Era um dia movimentado em torno da escola Sohoku, pois começava mais um ano de aulas, e por todos os lados chegavam alunos, alguns novos, outros veteranos, apressando-se em subir a rampa principal de acesso à escola, para não se atrasarem.

Em contraste à multidão que se reunia pelo acesso principal, a rampa dos fundos estava deserta, pois era muito inclinada para subir-se a pé e eram poucos os estudantes que eram levados de carro pelos seus pais. Naquele momento, uma única pessoa se arriscava por aquele trajeto íngreme, mas a solidão não o incomodava nem um pouco.

-Esta subida vai ser perfeita para treinar minha escalada. – Imaizumi fala para si mesmo enquanto esforça-se em pedalar até o topo. Aquela escola tinha o melhor clube de ciclismo da região, e mal podia esperar para começar a treinar para as competições de ensino médio.

Desde que era criança ele treinava sozinho horas por dia, e costumava ganhar todas as competições que participava. Infelizmente, com o tempo, as competições foram ficando mais difíceis de serem ganhas correndo sozinho, pois as equipes sempre tinham vantagem sobre os corredores solo. Com as vitórias ficando cada vez mais raras, ele precisava engolir o orgulho, e, agora no ensino médio, mudar-se para uma escola com uma equipe de ciclismo para que pudesse ter novamente chances de ganhar campeonatos.

A única parte ruim seria ter que agüentar outras pessoas, mas pretendia provar logo que era o melhor da equipe, então seria colocado na posição de capitão e não teria que dar satisfação para ninguém.

Após dez minutos naquela longa subida, Imaizumi enfim chega ao prédio da escola, atraindo olhares para o quanto estava suado e mais cansado que todo mundo ali. Ignora aquela atenção toda e prende sua bicicleta em uma das muitas vagas livres do bicicletário, depois entra para ouvir o discurso do diretor, dos representantes de turma, aquela burocracia toda.

Assim que aquela chatisse terminasse, iria para o prédio do ciclismo para pedir sua admissão no clube.

Os discursos e solenidades duraram ainda mais tempo do que seria considerado muito, e Imaizumi já estava completamente impaciente quando pôde enfim se retirar junto daquela multidão de gente barulhenta que ele tanto desprezava. O único lado bom disso tudo é que não haveria tempo de ter aulas, então poderia ir atrás do capitão da equipe de ciclismo falar com ele diretamente.

Duas meninas o pararam no caminho para a saída, o que só o deixou ainda mais aborrecido.

- Oi! Eu te vi chegando pelos fundos da escola hoje e você estava tão acabado! Sabe, a entrada principal da escola é bem mais longa, mas é fácil de subir, posso te mostrar o caminho agora que—

- Não estou interessado – Imaizumi responde friamente sem perder o tempo de olhar pra ela. Com certeza era mais uma daquelas meninas fanáticas que o perseguiam para conseguir um autógrafo, ou um selinho, ou alguma coisa boba desse tipo.

- Você não precisa ser grosso – A segunda menina responde. O jovem repara nas duas por meio segundo. A que acabou de responder tinha o cabelo castanho claro e curto e jeito de brava, mas nunca tinha a visto na vida. A outra, que falou com ele primeiro, tinha cabelos longos, escuros, e parecia excessivamente amigável. Imaizumi sentiu que já tinha visto em algum lugar, mas não deu atenção a isso.

– Eu estou com pressa, preciso passar no clube de ciclismo antes que feche – Ele complementa a frase ao sentir que estava sendo rude demais até para os próprios padrões. Já tinha perdido tempo demais com aquelas duas então some na multidão em direção à porta de saída, não querendo esperar resposta.

- O clube de ciclismo...? Mas... – A de cabelo longo percebe que não adiantava falar pois ele já havia ido embora. Ela fica olhando em direção à porta, meio decepcionada.

- Sinceramente, Miki,não sei por que você se importa em ajudar esses babacas dos clubes de esporte, são todos uns trogloditas – a amiga responde e a puxa pelo braço para saírem logo daquele tumulto centenas de estudantes deixando o salão ao mesmo tempo e irem logo para a casa.

Do lado de fora, na frente do prédio do clube de ciclismo, a expressão de Imaizumi só poderia ser descrita como de completa perplexidade.

Na porta do clube havia apenas um cartaz "fechado por falta de membros".

- Isso não pode estar acontecendo! Esse é o único clube de ciclismo dessa maldita cidade! – Tomado de raiva, ele amassa o formulário de ingresso que já tinha preenchido e joga no chão.

O jovem calouro massageia as têmporas, aborrecidíssimo, enquanto pensa no que fazer. Mudar de escola àquela altura estava fora de questão.

- Ok, eu nunca desisti no meio de nenhuma corrida, não é por uma coisa dessas que eu vou desistir. – Ele recolhe o formulário do chão e desamassa, indo buscar sua bicicleta de corrida onde a havia deixado. Era a única bicicleta de corrida estacionada entre algumas, se sentia meio burro de não ter percebido isso mais cedo. Ele deixa a escola pela mesma rampa em que veio, pelo menos a descida acentuada o faria chegar mais rápido em casa e esquecer logo esse dia.

Na manhã do dia seguinte, Imaizumi está na porta de entrada da escola, em frente ao bicicletário, distribuindo panfletos do clube de ciclismo. Se não havia mais clube, ele decidiu que ele mesmo o abriria de novo, e de quebra não precisaria ter o esforço de ser capitão do time, pois seria o líder da equipe logo no começo.

O problema é que ninguém estava parecendo interessado no clube, as poucas pessoas que pegavam o panfleto o jogavam no lixo logo adiante. Nem mesmo os estudantes que chegavam em suas bicicletas-de-mamãe pareciam minimamente interessados.

Imaizumi odiava ter que parecer simpático o suficiente para as pessoas pegarem os malditos panfletos sem saírem correndo, e já estava quase desistindo quando um menino que prendia sua bicicleta ridícula com cestinha pegou um panfleto da sua mão.

- Você está tentando abrir um clube de ciclismo? Que legal – O garoto ajeita o enorme óculos para poder ler melhor as letras menores.

Imaizumi repara na primeira pessoa que lhe deu alguma atenção naquele dia todo. Ele era pequeno e magricela, mesmo que quisesse entrar no clube, só o deixaria participar se estivesse completamente desesperado. E ele já estava completamente desesperado.

- Sim, ciclismo, vai querer participar? – Imaizumi responde com a ineloquência de sempre.

- Uhm, na verdade não – O garoto responde encabulado, curvando o rosto para conseguir olhar nos olhos o colega muito mais alto. – Não gosto dessas coisas de esporte.

- Então por quê veio me incomodar? – Imaizumi responde rudemente e pega o panfleto de volta. Nunca demorava a se irritar, mas algo naquele garoto o deixava irritado ainda mais rápido que o normal.

- Uhh... é só que... – O menor coça atrás da cabeça, ficando vermelho enquanto pensa no melhor jeito de se explicar – Você é bem alto e... ahm... só acho que... – Ele se afasta um pouco ao ver o quanto Imaizumi está ficando aborrecido com a demora na resposta – Você é muito parecido com um personagem de Love Hime! Se estiver sem clube, por que não entra no nosso clube de anime? Eu acho que você seria perfeito para o nosso grupo de cosplay!

Imaizumi não conseguia acreditar em nada do que estava ouvindo, e sentia todas as veias lhe saltarem na testa. Primeiro o clube de ciclismo fecha, depois vem um otakinho magricela o chamando pra um desses clubes de nerds esquisitos. Alguém lá em cima estava de zoeira com a sua cara, só podia ser isso.

- Cosplay? Love Hime? Eu não faço essas coisas de gente nerd sem vida! – Imaizumi guarda os panfletos na mochila e se prepara para entrar na escola, quando percebe algo estranho naquilo tudo – Espera, eu estava de frente para o portão principal o tempo todo e não te vi chegar aqui.

O garoto estava abatido pela parte do "nerd sem vida", mas se anima novamente ao ver que aquele cara não o tinha deixado falando sozinho, como as pessoas costumavam fazer.

- Ah, eu vim pelo caminho ali de trás – Ele dá um tapinha no selim da bicicleta de marca duvidosa – O caminho principal é muito cheio de zigue-zague... dá pra chegar de bicicleta muito mais rápido pelo caminho dos carros! Uh... a propósito meu nome é Onoda, não sei se isso importa...

- Você, pelo caminho dos fundos? Com essa bicicleta? – Imaizumi começa a rir, deixando Onoda ainda mais tímido e sem entender nada – Não é possível que um pirralho como você tenha feito uma coisa dessas, e não está nem cansado!

Mesmo sem entender o porquê dessa zombaria toda, Onoda se encolhe, tão envergonhado que estava prestes a chorar.

- Em vez de rir dele por que não fazemos uma aposta? – Os dois se viram na direção da menina que pelo visto estava ouvindo a conversa já fazia um tempo – Se o Onoda conseguir fazer a volta pela escola, subindo pelo caminho dos fundos, antes do sinal da aula tocar, você entra para o nosso clube de anime.

- Miki-chan! – Onoda parece muito aliviado pela amiga ter aparecido para ajudar.

- Miki...? – Imaizumi ainda não consegue lembrar onde já tinha visto aquela garota, mas logo começa a rir de novo – Ah claro, ele faz isso e eu entro no clube dos perdedores, mas e se ele não conseguir? O que eu ganho?

- Eu... eu entro no seu clube de ciclismo! – Onoda esforça-se para parecer determinado – Saio do clube de anime e entro para esse seu clube! É isso o que você quer, não é?

Miki preocupa-se por alguns segundos, mas ao ver o olhar determinado por trás dos óculos do amigo, sorri, sabendo que não há motivos para duvidar da capacidade de Onoda.

- Hahah! Aceito a aposta. Mas é melhor correr, faltam só 15 minutos para o sino tocar. – Imaizumi ri enquanto confere o relógio.

Onoda entra em pânico ao confirmar no seu iPod que, realmente, tinha apenas 15 minutos para fazer o trajeto todo, e apressa-se em soltar sua bicicleta novamente, se atrapalhando todo com o nervosismo. Imaizumi aprecia a confusão do menor, se perguntando onde o encaixaria em seu time de ciclismo. Talvez ele servisse como mecânico de bicic—

Mecânico de bicicletas! De repente lembrou onde tinha visto aquela garota antes. Ela era a irmã mais nova do antigo capitão da equipe de ciclismo daquela escola, que agora tinha uma mecânica de bicicletas. Mesmo que sempre tivesse se interessado mais por animes e mangás, esta menina tinha aprendido muito com o irmão e sabia tudo sobre bicilcetas e corridas.

Quando Imaizumi se recupera do choque e olha para o lado, Onoda e sua bicicleta não estão mais em lugar nenhum.

- Tenho certeza que o Onoda vai ser capaz de chegar em menos de 10 minutos. – Miki olha para Imaizumi com um sorriso doce – Você vai ser um excelente cosplayer, Imaizumi-kun!

Imaizumi sente o suor gelado formar em seu pescoço, estava tão preocupado em perder a aposta que nem se perguntou como aquela menina sabia o seu nome.


Olá, leitores!

Faz um tempão que não escrevo fics, então espero que estejam gostando desta. Os comentários de vocês me incentivarão a escrever mais capítulos! Obrigada por lerem!