N/T: Olá, gente linda. Essa fic é uma tradução da fanfic Hot Mess, escrita pela Pbroken, todo o enredo é dela, a história é toda dela e a mim cabem apenas os créditos da tradução. Lembrando que os personagens são da Stephanie Meyer.
É uma história em um universo alternativo, com um Edward malvado e sujo e uma Bella forte e valente. Espero que gostem, aproveitem e comentem, façam reviews bonitinhos, porque, além de mim, a autora pode estar lendo também.
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Capítulo 1 – Fogo na chuva
"Eu já vi fogo, eu já vi chuva, eu já vi dias ensolarados que pensei jamais terminarem, eu já vi momentos solitários quando não pude encontrar um amigo, mas eu sempre pensei que veria você novamente." — James Taylor.
BPOV
— Pingos de chuva continuam caindo em minha cabeça, mas isso não significa que meus olhos logo ficarão vermelhos. Eu não sou de chorar, porque eu nunca vou parar a chuva reclamando, porque eu sou livre, nada está me preocupando — eu cantei junto com o rádio enquanto dirigia no longo trecho da rodovia 101 em direção à Forks, Washington.
Eu estava passando entre as estações quando ouvi o familiar som da antiga melodia favorita do meu pai e deixei ali, sentindo a nostalgia e o conforto. Enquanto eu cantava junto com a voz suave de B. J. Thomas, eu percebi o quão estranhamente perfeitas as palavras pareciam para mim. Eu assisti a chuva caindo contínua contra a minha Chevy 2010, cabine estendida, Silverado. Olhando pelo para-brisa, pude a ver rolando pela tinta vermelha brilhante e, pela primeira vez em muito tempo, não me deixou chateada ou me incomodou. Na verdade, eu estava tão feliz de ver a chuva que estava contente em deixá-la cair sem qualquer preocupação de quando ela iria parar. Isso era mais do que estranho no meu caso.
Eu costumava odiar o clima molhado que bombardeava a cidade que cresci constantemente. De fato, quando adolescente, quando as gotas começavam a cair, eu quase ficava a ponto de chorar. Claro, eu nunca choraria, eu não sou do tipo que chora. De todo modo, eu me sentia presa em Forks, trancada em um aquário no qual a chuva raramente extinguia e sob os olhares atentos de 3,146 pessoas que eu conhecia de vista, se não pelo nome. Então por que eu não conseguia parar de sorrir enquanto levava o reboque com todos os meus pertences e ia em direção àquela mesma cidade que me deixava tão depressiva? Era porque eu estava voltando para casa, entrando novamente no aquário depois de enfrentar, sozinha, o grande e malvado mundo, e isso parecia mais como cruzar a soleira de um santuário do que de uma prisão.
Viver em Arizona pelos últimos quatro anos foi o momento mais terrível da minha vida, mas eu aprendi algumas coisas, incluindo o valor de um lar. Eu sentia falta dos meus pais, meu melhor amigo, Jacob Black, a sua turma de amigos estúpidos e, estranhamente, a chuva que eu costumava a odiar com fervor. Combater o fogo foi difícil em Phoenix, foram dias longos e noites ainda mais longas no calor do deserto, lutando contra fogo selvagem e enfurecido com pouco tempo de sono. E ir para casa, um apartamento de um quarto, sem uma alma viva ao redor para me fazer companhia, apenas piorava a situação. Eu não percebi que seria tão difícil mudar para um lugar onde eu não conhecia ninguém, muito longe de casa. Pensei que faria amigos rapidamente e seria mais feliz do que jamais fui, milhares de quilômetros longe da fofoca interminável e dos olhos perseguidores dos meus vizinhos. Certamente, não foi isso que aconteceu. Eu descobri o que era ficar sozinha e permaneci desse jeito enquanto dias viravam semanas, semanas viravam meses e meses finalmente viravam anos.
Para não dizer que eu não conhecia ninguém, eu conheci muitas pessoas no corpo de bombeiros, mas nós não erámos lá muito próximos. A razão para isso é que Phoenix é capital dos bombeiros do país. Não, de verdade, realmente é. A maioria das pessoas diante da pergunta "Qual cidade tem os melhores bombeiros do país?" responderia Nova Iorque, mas a verdade é que é Phoenix. Estações de bombeiros de todos os cantos dos Estados Unidos enviam seus chefes para treinamento em Phoenix e, na maioria das vezes, treinadores são mandados de lá para fora para ensinarem também. Portanto, há novos rostos constantemente sendo introduzidos, pessoas entrando e saindo do grupo. Isso deixou as coisas difíceis para mim. Desde o momento que cheguei, eu era somente outra bombeira na minha estação, nada interessante ou fora do comum. Tornei-me amiga das pessoas eventualmente, mas quando meu pai casualmente mencionou uma vaga na estação da minha cidade natal duas semanas atrás, eu não me contive. Eu tive pouquíssimos problemas para me despedir daqueles "amigos" e eu duvidava que eles sentissem minha falta.
Eu passei a placa verde com letras brancas que avisava estar há alguns quilômetros longe de minha família e amigos, um surto de alegria atravessou por mim. Eu baixei minha janela respirando o cheiro de folhagem molhada enquanto esticava meu braço nu e deixava a água pingar em meu braço da cor de marfim. Mesmo anos depois de ficar de baixo do sol, ainda era tão branca quanto o branco podia ser, parecia incapaz de me bronzear ou queimar. Arrepiei-me um pouco com o ar gelado da tarde de março. Eu usava uma das minhas regatas brancas do Arizona, com o logotipo das chamas da minha antiga estação, desde que vinha dirigindo sem parar. O termômetro digital dizia estar com 16,5 graus. Eu sabia que poderia estar frio, mas os arrepios eram bons. A chuva pingava para dentro do carro, alcançando meu jeans azul e regata, revelando meu sutiã preto e deixando o brim da calça em um tom escuro de azul. Eu ri um daqueles risos felizes. Eu estou voltando para casa, de volta para os jantares de domingo e pesca com meu pai, de volta para andar de moto com Jacob e mergulhar de penhascos em La Push. Eu me sentia bem, sentia-me livre. Meu humor calmo mudou em um instante quando vi um sedan preto atrás de mim no retrovisor.
Tudo aconteceu em câmera lenta, o veículo acelerou perto de mim, deslizando no asfalto molhado. O motorista tentou contornar o movimento virando o volante na direção oposta, mas isso apenas piorou as coisas. Eu encarei impotente o carro derrapar sobre a linha dupla amarela, caindo em uma vala do outro lado da estrada até parar no seu lado esquerdo com o teto comprimido contra uma árvore. A posição dos destroços deixando o motorista preso no lugar. Adrenalina apareceu junto com o instinto e eu encostei o carro discando para o 911.
— 911, qual é a sua emergência?
— Eu estou uns oito quilômetros ao sul de Forks na rodovia 101 e tenho um sedan quatro portas preto que se envolveu em um MVA. O carro virou e o motorista está preso, então você talvez queira mandar o corpo de bombeiros e uma ambulância.
[N/T: MVA, em português, Acidente com Veículo Motorizado.]
— Os bombeiros e a ambulância estão a caminho, aguente firme.
Eu desliguei o telefone e exalei audivelmente. De jeito nenhum eu ficaria sentada e esperaria. Foda-se... Abrindo a porta bruscamente, eu me apressei pela estrada na chuva pesada e desci a vala com uma rapidez experiente. Quando cheguei ao carro já estava completamente encharcada, meu cabelo comprido e marrom agora quase preto, colava em meu rosto e pescoço. Tentei checar a janela de trás, mas o vidro era muito escuro. Tudo que vi foi meu próprio reflexo, grandes olhos castanhos cheios de determinação, lábios comprimidos e água escorrendo continuamente por meus braços. Parecia que estive nadando de roupas. Merda... Tirei meu celular do bolso.
— Droga! — sussurrei para a tela vazia. Presas de baixo do vidro estavam gotas de água.
Ótimo! Eu já sabia que era inútil, mas apertei alguns botões para ter certeza. Não houve um único som.
Não podia acreditar que me esqueci de deixá-lo na picape. Grunhi, irritada com minha idiotice. Seria uma droga para conseguir um novo celular. Teria que dirigir até Port Angeles. Mas, de novo, não é como se alguém mais me ligasse além de Jake e meus pais, então eu suponho que não era tão crítico. Subindo no veículo eu balancei precariamente no porta-malas com minhas botas pretas. A última coisa que eu precisava era escorregar e cair. Com a minha sorte, eu quebraria uma perna ou algo do tipo. De repente, ouvi um som que eu realmente não gostei de ouvir, o choro de um bebê. Tentei abrir a porta traseira do lado do passageiro, mas sequer se mexia. Estava amassada de alguma forma. Não tinha outra opção. Ajoelhando-me no para-choque traseiro, peguei meu celular em minha mão e bati meu punho contra a janela traseira do passageiro. O vidro partiu, estilhaçando-se enquanto o choro transformava-se em gritos.
— Eu sei, eu sei, desculpe, bebê — Desculpei-me com a criança, entrando no carro pela janela quebrada para ter acesso aos danos. Fiquei feliz ao ver que o vidro não afetou-a de forma alguma, parecia tão saudável quanto podia e seus berros ensurdecedores no espaço fechado indicavam que estava perfeitamente bem.
Dando uma espiada na frente, notei que o motorista estava preso pelo volante com sua cabeça caída para o lado e sangue pingando de um corte em sua testa. Ele era familiar, alguns anos mais velho que a última vez que o vi, obviamente, mas com os mesmos óculos nerd de aro preto da escola, Eric Yorkie. Pressionei minha mão contra sua jugular e senti um pulso. Ele ainda estava vivo, somente inconsciente. Olhei a garotinha no banco traseiro comigo, ela não poderia ter mais de um ano. Tinha as feições asiáticas do pai e seu cabelo preto. Eu nem sabia que Eric tinha uma esposa... Talvez não tenha. Perguntei-me quem seria a mãe. Balancei a cabeça para clareá-la. Isso não era um episódio de Maury, foco!
[N/T: Maury – Programa de TV americano, no qual os assuntos discutidos são, em sua maioria, relacionados à família. Seria um programa equivalente ao Casos de Família aqui no Brasil e contém bastante gritaria vinda dos participantes.]
— Hey, pequenina. Vou tirar você daqui — falei para o bebê que gritava enquanto trabalhava para livrá-la do assento do carro, apertando o botão vermelho da fivela. Nada aconteceu.
Essas coisas malditas eram fáceis de desafivelar normalmente, porém, em ângulos estranhos, a tarefa não era tão simples. Mas, novamente, ninguém pretende desafivelar uma criança enquanto tenta manter seu equilíbrio em um carro que está inclinado de maneira esquisita, não é a sua primeira preocupação quando se está produzindo essas coisas. O cara que estiver no comando não vai dizer "Hey, não vamos nos preocupar em manter a criança no assento. Ao invés disso, vamos fazer o cinto se abrir assim que quisermos. Essa é a nossa prioridade número um agora." Bufei com meu pensamento estúpido. Deixe comigo pensar em uma coisa tão estúpida e achar divertido. O assento do carro fez o seu trabalho, segurou-a no lugar quando o carro virou. Agora, era o meu trabalho descobrir que inferno eu iria fazer para tirá-la dali. Estiquei meu pescoço para os lados enquanto brigava com o botão vermelho, apertando-o novamente, com mais força dessa vez até que a fivela se partiu em três. Oh, obrigada, céus. Olhei para meus braços e notei estar toda arrepiada, mas não sentia nem frio. Adrenalina é uma coisa maravilhosa. Graças a Deus, a bebê estava mais bem vestida para o tempo do que eu, em uma pequena capa de chuva roxa e pequenas botinhas, então seu rosto era a única coisa rosada com o frio. Puxei o capuz da capa de chuva sobre sua cabeça para protegê-la da chuva que caía pela janela quebrada.
— Quase pronto, querida — murmurei.
Mordendo os lábios em concentração, eu libertei seu braço direito ao mesmo tempo em que vozes começavam a ecoar no carro.
— Tyler, Mike, vocês vão controlar o tráfego. Alice, vou precisar que você desça e me diga qual a situação lá em baixo. Rose, Edward, vocês vão com ela para que possam pegar o que for que ela precisa, e, Emmett, você pega a pinça hidráulica, talvez nós precisemos dela. Onde está Jasper? — a voz autoritária e inflexível era inegável. Meu pai em modo chefe do corpo de bombeiros.
— Aqui, chefe! — uma voz masculina com um sotaque sulista respondeu.
— Você deu uma busca na área? — Meu pai pergunta.
— Mas o que-, a janela já está quebrada, Charlie! — uma voz de sinos do meu passado gritou enquanto eu libertava o braço esquerdo da criança.
Com cuidado, levanto-a do assento e aperto-a contra meu corpo e ela para de chorar, parecendo se acalmar pelo contato. Quem diz que silêncio não é ouro nunca ficou preso nos confins de um pequeno carro com uma criança berrando. Eu me sentia como se tivesse ganhado um milhão de dólares.
— Sim, senhor, tem uma picape vermelha com um reboque estacionada mais ao sul no acostamento, mas não tem ninguém lá — disse o mesmo garoto sulista, respondendo meu pai.
Escutei meu pai soltar uma risada abrupta enquanto pensava em uma maneira de me mover para poder ficar de pé no centro do suporte e colocar minha cabeça para fora da janela quebrada. Quando já estava situada, encontrei três pessoas a minha vista, duas das quais eu conhecia desde os doze anos e uma que nunca tinha visto na minha vida. Todos vestindo seus uniformes, botas de trabalho pretas e amarelas, calças com tiras vermelhas escondidas de baixo de jaquetas amarelas. Alice e Edward, ambos tinham expressões irritadas em seus brilhantes olhos verdes e, apesar da forma pequena de Alice em comparação com o físico mais tonificado e alto de Edward, eles faziam jus aos gêmeos do mundo com os braços cruzados em posturas similares, a chuva caindo em seus rostos em uma harmonia assustadora.
Suas poses eram idênticas, mas suas feições, tirando os olhos, eram incrivelmente diferentes. Edward tinha uma aparência mais masculina, com um queixo robusto, a linha do maxilar bem nítida e esse estranho, bagunçado, cabelo cor de cobre. Enquanto Alice tinha uma feição feminina, rosto em forma de coração e cabelo curto preto. No colegial, ela arrumava ele de forma que todos os fios apontassem para lados diferentes. Não tinha certeza se ela ainda fazia isso porque, no momento estava tão molhado quanto o meu, caindo liso em seu rosto. Parecia que a atitude deles comigo não mudara em nada, julgando por seus olhares afiados. Sorri diabolicamente para eles, vestindo minha máscara quando, na verdade, tudo o que eu queria era mandá-los se foder. Agora que estava indo trabalhar com eles, nós teríamos que aprender a lidar uns com os outros da melhor maneira possível.
— Quem infernos é você? — a voz de cadela demandou para mim, a estranha. Esquisito... Ela tem o mesmo sotaque sulista com que aquele cara, Jasper, falou um minuto atrás.
Meus olhos prenderam-se em seu rosto. Wow, ele era linda. Tinha as feições de uma ganhadora de concurso à miss, sobrancelhas perfeitamente anguladas, nariz reto um pouquinho arrebitado e lábios cheios e vermelhos. Perguntei-me se Edward já havia fodido ela. Provavelmente... Pobre garota. Tive que me segurar para não rir e consegui, razoavelmente. Seus olhos azuis claros estavam virados em minha direção e algumas mechas loiras saiam do capuz de sua jaqueta. Ela definitivamente parecia ser do tipo dele. Capuzes era algo que somente recém-chegados e garotas que não queriam estragar o cabelo usavam na Península de Olympic. A maioria das pessoas aqui era acostumada a se molhar. Seu uniforme ficava em seu corpo de uma forma que eu sabia que ela tinha um daqueles corpos que a maioria das garotas venderia suas almas para o demônio para ter, outra das qualidades favoritas de Edward. Perguntei-me por que ela fazia isso para viver em vez de ser modelo ou algo do tipo.
Eu abri minha boca para lhe dizer meu nome, mas não tive a oportunidade porque meu pai desceu correndo a vala. Seu rosto brilhando de orgulho atrás do chamativo bigode que ele ainda não raspara, seus lábios claramente puxados em um sorriso. Não podia acreditar que ele ainda não havia se livrado daquela coisa. O cabelo sobre seu lábio e em sua cabeça tinha alguma coloração cinza, ao invés de ser todo preto como antigamente. Eu sempre pensei que quando começasse a fica grisalho, meu pai finalmente iria se dar conta e raspar o bigode estilo anos 70. Pelo jeito não. Fiquei feliz, eu podia brincar, mas pensar em meu pai sem o distinto atributo era como fazer sanduíche sem pão.
— Essa, minha querida Rose, é a minha garotinha! — gritou com prazer e meu sorriso se transformou em um completamente honesto. — O que nós temos aqui, Bells?
— Eu tenho um bebê no banco traseiro e seu pai, Eric Yorkie, está preso no assento do motorista. Ele está inconsciente. Eu já tenho o bebê livre, mas preciso de uma faca e um gancho para tirar Eric dali. Ele está preso no volante. Eu também vou precisar de um KED, um colar cervical e algumas talas da ambulância para estabilizá-lo.
[N/T: KED - Kendrick Extrication Device (Colete Imobilizador Cervical).]
— Pode deixar! Rose, pegue o bebê. Edward, Alice, ao trabalho! Essas coisas não vão vir até aqui sozinhas! — gritou as ordens e se apressou para supervisionar em outro lugar. Ele era um homem ocupado e, além disso, nós teríamos muito tempo para conversar depois.
Os gêmeos Cullens saíram relutantemente, lançando-me um último olhar afiado enquanto a estranha, Rose, aproximava-se. Eu a entreguei o bebê e seu rosto ficou sereno assim que a criança foi para os seus braços.
— Hey, Maya, aw, você está ficando tão grande — murmurou suavemente e a pequena riu. — Vamos levá-la para um lugar seco.
Pensei se eu não teria, talvez, julgado-a mal enquanto eu a via desaparecer com a criança. Não seria a primeira vez. Inferno, os gêmeos Cullens pareciam ótimos na primeira vez que nos conhecemos e eu bem sei no que aquilo se tornou depois.
Alice voltou em pouco tempo com uma faca e um gancho.
— Bella — disse meu nome em um tom estável, acenando com a cabeça em reconhecimento ao mesmo tempo em que me entregava os utensílios.
— Alice — respondi da mesma maneira, voltando para o carro enquanto revirava os olhos. Podia ver que trabalhar com ela seria uma festa... Só que não.
Enquanto partia o cinto de segurança e puxava o volante livre, podia ouvir o barulho da pinça hidráulica abrindo a porta de trás do passageiro. Não tinha certeza quem estava operando, eu estava muito ocupada pensando sobre a condição de Eric, que ainda estava inconsciente, mas seu batimento cardíaco era estável. Uma vez que os cortes foram feitos e o banco inclinado para trás, Edward apareceu com o equipamento para a imobilização. Ele me entregou tudo com ainda menos entusiasmo que Alice e eu trabalhei rapidamente para estabilizar Eric, inclinando-o para frente com cuidado e colocando o KED em suas costas e pescoço. Posicionei o colar cervical e coloquei algumas talas contra seu rosto para evitar que seu pescoço se movesse, meus dentes batiam audivelmente o tempo inteiro, já que a adrenalina já havia abrandado, eu estava congelando.
—Tudo bem, ele está pronto para ser tirado daqui — vociferei e Edward se esticou pela abertura e agarrou as alças do KED perto do pescoço de Eric, a água caía de seu cabelo despenteado e roupas direto para meu rosto. Riu quando pegou em meu olho e eu forcei a mim mesma a conter um rosnado.
Segurando os quadris e pernas de Eric retas, subi até sair do carro. No momento que ele saiu os paramédicos tomaram conta dele, carregando-o para fora da vala e para uma maca antes de saírem apressados com as luzes e sirenes ligadas. Meu corpo e meus lábios tremeram de frio, Edward notou e apenas sacudiu os ombros.
— Você não está mais no Arizona Bella — declarou indicando minha regata branca e transparente. — Então você provavelmente deveria vestir alguma roupa de verdade da próxima vez que você decidir brincar de herói, ou também poderia voltar para o sul. Eu sou mais a favor da última opção, particularmente.
Eu o mostrei o dedo do meio enquanto ele virava e saía dali. Se eu pensei que trabalhar com Alice seria difícil, trabalhar com Edward seria o inferno. Por que ele tinha de ser tão babaca? Na verdade, por que eles me odiavam tanto? Eu nunca fiz merda nenhuma para eles. Sério, era como se eles tivessem decidido, uma semana depois que se mudaram para cá, que iriam me desprezar quando eu não fui nada menos que gentil e amigável. Por que isso? Meu corpo estremeceu, alertando-me que eu estava congelando. Dane-se, eu não tinha tempo para analisar toda essa bosta. Eu precisava de roupas quentes. Gostaria de ter minha jaqueta do corpo de bombeiros aqui. Eu nem pensei em pegá-la do banco de trás do carro.
Esfreguei minhas mãos em meus braços enquanto caminhava para fora da vala e para o acostamento da estrada. Todos estavam guardando suas coisas ou já estavam prontos para ir embora. Mike Newton, um garoto super branco com rosto de bebê, cabelo loiro e olhos azuis estava controlando o tráfego juntamente com Tyler Crowley, que era completamente o oposto com pele escura, cabelo preto e olhos castanhos. Eu os conhecia a minha vida inteira. Tyler costumava me dar biscoitos no jardim de infância e Mike até me convidou para o baile de formatura.
Quando Mike me notou, acenou parecendo animado demais em ver minha regata transparente... Esquisito. Desviei minha atenção para outro lugar, evitando seu olhar atento enquanto conversava com o resto do grupo. Rose estava sentada no caminhão de bombeiros com Maya enrolada em múltiplas cobertas em seu colo, meu pai falava com a companhia de guinchos da cidade que tinha vindo pegar o carro e Alice falava com um cara que parecia um hippie com roupas de bombeiro, queixo pronunciado e cabelo loiro ondulado. Seus olhos viraram em minha direção, o mesmo azul claro da rainha da beleza. Alice deu um pequeno chilique quando viu que eu estava os encarando e virou o rosto dele de volta para o dela, preocupação óbvia em sua face. É porque eu não tenho a menor ideia de com quem você está falando, pixie... Bufei audivelmente com a sua tentativa de ter uma conversa privada, era inútil, principalmente quando sussurrar não era a especialidade do garoto-hippie. Eu podia ouvir a maior parte do que ele dizia daqui.
— Relaxa, Ali. É... Grande coisa. Ela está destinada a... Eventualmente.
Eu podia ouvir o suave tom nasalado na voz dele. Ele deveria ser o Jasper que eu ouvi antes. O rosto de Alice amoleceu enquanto ele a paparicava. Isso mesmo, pixie, escute o hippie antes que você tenha a porra de um enfarte. Essa garota tem mais energia do que o coelho da Duracell. Um dia desses, eu juro que ela vai queimar um fusível.
— Com frio? — uma voz de trovão chamou atrás de mim e meu coração saltou enquanto eu girava, ficando frente a frente com um homem grande e robusto segurando uma jaqueta para mim.
Meu pai havia me contado que ele teve três transferências ano passado, mas não havia dito nada sobre um gigante. O homem na minha frente era tão alto e musculoso que me lembrava um pouco de Fezzik, o gigante de "A princesa prometida", exceto que uma versão muito mais atraente com sua face de criança, cabelo cacheado, curto e escuro e olhos de avelã.
— Emmett, você vai carregar isso ou o quê? — Edward gritou indicando a pinça hidráulica. Tive uma súbita vontade de citar "A princesa prometida". Eu, sendo eu, bom, não pude me conter.
— Esse Vizzini, ele sabe exagerar — disse apontando para Edward.
O gigante, Emmett, olhou para mim com os olhos arregalados, e eu tinha certeza que ele estava prestes a me perguntar se eu era louca ou algo parecido. Entretanto, ajudou-me a pôr a jaqueta enquanto respondia com uma risada.
— Exagero, exagero... Eu acho que ele gosta é de gritar conosco.
Oh, inferno, isso! Ele conhecia as frases! Eu não citava alguma coisa há anos, desde a última vez que saí com Jake. Perguntei-me se ele saberia a cena inteira.
— Provavelmente ele não faz de propósito — disse sacudindo os ombros e com um sorriso.
— Ele, realmente, não é muito bom com o charme — Emmett citou o filme facilmente e eu ri, sentindo-me eufórica.
— Você tem um grande dom para a rima.
— Sim, sim, em alguns momentos — ele concordou acenando com sua cabeça.
— Já chega com isso! — Edward gritou conosco irritado e eu quase caí gargalhando. Eu não tinha ideia se ele sabia que havia dito a próxima frase perfeitamente, mas qualquer desculpa para irritar Edward era boa para mim.
— Fezzik, há pedras mais a frente? — perguntei para Emmett coçando meu rosto em uma falsa expressão confusa.
— Se houver... Nós vamos todos morrer — riu e nós dois assistimos o rosto de Edward ficar mais vermelho a cada segundo. Ele estava bravo agora. Ele sempre fora tão esquentadinho.
— Sem mais rimas agora, eu falo sério — Edward rosnou.
— Alguém quer um amendoim? — Emmett exclamou.
Edward jogou suas mãos ao alto em desistência, soltando um grunhido de raiva enquanto eu ria. É, a coisa toda de se dar bem estava indo esplendidamente bem até agora...
Meu pai apareceu do meu lado sacudindo a cabeça em censura enquanto Emmett acenava e se apressava para guardar o equipamento.
— Bells, por que você não pode ser madura? Você sabe como sua mãe e eu somos próximos dos Cullens — reprimiu-me, soando mais desapontado do que bravo. — Você poderia ao menos tentar não encher o saco dele?
— Não sei. Ele pode tentar não ser um idiota? — retruquei e meu pai rolou os olhos, seu gesto favorito. Tal pai, tal filha.
Seus braços se abriram largamente e, sem nenhuma hesitação, enrosquei-me neles sentindo o conforto paterno, do qual eu estive longe por muito tempo. Os gêmeos Cullens tiveram quatro anos da companhia de meu pai sem a minha presença e agora eles teriam que se acostumar comigo aqui novamente. Eu sabia que nossas famílias eram próximas, assim como dos Blacks. Isso não significava que eu tinha que gostar deles. Os Blacks não gostavam dos Cullens.
— Você está encharcada, pequena. Sua mãe vai ter um ataque quando você aparecer lá em casa desse jeito — murmurou em meu cabelo, beijando minha testa.
Sacudi os ombros. Para ser sincera, eu não poderia ligar menos. Nada iria arruinar meu retorno, não a chuva, não os gêmeos Cullens e nem o discurso superprotetor que eu receberia da minha mãe ao chegar encharcada na casa dos meus pais, onde eu ficaria até que minha própria casa estivesse pronta para a mudança na semana seguinte. Eu estava de volta para as pessoas que me amavam e, por enquanto, era suficiente para trazer um sorriso no meu rosto e amornar meu coração. A tensão impetuosa ou a chuva torrencial ao meu redor que se exploda.
...
N/T: Essa última cena da Bella com o Emmett foi retirada do filme "A princesa prometida" feito em 1987. Eu tentei procurar as falas do filme originais em português, mas não encontrei, por isso vocês podem ter achado um pouco estranho, já que eu tive que traduzir literalmente e, na obra original, as falas do gigante são todas rimadas com as da princesa.
Bom, é isso. O que acharam? Comentem e continuem acompanhando.
Ah e um enorme obrigado a Pbroken por me deixar traduzir essa história maravilhosa.
Beijos e até o próximo, gente.
