I. O POÇO

Eu estava correndo, não sabia exatamente do quê ou de quem, mas sabia que estava correndo pela minha vida. Ouvia o som dos cavalos se aproximando e tropecei, caí no barro e sujei minhas mãos, minhas calças e minhas botas. Levantei rapidamente e recomecei a correr. Eu desviava dos troncos e plantas que se encontravam em meu caminho, percebi que as árvores estavam diminuindo. Eu sabia que era estúpido correr até uma clareira, seria muito mais fácil de quem quer que estivesse atrás de mim, me alcançar. Mas simplesmente não podia parar e procurar algum lugar para me esconder. Avistei um poço antigo, já meio quebrado, bem no meio da clareira. Cheguei até ele e virei-me em direção ao som dos cascos batendo contra o chão. Eu estava perdida, eles haviam me alcançado.

Cinco homens trajados em roupas de batalha estavam montados em seus cavalos, parados a me observar. O homem que estava ao centro desceu de seu cavalo e tirou o capacete de sua armadura. Instintivamente dei um passo atrás, sentindo a pedra fria do poço em minha cintura. O homem não era feio, muito menos velho. Aparentava ter em torno de vinte e cinco anos e tinha os cabelos escuros, lisos, e a pele morena.

- O que temos aqui? - ele perguntou com um sotaque que não reconheci, mostrando seus muitos dentes em um sorriso. Os outros quatro homens também desceram de seus cavalos.

- Tão bonita - o homem continuou, aproximando-se mais - venha aqui, menina.

Por algum motivo o homem me transmitia um sentimento ruim, e eu não pude refrear o impulso de me afastar mais. E foi quando aconteceu. Eu caí dentro do poço, incapaz de me segurar com minhas próprias mãos. O poço parecia não ter fim, e quando aceitei o fato de que morreria ali mesmo, no vácuo do poço, encontrei a água.

Atingi a água com um impacto maior e mais doloroso do que havia imaginado, senti meu corpo afundar na água gelada e senti frio. Ergui os braços para cima e nadei até a superfície, de olhos fechados, pois tinha medo de abrí-los e enxergar apenas a escuridão e a sujeira que certamente havia dentro do poço. Porém, assim que alcancei a superfície e respirei fundo, uma claridade imensa penetrou em minhas pálpebras e eu abri os olhos. Estaria morta? Era a única explicação racional para o que eu via. Eu estava no meio do oceano, a água cristalina e gelada na altura de meu pescoço enquanto eu batia os pés para manter-me na superfície. Podia sentir os raios quentes de sol nos fios de meus cabelos. Não consegui refrear o impulso de nadar e rir, estava tão feliz! Se isso era a morte, eu a aceitava de bom grado.

Nunca consegui dizer ao certo quanto tempo fiquei ali nadando e mergulhando, pareceu tão pouco, mas o sol já devia estar se pondo, pois uma enorme sombra bloqueou a luz gradativamente. Virei-me e olhei para cima, e qual não foi minha surpresa quando percebi que não tratava-se do pôr-do-sol, mas sim de um enorme navio cor de carvalho.

Ps.: a história a partir de agora começará a ser narrada em terceira pessoa, de modo que todos os personagens possam ser trabalhados de igual forma.