Estupidez
Diziam que Goyle não era brilhante – honestamente, estava cansado de ouvir que era mais burro que uma porta, que ninguém entendia como ele podia ter ido parar na Sonserina quando não era nem estúpido o suficiente para ser considerado um Lufa-lufa. Que ele era idiota, incapaz de compreender, de argumentar, de perceber as coisas.
E, talvez, as pessoas estivessem certas, mas ele não era o único assim. A diferença, talvez, era que ele não se importava que falassem de sua estupidez, enquanto os outros tinham muito orgulho de se considerarem espertos.
Naquela viagem de trem tudo parecia estranho: Draco e suas promessas de grandeza, o vazio no lugar de Blaise, Crabbe com a cabeça enfiada em uma revista. A única coisa que não mudava era a gentileza excessiva de Pansy para com o namorado, ao ponto de ser irritante para qualquer um.
A conversa na volta de Blaise sem dúvidas era uma das coisas mais complicadas e confusas que ele já escutara (ainda mais depois que ele tinha caído em seu colo, muito constrangedor).
"O que Slughorn queria?"
"Se entrosar com as pessoas com boas ligações. Não que ele tenha achado muitas."
Draco fez uma careta.
"Quem mais ele convidou?"
"McLaggen, da Grifinória..."
"É, o tio dele é bem posicionado no Ministério."
"Um tal de Belby, da corvinal..."
"Não aquele idiota!" falou Pansy.
"Longbottom, Potter e a garota Weasley."
Draco sentou-se imediatamente, fazendo com que Goyle franzisse a testa.
"Ele convidou o Longbottom?"
"Imagino que sim, já que ele estava lá."
"Por que o Slughorn estava interessado no Longbottom?"
Blaise deu os ombros, embora Goyle achasse isso tão estranho quanto se ele e Crabbe tivessem sido convidados para um Grupo de Estudos para Garotos Especialmente Talentosos e Inteligentes.
"Potter, o precioso Potter, claro que ele queria dar uma olhada n'O Escolhido. Mas a garota Weasley! O que ela tem de especial?"
Havia muitos tons secretos na voz de Draco, e Goyle reparou nisto da mesma forma que Pansy, que se apressou em comentar.
"Muitos garotos gostam dela. Até você a acha bonita, não é, Blaise, e você é difícil de agradar!"
Ela parecia desesperada para que discordassem, para que negassem os tons cheios de significado na voz de Draco, seu medo de perder sua "posição."
"Eu não tocaria aquela traidora do sangue nojenta independente da sua aparência" respondeu Blaise, imediatamente. Rápido, rápido demais para um rapaz que sempre considerava muito antes de dizer qualquer coisa, sempre aparentando estar no lado certo de todas as discussões.
A voz dele era fria, e ela sorriu, relaxando, e ficou satisfeita quando Draco deitou novamente em seu colo. Goyle se viu impressionado com aquilo tudo. Ele era burro, é verdade, mas se Pansy não conseguia perceber a estranheza da reação de Blaise, em suas palavras rápidas, firmes, e finais – direcionadas diretamente a ela, exatamente o que ela queria ouvir, sem negar nem uma única palavra do que ela dissera, bem, então ela era, realmente, muito mais burra do que ele.
