Sunflowers

Quando as pessoas me perguntavam como eu tinha sobrevivido a loucura que fora te conhecer tão profundamente - e eram raras as que perguntavam - eu respondia a verdade, mas muitos acreditavam que era um enigma. Girassóis, era minha resposta, e as pessoas me olhavam se perguntando se eu tinha realmente superado ou se tinha perdido minha mente junto com minha inocencia.

Você teria entendido, eu penso, pois certamente percebeu em vida a fraqueza e encanto destas flores. Tão humanas, virando-se para o sol, queimando-se por desejar demais aquilo que nenhum mortal pode ter. É ironico pensar que isso define minha relação contigo tão bem quanto sua relação consigo mesmo, pois desejando demais, você se perdeu - de si mesmo, e depois da vida.

Naquelas semanas de solidão, todas as palavras pareciam erradas. E se o sol do Egito queimava minha pele, fazendo-a arder e me lembrando do que não deveria me aproximar, a tinta na tela escorregava retratando girassóis semi-mortos, como eu e você. E com a obsessão por fazer sempre o melhor que você incutiu em mim, eu tentava repetir nas cores os sentimentos e sensações que via nas pétalas das flores, que quando perdiam a direção, pendiam para o abismo no qual eu me encontrava.

Luna entendeu, é claro, pois ela entende tudo sobre essas coisas que as palavras não conseguem explicar, e foi ela quem escolheu o buquê brilhante com o qual entrei na igreja no meu casamento, e ao jogá-lo para trás, me livrei da última mentira que você me contou - que nunca mais haveria outra pessoa para mim, que você seria meu fim como fora meu começo. O sol brilhava, e eu me virei para o outro lado, para outra fonte de alegria, e nunca mais pensei em você.