A Noiva Errada pertence exclusivamente a Alice Sharpe! Quanto aos personagens, uns pertencem a Alice Sharpe e outros a J.k. Rowling.
A Noiva Errada - Alice Sharpe
O dia estava perfeito para um casamento ao ar livre. Era início de junho, e as rosas espalhavam-se pelo imenso jardim. O céu tinha um azul intenso, e a brisa que soprava era doce e agradável. Oitenta pessoas estavam sentadas em cadeiras brancas enfeitadas com botões de flor de laranjeira e laços amarelos. Uma banda tocava músicas suaves para entreter os convidados que aguardavam ansiosos.
Um dia perfeito para uma cerimônia de casamento se a noiva houvesse comparecido!
Lily Evans encontrava-se de pé, parcialmente escondida por um imenso vaso de flores. Havia sido uma das poucas convidadas por parte da noiva e era dama de honra. Seu vestido amarelo tinha uma tonalidade tão clara, que parecia não existir. Segurava uma pequena sombrinha com rosas e laços incrustados no cabo, que a fazia sentir-se uma figurante do filme E o Vento Levou.
Fora ela quem criara com suas próprias mãos cada enfeite de flores da festa. Trabalhara durante várias noites até altas horas na floricultura como um favor especial a Natalie.
Falando em Natalie... Onde estaria ela? A julgar pelo horário que chegava todos os dias ao trabalho, estar quase duas horas atrasada em seu próprio casamento não era propriamente uma surpresa...
Lily olhou na direção do padre, que conversava apenas com a família do noivo, já que os familiares da noiva não estavam presentes. Ele consultava insistentemente seu relógio de pulso e olhava, com freqüência, para as imensas portas francesas da mansão.
Lily observou o noivo. James Potter parecia muito aborrecido, o que não chegava a afetar sua maravilhosa aparência, em seu terno escuro com um botão do rosa amarela na lapela. Seus olhos castanhos destacavam-no no rosto moreno; ombros largos e peito reto. Aparentava exatamente o que era: um fazendeiro de aproximadamente trinta anos, rico, inteligente, ativo e prestes a casar-se com a mulher errada.
Pare com esses pensamentos imediatamente! Disse Lily para si mesma.
Mas eles insistiam em povoar lhe a mente, Natalie e James não combinavam, tinha certeza absoluta, suspeitava que Nat tivesse consciência disso, mas não se importava, talvez agora James começasse a notar aquela verdade tão obvia.
Como que atraído pelos pensamentos dela, James virou-se e seus olhares se encontraram. Caminhou em sua direção, e Lily sentiu seu coração disparar. Aquela era sua terra, seu jardim, e ele caminhava com tal confiança e desenvoltura que parecia envolto em uma aura.
− Lily, você tem alguma idéia do que possa ter acontecido a Natalie?
Lily meneou a cabeça, consciente das mechas de cabelos ruivos que se soltavam do coque.
− Não faço a menor idéia − respondeu ela − Mas... Você conhece Natalie... Ela não lhe disse nada? − insistiu ela — Nem uma palavra, isto significa que ela não telefonou para cá?
Ele assentiu, olhando em volta do jardim, como se esperasse ver Natalie aparecer de repente detrás de alguma árvore.
− Quando você falou com ela pela ultima vez? − perguntou James.
— Na loja, ontem à noite, pouco antes de fecharmos. — Não acrescentou que ambas haviam conversado sobre dinheiro. O fato de James ter bastante dinheiro, e Nat quere-lo. Várias vezes Lily perguntara-lhe se não havia outros motivos para querer casar se com ele, outros atributos que só ele possuísse e que o tornassem o homem certo, a que Natalie Dupree respondera que bastava o dinheiro e a beleza.
James abriu e cerrava os punhos
— O chofer da limusine jura que ela estava com o vestido de noiva quando atendeu a porta, mas o mandou voltar à agência, pois ela mesma viria dirigindo seu carro, logo depois de dar um telefonema. Perguntei-lhe se ela parecia aborrecida, e ele respondeu que, ao contrário, parecia extremamente excitada. Até lhe deu uma boa gorjeta.
Pensando em como Nat se recusava a dar gorjeta até para o menino que entregava os sanduíches que elas eventualmente encomendavam na loja, Lily murmurou:
— Isso é muito estranho!
— Realmente é muito estranho — concordou ele.
— Você ligou para o apartamento dela?
— Claro! — James olhou para o relógio e fitou Lily nervosamente. — Liguei para todos os lugares onde ela poderia estar. Agora vou ao apartamento dela.
— E quanto a isso? — perguntou Lily, com um gesto que indicava os convidados, o bolo, a orquestra e toda a festa.
— Ao diabo com tudo! — exclamou furioso. — Será anunciado que não haverá mais casamento, pelo menos hoje, e eu não pretendo estar aqui.
— Nem eu — disse Lily.
— Você quer vir comigo? — inquiriu ele. — Se ela estiver lá e estiver bem vai precisar de um guarda-costas!
Um breve sorriso cruzou os lábios de Lily. Não conseguia imaginar aquele homem agredindo uma mulher, especialmente Natalie. Portanto tecnicamente sua presença não seria necessária. Então por que seu coração batia tão forte? E por que seu estômago se contraía ao simples pensamento de ficar sozinha com ele?
— Está bem, vamos — ela disse em voz alta, enquanto pensava consigo mesma que era loucura segui-lo.
Acompanhou-o até o carro conversível, repleto de latas amarradas ao pára-choque e com a inscrição "recém-casados".
Apesar de James ter ido várias vezes à floricultura buscar Natalie, a conversa que acabaram de ter tinha sido a mais longa. Não que ele fosse antipático ou mal-educado, apenas só tinha olhos para Natalie, e ela não ficava nem um minuto na loja quando ele chegava. Parecia estar sempre pronta a afastá-lo de lá.
James arrancou as latas do carro e jogou-as no banco traseiro. Lily jogou sua sombrinha em cima delas e, com certa dificuldade, conseguiu acomodar o vestido longo de seda e fechar a porta.
Assim que ele deu partida no carro, Lily arriscou um olhar ao perfil daquele homem deslumbrante. Nariz reto, lábios carnudos, queixo quadrado e determinado, cada traço demonstrava impaciência. Resolveu concentrar o olhar na estrada à sua frente, à medida que ele acelerava.
Apesar de imerso em confusos pensamentos, James dirigia muito bem e o trajeto até à casa de Natalie não durou mais de quinze minutos.
O edifício localizava-se em uma área sossegada da cidade de Cottage Grove, perto do parque, onde várias crianças jogavam futebol.
Ao conseguir sair do carro, segurando o emaranhado de seda amassada em que seu vestido se transformara, sentiu o olhar admirado das crianças. Na verdade, com aqueles trajes, ela e James deviam estar parecendo um par de bonecos caídos do alto de um bolo de casamento. Pensando nisso, não pôde deixar de sorrir intimamente.
— O carro dela não está aqui — informou ele. — Os moradores têm vagas marcadas e a dela está vazia. Vamos subir. O apartamento fica no segundo andar.
Lily começou a subir a escada, segurando seu vestido, com James logo atrás. Chegando ao segundo pavimento, Lily seguiu pelo corredor, passando pelas portas dos diversos apartamentos.
— Aonde você está indo? O apartamento dela é o 3-B. Você nunca veio aqui antes?
— Não — respondeu Lily simplesmente.
James olhou-a espantado e tocou a campainha. Aguardou alguns segundos e começou a bater na porta, tão violentamente que a vizinha do lado abriu a janela para espiar. Lily deu um sorriso à mulher que bateu a janela sem mudar de expressão.
— Vizinhos simpáticos! — murmurou Lily, enquanto observava James procurar uma chave em seu bolso e abrir a porta.
— Nat — chamou ele, no escuro.
Nenhuma resposta. James empurrou Lily para dentro do apartamento, fechando a porta atrás de si. Por um momento ficaram na mais profunda escuridão. Lily deu um passo para trás, tropeçando em James, que a segurou pelos braços e depois tateou na parede até encontrar o interruptor. Subitamente a sala iluminou-se.
Lily esfregou várias vezes o local onde James a havia tocado. Ele estava de costas para ela, pressionando o botão da secretária eletrônica. De repente sua própria voz ecoou pela sala, implorando que Natalie atendesse ao telefone.
Lily olhava em volta, observando o tapete, os sofás, as cortinas bege e as almofadas brancas. O local encontrava-se excepcionalmente limpo.
James havia deixado três mensagens. Cada uma refletindo o aumento de sua ansiedade. Desligou o aparelho após a última mensagem e encarou Lily.
— Não sei mais o que fazer! — exclamou desconsolado.
— Talvez devêssemos checar os hospitais — ela sugeriu.
— Já fiz isso. Verifiquei também todas as clínicas de emergência e a polícia. Disseram-me para chamar novamente em vinte e quatro horas, caso não aparecesse.
— Então talvez fosse melhor voltarmos à sua casa e aguardar. Sei que isso pode parecer tolo, mas tenho a intuição de que deve haver uma explicação lógica para esta situação — disse Lily.
— Você é a melhor amiga dela. Deve saber algo sobre seus parentes — argumentou ele.
Lily sentiu-se desconfortável com o rótulo de "melhor amiga", apesar de provavelmente ser verdade. Natalie morava em Cottage Grove menos de um ano e começara a trabalhar na floricultura havia uns seis meses. Pelo que sabia, Nat parecia não ter muitos amigos, principalmente do sexo feminino.
— E você é noivo dela. Se não sabe dos parentes dela, por que eu deveria saber? — ela retrucou.
— Ora, vocês mulheres não falam sobre essas coisas? — inquiriu irritado.
— E duas pessoas prestes a unir seus destinos não trocam informações sobre suas respectivas famílias — ela devolveu, no mesmo tom.
Ele lançou-lhe um olhar exasperado.
— Sei que a mãe dela morreu e que não tinha contato com o pai havia muito tempo. Convidou apenas meia dúzia de pessoas para o casamento e todas da floricultura. É tudo que sei.
— Bem, James, acredite ou não, é tudo que sei também... Vamos?
— Ainda não. Vamos olhar por aí e ver se deixou algum bilhete. Você revista o quarto, eu olho a sala e a cozinha.
Lily encontrou o quarto no final do corredor. Como a sala, este cômodo era muito bem decorado em tons bege, porém, ao contrário do resto do apartamento, era amplamente iluminado por uma extensa janela.
Olhou-se no espelho da cômoda. Aquele vestido não realçava a tonalidade de sua pele. Na verdade deixava-a pálida. Ela dissera a Nat que preferia o azul, mas ela insistira para que levasse aquele, pois parecia caro e sofisticado.
— Ele é caro — dissera Lily, olhando a etiqueta com o preço. Por fim cedera, dividindo o pagamento em três prestações, mesmo sabendo que jamais o usaria após o casamento. Ah, o que não daria por calças jeans e uma camiseta! Pensou ela.
Lily sentia-se como um ladrão, vasculhando as gavetas do armário. Uma rápida olhada dava a impressão de que vários itens haviam sido retirados, provavelmente porque Natalie havia feito as malas para a viagem de lua-de-mel ao Havaí.
Subitamente notou no criado-mudo outro telefone com um número diferente, o que significava que Nat possuía duas linhas telefônicas. Pressionou o botão de mensagens e uma voz masculina encheu o quarto. Desta vez, porém, a voz era de um homem bem mais velho.
− "Nat, querida, você venceu. Encontre-me em Otter Point e seguiremos de lá.".
Otter Point ficava na costa do Estado de Oregon. Lily tinha estado lá várias vezes. Nunca havia se hospedado em algum dos inúmeros hotéis luxuosos, pois seu salário não permitia, mas a praia era livre e adorava escalar as rochas ouvindo o barulho das ondas.
Por um momento Lily cogitou se deveria contar ou não sobre a mensagem a James.
— Volte à fita para ouvir a mensagem novamente — disse James da porta. Seu rosto era uma máscara inexpressiva.
Lily encarou-o.
— Volte à fita — ordenou.
Lily obedeceu.
— Maldição! — exclamou ele.
— Não tire conclusões precipitadas, James.
— Conclusões precipitadas! Acho que não há muitas formas de interpretar essa mensagem.
— Talvez seja o pai dela — argumentou ela.
— Não acredito — disse James. — Ele parece velho o bastante para ser pai dela, mas o tom de sua voz não é absolutamente paternal. A mensagem me parece muito pessoal. Acho que Natalie não compareceu ao casamento para seguir esse sujeito.
Aquele, na verdade, fora o primeiro pensamento de Lily, mas agora não sabia o que dizer. Deu de ombros, imaginando que ser deixado no altar era trágico, mesmo tendo sido trocado por um pai que a noiva muito tempo não via. Era uma situação difícil para qualquer pessoa, principalmente para alguém como James Potter, que provavelmente jamais havia sido rejeitado em toda sua vida.
— Venha ver o que eu encontrei — disse ele.
Lily seguiu-o até um closet onde jazia a um canto o vestido de noiva de Nat.
— Oh, meu Deus! — exclamou ela.
— Você ainda acha que ela foi se encontrar com o pai? — vociferou ele.
— Bem...
— Ela largou o vestido de noiva como um trapo velho, da mesma forma como me largou.
— Admito que as aparências indiquem... — começou a dizer Lily.
— Ela não vai escapar tão facilmente — sibilou ele, entre dentes. Girando nos calcanhares, seguiu pelo corredor a passos largos.
— O que vai fazer? — inquiriu ela, quase correndo para alcançá-lo.
Ignorando-a, James seguiu escada abaixo.
Lily fechou a porta e correu novamente. No topo da escada tropeçou no vestido e por um momento pensou que iria se esborrachar no hall de concreto.
James impediu que isso acontecesse, segurando-a firmemente e sem fazer o mínimo esforço ergueu-a, carregando-a como se fosse uma criança.
— Isto não é necessário — murmurou ela.
— Não tenho tempo de levá-la a um hospital, caso despenque escada abaixo — disse ele com voz irritada.
Chegando ao fim da escada, colocou-a no chão sem a menor cerimônia e encarou-a por um instante. O tom castanho de seus olhos estava obscurecido pela incerteza.
— James, o que pretende fazer?
— Vou encontrá-la. Ela me deve uma explicação!
— Mas... — começou a dizer Lily.
— Vou encontrá-la, nem que seja a última coisa que eu faça.
— Então vou com você — disse ela com firmeza. Natalie não era sua melhor amiga, nem admirava a forma como tratara o noivo, mas havia alguma coisa de ameaçador no olhar de James.
— Não, obrigada — disse ele, encaminhando-se para o carro. Lily abriu a porta do passageiro, assim que James se sentou ao volante.
— Se não me levar, vou segui-lo.
— Como? Você não tem um carro.
— Tem razão, se me deixar aqui, não poderei sair do lugar.
— Pegue um táxi — disse ele, ligando o carro.
— Como? Não tenho nem um tostão comigo — argumentou ela.
James levou a mão aos bolsos e praguejou:
— Droga! Nem eu.
— Escute, meus pés estão me matando, e nós estamos perdendo tempo com esta discussão — disse ela.
James lançou-lhe um olhar penetrante, como se a estivesse vendo pela primeira vez. Balançou a cabeça e disse resignado:
— Você está certa. Entre.
Lily não parou para pensar nos motivos que a levaram a impor sua presença àquele homem. Sabia apenas que deveria segui-lo.
— Coloque o cinto de segurança — ordenou James, pondo o carro em movimento.
— Para onde estamos indo? — perguntou ela.
James lançou-lhe um rápido olhar, agora cheio de vivacidade. Lily pôde perceber que ele era um homem acostumado a agir e estar no controle das situações, mesmo as de crise.
— Otter Point. Onde mais?
