Tudo decorria rápido demais, urgente. O modo como ele tirava sua roupa, o modo como ela beijava sua boca, o modo como ele percorria seu corpo com a língua, dos pés a cabeça. Era intenso, o modo como ele a fazia chegar ao céu apenas com a boca, o modo com que ela passava a língua por seu membro rígido, e depois o abocanhava sem pudor nem moral. Era mágico o modo como ele deixava escapar leves gemidos por entre os lábios, o modo como ela se contorcia na cama. Cada estocada era uma um degrau percorrido ao clímax, cada estocada era, simplesmente, um pedido de que aquilo não acabasse nunca. Ele não tinha pudor algum em machucá-la, e ela, pela maneira que projetava seu quadril, querendo-o dentro dela sempre mais e mais, parecia não ter nenhuma cautela em se machucar também. Ela o abraçava com violência, arranhava-lhe as costas, temendo que ele fosse embora, como sempre fazia, mas não adiantava muito. Uma vez, já depois do clímax, ele acendia um cigarro e a esperava dormir. E ia embora.

Transar com ele era isso, afinal. Não ter medo de se machucar fisicamente, nem emocionalmente. Por mais que, no dia seguinte, acordasse sentindo-se corrompida, um mero objeto abandonado. Mas simplesmente não conseguia parar, não conseguia abrir mão. Tinha esperança de que, dia desses, ele viesse, como quem não quer nada (a propósito, como sempre fazia) e transassem tão arduamente quanto das outras vezes que fizeram. Tinha esperança que ele não a esperasse dormir, tinha esperança de acordar, e vê-lo deitado, constipado, ao seu lado, com o cinzeiro levemente cheio com pontas de cigarro. Nem sabia onde ele havia adquirido aquele vício, mas não se incomodava. Achava bonito, até. Ela acabava gostando de tudo que ele fazia, afinal. Gostava de sentir-se uma boneca maltrapilha, no dia seguinte. Gostava do modo como seu corpo todo doía pós-coito. Gostava do silêncio que ele causava.

O que importava mesmo, no final, é que aquilo não acabasse.

Uma vez no céu, sempre se quer ir pra lá de novo, e de novo.


N/A: Por algum motivo ainda desconhecido, isso veio-me na cabeça enquanto ouvia The xx. Ia colocar trechos da música "Infinity", mas acabou não encaixando legal aqui. Mas que fique claro que o apelo sexual deu-se apenas porque estava ouvindo The xx. Aliás, nunca tinha descrito sexo em forma de ação, sintam-se compensados por eu não ter feito isso em "Antropofagia".