Aviso de Spoiler: Esta fanfiction menciona fatos ocorridos no terceiro episódio da segunda temporada de Sherlock.
Os dois corpos estavam estendidos, sobre macas, um ao lado do outro. Em ambas as faces, a marca da mesma morte. Como se fossem a mesma pessoa.
As mãos de Molly tremiam. Engoliu seco imaginando se tudo teria ocorrido da maneira como ele imaginou.
Apanhou vários pedaços de gaze e passou pela testa de Sherlock. A respiração, quase nula, começava a tomar uma forma mais evidente após a rápida injeção. Mesmo que a pela branca ainda parecesse igualmente pálida.
"Do que você precisa?"
"De você."
Estremeceu.
Ela teria injetado na veia dele a substância que diminuiria seus ritmos cardíacos e sua respiração. O pulso que John não sentiu residia na batida quase inexistente. Entretanto, foi o próprio Sherlock que administrara a dose, num dos seus raros momentos de sensibilidade, ao perceber que ela se sentira incomodada em inserir em seu corpo a perigosa substância.
O sangue que lhe gelava os negros fios de seu cabelo pendentes sobre a testa, ela retirara de um dos cadáveres, momentos antes de tudo mudar. Talvez o Dr. Watson tivesse percebido a cilada para o seu coração se tivesse tido tempo de lhe tocar a face quente, líquido vermelho jamais poderia contrastar, ser tão frio...
Molly aguardava ansiosa.
"Você conta, você sempre contou, eu sempre confiei em você".
Ela riu, tímida e rubra, da rápida lembrança. Jamais seria capaz de dizer qualquer coisa à ele. "Não tente falar Molly, esse não é o seu forte". Ela não tentaria. Não apenas pela dificuldade, mas porque não precisava. Sabia que ele lia nela tudo o que ela poderia querer expressar.
Ela também assistiu a queda de Sherlock. Não soubera como de fato tudo fora executado. Raciocinava furiosamente, tentando prever qual seria o próximo passo daquele que acabara de suprir seus pulmões com uma dose generosa de oxigênio. Os corpos seriam trocados, o inimigo tomaria seu lugar de finitude. A aflição, desejo e conclusão de Moriarty se consumiriam: seriam a mesma pessoa.
Apesar de repassar aqueles fatos em sua mente, o que enchia o seu coração de dúvidas era o que aconteceria em seguida naquele específico instante: quando ele acordasse.
Os enigmáticos olhos azuis se abriram.
