A batalha contra o exército de Loki já tinha acabado, eu tinha fechado o portal, Tony conseguiu voltar a tempo. Os Vingadores tinham conseguido e estavam bem, mas agora cada um seguia seu rumo. E mais difícil que uma batalha era saber o que faria em relação ao Clint Barton agora.
- Eu tenho uma dívida com você. E não é assim que se paga uma dívida, não posso, não de novo.
- Natasha, isso não tem nada a ver com dívidas ou pagamentos, você sabe. E sabe também que quer tanto quanto eu.
- Barton, pare de bobagens. Eu tenho que ir.
- Fazer o que?
- Não lhe devo explicações.
- Você sabe que não são só os russos os mestres da espionagem. Eu também posso achá-la aonde quer que esteja.
- Você é o Gavião Arqueiro, não precisa da mulher e caso queira uma, tem várias por aí que se jogariam aos seus pés. Mas eu volto.
- Pra quê? Não tem sentido.
- Volto quando estiver precisando de mim.
- Acho que não deveria ir embora já que é assim.
- Você não precisa de mim agora.
- Sabe que sim, mas não vou insistir mais. Você volta em alguns segundos quando eu arrumar alguma confusão.
- Não fará isso de propósito. Eu tenho uma dívida, não um emprego de babá.
- Que tal o emprego de minha mulher?
Eu estava me segurando pra não parar com todo esse fingimento. Eu o queria. Mas não podia, não era tão fácil assim. Clint Barton, o Gavião Arqueiro, me salvou de todos os erros que eu estava cometendo, me livrou de crimes pelos quais deveria ter pagado, me livrou de problemas e me livrou da morte. Ele tinha salvado minha vida e eu a devia a ele. Meu coração era a única parte de mim que era livre dessa dívida. Era. Agora, parecia que até isso ele tinha tirado de mim e pegado pra ele. Mas não era sua culpa. A culpa de tudo era toda e exclusivamente minha. Ele não me cobrava nada, já havia me falado que não pensava em cobrar uma dívida quando me salvou de tudo, mas não importa, eu sentia que devia muito a ele. Qualquer coisa que me pedisse e que fosse para o bem dele, eu faria. Mas ficar não o faria bem. Eu não era uma pessoa que podia fazer bem à alguém. Eu era a Viúva Negra, estava no meu sangue não ser tão boa assim, mesmo que agora estivesse no caminho certo.
- Sinto muito, nós vemos por aí. Saberei quando precisar de ajuda.
Me virei de costas, mas parei quando ele falou.
- Achava que nós éramos parceiros.
Vire pra ele.
- Nós somos, já disse, eu estarei aqui quando precisar.
Agora não fui eu que me virei pra ir embora, foi ele. Senti um aperto. Ele provavelmente ficaria sem falar direito comigo por um tempo e isso era bom, mas não era o que eu queria. De repente ele se virou apontando uma flecha contra mim.
- Barton, está louco?
- Fique parada.
Ele atirou, senti o ar se mover bem perto do meu pescoço quando a flecha passou. Ele estava mesmo tentando me acertar? Ou intimidar para que eu ficasse?
- Sabe quem é?
- Do que você está falando?
- Natasha, você acha mesmo que tentei te acertar? Olhe pra trás.
Me virei, tinha um cara morto com uma flecha no pescoço e uma corda na mão. Parece que alguém estava querendo me pegar ou matar.
- Você está bem? Como não o viu? Natasha, o que houve?
- Não sei, não estava atenta, estava pensando em outras coisas. Deve ser isso.
Puxei ele para que abaixássemos, agora meus sentidos deviam estar voltando ao normal, ou anormal, porque eu podia sentir que não éramos os únicos. Alguém estava entrando na casa de Barton pra me matar?
- Tem mais deles.
- Quantos?
Olhei ao redor, nenhum deles estava à vista.
- Talvez uns cinco.
Barton se levantou e olhou para os lados. Atirou perto da estante. Um dos homens caiu. Outro apontou uma arma em direção a ele. Levantei e empurrei-o contra a parede, ouvi o tiro e senti o quente da bala rasgando minha roupa no braço de raspão. Peguei minha arma e atirei contra ele. Caiu.
- Faltam três.
De repente os três surgiram cercando nós dois no meio da sala.
- Nós só queremos a agente Romanoff, ela vai conosco e tudo fica bem.
- Vocês estão de brincadeira?
Barton pegou uma flecha.
- Se você atirar, nunca mais a verá.
Os três apontaram suas armas contra mim. Ok, eles cometeram três erros. Primeiro, eles chegaram perto demais. Segundo, eu não estava sozinha. Terceiro, quem estava comigo era o Gavião Arqueiro.
- Tudo bem. Eu vou com vocês.
Barton deu um sorriso. A brincadeira só estava começando.
Deixei que um dos caras botasse as algemas em mim. É tão divertido dar a eles a impressão de que estão ganhando. Os três viraram de costas e já me empurravam em direção à porta. Tão otários.
Primeira lição, nunca dê as costas ao Gavião Arqueiro. Ele acertou o homem do meio que caiu, os outros dois se viraram pra ver o que tinha acontecido.
Segunda lição, nunca dê as costas à Viúva Negra. Empurrei com o pé um dos caras que tinha se abaixado pra ver o que ocorreu com o parceiro, ele caiu. Pisei em suas costas.
- Gavião?
Ele flechou o pescoço do cara.
Terceira lição, não interrompa uma discussão de relacionamento entre o Gavião Arqueiro e a Viúva Negra, mesmo que já esteja terminando.
Virei para o homem que havia sobrado, estendi minhas mãos pra que ele abrisse as algemas. Ele ficou parado.
- Não vai abrir?
- Não.
Barton estava atrás dele no segundo seguinte.
- Resposta errada.
Barton segurou seu pescoço e passou pra frente do homem. Levantou-o e ele batia os pés procurando o chão. Ele já respirava ofegante.
- Vai abrir?
Ele balançou a cabeça confirmando. Barton o soltou e ele pegou as chaves e tirou as algemas.
- E então? O que estavam fazendo aqui?
- Devíamos levá-la.
- Quem os mandou?
Ele ficou em silêncio. Ótimo. Estava querendo brincar?
Empurrei o contra a parede e dei um soco em seu estômago. Ele ofegou. Cheguei meu rosto perto do dele e senti que Barton não estava gostando.
- Se você não falar, vai ser pior, você sabe.
Ele continuou em silêncio.
- Tudo bem, parece que você gosta de brincar.
Passei a mão, acariciando seu órgão genital. Ouvi o cerrar dos dentes de Barton e sua respiração nervosa, ele não estava gostando nenhum pouco. O homem respirava parecendo gostar do carinho. Sorri. Comecei a apertar e ele curvava-se aos poucos de dor. Apertei mais e ele tossia. Soltei e segurei firme em sua cabeça já abaixada, e dei uma joelhada em seu rosto. Ele caiu no chão.
- Não… não sabemos sua identidade… somos apenas contratados… e ele nos dá as informações. Ele respirava ofegante e encolhia seu corpo achando que a dor melhoraria.
- O que mais você sabe?
- Ele é russo.
Olhei para Barton.
- Já sei tudo que preciso, acabe com isso.
Esperava que ele pegasse uma flecha e acertasse o cara, mas não o fez. Barton foi em direção ao cara e deu-lhe um soco no rosto.
- Você sabe que atrapalhou nossa discussão.
E deu outro soco.
- E também recebeu carinhos dela.
E deu mais um. O rosto do homem já estava cheio de sangue.
- Dá próxima vez eu escolheria melhor com quem mexer.
Barton levantou e pegou uma flecha. Atirou no estômago dele e o deixou ali gemendo de dor. Ele não costumava ser tão agressivo, geralmente a flechada no pescoço bastava, morte rápida sem ressentimentos.
Comecei a subir as escadas e ele veio atrás de mim.
- Por que tudo isso, Clint?
Ele estava de cara fechada
- Por que você acariciou ele?
Sorri.
- Achei que tivesse gostado de vê-lo sofrendo.
Mas ele não era do tipo que gostava de sofrimento alheio. Eu era. Eu era cruel, eu fazia as pessoas sofrerem e não me sentia mal por isso.
Entrei no quarto de Barton, liguei o computador e me sentei. Ele pegou uma cadeira e se sentou ao meu lado, virado pra mim e ficou me olhando.
- O que foi?
- Natasha, eu que te pergunto, o que foi isso? Por que você o acariciou?
- Eu o fiz sofrer e ele contou o que eu precisava saber, que diabos, foi só.
- Por que simplesmente não deu uns socos nele? Olha pra mim, Natasha.
Barton virou minha cadeira de frente pra dele.
- Deixe-me usar o computador, preciso ver uma coisa.
Tentei virar minha cadeira, mas ele a segurou.
- O que você quer?
- Saber por que fez aquilo.
- Porque sim. Isso te incomodou?
Ele abaixou a cabeça e parou de olhar pra mim. Respirei fundo. Na hora eu queria ver se Barton sentiria ciúmes e foi o modo que achei para descobrir, mas parece que além de deixá-lo com ciúmes, o deixei chateado. Eu tinha sido cruel demais.
- Ei, desculpe.
Ele continuou olhando pra baixo e eu ouvia sua respiração forte. Não respondeu. O que eu faria agora? Ele estava com raiva de mim. Pensando por um lado, agora ele me deixaria ir embora e nada aconteceria. Por outro, será mesmo que seria bom pra ele que eu fosse embora?
- Clint, nós somos parceiros, não vai me desculpar?
Ele suspirou e continuou olhando pra baixo. Ai ai. Agora ele estava me odiando, que ótimo.
Coloquei minhas mãos em seu rosto e o levantei pra que olhasse pra mim. Fiquei em silêncio e ele também. Isso não parecia bom.
Eu sabia o que queria fazer agora, e sabia também, que se fizesse, seria mais difícil ir embora. Dane-se, depois eu resolvo minha vida.
O beijei.
- Achei que não era assim que se pagavam dívidas.
Ele ainda estava sério.
- Mas não é mesmo. Isso foi só pra que você falasse alguma coisa.
- Então você só quer que eu te desculpe? E você não sente mais nada?
- Ódio por você ficar me fazendo esse tipo de pergunta.
Tentei, novamente, virar minha cadeira para o computador, ele continuava me impedindo.
- Eu te desculpo, mas não foi legal.
- Não acha legal quando te acariciam?
Por que motivos eu não conseguia falar as coisas certas? Eu estava querendo que ele ficasse puto de novo? Eu só podia ser muito otária por ter perguntado isso. Por que eu não consigo não ser cruel sempre?
- Você sabe que não é essa a questão.
- Desculpa.
Coloquei as mãos em sua coxa e bati duas vezes, amigavelmente.
- Agora me deixe pesquisar umas coisas no computador.
Achei que soltaria a cadeira, mas não o fez.
- O que foi agora?
- É só? A sua decisão de ir embora permanece a mesma?
Olhei no fundo dos olhos dele. Ele definitivamente não queria que eu fosse.
- Primeiro vou resolver os problemas com esse russo que mandou gente atrás de mim, depois eu resolvo isso.
- Então você ainda não deu sua decisão final?
- Ainda não.
- Posso te ajudar a decidir isso logo?
- Clint, você já deu sua opinião e pediu que eu ficasse, não precisa me lembrar, já sei.
- Natasha, eu não estou falando disso.
- O que foi então?
Ele ficou em silêncio por alguns, talvez três, segundos, olhando nos meus olhos. Quando fiz menção de desviar o rosto e me virar pra frente, já achando que ele pediria novamente pra que eu ficasse, ele se aproximou rapidamente e me beijou. Foi diferente de alguns minutos atrás quando eu tinha beijado ele. Dessa vez era mais intenso. Ele estava me beijando de uma forma que parecia não só querer me convencer de que deveria ficar, mas implorava por isso. Era bom. Muito bom.
Ele parou por um instante, mas manteve seu rosto extremamente perto do meu, nossos lábios quase se tocando.
- Natasha, por favor.
- Ficar?
- Também.
Ele me beijou. Dessa vez eu que parei.
- E o que mais?
- Nós dois, por que você não aceita que é bom?
Ele me beijou de volta e foi me guiando de forma que levantássemos das cadeiras. Ele segurava na minha cintura e eu deixei que me guiasse, pelo menos por um momento. Eu parei de beijá-lo e mantinha a mesma proximidade dos nossos rostos.
- Eu nunca te disse que era ruim. Mas…
- Mas nada, vem cá.
Ele me beijou e foi puxando meu corpo de forma que em alguns segundos já estávamos deitados na cama, ele prendendo o meu corpo embaixo do seu, me impedindo de levantar. Parei de beijá-lo e o empurrei para que saísse de cima de mim, Barton se manteve no mesmo lugar.
- Clint, saia daí, me deixe levantar.
- Não vou. Natasha, admita que quer também.
- Eu não disse que não queria. Mas você já sabe que eu sou a pior mulher com quem poderia se envolver. Parece que, raramente, consigo ser boa e querer o seu bem e por isso ir embora, mesmo que não seja minha vontade e você fica tentando evitar isso. Saí daí.
O empurrei com mais força, mas foi em vão. Eu não queria machucá-lo.
- Você não vai me deixar sair?
- Não.
- Você sabe que se eu quiser, eu saio.
- Tente.
Barton estava ficando louco. Ele achava mesmo que eu não conseguiria? Não queria me gabar, mas eu sou Viúva Negra e ele estava duvidando de mim. Homens.
- Está mesmo me desafiando?
- Se você aceita como um desafio.
Eu estava simplesmente deitada e ele com os joelhos apoiados na cama, por cima de mim mas sem me encostar. Seus braços estavam apoiados na altura de meus ombros. Olhei em seus olhos. Eu não queria fazer isso, mas ele estava duvidando e além do mais, não íamos nos machucar.
Passei um dos meus braços por fora do dele e segurei-o de forma que pudesse empurrar, assim que passasse o outro braço envolta de seu pescoço. Ele teria que jogar seu corpo pro outro lado, se não podia quebrar seu pescoço com a força e o jeito do golpe. Empurrei-o e ele fez força para se manter no lugar, mas logo cedeu quando percebeu o que podia acontecer com seu pescoço.
Eu me virei por cima dele e ele riu. Deu-me um selinho rapidamente e passou sua mão direita em torno da parte direita da minha cintura, me jogando pro outro lado da cama. Ficou deitado ao meu lado segurando por cima da minha cintura e dos meus braços, me mantendo presa e deitada.
- O que houve? Não sabe o que fazer?
Ele riu. Eu estava pensando no que podia fazer e realmente não tinha opções, Barton já sabia os meus golpes o suficiente pra conseguir me imobilizar.
Tive uma ideia e sorri ao pensar. Ele ia me soltar.
Movi minha mão direita pra cima do seu órgão genital e a deixei ali. Ele viu o que eu tinha feito com o cara lá embaixo.
- E agora? Vai me soltar?
Ele olhou pra mim.
- Acho que você só colocou a mão aí porque está querendo, porque você sabe que eu tenho a outra mão livre e posso segurar seu braço.
Ele me deu um sorriso.
Merda, tinha me esquecido que o outro braço dele estava livre.
Não nos movimentamos. Eu não tirei minha mão de onde estava, ele não me impediu de estar com a mão ali, como poderia fazer. E ficamos olhando um para o outro.
De repente ele tirou o braço de cima de mim e se sentou. Ele começou a rir. Sentei-me e me virei pra ele.
- O que foi?
- Isso não foi muito normal.
Sorri. Pessoas geralmente não lutavam na cama.
Barton apoiou uma das mãos em minha coxa e olhou pra mim.
- Natasha, tá tudo bem.
- O que?
- Se você achar melhor ir. Eu não vou entender, mas não vou ficar tão mal assim, afinal, sei que você vai voltar.
Coloquei minha mão em cima da dele. Era claro que eu não queria ir. Mas deveria.
- Eu ainda não decidi.
Levantei e voltei para o computador. Barton já tinha um programa com a lista de pessoas que poderiam se tornar possíveis problemas para qualquer um dos Vingadores, enviada pela SHIELD e no momento era disso que eu precisava. Abri e procurei meu nome, assim já reduziriam o número de pessoas. Coloquei nacionalidade como russa. Cinco opções, todos desconhecidos, por que me odiavam? Isso não constava em suas fichas. Levantei-me e saí do quarto. Já estava descendo as escadas quando Clint falou.
- Aonde vai?
- Um minuto.
Fui em direção ao homem já morto com a flecha no estômago. Procurei sua arma nos bolsos. Achei e examinei. Joguei uma delas pra Barton que estava no topo da escada observando o que eu fazia.
- Sabe que tipo de armamentos são esses, Clint?
- Não faço ideia.
- São armamentos IM, só as forças de Operações Especiais dos Estados Unidos e da Rússia tem permissão pra usar essas armas experimentais em campo. Eles realmente eram contratados. Mas quem contratou as forças especiais para me pegar?
- O que tem de demais nessas armas?
- Elas usam projéteis de longo alcance e várias tecnologias integradas, eles podiam ter nos matado facilmente sem nem entrar na sua casa. Não entendo.
- Alguém está querendo você viva, Natasha.
- Ou querendo alguma informação, ou serviço.
Recolhi as armas dos outros caras e subi as escadas, passando por Barton.
- Vai querer alguma?
- Você vai ficar com isso?
- Claro, são muito boas e extremamente precisas. Ah, já falei que as balas podem atravessar uma parede e ainda ter velocidade suficiente pra matar alguém a 100 metros dela? Vai querer?
- Pode ficar, tenho meu arco e minhas flechas.