Esperando Por Você pertence exclusivamente a Holly Jacobs! Quanto aos personagens, uns pertencem a Holly Jacobs e outros a J.K. Rowling.
Esperando Por Você - Holly Jacobs
James Potter saltava os degraus da escada que levava ao apartamento de Lily Evans, praguejando contra o espírito boêmio que a levara a alugar um imóvel no quinto andar de um edifício sem elevador.
— Lily! — chamou preocupado enquanto batia na porta.
Ela telefonara pouco antes dizendo estar encrencada e precisando de socorro urgente. A viagem de quinze minutos fora uma agonia, porque não tinha idéia do tipo de problema em que a velha amiga se metera dessa vez.
— Estou indo — respondeu uma voz feminina.
A porta se abriu. Metade dos cabelos ruivos de Lily estavam presos em um rabo-de-cavalo, e a outra metade caía solta sobre sua nuca. O robe desbotado cobria sua velha camiseta de futebol, uma peça que ela tomara emprestada no ginásio e nunca mais devolvera.
Sempre que James pedia a camiseta, Lily respondia que ela estava suja e que a devolveria depois de lavá-la. Mais de dez anos se passaram. Ou ela tinha os piores hábitos de higiene que um ser humano pode ter, ou pretendia ficar com a camiseta.
Lily parecia estar bem. Um pouco nervosa, mas era só isso. E depois de todas as possibilidades assustadoras que haviam passado por sua cabeça, uma velha camiseta de futebol não era realmente uma preocupação.
— Tudo bem? — James entrou no apartamento, fechou a porta e deixou o paletó sobre uma cadeira antes de ir sentar-se no sofá. — Parece pálida.
Ela se sentou na almofada vizinha.
— Desta vez estou mesmo encrencada — disse. — Por que estou sempre me metendo em confusões? Tenho quase trinta anos, um emprego bem remunerado, sucesso profissional... Emmeline Vance aprovou o vestido que criei para vesti-la na entrega do prêmio em Tennessee. É minha maior encomenda. Eloise estava quase tão excitada quanto eu. Ia telefonar para você esta noite e contar tudo, talvez até convidá-lo para uma celebração... Não sei como essas coisas acontecem. Tomo minhas vitaminas todos os dias, corro dez quilômetros todos os domingos...
James ergueu uma sobrancelha. Estivera com Lily em mais de uma dessas corridas.
Ela riu.
— Tudo bem, caminho depressa...
— E pára em todas as barracas de cachorro-quente e lojas de doces no caminho.
— Mas pelo menos caminho. E não é esse é o ponto. Quero dizer que não sou nenhuma idiota, cuido de minha saúde, e mesmo assim...
— O que foi desta vez?
— Isto. — Ela abriu o robe com um movimento teatral, apoiando as pernas sobre a mesa de café. Estavam cobertas por... alguma coisa.
— Mas o quê...? Lily, o que foi que fez agora?
Podia ver as lágrimas em seus olhos e foi tomado por uma onda de compaixão.
— Vou para a praia no próximo final de semana para cuidar do meu bronzeado — ela respondeu, como se a afirmação explicasse tudo.
— E daí?
— Bem, não queria pernas peludas! Infelizmente, tenho pêlos pretos e grossos. Uso a lâmina de barbear todas as manhãs, e no final da tarde já posso sentir a pele áspera e ver aquela horrível sombra escura. É embaraçoso. Por isso decidi usar cera depilatória.
James tirou um lenço do bolso e entregou-o à amiga, que chorava copiosamente. Ela assoou o nariz de maneira pouco feminina ou delicada.
— Então decidiu depilar as pernas. E daí? O que há de errado nisso?
Um soluço brotou de seu peito.
— Dói! Tirei a primeira faixa de cera e pensei que fosse desmaiar de dor. Agora não tenho coragem para tirar o restante. Passei a tarde toda sentada, tentando reunir forças, mas sinto-me incapaz de prosseguir.
— E quer que eu termine por você? — A apreensão desapareceu por completo. James sentiu os lábios distendidos, embora tentasse conter o riso. Sabia que Lily acabaria vendo o humor da situação, mas não enquanto o momento não passasse.
— Não pensei que pudesse ser pior do que quando pedi sua ajuda para recuperar meu anel de formatura — ela disse.
— Nada pode ser tão terrível. — A lembrança era clara, embora tentasse enterrá-la de vez. O animal de estimação de Lily, um gato chamado Muffin, havia comido seu anel de formatura do ginásio, e o veterinário dissera que eventualmente a jóia seria expelida. James passara boa parte da semana examinando os... restos alimentares do gato em busca do anel. Lily jurava ficar enjoada com a tarefa, e os pais dela recusaram-se a ajudá-la.
— Você finalmente o encontrou — recordou ela com tom triunfante. O sorriso radiante quase compensava a tarefa. — E até limpou o anel para mim.
— Mas você nunca mais voltou a usá-lo.
— E você teria usado? — Os soluços transformaram-se em uma gargalhada.
Essa era uma das características de Lily, ela nunca conseguia decidir-se por um estado de espírito. E quando estava com ela, o humor de James oscilava com a mesma rapidez.
Lily envolvia-se em situações ridículas e esperava que ele a ajudasse. Depois, de alguma forma, conseguia fazê-lo sentir-se uma espécie de cruzamento entre um cavaleiro medieval e bobo da corte.
— Então acredita que tirar a cera de suas pernas será mais fácil do que explorar os restos das refeições de Muffin?
— Para você, não para mim. Não imagina como dói. — Ela se moveu no sofá e colocou a perna direita sobre os joelhos de James. — Imaginei que seria mais fácil se conversássemos e você puxasse a cera quando eu menos esperasse e... Ai! — Lily removeu a perna e massageou a região dolorida. Ele jogou a fita de papel coberta por cera e pêlos sobre a mesa de café.
— Não disse que eu devia puxar quando não estivesse esperando?
— Mas tinha de esperar que eu estivesse distraída. — E devolveu a perna ao local de origem, sobre os joelhos do amigo.
Ele massageou a pele irritada.
— Lembra-se de quando tinha dez anos e decidiu que era capaz de pular do trampolim?
— E daí? Podia ter dado certo.
— Se você houvesse pulado. Saltar da plataforma e agarrar-se nela não foi exatamente uma boa idéia. E ficar pendurada lá em cima...
— Tive medo de cair com muita força e quebrar alguma coisa.
— Por isso ficou gritando para que eu a ajudasse a descer. — James removeu outra faixa de cera.
— Ai! Devia tê-lo chutado com mais força.
— Usou força suficiente para quebrar meus óculos. — Ele removeu mais uma tira.
— Ei, está indo depressa demais. Não tive tempo para recuperar-me da última faixa de cera.
— Desculpe-me. Mas já estamos quase terminando esta perna. Alguma novidade?
— Desde ontem, quando conversamos pela última vez? Vejamos... Oh, sim, terminei com Ted.
James nunca havia gostado do sujeito. Ele tinha olhos pequenos e um hábito persistente de brincar com os cabelos de Lily. Não sabia por que, mas o gesto o irritava. Mesmo assim, tentou parecer solidário.
— Sinto muito. Estavam namorando há quase um ano, não? O que aconteceu?
— Ontem à noite, quando fomos jantar, percebi que éramos incompatíveis.
James puxou mais uma tira de cera, e dessa vez Lily contentou-se com um olhar furioso.
— Por quê?
— Ele também pediu fetuccine.
Estava habituado à lógica distorcida da velha amiga. Era um advogado, e passava o dia todo vasculhando montanhas de argumentos em busca da verdade. Mas, com Lily, o exame de palavras e frases era sempre mais difícil.
— E daí?
— Percebi que você teria pedido camarão — ela respondeu.
Nesse ponto ela estava certa. Adorava camarão. Mas o que sua preferência pessoal tinha em comum com o fim do relacionamento com Ted?
— Não entendi.
— Quando você pede camarão, sempre roubo um ou dois do seu prato. Assim tenho o melhor dos dois pratos: meu fetuccine e seu camarão. É como quando vamos ao cinema. Ted nunca comprava jujubas, e eu era forçada a comprá-las junto com os bombons de licor que adoro, e comecei a sentir medo de engordar muito.
James removeu mais duas faixas numa sucessão rápida.
— Ai! Está se divertindo, não é?
— A outra perna. — E preparou-se para a segunda etapa da tarefa. — Em resumo, terminou um relacionamento de um ano porque Ted pediu o prato errado?
Lily balançou a cabeça e corou. James acostumara-se a muitas coisas ao longo dos anos, mas vê-la ruborizar não era uma delas.
— Não. Eu rompi o namoro porque, enquanto ele se despedia com um beijo de boa-noite, um beijo patético, devo acrescentar, notei que você não é do tipo que dá beijos patéticos. Não que esteja pedindo para beijar-me. O fato é que um dia quero encontrar um homem que beije tão bem quanto você e saiba como escolher o jantar. Coisas assim...
James parou no meio de uma tira de cera.
— Ei, acabe logo com isso! Ficar esperando faz a dor parecer ainda maior e... Ai! Droga! Por que os homens podem ter pernas cabeludas? Não é justo!
— Quando me beijou? — James quis saber, ignorando as queixas. Não se lembrava de tê-la beijado. Fora chutado por ela, esfolado, arranhado, trancado em um armário de limpeza da escola... Mas um beijo? Não. Um beijo não era algo que um homem pudesse esquecer.
— Jay, estou ofendida! No laboratório de química. Eu estava no primeiro ano do curso, você no último... Eu misturava substâncias e meu experimento explodiu. Desmaiei de susto. Estava lá, caída no chão, e quando abri os olhos você estava debruçado sobre mim, beijando-me como nos filmes do cinema. Fiquei arrasada, certa de que não sabia beijar. Quando você foi para a universidade, passei um ano inteiro praticando, esperando recebê-lo com um beijo de verdade quando voltasse para casa.
James arrancou três faixas de cera sem parar para respirar.
— Agora está sendo cruel!
— Aquilo não foi um beijo. — Mantendo a voz baixa, tentava livrar-se da tensão e da frustração. — Foi uma técnica de respiração artificial.
Era ofensivo saber que Lily o julgava capaz de beijar daquele jeito! Lembrava-se dos rapazes com quem ela saíra durante seu primeiro ano na universidade, como odiava ouvir os pais dela falando sobre cada um dos namorados. Lily jamais os mencionava quando conversavam, e agora entendia porquê. Ela pensava estar praticando...
Lily o encarou por alguns segundos antes de começar a rir. Momentos antes estivera soluçando em seu lenço, e agora secava as lágrimas provocadas pelas gargalhadas.
— Está dizendo que passei um ano treinando para saber corresponder quando fizesse respiração boca-a-boca?
— Lily...
— Imaginava ser a pior de todas, mas Bennedict Archibald disse que eu era a melhor que ele já havia beijado. Lembra-se de Ben? Ele beijou metade da escola. Então compreendi que você me chamava de criança porque era assim que me via. A criança da casa vizinha. Quase uma irmã caçula. Além do mais, naquela época você estava com Patti. Depois foi a vez de Lynda, Amy, Julie, Bridgit... — Ela parou de falar e fitou-o com piedade. — Desculpe. Enfim, acabei desistindo. No final, fiquei feliz por não ter continuado com a perseguição. Você é o melhor amigo que uma garota pode ter. Quem mais iria correr comigo aos domingos?
— Aquilo não é uma corrida. É uma orgia alimentar. — E puxou a última faixa de cera.
— Uau! Nunca mais me esquecerei da dor que senti. É melhor que o resultado dure seis semanas, como diz a embalagem, ou vou processar o fabricante.
James a encarava em silêncio. Lily o perseguira? Quando ela se mudara para a casa vizinha, ainda eram jovens demais para vê-la como uma menina. Era apenas a filha do vizinho. Depois, com o passar do tempo, tornaram-se amigos.
Amigos.
E ainda eram amigos. Se Lily o perseguira, não chegara muito perto. E não insistira muito. Ela estivera sempre a seu lado, pronta para ouvi-lo, pedindo sua ajuda, ajudando-o, embora nem imaginasse quantas vezes seu coração generoso acalmara o dele, especialmente nos últimos meses desde que Bridgit...
Melhor nem pensar nisso. Não queria lembrar. Odiava encarar o fracasso. A longa relação de nomes que Lily acabara de recitar provava um fato: era um fracasso com as mulheres. Cinco romances sérios desde a universidade e nenhum deles havia durado. Julgara ter finalmente encontrado a alma gêmea em Bridgit. Planejara casar-se com ela e formar uma família, mas o sonho morrera com o acidente de Bridgit.
— Jay? — Ela se levantou sorrindo. — Vou preparar o jantar. — Havia um convite implícito no comentário. Ou seria um aviso?
Contendo um gemido, ele pensou depressa. Lily e cozinha eram palavras que não combinavam. Lily e indigestão eram quase sinônimos.
— Já que suas pernas estão lisas e macias, por que não vamos exibi-las em algum restaurante? Prometo pedir camarão.
O alívio era evidente em seu rosto. Lily odiava cozinhar.
— Estava mesmo esperando que convidasse. Agora que estou novamente sem namorado, serão muitas as noites que passarei em casa, comendo a comida que faço. Sabe que isso é um incentivo para que eu procure logo outro rapaz interessante?
— Posso imaginar.
— Bem, vou mudar de roupa. Não posso sair vestida assim.
— Não. Essa camiseta é minha? — Agora que o problema fora resolvido, James retomava o velho hábito de provocá-la. Na verdade, irritá-la com a questão da camiseta tornara-se quase um ritual. Ambos sabiam que ele jamais a teria de volta.
Como se nem houvesse percebido o que usava, ela abaixou a cabeça e arregalou os olhos.
— Ei, você tem razão. Eu a devolveria agora, mas prefiro lavá-la primeiro. Na semana que vem você a terá de volta.
Lily dirigiu-se ao banheiro, e James não resistiu ao impulso de acompanhá-la com os olhos, apreciando o movimento sinuoso dos quadris. Sua velha amiga era uma bela mulher.
Ele afastou o pensamento. Eram amigos há tanto tempo, que estava acostumado com Lily.
Lily Evans era quase uma irmã.
E uma jovem de sorte por não ter insistido na paixão adolescente. Caso contrário, James teria arruinado o relacionamento que haviam construído. Tinha um jeito todo especial para agir de maneira errada com o sexo oposto.
Não. Ambos tinham muita sorte por não terem ido além de uma simples experiência de respiração artificial.
Lily examinou a cômoda que mantinha no banheiro. Jantar com James nunca significava comer um sanduíche na lanchonete da esquina, e por isso não podia vestir uma calça jeans. Melhor assim. Adorava vestir-se com mais cuidado. Era quase um vício profissional.
E como funcionária de uma loja de vestidos antigos, tinha diversas oportunidades para exercitar o hobby. E naquela semana cometera um adorável excesso. Comprara o vestido perfeito para aquela noite. A peça chegara à loja na semana anterior, e nada seria melhor para a ocasião. Poria em prática o plano que havia traçado com cuidado.
O vestido era branco, quase virginal, pelo menos quando estava no cabide. Mas quando o vestira...
Lily sorriu, deixando o tecido macio deslizar por seu corpo e examinando-se no espelho preso à parede.
Sim, o vestido que parecera virginal no cabide era pura tentação quando usado sobre um corpo feminino. E naquela noite precisava desempenhar o papel de tentadora a fim de atingi-lo.
Sentia-se um pouco culpada pelo que tramava fazer, mas reconhecia a necessidade do uso de subterfúgios. James era teimoso demais para o próprio bem. E era apenas o bem dele que tinha em mente. Notara os círculos escuros em torno de seus olhos, um traço que se tornara permanente nos últimos meses, e também havia percebido que o velho amigo perdera alguns quilos. Ainda lamentava o fim de seu último relacionamento.
Por isso tinha de superar a culpa e concentrar-se no plano. Talvez não fosse muito honesto, mas era pelo bem de James. Ele era teimoso demais para perceber que precisava afastar-se, mas não seria capaz de resistir ao impulso de agir como herói. Assim, jamais saberia que era ela quem o resgatava.
Os sapatos brancos de salto alto completaram o traje. Depois de prender os cabelos num coque simples, perfumar-se e adornar-se com algumas bijuterias e maquiagem leve, decidiu que estava pronta.
— Podemos ir — anunciou entusiasmada ao entrar na sala.
James assobiou, e ela girou em torno de si mesma.
— Gostou?
— O que fiz para merecer um vestido como esse?
Ele estava caindo na armadilha. Desempenhando seu papel, Lily encolheu os ombros.
— Nada. Não é para você. Já que vai me levar a um restaurante, quero estar bem. Afinal, sou uma mulher livre e sozinha, e o homem de meus sonhos pode estar em qualquer lugar. Quero estar pronta para conhecê-lo.
O sorriso de James perdeu parte do brilho.
— Pronta... para quê?
— Para qualquer coisa. Ninguém sabe o que vai encontrar quando sai de casa. — E dirigiu-se à porta.
— Concordo com você, docinho, mas não sei se devia apelar para uma publicidade tão... direta.
— O que quer dizer? Meu vestido é muito decente.
James mantinha os braços cruzados e a testa franzida.
— Decente não é a palavra que eu teria escolhido para descrever seu vestido.
— Não vou mudar de roupa. Pense bem. Se não conseguir encontrar um namorado esta noite, terei de comer a comida que faço. Não é esse destino que quer para sua melhor amiga, é?
Ele suspirou e caminhou para a porta.
Lily saiu atrás dele e trancou o apartamento.
— Está com algum outro problema? Quero dizer, algo mais o aborrece, além do meu vestido? — Tinha suas suspeitas. James enfrentava o mesmo problema há meses. — Bridgit?
Ele se virou com uma expressão estranha. Depois balançou a cabeça e começou a descer a escada.
— Não há nada de errado. Apenas o cansaço.
— Oh, sim, deve estar exausto. — Sorrindo, decidiu esconder a preocupação. Afinal, tinha um plano perfeito. — Tem trabalhado demais. Não saímos juntos há semanas.
— Você estava namorando, lembra-se?
— Agora não estou mais. E quando quiser falar sobre Bridgit, estarei pronta para ouvi-lo.
Para ele havia o trabalho, e depois mais trabalho. Pelo menos, era assim desde que Bridgit o deixara. Na verdade, seu trabalho no Escritório de Advocacia Ericson e Roberts sempre havia sido uma prioridade. Durante os cinco anos desde que começara a trabalhar lá, encontrara seu nicho e se esforçara para preservá-lo.
Mas desde o fim do romance com Bridgit, não havia apenas se esforçado. Trabalhara como se não houvesse mais nada em sua vida. Lily o observara impotente, sem saber como confortá-lo ou de que forma convencê-lo a reduzir a carga de trabalho. Trabalhar como um louco era seu jeito de lidar com a perda de Bridgit.
Bridgit.
O rompimento era um dos poucos assuntos que o fazia mergulhar no silêncio. Lily sabia que o amigo ainda estava sofrendo. Era seu trabalho cuidar para que ele se afastasse do escritório por algum tempo, o suficiente para recuperar-se.
James era um homem de trinta anos de idade à beira de um infarto.
E ela era uma mulher de vinte e oito anos disposta a tudo para salvá-lo.
— Vamos lá, garotão, estou faminta! — Ela entrou no carro e ajustou o cinto de segurança.
— Você está sempre com fome.
— Exatamente. E acha justo que, sabendo que deve alimentar-me regularmente, fique aí parado, enquanto a comida está longe daqui?
— Já estamos indo.
Seguiram num silêncio confortável. Lily sorriu ao ver que paravam na frente do Bayside Country Club, o clube de James. Na primeira vez em que ele a levara ali, sentira-se deslocada, mas só até a refeição ser servida. A verdade era que se sentia à vontade onde quer que houvesse boa comida, o Bayside tinha os melhores pratos de Erie, Pensilvânia.
— Olá, Six — ela cumprimentou o maitre.
— Ah, Sr. Potter e a jovem Lily. Que prazer.
Lily permitiu que Sirius tomasse sua mão para um beijo terno.
— Não temos reservas, e a culpa é toda minha. Ofereci-me para cozinhar para James, e o pobre coitado ficou tão apavorado que decidiu trazer-me aqui.
— Há sempre uma mesa para vocês aqui. — Sirius levou-os a um canto mais tranquilo do salão. — Querem pedir um aperitivo?
— Comida, meu caro amigo. Apenas comida. É a única coisa capaz de salvar meu coração partido.
— Mais um namorado perdido? — o Sirius perguntou a James.
— Dizem que o homem não sabia beijar.
Lily encarou-o com ar crítico e decidiu oferecer uma explicação.
— Bem, beijar é importante. Mas, pior que isso, o sujeito não sabia escolher seu jantar.
— Ah, então cometeu um crime imperdoável. E falando em boa comida, Frank criou um novo molho para massa que vai fazê-la esquecer todos os problemas.
— Estou tão abalada, que não sei se poderei apreciá-lo de maneira justa. Mas prometo que vou me esforçar.
— E eu vou querer camarão — James anunciou.
— Como sempre, Jay. Vou apressar o pedido.
Assim que Sirius afastou-se, Lily fez uma careta para James.
— Está vendo? Alguém percebe que sofri uma grande perda.
— Foi você quem rompeu o namoro.
James sempre tentava fazer um rompimento parecer lógico. O que ele não entendia era que o coração não usava de lógica. Não havia como empurrá-lo em uma direção que ele não desejava seguir.
Aprendera essa lição no ginásio, depois de um beijo que a fizera entender que ele era mais que um vizinho e amigo. Infelizmente, o coração de James permanecia adormecido. Ele partira para a universidade e conhecera Patti, a lider de torcida, e depois seguira em frente por uma longa linha de sucessoras.
Observara como James tentava analisar o rompimento com Bridgit há meses, sem nenhum resultado positivo. Se pudesse conversar com ele sobre o assunto, teria tentado provar que a mulher nunca fora sua metade ideal. Mas James se negava a discutir o fim da relação. E sabia que ele teria de enxergar a verdade por si mesmo. Precisava de tempo e distância, não de discursos.
E era aí que seu plano entrava em cena.
— Posso ter sido a responsável pelo fim do namoro, mas ainda assim sofri uma perda. E isso me faz lembrar outro problema.
— Problema?
Sentindo que o jogo havia começado, Lily fez o primeiro movimento.
— Esqueça. Estou certa de que encontrarei alguém disposto a me ajudar. Afinal, você mesmo disse que o vestido é impressionante.
— Eu não disse isso.
James, sempre literal e pronto para argumentar. Literal, mas previsível. Apesar da vontade de rir, Lily manteve o ar aborrecido.
— Não disse? Bem, talvez tenha insinuado. De qualquer maneira, logo descobrirei sozinha o verdadeiro poder de impacto deste vestido. O que acha de ir ao bar enquanto esperamos pelo jantar? Talvez encontre alguém disposto a ajudar-me.
— Lily, docinho, você sabe que a ajudarei, se puder.
— Não. Sou perfeitamente capaz de resolver meu problema sozinha. Sabe que odeio importuná-lo com minhas pequenas dificuldades.
— Lily... — Havia uma nota irritada na voz dele.
— Por que insiste em agir como se eu fosse uma perfeita incapaz? Sou uma mulher adulta. Tenho certeza de que encontrarei uma solução satisfatória para tudo isso.
— Lily...
— Teria encontrado uma forma de remover toda aquela cera sem sua ajuda. Não quero mais incomodá-lo com meus problemas.
— Afinal, qual é o problema? — ele perguntou impaciente.
— Não precisa gritar comigo.
— Desculpe-me.
— Tudo bem — ela choramingou.
James inclinou-se e tocou seu queixo com a ponta de um dedo.
— Agora, diga-me que problema é esse.
— Lembra-se de quando você chegou em minha casa? Eu disse que estava depilando as pernas por que ia à praia no final de semana para bronzear-me.
— Sim, eu me lembro de tudo que disse.
— Esse é o problema.
— Mas já removemos a cera de suas pernas.
— Não estou me referindo à cera, mas à praia.
— O que tem a praia? — Tinha a sensação de que estava mais confuso a cada resposta que ouvia.
Erie possuía as mais belas praias de água doce da região. Presque Isle, uma península que tocava o lago Erie, abrigava praias maravilhosas e criava baías acolhedoras que ficavam a poucos minutos da cidade. Lily adorava frequentá-las durante o verão e sempre tentava convencê-lo a acompanhá-la. Mas dessa vez tinha algo diferente em mente.
— Preciso de uma companhia masculina — disparou. — Esperava que conhecesse alguém.
— Por que precisa de um homem?
— Porque apenas casais são permitidos nessa praia.
James riu.
— Docinho, de onde tirou essa idéia? Qualquer pessoa pode ir a Presque Isle. Afinal, estamos falando sobre um parque estadual.
— Um parque que não inclui a península, Amore Island. Lembra-se? Já falei com você sobre o lugar. A agência de viagem de Jody está oferecendo um pacote especial, e Ted e eu já havíamos decidido aproveitar. Agora que rompi com Ted, não sei o que fazer.
— Não estou entendendo.
Para um advogado, ele era perspicaz com os contratos que defendia, mas incapaz de seguir meia dúzia de argumentos simples. Devagar, como se falasse com uma criança pequena, Lily explicou:
— Trata-se de um hotel para casais. Como não faço mais parte de um casal, eles não permitirão minha entrada no lugar ou na praia.
— E quer que eu a apresente aos meus amigos e que a ajude a encontrar um substituto?
Lily balançou a cabeça e sentiu o coque desmoronar. Suspirando, soltou-o e deixou os cabelos finos e lisos caírem livres sobre os ombros.
— Não, Jay — respondeu. — Quero você...
