu os olhos imediatamente sentindo-se boba por oferecer seus lábios a ele com tanta facilidade, sendo que ele queria apenas beijar sua mão, de forma cavalheira.

- Eu fico lisonjeado que tenha me oferecido seus lábios e lhe garanto – ele disse segurando o queixo dela e olhando nos olhos castanhos dela – quando chegar o momento certo, eu irei beijá-la com toda a devoção que merece.

Kagome sentiu como se suas pernas fossem feitas de gelatina naquele momento. Inevitavelmente pensou que, apenas beijando sua mão e lhe fazendo uma promessa, ele lhe deixava naquele estado, como não iria ficar quando ele de fato consumasse o que prometia? Corou violentamente, arrancando um sorriso torto dele, o qual ela achou simplesmente o sorriso mais bonito que já havia visto em um homem.

- Se me permite, irei retornar a minha era – ele disse tirando-a de seus devaneios – mas voltarei todos os dias para nos conhecermos melhor. Posso retornar nessa mesma hora? Ou prefere outro momento?

- P-pode ser nesse horário sim... – ela disse rapidamente e atrapalhada – Vou acompanhar você até saída.

- Obrigado, minha senhora. – Sesshoumaru disse com uma reverencia.

"Minha senhora..." pensou Kagome gritando internamente, sentindo-se boba ao sentir o estomago cheio de borboletas apenas por ouvir ele falar assim com ela.

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O avô de Kagome ainda estava debaixo da arvore sagrada, apreciando a leve brisa que estava passando por ali e sorriu ao ver Kagome acompanhar Sesshoumaru até o poço come ossos. Ela aceitou os seus sentimentos... viu também Sesshoumaru menear a cabeça em sua direção, em sinal de respeito, gesto qual ele retribuiu satisfeito. Sesshoumaru era um homem/youkai honrado e ele sabia que ele nunca mais iria fazer mal a Kagome, ao contrário, seria o seu mais fiel defensor, capaz de dar a vida por ela.

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Continua.

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É isso pessoal! O que estão achando até o momento? Gostaria imensamente de receber reviews com a opinião de vocês. Isso é muito importante, ainda mais para mim que fiquei tanto tempo sem postar nada. Agradeço desde já!

Kissu

JaquBrito