Break and Heal

"Arthur, eu amo você."

E foi assim, com essa pequena frase, que eu senti meu mundo todo ruir. Não que a frase em si fosse alguma novidade. Lembro-me que quando Alfred era pequeno nós vivíamos trocando essas palavras, com sorrisos no rosto. O que era tão novo nisso tudo foi a situação que havia sido formada antes de tudo isto.

Cap. 1

Era noite de Natal, a neve caia suavemente do céu até alcançar as calçadas, ruas, tetos e carros, formando uma camada branca que recobria toda a cidade. Arthur Kirkland estava em sua cozinha, preparando a ceia para si. Ainda não entendia por que insistia em preparar um ceia a qual comeria sozinho, olhando para as cadeiras vazias que rodeavam a mesa. Puro costume? Ainda não tinha se acostumado com a idéia de que o americano de olhos azuis não desceria as escadas, lhe sorrindo e lhe desejando um "Merry Christmas, Arthur"? Ficara tão dependente assim? O inglês soltou um suspiro cansado. Estava deixando que as lembranças lhe invadissem novamente e se isso acontecesse, deixaria que o peru queimasse. TRIM TRIM TRIM. Arthur ergueu os olhos ao som de sua campainha. Quem seria a essa hora? Enxugou as mãos no avental e se dirigiu para a porta de entrada. Provavelmente seria Francis, só ele era cara-de-pau o suficiente para aparecer na casa dos outros sem nenhum aviso prévio. Qual era o problema daquele francês idiota, afinal? TRIM TRIM TRIM

-Já vou, já vou. -Levou a mão as trancas e as desfez para então abrir a porta.- Deus, será que não é capaz nem mesmo de...- Suas palavras se perderam quando seus olhos encontraram os azuis. Mas não os azuis do francês e sim os do americano, parado a sua porta, com um embrulho debaixo dos braços.- Alfred...?- Murmurou debilmente.

-Hey, Arthur!- Alfred não esperou convite, limpou os pés no carpete de entrada e empurrou no peito de Arthur o embrulho que trazia.-É só uma lembrancinha, espero que goste.

-O...O que está fazendo...a...aqui?

Alfred virou-se, retirando o casaco que sempre usava, aquele com um grande número cinquenta nas costas, e olhou para o seu antigo guardião como se ele tivesse perdido uma parte do cérebro.

-Como assim? Eu vim para passar o Natal com você, não é óbvio?

Não, não era. Para Arthur nada estava óbvio ali. O que se passava? Desde quando Alfred vinha a sua casa sem lhe ligar? E ainda mais na noite de Natal em que todos os outros estavam comemorando e ele tinha certeza que Alfred havia recebido pelo menos dois convites para essas festas, então, o que demônios ele estava fazendo ali?

-Já tem algo pronto para comer?

-Quê?-Havia se perdido em seus próprios pensamentos e só voltou a realidade diante da voz do americano – Ah, não. Eu estava preparando quando você chegou...

Arthur percebeu, como você acaba por perceber quando conhece bem uma pessoa, que Alfred parecia pouco a vontade, quase tenso e que seus olhos não se desviavam dele mas preferiu não falar nada. Como um bom anfitrião, levou o mais novo para a sala e fez com que ele sentasse no sofá, sentando-se ao seu lado e ainda, inconscientemente, segurando o pacote que havia recebido. Ficaram em silêncio por muito tempo, como se não houvesse o que ser dito entre eles, embora cada um estivesse imerso em suas próprias perguntas. O inglês, sem saber o por que já que isso não era de seu feitio, foi o primeiro a falar.

-Faz tempo que...não passamos o Natal juntos, não é?- O americano ficou calado apenas virando seu olhar para o mais velho ao seu lado. Arthur engoliu em seco e baixou a cabeça.- Quer dizer...Não que eu realmente estivesse sentido sua falta, sabe?

-É? Mas eu sinto a sua.

Arthur sentiu seu estômago cair. O que aquele americano estúpido estava falando? Ele saia de casa, desaparecia, tratava-o mal e agora vinha lhe dizer que sentia sua falta? Por favor! A quem ele achava que estava enganando? O mais velho apostaria tudo que ele estava apenas tirando graça com sua cara. Decidiu que ia entrar no mesmo jogo dele.

-É mesmo? Bem, não é de admirar que sentiu a minha falta. Quem não sentiria? Mas sabe...As vezes eu sinto falta de te ver correndo pela casa. Você realmente faz mais falta do que eu tendo a admitir.

Esperou que o americano ficasse envergonhado ou bravo por ter tido sua brincadeira voltada contra si mesmo mas a reação de Alfred foi tudo que Arthur não imaginara. Os olhos, por trás das lentes, se abriram gradativamente, as bochechas, de fato, ficaram um pouco mais rosadas, enquanto ele se inclinava na direção do inglês.

-O-O que foi??

-Arthur...Você disse mesmo o que eu entendi que quis dizer? Quero dizer...Quis mesmo dizer isso?

Dessa vez quem corou foi o de olhos verdes. Como assim? O que ele tinha entendido? Não fora claro no que havia dito, é isso?

-M-Mas...é claro! Eu sempre digo o que quero, seu estúpido!

O sorriso que surgiu no rosto do de olhos azuis chegou a ser desconcertante e antes que Arthur tivesse noção do que estava acontecendo, estava entre os braços de Alfred, seus lábios colados ao do americano. Sua cabeça deu várias voltas e ele só conseguia, em seu estado de estupor, se perguntar o que é que estava acontecendo. Quando as bocas se separaram, Alfred o abraçou e sussurrou em seu ouvido.

"Arthur, eu amo você."