NA: Então.. Essa história é bem diferente do que vcs estão acostumados.. Eu acho pelo menos.. xD

É um suspense e lida com temas pesados, como morte e assassinato, então, se não gostar, por favor, não leia...

A Rachel não aparece nesse capítulo, mas deem uma chance, acho que está ficando legal e existem muitas surpresas para acontecer aqui.

- A maleta pertence a Brian Azzarello e a ideia da história surgiu de uma historia em quadrinhos escrita por ele chamada 100 balas.-

==/==

Prólogo – Uma Maleta

Ela falava mecanicamente, olhando para sua classe sem realmente ver seus alunos. Pós-Modernismo era um assunto denso e consideravelmente complicado e em qualquer outro dia ela estaria dando total atenção ao que estava ensinando, mas naquele momento, tudo em que conseguia pensar era sua irmã e no que havia acontecido na mesma data quatro anos atrás.

"Srta. Fabray?"

Quinn piscou algumas vezes e focou seus olhos na menina que a chamava.

"Sim, srta. Graves?" Ela perguntou, limpando a garganta.

"O conceito de sociedade esquizoide não ficou muito claro... Poderia repetir?" A menina inclinou a cabeça para o lado e apertou os olhos. Alguns de seus colegas murmuraram em concordância.

A loira passou uma mão pelo rosto e lançou um olhar para os slides no telão ao seu lado, sem conseguir ler o que eles descreviam. Ela já havia chegado em comportamento esquizoide? Ela não conseguia lembrar. Qual era mesmo seu planejamento para aquele dia? Ela não lembrava de ter escrito sobre esse tema no caderno que descrevia sua rotina de aulas.

"Srta. Fabray?" A mesma aluna chamou novamente, um tom de preocupação havia se adicionado a sua voz.

Quinn abriu a boca e a fechou logo em seguida. Ela não conseguia se concentrar.

"Desculpem, eu..." Sua cabeça parecia leve e vazia de qualquer coisa que não fosse a nébula que rodeava as lembranças referentes a sua irmã. "Vocês estão dispensados por hoje. Semana que vem retomamos esse conteúdo."

A professora observou seus alunos se levantarem lentamente de maneira hesitante, como se tivessem receio em deixa-la sozinha. Ela forçou um sorriso e deixou-se cair em sua cadeira, cobrindo os olhos com as mãos e massageando as próprias têmporas.

Uma batida na porta a fez levantar a cabeça.

"Oi." Mercedes entrou sorrindo em sua sala e sentou na beirada da mesa. "Já que você liberou os monstrinhos mais cedo, não quer ir almoçar agora?" Ela perguntou animadamente.

"Humm.. Hoje não. Vou almoçar com a minha irmã."

A expressão no rosto de Mercedes se fechou e assumiu um caráter preocupado.

"Quinn... Isso não é saudável..." Sua voz era suave e a loira sentiu uma mão gentil cobrir a sua.

Quinn puxou sua mão para si e cruzou os braços, se reclinando na cadeira, irritada de repente. Quem Mercedes achava que era para dar palpites sobre sua vida?

"Hoje faz quatro anos." Ela falou simplesmente, seus olhos ardiam e ela engoliu com dificuldade. "Ela teria vinte agora..." Ela murmurou roucamente.

Mercedes não sabia o que dizer. "Eu sinto muito..."

...

O cemitério estava deserto e as folhas secas que pendiam das poucas árvores davam uma aparência ainda mais mórbida ao local. Era outono e o vento sibilava por entre as lápides, acariciando as pedras e parecendo lamentar pelas vidas que descansavam embaixo do grande tapete de grama ressecada.

O lugar tinha uma extensão de um quilômetro quadrado e se alguém atravessasse os portões naquele momento, iria encontrar apenas uma pessoa viva além dos coveiros que descansavam na pequena casinha perto da entrada. Quinn sentava no chão e seus dedos traçavam o padrão cheio de volteios do nome de sua irmã.

Lilly Fabray 06-05-92 à 01-10-2009

Para sempre viva em nossos corações.

Lágrimas mornas começaram a escorrer por seu rosto sem que ela percebesse e pingar por seu queixo. Ela não conseguia olhar para a foto da menina, tão parecida consigo mesma, sorrindo em sua direção. Apesar dos sete anos de diferença, ela e Lilly eram muito próximas. Elas conversavam sobre tudo. A mais nova se refugiava na mais velha sempre que tinha algum problema e vice-versa. Lilly era uma ótima ouvinte. Algo em seus olhos que parecia sempre tão acolhedor, como se ela fosse capaz de compreender qualquer coisa...

Infelizmente, toda a compreensão que Lilly tinha, faltava em seu pai. Quinn lembrou dolorosamente do olhar de nojo no rosto dele quando descobriu sobre a gravidez, algumas semanas antes do acidente.

Sua irmãzinha estava grávida quando morreu.

Ela e sua mãe haviam querido levantar uma lápide simbólica pelo bebê que nunca chegou a nascer, mas Russel se revelara terminantemente contra. Ele não queria manchar a memória de sua filha com um erro. Por que era isso que ele considerava a gravidez de Lilly. Um erro. O maior e mais imperdoável de todos.

Depois de alguns minutos de lágrimas necessárias, a loira sentiu uma onda de raiva borbulhar em seu peito e substituir a tristeza.

Um motorista bêbado.

Foi isso que lhe contaram por telefone. Um motorista bêbado havia perdido o controle do carro e atingido sua irmã. Ela morreu no local.

Simples assim.

Em plena luz do dia.

E nem uma única testemunha.

Como eles poderiam saber que havia sido um motorista bêbado?

Que tipo de pessoa, alterada ou não, atropela uma menina de 16 anos e não para pra prestar socorro?

Ela não conseguia entender. Não conseguia aceitar.

Finn, o namorado de Lilly, teoricamente estava com ela. Mas ele não lembrava. Ele dizia não lembrar.

Como ele poderia não lembrar? Ver sua namorada grávida morrer deveria ser algo para nunca esquecer e o imbecil alegava não lembrar!

Stress pós-traumático, disseram os especialistas.

Era difícil de acreditar.

Depois que Lilly se fora, sua mãe nunca mais havia voltado a ser a mesma. No primeiro ano ela se recusava a comer, tomar banho,... Ela se recusava a viver se sua filhinha não estivesse com ela.

E seu pai... Bem, Quinn não tinha certeza do que ele sentia. Ele nunca fora bom em demonstrar sentimentos e devido a carreira política (Russel era um consultor do governo), forçara-se a agir de forma imparcial. Pelo menos era isso que ela imaginava.

Antes que ela percebesse, já era hora de voltar.

Ela tinha uma aula a tarde, até às cinco e meia, mas estaria liberada a noite. Por um momento, ela cogitou a possibilidade de pedir folga pelo resto do dia. Mercedes não se importaria em substituí-la. Mas por outro lado. Dar aulas servia como uma distração. Ela precisava desviar sua mente de sua irmã, antes que voltasse a se tornar obcecada pelo caso.

Ela sabia que uma vez que começava a pensar sobre o que havia acontecido, não conseguia mais parar. E o fato de desconhecer o responsável pelo acidente só servia para deixa-la mais frustrada. E a frustração a transformava em outra pessoa...

...

Sua aula da tarde prosseguiu melhor do que a da manhã.

Ela falava sobre a não permanência na atualidade e levantava um debate sobre a definição de originalidade quando algo estranho aconteceu. (O primeiro evento estranho que levaria a uma série de novas surpresas que acabariam por mudar sua vida para sempre. Não que ela soubesse disso ainda...) A porta da sala se abriu discretamente e um homem bem vestido, que aparentava estar na casa dos sessenta anos, entrou sorrateiramente. Ele se encaminhou ao fundo da sala e sentou em uma classe vazia, depositando sua valise de couro marrom cuidadosamente sobre a mesa.

Os olhos dourados seguiram os movimentos do homem e permaneceram fixos nele até o fim de sua lição. A turma foi dispensada e para a surpresa da loira, o cara engravatado se levantou e seguiu o fluxo de seus alunos, deixando a maleta para trás.

Ela franziu o nariz e descruzou os braços, se impulsionando para a frente e alcançando pelo homem.

"Ei! Você esqueceu a sua mala!" Ela pronunciou em voz alta, seus dedos roçaram o paletó cinzento, fazendo o homem congelar. Um arrepio desconfortável percorreu a espinha de Quinn.

O homem se virou e seus olhos escuros (em todos os aspectos) se fixaram na professora. "Não." Ele falou simplesmente. Sua voz era suave de uma forma que não combinava com sua aparência.

"C-como?" Ela gaguejou involuntariamente.

"A maleta é sua Srta. Fabray." Ele soava sério, solene...

"Não, eu vi o senhor entrar com ela..." Ela gesticulou para a porta, sem entender.

"Sim, eu vim trazê-la para você. Ela é sua agora." Um pequeno sorriso se formou em seus lábios finos. "Na verdade, ela sempre foi sua..."

"Eu... O que?" Ela lançou um olhar para a maleta. Seus dedos se abriram e fecharam, inesperadamente ardendo em curiosidade. "O que tem dentro dela?"

"Eu estava esperando que você perguntasse..."

==/==

NA: Nunca escrevi nada assim, é algo novo para mim e seria importante saber o que vocês pensam sobre a história até agora e se tem interesse em que ela continue.. Já tenho ela escrita a mãe e estou digitando aos poucos.

Comentem e me deixem saber o que acham...

Valeu! Espero que tenham gostado desse prólogo!