Oi pessoal, lembram daquela lenda que o Billy e o Quil contam em Eclipse? Eu resolvi fazer uma versão dessa história só que na visão de um dos vampiros. Espero que gostem.
Lenda Quileute
O SACRIFÍCIO DA TERCEIRA ESPOSA
Por outros olhos
1. Recém nascida
Fogo. Tudo estava queimando, e eu não conseguia me mexer nem gritar para sair dali. Era como se os meus músculos tivessem se esquecido de como se fazia isso. Eu não sabia se eu estava morrendo ou se aquilo era algum castigo, mas se fosse um, e eu conseguisse encontrar a minha boca e fazer ela falar, eu gritaria para que me matassem. Qualquer morte seria muito mais bem-vinda do que aquilo.
Parecia que esse fogo tinha entrado em mim e percorria pelas minhas veias tentando achar um jeito de me destruir. Um jeito muito doloroso. Um jeito que faria até a pessoa mais corajosa desse mundo implorar de joelhos pela morte.
Não sei quanto tempo eu fiquei lutando para tentar mexer um músculo sequer, poderiam ter se passado horas, ou apenas segundos, mas mesmo assim a dor era insuportável e nada a fazia parar.
Então em algum momento, a dor começou a ficar menos dolorosa, mais suportável. "Ótimo," eu pensei, "estou morrendo! Isso deve ser a morte, primeiro ardemos para pagar todos os pecados que cometemos e depois a dor pára para nós podermos ir em paz."
Foi ai que eu consegui mexer a minha mão. A dor havia parado. Eu abri meus olhos lentamente e vi que eu estava em uma praia.
— Isso não pode ser a morte. — falei num sussurro, e não reconheci a minha própria voz. Era totalmente diferente da que eu lembrava ser minha. Parecia a voz de um anjo.
Sentei na areia para ver melhor onde eu estava. Era uma praia deserta, não devia ter muitos humanos por ali em um raio de muitos quilômetros. Olhei para o mar, tão belo, num azul tão profundo em contraste com o céu. E no céu, um sol maravilhoso se preparava para um novo dia. Mas era um sol diferente, ele brilhava com todas as cores do arco-íris e mais uma que eu não reconheci.
Me levantei, com uma agilidade que me surpreendeu. Eu devia ter me levantado em menos de um segundo, e a minha visão, nem se embaralhou com a rapidez. "Como?", pensei. Mas não achei uma resposta.
Comecei a caminhar pela praia, tentando achar um caminho para alguma cidade. Então eu olhei para o chão e vi meus pés. Eles brilhavam e eram muito brancos. Ergui a minha mão para olhá-las também, eu devia estar delirando, e elas brilhavam também. Era como se a minha pele fosse feita por diamantes, pequenos diamantes que cobriam cada pedaço do meu corpo.
E ai veio a sede. No começo eu pensei que tinha voltado a queimar, porque era isso o que eu sentia, uma queimação pela minha garganta, e uma vontade incontrolável por sangue.
Eu queria sangue, sangue humano. E eu sentia a presença de alguém por ali, seu cheiro era trazido até mim pelo vento, e essa pessoa seria a minha refeição. Seu sangue seria o meu vinho, era a única coisa que eu queria dela, o resto apodreceria na praia.
Eu enjoei com esse pensamento. O que estava acontecendo comigo? Eu brilhava, conseguia me mexer com rapidez e agilidade, minha visão e meu olfato pareciam ser mais aguçados e eu tinha sede por sangue. Era um sonho, eu tinha certeza, não tinha outra explicação.
Enquanto eu andava para a direção de onde o cheiro vinha, vi uma mulher sentada na areia comendo uma fruta e admirando o oceano. Ela era baixa, magra, com cabelos pretos e pele bronzeada. Quando me viu caminhando até ela, se levantou e começou a correr. Ela estava com medo de mim. Também, quem não estaria ao ver uma maluca que brilha e que quer o seu sangue?
Eu corri atrás dela, sem nem mesmo perceber que eu tinha corrido. Não era mais eu quem estava ali, era um monstro. Um monstro que iria matar aquela pobre mulher. Ela tropeçou quando eu cheguei ao seu lado, e antes de dar tempo de ela poder gritar, eu já tinha atacado-a.
Eu senti o sangue dela, quente, passar pela minha garganta, e a minha sede, aos poucos sendo saciada. Ela morreu em meus braços enquanto ia ficando sem sangue e depois que eu acabei, fiquei horrorizada com o que eu tinha feito.
Eu tinha matado uma mulher. Eu tinha sugado todo o sangue dela. Por quê? Era só isso que eu queria saber. Era só isso que eu precisava saber.
-x-xx-x-
Cinqüenta anos tinham se passado desde a minha transformação. Depois daquele incidente na praia, eu consegui encontrar outro igual a mim que me explicou o que eu era, uma vampira. Agora, eu vagava por uma floresta em algum lugar do lado oeste do estado, eu tinha atravessado o país durante esses anos, conhecendo mais vampiros, e até consegui um parceiro, George, que estava a uns trinta anos junto comigo.
Nós estávamos caçando. Tinha duas tribos ali por perto, nós já tínhamos caçado por ali algum tempo atrás. Hoje estávamos com sede, ficamos mais de uma semana sem sangue. Meus olhos pretos refletiam isso.
— Marie? — George me chamou.
Eu olhei para ele, estava de noite, mas a escuridão não me impossibilitava de o ver.
— Sim?
— Estamos perto. — ele disse. Eu inspirei o ar e senti o cheiro de sangue a alguns quilômetros.
Eu concordei com a cabeça mesmo não sendo uma pergunta e nós começamos a correr na direção em que o cheiro vinha. Paramos quando chegamos atrás de uma pequena casa de madeira. Tinha duas pessoas ali dentro.
Entramos por trás para não chamar muita atenção, não que fosse um problema, poderíamos acabar com todos por ali. Duas garotas conversavam numa língua que eu não entendi e estavam sentadas no chão da casa.
Atacamos na mesma hora, como se tivéssemos ensaiado. Sem gritos e sem barulhos. Trabalho perfeito.
— Vamos levar elas daqui. — disse a George.
Corremos novamente para dentro da floresta, as mulheres tinham desmaiado, mas ainda estavam vivas. Chegamos até uma pequena clareira e começamos a sugar o sangue delas.
Aquela mesma sensação de alívio se repetiu mais uma vez quando o sangue começou a passar pela minha garganta. Como uma criança morta de fome, suguei o sangue dela desesperadamente e terminei em um tempo muito rápido. Ficou aquele gostinho de quero mais.
George ainda sugava o sangue da outra mulher. Ele era mais velho que eu, tinha mais de cem anos quando o conheci, agora devia ter quase uns duzentos, e nem preciso dizer que lidava com a sede melhor do que eu.
— Vou dar uma passeada por aí. — falei para George.
Nem sei se ele ouviu isso de tão concentrado que estava, mas foi avisado, em algum lugar do subconsciente dele a mensagem foi entregue. Eu sai para a noite.
Esse primeiro capítulo mostra duas coisas contadas na lenda, que são os ataques. O primeiro é falado quando a Marie diz que eles já tinham caçado por aquela região, que foi o ataque aos Makah um ano antes onde muitas mulheres tinham sumido. O segundo é eles atacando as duas mulheres da mesma tribo.
E aí? Meio dramático demais o começo, não? [nem sei da onde tirei isso, mas...] Vocês gostaram? Se sim deixem reviews, se não, também!
Beijinhos, tchau!
