Uma fic um pouco confusa, talvez... :S
Mas uma coisa é fato: não me responsabilizo por ela, eu acho õ/
I - FANTASMAS
Akihiko olhou por entre as brumas, nada viu... Não era a escuridão daquela noite sem luar que lhe atormentava, era o que o vácuo em seu peito exigia, era a pontada de um arrependimento fugaz, tão letal quanto os dias ríspidos que tentou levar durante aqueles onze meses intermináveis. Se uma eternidade pudesse ser contada, sua alma já havia feito essa conta funesta: onze meses corrosivos! Ele atravessou o jardim caminhando com seus passos lentos e cortantes.
Aspirou aquele cheiro embriagante que lhe fez recordar de um tempo que sua mente traspunha de maneira tão longínqua como um poema antigo, tão belo quanto perverso, que fez questão de ser apagado mesmo antes ter sido lido; mas seus sentidos, seu coração, de alguma maneira, caótica e atraente, o fazia sentir e recordar aquele momento, lembrar do toque febril daquela pele cor de pecado, transbordando a essência doce de uma fruta exótica e de sabor tão venenoso como a raiz letal da mais delicada e rara planta silvestre que o destino fez questão de lhe guardar...
Eram apenas dois corpos entrelaçados, indiferentes ao mundo, nus, reverenciando o luar metálico que presenciava a dádiva do que os mortais costumam chamar de pecado ser esculpido pouco a pouco entre toques, abraços e beijos... esmagando as delicadas flores daquele imenso jardim taciturno rolando no chão maciço e frio ,contrastando com a exuberância caustica que entornava daquelas duas almas extasiadas que miravam, vidradas, uma os olhos da outra como se conseguissem ver a própria essência no olhar alheio.
Não era um mero momento narcisista que imperava ali, era a veemência de um laço relutante que fez-se gente, apenas um corpo, apenas um alma, apenas uma mente... muitos destroço, que nem mesmo o tempo,como naquela mesma noite o mais velho havia dito, seria capaz de reconstituir. A distância, essa foi resposta mais estúpida que fora pronunciada por seus lábios rosados e quentes que percorreram o corpo do belo garoto; lábios esses, que encaixavam-se perfeitamente aos dele como a peça primordial de seus mais inquestionáveis delírios, o seu mais incontestável tormento, a velha sensação sádica de estar a mercê de alguém tão instável e vulnerável que possuía sua existência até mesmo no simples palpitar de cada batimento do seu coração...
Esse coração que foi capaz de contradizer a si mesmo com palavras racionais e metódicas e atos inconseqüentes. Ambos despedaçados, olhando, inexpressivos, o manto aveludado daquele céu azul-marinho adornado de estrelas reluzentes que pareiam cantar uma canção melancólica, trazida pela brisa morna que roçava a pele úmida daqueles dois corpos deitados sobre flores despedaçadas. Talvez, aquele silêncio cruel fosse o prenúncio de um adeus, era o silencio fúnebre de algo que ali ficou, foi mais fácil pensar assim, mas o que ambos quiseram crer ter sepultado ali naquele dia permanecia intacto na alma dos dois, era só preciso um olhar nos olhos do outro... Por ISS,o o mais velho pegou suas roupas jogadas pelo chão e partiu sem ao menos olhar para trás.
-Adeus, Misaki- fora apenas isso que ele disse a pessoa que mais amava
XxX XxX
-Misaki, você está aí? –era Takahiro batendo na porta do quarto- Misaki?- abriu a porta em um movimento lento e cuidadoso.
-Sim. - rosnou ele com uma expressão chateada que ficava explicita em suas sobrancelhas franzidas e sua boca rosada levemente contorcida.
-O que aconteceu?-perguntou o Takahiro agora realmente preocupado
-Nada-ele agora estava debruçado na janela e nem fez questão de olhar para Takahiro
-Você não vai me contar?- Takahiro levantou-se de braços cruzados virando-se para o mais novo que ainda olhava inexpressivo para a paisagem lá fora
-Não aconteceu nada- voltou-se para o homem de óculos apoiando as mãos sobre a soleira da janela
-Se tivesse acontecido algo, você me contaria, não contaria?-Takahiro colocara uma das mãos no rosto de Misaki, ambos apenas alguns centímetros de distância entre seus rostos.
Takahiro olhava-o incrédulo. Havia algo de diferente naquele "garotinho" que ele tanto amava, então ele sorriu tentando disfarçar o pavor que percorrera seu corpo em um arrepio frio e incisivo. Misaki desviou o olhar delicadamente, imediatamente o mais velho tirou sua mão deixando-a cair junto ao corpo, Misaki, agora livre, voltou-se novamente para a janela como se estivesse algo interessante a ser admirado lá fora. Takahiro empalideceu, era como se uma nuvem negra e densa tivesse tomado conta daquele quarto fazendo-o sufocar; aproximou-se lentamente pelas costas do garoto de cabelos castanhos, imóvel, que ainda olhava pela janela ignorando a presença dele ali.
-Você está me escondendo algo- Takahiro sussurrou com certo pavor na voz enquanto abraçava Misaki, prendendo o corpo do garoto junto ao seu. -Mizaki- sua voz já estava tremula, e ele falava bem baixo encostando os lábios na orelha esquerda do garoto- eu- eu te...
-Eu preciso sair-interrompeu Misaki com um tom carregado na voz, suas bochechas estavam coradas enquanto ele dava um passo para traz afastando Takahiro que fitava a silhueta do mais novo que se distanciava rumo à porta do quarto.
-Não! –alterou a voz demonstrando seu pavor quase como um grito abafado de quem perde algo precioso, muito precioso. Com alguns passos rudes foi rápido o suficiente para segurar com toda a força o pulso esquerdo de Misake que o encarou com uma expressão de espanto misturada com pânico.
-Takahiro-ele suspirou baixando a cabeça.
-Você... -deu uma breve pausa enquanto o belo garoto levantava a cabeça e mirava tímido, os olhos magnéticos de Takahiro que transbordavam ódio e doçura, uma mistura perigosa naquela situação. – Você- repetiu ele, puxando bruscamente o corpo de Misaki até se encaixar no seu- Você é meu, somente meu, meu Misaki... - sua voz antes quase chorosa acrescentou uma frieza possessiva e obscura que fez Misaki tremer e tentar se desvencilhar do abraço grosseiro e ao mesmo tempo acolhedor desse homem de cabelos negros que ele sempre admirou. Mas Takahiro o apertava cada vez mais forte como se quisesse prende-lo ali para sempre...
-Onii-san, não consigo respirar- falou Misaki com dificuldade- Por favor...
-Meu Misaki... - repetiu o homem de cabelos negros enquanto roçava suavemente com os lábios febris o pescoço delicado do irmão
XxX XxX
Já passava da meia noite e Akihiko rolava na cama, solitário, tentando arrumar uma posição adequada para dormir, mas o sono recusava-se a vir. Todas as noites eram assim, tristes e acompanhadas de uma insônia maldosa que lhe trazia pedaços do passado, passado esse que ele mesmo havia jurado para si mesmo ter enterrado, naquele dia, naquele jardim, com aquelas flores despedaçadas...
Mas como uma chuva corrosiva de cacos as lembranças eram partes pontiagudas desse passado que ainda o perseguia; era o rosto, o cheiro daquele garoto de cabelos castanhos, olhos grandes e esverdeados e que sempre tinha um sorriso peculiar no rosto métrico e delicado.
A distância foi a escolha mais racional, um remédio amargo, - todo bom remédio é amargo, pode ser terrível na hora, mas passa - relembrou das palavras de seu pai quando criança , ele sempre o obrigava a tomar aqueles remédios acres, mas Akihiko perguntava-se por que aquela dor em seu peito ainda não passara... Estar junto a Misaki dava vida a essa existência que agora minguava; uma angústia persiste que o dilacerava por dentro, mas não tinha o direito de destruir a vida daquele "garotinho" apenas para dar sentido a sua...
XxX XxX
-Takahiro- articulou Akihiko com a expressão serena e séria de sempre com um curioso tom na voz enquanto levantava do sofá para saudar o amigo de infância; o mesmo desceu as escadas com passos serenos, aproximou-se do homem elegante que sempre chamara de amigo e sem pronunciar uma palavra se quer deu um murro no rosto de Akihiko que caiu imediatamente sobre o sofá e ali permaneceu por alguns instantes até sentar-se com uma das mãos no rosto.
-Por que isso? –agora Akihiko, mais sério do que nunca, estava em pé diante do homem de óculos que transbordava cólera dos olhos.
-Misaki- rosnou Takahiro com uma expressão assustadora que deixou o amigo atônito já imaginando do que se tratava. - Nunca mais se aproxime dele!-parecia pronto para atacar Akihiko, mas permaneceu imóvel fulminando-o com os olhos-Nunca mais...-seus punhos fecharam e Akihiko deu um passo para traz.
-Você está descontrolado, tente se acalmar.. –argumentou Akihiko enquanto encarava os olhos do homem de cabelos negros que agora sorria ironicamente
-Calma?-gargalhou em uma mistura de rancor e sarcasmo – Eu sempre confiei em você... -agora Takahiro estava mais calmo, mas com uma nítida mágoa no olhar
Akihiko jogou-se no sofá, de cabeça baixa colocando as mãos sobre o rosto e ficou ali inerte por alguns minutos enquanto Takahiro o observava daqueles minutos eternos ele ousou encara o amigo que estava a poucos passos de distância de braços cruzados e com os mesmos olhos magoados que ainda soltavam faíscas de fúria. Akihiko afundava-se em seus próprios pensamentos e açoitava a si mesmo com suas lembranças, de alguma maneira elas o machucavam, o dilacerava pelo simples fato de ter a sua frente o amigo de infância que outrora amara, mas ainda carregava em si um carinho abstrato por esse homem de cabelos negros.
Ele tinha todo o direito de proteger o irmão, assim pensava Akihiko, enquanto mergulhava em seus pensamentos, e ele- Akihiko- não tinha o direito de fazê-lo sofrer... Mizaki era um tesouro precioso que deveria ser amado e protegido, uma relíquia que ele -de novo Akihiko- havia corrompido de alguma maneira, assim pensou ele...
XxX XxX
Ali, diante daquela bela paisagem, ele permaneceu imóvel. Preso em suas próprias lembranças; eram sensações traidoras que se mesclavam involuntariamente em seu peito fazendo-o esquecer que estava fugindo. De quem? Suas mãos estavam frias, sua existência também, pálida e opaca, era assim com sua pele, com seus olhos. O vento estava arrebatador naquela noite.
Os galhos das árvores bailavam em sincronia; a música quase inaudível daquele cenário escuro e solitário era perfeita para aquele momento nebuloso, havia um encanto estranho naquele zumbido oco que harmonizava com o impacto devastador entre os galhos e as escuras folhas que se chocavam. Algumas rodopiavam no ar e sumiam no breu, outras permaneciam firmes nos galhos que ainda chacoalhavam-se como se aplaudissem o próprio feito, tão banal perante sentidos insensíveis, mas de uma beleza divina capaz de fazer Akihiko ajoelhar-se sobre as delicadas flores que ainda exalavam o cheiro que o amedrontava. Não, não era o cheiro. Culpa? Seria a palavra correta? Monstro, o adjetivo perfeito?
Corromper uma alma era realmente aceitável para salvar a própria existência? A salvação mais contraditória de todas é aquela que lhe condena, onde a própria consciência lhe prensa na parede da culpa e lhe faz confessar cada iniqüidade, lhe faz sangrar mesmo que o remorso nem se quer atinja seu objetivo, pois sempre há deslizes que tem de ser cometidos, vivenciados, apreciados como um veneno magnífico que percorre as veias de quem o saboreia, atormentando de maneira cruel e irremediável esse ser que é corroído de dentro para fora, em um processo contínuo que apenas deixa um vazio que dói. Apenas dói...
-Akihiko ?-a voz doce de Misaki percorreu aquele ambiente escuro confundi-se com o vento fazendo o homem de cabelos claros estremecer, voltou-se para ver de onde vinha aquela voz límpida para ter certeza que não era sua mente sádica que lhe pregava uma peça...
-Mi-Misaki?-gaguejou ele perplexo vendo a figura de Mizaki aproximar-se em meio da escuridão de imensas árvores que enfeitavam o local- Você cresceu... -agora já recomposto, sorria com a típica seriedade no olhar. O garoto de olhos grandes sorriu timidamente, como o de costume, e parou a uma distância considerável de Akihiko
-O que faz aqui?- era Misaki quebrando o silêncio desconfortante, não mais do que o olhar intenso e ameaçador de Akihiko. O garoto estava sério, mas sua voz permanecia doce, carregada de um entusiasmo contido.
-O que você faz aqui?-tentou devolver a pergunta sorrindo maliciosamente, Mizaki corou- Não é hora de criança estar na cama?-o mais velho ainda sorria, mas com um tom divertido na voz , garoto empalideceu
-Esse é o jardim da minha casa - falou ele ríspido demonstrando certa raiva no olhar- e eu não sou criança!-exaltou-se, no entanto, logo refreou sua ira momentânea com um sorriso triunfante naqueles lábios rosados que provocavam Akihiko pelo simples fato de estar ali a sua frente-Eu já tenho dezenove- pronunciou ele triunfante enquanto cruzava os braços como se abraçasse o próprio corpo arrepiado de frio.
-Certo, eu vou embora-não tinha mais um sorriso no rosto e sim uma melancolia naquela expressão que teimava parecer serena- e você, vê se vai para dentro, está frio...
-Você não me respondeu- arriscou Misaki
-Adeus Misaki- Akihiko pronunciou mais frio do que nunca já de costas para o garoto que agora tremia de raiva
-Você tem muita prática em dizer adeus, não é mesmo?- sussurrou Misaki ,com voz chorosa, suficientemente alto pra o homem a sua frente ouvir, fazendo-o alguns segundos calados até Akihiko voltar-se para Mizaki encarando-o inexpressivamente- Eu apenas vim até aqui para ver que vulto era esse rondando o jardim da minha casa- o garoto demonstrava certa mágoa no tom de voz que parecia falhar enquanto desviava do olhar gélido e ao mesmo tempo gentil daquele homem que agora tinha uma expressão tentadora no olhar-Pensei ser algum fantasma do passado e bem...-deu um sorriso pálido e sem graça- eu estava certo.
-Eu sou um fantasma para você?- provocou Akihiko se aproximado de Misaki
-Fantasmas somem e aparecem, aparecem e somem, sem se preocupar com o que deixam para traz, não se prendem a nada e partem sem dizer uma só palavra - Misaki baixou os olhos lentamente, deu o sorriso mais forçado que pode e voltou a encarar o homem elegante que o olhava perplexo- Pelo menos você sabe dizer a palavra adeus- Akihiko parou de súbito enquanto o garoto de cabelos castanhos dava-lhe as costas e caminhava pela estreita trilha de pedras rumo a sua casa
-Você mudou Misaki...- Akihiko forçava um tom de indiferença na voz, o garoto parou, mas permaneceu de costas para ele.
-Não dizem que a dor e a perda mudam as pessoas? –ele suspirou contendo um choro calado que teimou em sair sem que pudesse controlar e ele realmente chorou quieto, pondo as mãos sobre os olhos úmidos
-Pelo jeito você não mudou muito- sorriu Akihiko, já havia uma doçura inigualável na voz que fez com que o garoto a sua frente enxugasse as lágrimas com as mangas do casaco fino que vestia e deixasse os braços caírem junto ao corpo
-Adeus Akihiko - tentou impor um tom frio na voz, mas sem muito sucesso continuou com seus passos suaves, agora mais rápidos e sumiu na escuridão como um fantasma...
Bem, primeiro devo confessar que... meio que me inspirei um pouco na fic "Trois"S. Crovax, por isso obrigada, viu ? :D
Se bem que o gênero Yaoi sempre encantou... :)
E para quem não gostou... Me xingue, mas não exagere, ok ? \o/
O mais preocupante é que é provável um próximo capítulo, e isso é tudo o/
