- Mãe, to saindo! – Grita Allison apressadamente já na porta, com a mão na maçaneta, pronta pra sair de casa, quando sua mãe a chama e diz que precisam conversar algo sério – Ah, agora não dá mãe, a Evie já esta me esperando.

- Evie, Evie, Evie, existem outras coisas mais importantes que isso. Por exemplo, o seu futuro! Seu pai e eu vimos um novo colégio pra você! Ele é excelente. Aulas de período integral, perfeito pra você que vai prestar medicina no ano que vem, e você vai poder contar com a ajuda das suas novas amigas, que diferente da Evie, moram com os pais, tem uma educação excelente, são de famílias excelentes, extremamente educadas, comportadas, finas e perfeitas damas, coisa que você precisa refinar um pouco mais não é, Ally? Lá você não vai usar essas roupas largadas que eu já tentei dar um fim, olha só pra esse uniforme que lindo! – Fala sua mãe colocando as roupas na frente do seu corpo – Vai ficar perfeito em você – A saia do uniforme batia para baixo dos joelhos de Ally, de um cinza morto, que vinha acompanhada de um suéter da mesma cor e uma camisa de gola alta branca.

- Mas eu não quero medicina! – respondia Ally se afastando do uniforme – Muito menos vou trocar de colégio!

- Não fale assim com a sua mãe, mocinha. Eu já cansei das suas mau criações, você mudou e esse colégio vai te botar na linha outra vez. Você vai pro colégio, ou você sai de casa, já que se acha tão independente!

Ao ouvir isso, Allison vai para o seu quarto em passos fortes e batendo portas, menos de cinco minutos depois ela aparece novamente com uma mochila e mala feita. – A onde pensa que esta indo? Já não te disse que você não iria sair hoje?! – Pergunta sua mãe nervosa.

- Eu já cansei de vocês ficarem controlando a minha vida – Ao dizer isso, Allison sai de casa.

- Ela vai voltar, não é? – Pergunta sua mãe meio receosa – O que os vizinhos vão falar?

- Lógico que vai. Ela não tem pra onde ir, não vai conseguir ficar muito tempo fora – Responde seu pai secamente.

- Essa sou eu, Allison Blanford, com quase dezesseis anos e pais que controlam a minha vida. Minha família é daquelas onde tudo tem que ser perfeito e pra eles, as regras existem para serem seguidas cegamente. Meu pai trabalha em uma agência, lá ele faz as contagens, ou algo assim, um típico trabalho chato para uma pessoa extremamente certinha. Minha mãe é dona de casa e dedica quase todo o seu tempo à igreja. No meio desse fim de mundo, uma coisa boa aconteceu quando uma garota diferente veio morar aqui, ela pensa que nem eu e hoje eu tenho certeza de que a gente não pertence a essa cidade. Aqui nada acontece, o máximo que pode acontecer é um concurso de vegetais, isso tudo é muito chato. E eu cansei.

-x-

- Não! Eu não preciso de dinheiro, eu quero falar com a minha mãe! – Gritava Evie no telefone.

- Sinto muito, Senhorita Voltera, mas como já te disse antes, sua mãe esta ocupada agora – Dizia calmamente a secretária – Assim que ela tiver um tempo, eu digo que você ligou e ela te retorna.

- Mas ela nunca me retorna! Ah, enfim, deixa pra lá então. Não vale a pena. – Dizia ela desligando o telefone sem se despedir da secretária – E essa é a vida de Evie Voltera. Eu fui mandada para o interior de tanto reclamar para a minha mãe que estava cansada de viver com babás, eu queria ficar com ela mas acho que ela entendeu errado e me mandou pra casa dos meus avós, ou talvez tenha usado isso como pretexto para se livrar de mim, ela é uma pessoa que vive viajando, por isso nunca a via, ela é estilista dona de uma grife famosa e é só com isso que ela se importa. Eu não cheguei a conhecer o meu pai, ele faleceu faz muito tempo. Minha mãe nunca fala comigo e nem me visita, só sabe me mandar dinheiro e roupas, como se isso fosse compensar a ausência dela. Não é que eu não goste dos meus avós, muito pelo contrário, é que eu simplesmente não me encaixo nessa cidade, onde a auge da cidade é a festa dos legumes! A única coisa boa que aconteceu por aqui foi eu ter encontrado a Allison.

- Vii, vai a atender a porta porque eu estou ocupada arrumando a berinjela pro concurso de vegetais na semana que vem! Tenho certeza que esse ano a gente ganha – falava sua avó animadamente lustrando uma enorme berinjela.

- Que beleza de berinjela, hein vó, vão ganhar com certeza - falava Evie ironicamente atendendo a porta – Ally! Você esta atrasada, achei que uma vaca tinha te atropelado – exclama Evie reclamando do atraso – Pra que tanta mala? Vai participar do concurso de vegetais também?

- Você não imagina o que aconteceu lá em casa, foi a gota d'água – falava Allison cabisbaixa – Meus pais passaram do limite.

Ally contou para sua amiga o que havia acontecido minutos antes, e a mesma disse que ela podia ficar por ali – Eu sei que parece loucura, e é meio repentino mas eu realmente estava afim de sair dessa cidade, topa ir comigo? – Convida Ally.