Nossa história é tão clichê...
Disclaimer: Todos os personagens pertencem a J.K. Rowling... inclusive a história clichê...
Cap. 1: Voltando à Hogwarts.
Tá, tudo bem eu sei que às vezes eu exagero...
Não, tá bom, eu exagero quase sempre. Não tá bom, eu sou chata SEMPRE! Pronto, confessei.
Mas, temos considerações à levar em conta. Se você nasce trouxa, vira bruxa do nada, tem uma irmã extremamente irritante, uma mãe que te ama mas mesmo você com dezessete anos ela te pede pra escovar os dentes, um pai que antes de você sair de casa te põe trezentos casacos para te "proteger do frio" quando na verdade queria que você nascesse num país judeu ou muçulmano no qual mulheres usam véus até a consciência para esconder-se da população masculina existente, está em ano de N.I.E.M's, é monitora- chefe, tem duas amigas que sempre esquecem sua data de aniversário e só não esquecem a cabeça porque está grudada com o pescoço, e tem um garoto no seu colégio que se acha o tal e vive te enchendo o saco pra sair, você não seria as melhores das pessoas.
É, essa é minha vida... Eu sou Lílian Evans. Conhecida pelos amigos, ou melhor, pelos que me suportam (grandes vencedores!) como Lilly. Conhecida pelos que me não me suportam, ou os que me enchem o saco (ou melhor, O que me enche o saco) como "Evans, quantas vezes vou ter que repetir!".
Minha vida parece tão turbulenta não é? Mas não é... pelo contrário, é tão... tão... sei lá! Tão normal. (Como assim ter amigas que esquecem tua data de aniversário e ter um pai que te veste com trezentos casacos e etc. é normal!) É, eu entendo sua expressão de dúvida. Mas é que pra mim toda minha história e toda minha rotina, é tão normal, tão clichê. Como se fosse uma novela sabe? Que eu já cansei de ver quinhentas vezes o mesmo episódio. Minha vida é quase um saco.
Ai você se pergunta, ou ME pergunta, tanto faz: E como você suporta viver, então? Eu respondo: Não sei. Assim como a incerteza de que o amanhã é tão incerto eu vou vivendo. Não, não sou dramática. Sou... como diz a Lua mesmo? Ah! Sou Dramblemática. Mistura de dramática com problemática. Sentiu como é uma das minhas duas amigas? A outra é só diminuir um pouco, porque é um pouquinho menos viajada que essa. Sinceramente eu amo minhas amigas, mas elas tem que acordar! Vocês acreditam que a Lua ainda acha que existe Papai- Noel! É, um absurdo para uma garota de dezessete anos! Mas é... segundo ela Papai- Noel é um senhor que vive no Egito (ela provavelmente leu o livrinho de histórias de cabeça pra baixo porque até onde eu saiba ele veio do Pólo Norte), tem pelúcios que servem a ele, a casa dele é feita de gelo (e mora no Egito), e ele adora boliche aquático. (PUFT! Um tiro na testa!).
Deixando de lado Lua e seu Papai- Noel egípcio- esportista, eu vou agora explicar o começo dessa minha historinha linda que aqui nesse diário escrevo. Porque eu exagero... bem... Observem...
- Lílian saia desse banheiro já!- gritava minha irmã,linda por sinal (o único ser na terra que se assemelha incrivelmente à um cavalo, ela é adotada tenho quase certeza, se não fosse pela cara meio cavalar de meu pai), e que de manhã tinha um hálito horrível seguido por sua camisola florida de babados irritantes assim como a dona.
Eu suspirei cansada. Será que não se podia tomar mais banho em paz! Aliás eu estava prestes a voltar a Hogwarts e encarar certas coisas que nas férias eu não tive que encarar, novamente! Eu precisava de um bom banho para relaxar e aliviar as tenções para chegar novinha em folha! Mas a irritante continuou batendo... nossa! Eu podia sentir seu hálito ruim de dentro do banheiro com a porta trancada!
- Tenha calma! Já estou indo!- gritei.
Deixa só eu explicar meus gritos. Não são apenas gritos. São explosões. Não, não explosões é uma palavra muito fraca comparada ao que eles realmente são. São estridentes. Estridentes! É, estridentes ficou legal, passou todo o drama... Se não passou fique ai pensando em uma palavra pior antes de prosseguir. Não que meus gritos sejam finos. Eles são muito altos, tão altos que acho que nem uma mandrágora adulta suportaria ouvi-los.
Acho não, tenho certeza. Certa vez em uma aula de Herbologia, quando replantávamos essas lindas plantinhas, sem querer eu deixei meu abafador de ouvido cair. Era uma mandrágora adulta. Entrei em pânico no mesmo instante. Gritei desesperada. Que aconteceu? A mandrágora se calou. Sem comentários posteriores sobre meus gritos não é? É...
Bem, não é preciso então falar o que aconteceu em seguida. Petúnia se calou instantaneamente e eu sinto que toda a rua ouviu o grito porque o barulho de cortador de grama e criancinhas brincando pararam momentaneamente. Eu adoro meu efeito sobre as pessoas. Ri comigo mesma, me levantando calmamente da banheira e me enxaguando rápida no chuveiro.
Enrolei a toalha ao redor do meu corpo cantarolando uma musica que ouvira na rádio no dia anterior. Era realmente chata a musica por isso não vou transcreve-la aqui, mas justamente por isso que vou frisar que estava cantando ela, porque quando eu canto uma musica chata é porque eu to de bom humor.
Bom pra mim, ruim pros outros.
Abri a porta lentamente assobiando baixo e piscando pra Petúnia antes de sair em direção ao corredor. Só me lembro de ter visto ela fumegar a cara de raiva antes de virar e dar de cara com o rosto vermelho e meio cavalar de meu pai.
- LÍLIAN EVANS!- gritou ele bem na minha cara.
Ah! Eu falei que meu dom de grito veio do meu lindo papai? Não? Legal, agora vocês já sabem...
- Oi paizinho...- respondi sem graça, dando um sorrisinho amarelo. Eu sabia porque ele estava com tanta raiva.
- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO NO MEIO DO CORREDOR DE CASA DE TOALHA!- perguntou, ou melhor, berrou ele deixando alguns pinguinhos de sua saliva caírem na minha cara.
Era por isso que ele estava tão fulo. Ele não suportava quando eu fazia isso. Mas eu não fazia pra provoca-lo. Não, de jeito nenhum até porque quem gosta de pingos de saliva do pai na cara junto com uma carona cavalar a menos de três centímetros na sua frente! Ninguém né! Pois é. Eu fazia porque simplesmente era impulso. Eu tenho essa mania. Gosto de passear pela casa de toalha. Lindo não? Justamente com um pai como o meu... é perfeito. Feitos um pro outro praticamente.
- Eu... eu... pai!- falei, indignada batendo o pé no chão, cansada dos escândalos dele toda vez que eu saía do banheiro.- Ninguém tá vendo! Eu to dentro de casa! E além do mais o senhor mantém as janelas BEM fechadas!- e apontei para as janelas da minha casa.
Meu pai é um pouquinho louco sabe? Deve ser porque ele só tem mulher em casa, e com exceção de uma, as outras duas são lindas! (Eu sou bem modesta, né?) Porque ele simplesmente mantém as janelas da nossa casa fechadas, trancadas e trancafiadas. Como entra luz na nossa casa? Simples... como ele é uma pessoa MUITO normal e pensa direitinho, ele mandou abrir vidrais no teto da casa. Um gênio não? Também acho. Coitados dos homens que vieram aqui pôr os vidrais. A cada segundo meu pai mudava de opinião e pedia dois centímetros a mais pra esquerda, e dois pra direita e vinte na diagonal e etc. Se não fosse esses vidrais a gente nunca saberia quando era dia e quando era noite.
Você já deve ter reparado como eu interrompo meus diálogos não é? É, a minha outra amiga... a Alice, vocês irão conhece-la, me chama de Tagarilly. Olha que lindo, tenho duas amigas que esquecem meu aniversário e ainda me arranjam apelidos! Desocupadas...
- Eu sei minha filha...- disse meu pai já com um tom mais baixo e paciente.- Mas veja só... eu já estou achando esse vidrais muito...
- Exagerados? Precipitados? Ridículos?- tentei adivinhar, percebendo meus cabelos pingando no chão e enxugando-os com uma toalha menor que vinha pendurada em meu pescoço.
Meu pai reparou que meu pescoço ficou a mostra e tomou a toalha das minhas mãos e me cobriu novamente. Depois continuou o diálogo como se nada tivesse acontecido.
- Não Lílian.- disse ele num tom de voz muito sério.- Estou achando que eles já não dão conta do recado...
- O quê!- quase gritei, desesperada. Aquela casa já era um forno. Sem os vidrais...
- Sim, sim, eles já não dão conta do recado... acho que irei tira-los e...
- E o quê? Viveremos como a Família Adams nas trevas profundas Peter? Nem pensar!- completou minha mãe que vinha passando com um cesto de roupas sujas apoiado na cintura, pegando a toalha do meu pescoço e colocando nas minhas mãos para que eu voltasse a enxugar os cabelos.- Está molhando o chão inteiro querida...- acrescentou ela docemente e em seguida olhando para o meu pai com um olhar que só os Evans entendem.
Perigo à vista. Minha mãe é digamos, mãe demais. Faz tudo para nos agradar e nos ver felizes. Digamos que há um belo equilíbrio na minha casa. Meu pai quer me resguardar até de respirar e minha mãe quer que eu respire todo o oxigênio do mundo porque eu mereço ser feliz. Ele prende, ela libera. E assim vamos vivendo. Os Evans.
- Não estou dizendo isso Joanne... Só quero dizer que...- começou ele, mas minha mãe interrompeu seu discurso de privacidade virando-se pra mim e dizendo:
- Suas vestes de Hogwarts estão prontas, limpas e passadas filha. Estão em cima da sua cama... aliás que broche bonito foi aquele que você ganhou foi aquele Lilly?- perguntou ela carinhosamente.
Meu pai ficou roxo na mesma hora.
- Broche? Ganhou? De quem Lílian Evans, responda agora!- falou ele apontando para minha cara, mas minha querida mãe pegou seu dedo e baixou-o, torcendo-o um pouco.
Ele retorceu o rosto pela dor, mas depois voltou ao normal, ainda esperando a resposta.
Eu ri um pouco.
- Não é broche mãe. É um distintivo.- expliquei, apesar de ser pela segunda vez, minha mãe sorriu abertamente.
- Não é um daqueles que você recebeu quando virou monitora é?- perguntou ela transbordando orgulho.
Eu gargalhei um pouco. Sempre adorei a ingenuidade dos meus pais em relação ao mundo bruxo.
- É sim mãe. Agora sou monitora- chefe.- falei respirando fundo.- É importante, mas não é tão agradável já que ser monitor- chefe triplica as suas obrigações e...
Mas antes que eu pudesse concluir, minha mãe já havia jogado o cesto no chão e se atirado em meu pescoço gargalhando e beijando toda minha face. Eu corei furiosamente. Eu posso brincar de "me achar" de vez em quando, mas eu decididamente não gosto quando começam a me elogiar demais. Me sinto estranha. Não gosto, simplesmente.
- O que foi agora? Lhe premiaram como a bruxa mais feia de todos os tempos?- perguntou a voz azeda de Petúnia atrás de mim.
Eu virei e a fuzilei com os olhos, mas não foi preciso dizer nada. Minha mãe interveio.
- Pare com isso Petúnia! Você deveria parabenizar sua irmã também! Ela foi escolhida entre milhares de alunos que existem em Hogwarts...
- Mãe, não exagera.- murmurei para ela ouvir, mas ela continuou como se eu não tivesse falado nada.
- Para ser monitora- chefe! Você sabe o que é isso! Monitora- chefe! É um cargo realmente importante não é filhota?- perguntou ela para mim com sua feição mais feliz impossível.
Eu apenas dei de ombros. Eu sei que isso pareceu meio convencido da minha parte, mas eu simplesmente o fiz naquele momento, estava muito confusa ainda. Em um segundo eu estava contra a parede com meu pai berrando no meu pé do ouvido e no outro minha mãe me lambuza de beijos dizendo que eu sou o orgulho da família. Eu realmente ficava atordoada com tudo aquilo...
- Que seja.- disse Petúnia fazendo sua cara parecer mais cavalar ainda (se era possível) e indo embora já vestida. (ela saía do banheiro já completamente vestida para dar orgulho ao meu pai de algo, e realmente conseguia pois era a única coisa que meu pai me dava como exemplo: "Está vendo Lilly, como sua irmã está bem protegida? É assim que eu gosto de ver Petúnia!" dizia ele satisfeito. Grande coisa, que é que ela iria esconder? Os ossos!).
Eu suspirei e fui até meu quarto me trocar. Olhei para o relógio na mesa de cabeceira. Nove da manhã. É, dava tempo ainda. Eu costumo chegar na estação dez horas da manhã, porque ai tenho tempo tranquilamente para escolher meu vagão, guardar minhas coisas, orientar os alunos calouros dos melhores vagões para se pegar e ir me preparando psicologicamente para encarar "certas coisas". E como eu moro a simplesmente dois quarteirões da King's Cross (estação na qual eu pego o trem para Hogwarts), dá tempo de sobra.
Me vesti de um jeito simples (calça jeans e um suéter leve apegado ao meu corpo, mas claro que meu pai não iria me ver sair daquela maneira, já que eu colocava dois casacos por cima, chegando na estação eu tirava-os), ainda cantarolando a musica chata da rádio do dia anterior e então tranquei a porta do meu quarto e afastei o armário que ficava grudado na parede. Abri a portinhola que eu mesma tinha feito e ai apareceu. Minha janela secreta. Estava trancada como todas as outras mas eu como sou muito espertinha (momento modesta), peguei num momento no qual meu pai estava dormindo, no molho de chaves das trincas das janelas, a chave dessa janela e ele até hoje não percebeu que esta falta já que o molho é enorme.
Peguei a chave que estava na minha gaveta de roupas íntimas e abri vagarosamente a cortina que cobria a janela deixando a luz do sol ir aos poucos banhando meu quarto. Depois abri o cadeado que mantinha ela fechada. Abri-a aos poucos como uma criança que abre um doce delicioso. O ar da manhã entrou no quarto balançando meus cabelos e eu sorri maravilhada fechando os olhos. Ah, como eu adorava aquilo.
Respirei fundo o cheiro dos meus lírios maravilhosos. Assim que eu consegui essa chave, e consegui abri a janela, plantei lírios campestres na sacada desta. Dias de verão deixavam os lírios felizes, eu sabia isso. Sabia porque eu sentia que fazia parte dos lírios. Aliás, como dissera minha mãe, foi de onde viera meu nome.
Me apoiei no parapeito e comecei a admirar a rua que estava mais embaixo. Eu dormia num quarto no primeiro andar ao lado do quarto de coisas antigas. Graças a Deus meu pai trocara Petúnia de lugar, a dando o quarto que ficava lá embaixo, no térreo. Se ela descobrisse essa minha mania de toda manhã estar na janela, ela iria correndo contar pra eles que nem uma cabrita saltitante.
Depois do que parecera meia hora em que meus cabelos meio lisos meio ondulados, ricocheteavam com força em meu rosto, graças ao vento que mesmo no verão era forte, senti que já estava na hora e fechei a janela silenciosamente desejando um bom ano para meus pequenos lírios, e fechando ela e a cortina algum sentimento apossou-se do meu peito como se fosse uma grande saudade antecipada.
Como se eu estivesse prestes a perder tudo aquilo... Respirei fundo e balancei a cabeça espantando esses pensamentos e apanhei meus casacos e minha mala e comecei a descer as escadas para a cozinha quando ouvi um grito desesperado da minha irmã lá de baixo:
- LÍLIAN, TIRE SEU GATO ANORMAL DE CIMA DO MEU RAMSTER!
Eu bufei e rolei os olhos. Fui descendo mais devagar, esperando que Baltazar (meu gato persa, branco dos olhos azuis, lindo, perfeito), acabasse com aquele rato doente da Petúnia que vira e mexe ficava fuçando nas minhas coisas deixando pedacinhos de queijo em algumas roupas minhas.
Quando cheguei lá embaixo Petúnia tinha as mãos fechadas numa conchinha e Baltazar estava sentado, tranqüilo, bem nos pés de Petúnia, encarando pacientemente as mãos dela e balançando o rabo em forma de escovinha alegremente. Eu sorri comigo mesma. Eu amo Baltazar mais que muitas coisas.
Fui caminhando devagar para a mesa do café, sentei, bocejei, cocei os olhos, e comecei a me servir de cereais até que Petúnia gritou novamente:
- LÍLIAN, FAÇA ALGUMA COISA SUA RETARDADA!
Meu pai que estava sentado do meu lado com um jornal cobrindo toda a sua cara fez um: "Shhh!" forte para que Petúnia se calasse.
- Papai, mande essa... essa...- dizia ela tentando se controlar. O rabinho do seu ramster que tem uma semelhança incrível com ela, balançava num buraquinho entre suas mãos. Ela ia me xingar de novo, só que ela pensou duas vezes.- Mande a Lílian tirar esse gato de perto de mim!- terminou entre dentes, tentando não gritar novamente.
Eu gargalhava internamente. Adorava provocar a Pet- Pet (apelido de infância que já rendeu muitas brincadeiras bem sucedidas). Mastigava meus cereais de olhos fechados como se estivesse tomando um café da manhã muito importante para desestressar e poder encarar um dia cheio que vinha pela frente. E realmente era o que ia acontecer.
- Lílian... tire o Baltazar de perto...- falou ele virando a página do jornal com uma mão e com a outra tomando um longo gole de seu precioso café. A voz era de quem não considerava muito.
- Pai! Assim não, mande direito!- pediu Petúnia com uma voz fina e indignada, altamente irritante.
Rolei os olhos não deixando minha face retorcida em prazer ir embora. Ah, vai, vocês já perceberam pela mini- biografia que fiz aqui, que minha vida não é fácil, e ainda vem uma palhaça de uma irmã retardada querendo me provocar! Ah, faça-me o favor! Vocês fariam o mesmo no meu lugar a não ser que tenham problemas mentais! Têm! Ah sim, pensei...
Tá, tá eu exagerei no parágrafo passado... Tá vendo como eu esquento fácil... imagine quando...sem comentários, voltemos a cena deprimente.
- Lílian, tire o Baltazar de perto da Petúnia.- falou minha mãe simplesmente sem olhar nem pra mim nem pra Petúnia, entrando na cozinha e indo em direção ao fogão.
Eu rosnei alguma coisa incompreensível (É, eu rosno. Não vai ser a primeira vez que vocês vão me ver rosnando aqui, vou logo avisando! Na verdade é um resmungo, só que eu ainda acrescento uma caretinha, ai vira um rosnado), e rolando os olhos repousei minha colher em cima da tigela como se aquilo fosse um favor cansativo e dei dois tapinhas nas minhas próprias pernas e voltei a comer normalmente.
Baltazar automaticamente ronronou olhando estreitadamente para as mãos de Petúnia pela última vez e vindo em direção ao meu colo, deitando-se e aconchegando-se. Eu ri de leve, e continuei a comer meus cereais com uma mão e com a outra comecei a afagar atrás das orelhas dele com agradecimento.
Ah, como esse gato me entende. Vocês vão ver...
- Lílian, que horas você tem que chegar na estação?- perguntou minha mãe colocando uma cestinha de pães em cima da mesa.
- Hum.- eu murmurei terminando de engolir o que estava em minha boca e depois respondendo.- Dez horas, porque?- perguntei erguendo meus olhos para minha mãe e consequentemente vendo o relógio de parede.
Eram nove e cinqüenta e cinco. Eu engasguei com um pouco de cereal que tinha posto na boca e engoli-o rapidamente, pegando Baltazar com carinho pelo ventre e correndo em direção ao meu quarto falando:
- Eu to atrasada!
É, eu também falo coisas óbvias em situações óbvias.
Meu malão já estava pronto faziam horas. Eu apenas peguei a escova de dentes que estava no bolso da frente deste, e corri pro banheiro para escovar meus dentes muito rápido e depois voltar mais rápido ainda pra o malão, colocar a escova, colocar Baltazar numa cestinha e correr para baixo.
Chegando lá, meu pai, que é um santo em questão de horário (graças à Merlin!) já estava com as chaves do carro rodando entre os dedos e assobiando encostado ao corrimão da escada. Olhou para mim assim que fiquei de cara com ele. Olhou para os meus pés até minha cabeça.
Depois voltou a assobiar e olhar para o chão como se eu ainda não tivesse chegado. Eu bufei e peguei o casaco grosso de futebol americano que meu pai guardava até aquele dia e enfiei minha cabeça dentro, ficando totalmente assanhada depois de vesti-lo.
- Pronto?- perguntei, os cabelos assanhados, a cara meio vermelha graças a correria, e os braços abertos para que ele me inspecionasse.
Ele analisou cada detalhe do meu corpo e parou na calça.
- Essa calça Lílian... é nova? Está tão...- foi falando ele enquanto me virava.- Apertada... não acha?- perguntou.
Eu bufei novamente e já ia subindo para trocar a calça quando minha mãe me puxou pela manga do casaco.
- Deixe de exagero Peter, está ótimo, ela está indo pro colégio, não para um encontro de jovens sexualmente necessitados.- disse ela, ajeitando meus cabelos.
Meu pai fez uma cara de : "e não é a mesma coisa?" que fez ela rolar os olhos e sorri pra mim perguntando:
- Escovou os dentes Lilly? Você sabe que...
- Escovei mãe!- acrescentei logo antes que ela começasse a falar das conseqüências de quem não escovava os dentes.
- Escovou? – perguntou ela estreitando os olhos, como se duvidasse.
Eu respirei fundo pedindo paciência fechando os olhos. Quando abri, os estreitos e miúdos olhos da minha mãe continuavam a me encarar. Eu bufei pela o que?... terceira vez no dia, e abri a boca colocando toda a língua pra fora. Minha mãe deu sua verificada e depois sorriu mais docemente.
- É, escovou.- confirmou ela, me dando um abraço apertado em seguida.- Se cuide, não fale com estranhos, não aceite bebida dos outros, não coma nada que lhe ofereçam, não converse nas aulas, não perturbe,não brinque, não brigue, não...
- Respire?- perguntei num tom de voz brincalhão.
Se essa brincadeira fosse tirada pela Petúnia, provavelmente minha mãe não ficaria feliz já que o tom brincalhão dela é meio "venenoso", e ela pareceu perceber isso pois cruzou os braços e me encarava com uma cara de quem na primeira oportunidade arrancaria cada pedacinho meu com uma pinça.
Mas já que não fora ela quem falou, minha mãe riu levemente e depois me depositou um beijo longo na bochecha.
- Bom ano letivo filha.
Olhei nos olhos dela como costumava fazer antes de cada ano. Na verdade em várias situações a lembrança daquele olhar indescritível que me sustentava. E eu sentia, não sei como, que ele ia me sustentar por várias vezes durante este ano.
Sorri docemente para ela e depois virei pro papai:
- Vamos?- perguntei já agoniada batendo as pernas.
Ele também sorriu docemente e concordou com a cabeça abrindo a porta.
- Hey, porque a Lílian vai de carro e eu não? Aliás a estação que ela vai pra aquele local de anormalidades é daqui a dois quarteirões!- reclamou Petúnia já quase me impedindo de sair pela porta afora.
Eu fiquei estática. Era mesmo. Porque a Petúnia não ia de carro?
- Primeiro: Lílian tem obrigações de monitora, você não.- falou minha mãe afastando ela do meu caminho. Verdade.- Segundo: ela está atrasada, você não. – Também verdade.- Terceiro: toda vez a Lílian vai segurando este malão e a cesta do Baltazar andando para a estação sem reclamar enquanto você vai de carro, e este é o último ano da Lilly no colégio de Hogwarts então...
- Que seja.
Admito que este "que seja" da Petúnia me deixou arrepiada. Era um "que seja" amargo e cheio de ódio. Eu senti uma certa pena dela. É a coitada realmente não merecia tudo isso que estava acontecendo. E eu também não merecia toda essa atenção que eu estava recebendo. Tudo bem que tudo que a mamãe disse tinha sido verdade só que assim já era exagero.
Depois da sua fala amarga e cheia de ódio, ela se retirou pisando fundo e fazendo barulho com seu salto enorme plataforma.
- Mãe... não precisava... quero dizer...- comecei mas minha mãe interrompeu dizendo:
- Você está atrasada. Apenas vá...- e sorriu novamente.
Eu dei de ombros, e virei-me para a saída. Meu pai já estava dentro do carro. Olhei o relógio de pulso. Dez e dez. Corri.
Entrei no carro e não demorou nem dois minutos para chegar lá e eu agradeci aos deuses do tempo por isso.
Desataquei o cinto de segurança e quando já ia saindo do carro às pressas, senti a mão do meu pai firme no meu pulso.
- Hey mocinha, e não se despede do seu pai?- perguntou ele sorrindo.
Eu suspirei e vi o olhar do meu pai. Estava com os olhos marejados com algumas lágrimas. Eu senti um aperto de saudades no coração e sentei-me de volta no banco e o abracei demoradamente.
- Bom ano letivo, escreva pra gente e...- disse ele parando um momento para engolir em seco.- Faça boas provas.- terminou, me dando um beijo na testa.
Eu também tinha meus olhos um poucos aguados mas funguei longamente e consegui coloca-las para dentro, e dei um longo beijo na bochecha dele que apenas sorriu e pediu para que eu corresse.
E foi o que eu fiz. Peguei a cesta do Baltazar que estava no banco de trás junto com o malão e pus rapidamente em um carrinho que ficava à postos na frente do estacionamento e corri desabalada na direção das plataformas nove e dez.
Enquanto corria, meus pensamentos voavam pra tudo que estaria de volta assim que eu atravessasse a barreira. Deveres como monitora (agora triplicados por ser monitora- chefe), deveres escolares, rondas, aulas tediosas, aulas legais, amigos, amigas, inimigos, inimigas, marotos... (olha a feridinha que venho tentando evitar à séculos de pronunciar aqui nesse diário, pois é. Os Marotos. Contar a história deles iria ocupar trezentas paginas desse diário e minha querida mãozinha também, e ninguém merece ficar com a mão doendo por causa daqueles... enfim. Então vou resumir bem resumido: idiotas que desafiam a escola e suas regras por que não têm o que fazer. Ponto.)
Mas não foi preciso ir muito longe para começar a lembrar que as vezes o cotidiano de Hogwarts cansa.
Logo na frente da barreira entre as plataformas nove e dez, encontravam-se Lúcio Malfoy, Severo Snape e Régulo Black, encarando furiosamente de frente justamente quem? Os marotos.
Ok, ok, admito que eu esqueci de rezar varias vezes essas férias. Mas peraí né Merlin! Ou Deus, ou sei lá quem quer que seja... No primeiro segundo de alegria é fogo não?
Eu bufei e rolei os olhos e já fui andando em direção ao grupo. Encontravam-se três aliados de um lado e quatro do outro como se fosse um filme. Aliás todo meu dia-a-dia em Hogwarts é um filme. Eu passei no meio e perguntei com uma cara de tédio:
- Algum problema?- e parei no meio dos dois grupos.
Malfoy me encarou com uma cara de nojo assim como Snape e Black.
- Todos, sangue-ruim.- respondeu Malfoy erguendo o nariz como se fosse o dono do mundo.
Ok, deixem-me explicar minha relação com esses Sonserinos. Eu tento entender o lado deles sempre. Porque? Porque sou uma monitora que quer pagar de certinha? Não... simplesmente porque eu acho que eles são uns incompreendidos, coitados. Todos já formam uma barreira assim que ouvem a palavra: "Sonserina."
Ah, tem muita gente boa lá... quero dizer, tinha. Alguns bruxos que fizeram história por aí são de lá. Aliás eu não me ofendo nem um pouco com a palavra sangue-ruim. Até porque fala sério, nenhum bruxo nascido trouxa sabe o que isso significa. Acho que os próprios bruxos puros é que ficam ofendidos ou acham que estão ofendendo porque pra mim "sangue-ruim" e nada é a mesma coisa.
- E posso saber quais são todos?- perguntei, tamborilando os dedos no ferro do carrinho que eu conduzia.
Os sonserinos me lançaram olhares feios e depois se entreolharam. Pareciam estar se comunicando por olhares porque de repente eles foram indo embora um a um até que por ultimo ficou Malfoy que me lançou um olhar de profundo desprezo em direção ao casaco do meu pai do antigo time de futebol americano dele, que eu percebi naquele mesmo instante que ainda não tinha tirado, corando furiosamente. E depois saiu atravessando a barreira com os outros.
Bufei. Tudo bem eu protegia eles e só levava patada mas custava eliminar esse olhar de desprezo dos nossos "lindos" encontros?
- Grosso...- murmurei afastando um pouco o carrinho de perto de mim e tirando o casaco que já me trazia calor.
É, eu sou uma pessoa de extrema atenção as coisas principalmente quando estou com raiva de alguém. Lembrei dos Sonserinos. Esqueci dos Marotos.
Mas não foi nada que eu não deixasse de perceber por apenas alguns segundos porque no mesmo estante em que eu baixava meus braços já com o casaco em minhas mãos, ouvi um assobio atrás de mim.
Virei com os olhos arregalados e praticamente estática. Quando encarei-os Remo Lupin estava relativamente corado, com as mãos nos bolsos achando interessantíssimo os detalhes do seu malão, Sirius Black estava de braços cruzados( e como ele havia praticado quadribol aquelas férias...) e me olhando com uma cara maliciosa, Pedro Pettigrew apenas olhava ao redor comendo uma enorme barra de chocolate, e Tiago Potter... bem, Potter apenas me olhava.
O que eu vou esclarecer daqui a pouco o porquê de que isso ter sido uma surpresa.
- O que vocês ainda estão fazendo aqui?- perguntei, engolindo em seco e colocando o casaco em cima da cesta de Baltazar que miou baixo, reclamando, pois estava dormindo.
Remo murmurou um "Desculpe, vamos." E deslizou pela barreira rapidamente como se estivesse com medo de mim. Eu, estranhando o fato, olhei para baixo rezando para não ver nada demais. E não é que não vi nada demais mesmo? Simplesmente meu suéter era apenas colado. Ou o Remo exagerou (o que não era do feitio dele, pois sabia como amenizar uma situação constrangedora como ninguém), ou ele tinha algo errado, o que era mais provável. Prometendo pra mim mesma que iria conversar com ele assim que tivesse oportunidade, vi Black sussurrando um: "Bom dia Lílian." Do mesmo jeito que fazia quando cantava alguma garota.
O Black é um pedaço de mau caminho. Um BOM pedaço de MAU caminho. Mas eu não me abalo com as cantadas desse idiota (nossa Lílian porque tanto ódio do Black? Simples: ele é um cara de pau disfarçado e que já fez minha amiga sofrer amargamente... mais detalhes dessa historia mais a frente) porque além de ele colecionar menininhas como troféus ele me "canta" todo dia... então, já estou exausta da farsa desse... animal.
Pedro percebeu que Remo e Sirius já tinham ido e correu atrás de Sirius que dos quatro era seu maior "ídolo", já que os quatro eram no fim da história. Ficaram apenas eu e o Potter de frente à plataforma nos encarando.
Foi uma situação bastante embaraçosa ficar com o Potter sozinha. Por que simplesmente eu não tinha ido embora, eu fiquei lá também o encarando. Isso tornou a situação mais que embaraçosa. Ficou quase constrangedora.
Bem, acho que já está mais do que na hora de eu contar uma mini- história (e é mini mesmo porque estou com uma preguiça doentia de escrever tudo), sobre minha relação com os Marotos.
Bom, primeiro ano quando cheguei dividi o barquinho que ia deslizando pelo Lago Negro de Hogwarts com três garotos. Quem? Remo, Black e Potter.
Black e Potter pareciam já ter se conhecido antes de entrar na escola, mas já trataram de se enturmar com Remo pois pareciam que queriam se enturmar com a maioria das pessoas do castelo, e daí já começaram a conversar como se fossem amigos à séculos pois acharam vários gostos em comum pelo decorrer da conversa.
Eu, fiquei quietinha no meu canto, como sempre, mas como toda criança de apenas onze anos, (reparem bem tá gente, ONZE anos, para que vocês não me julguem mal ou coisa assim) eu bati no pé de um (Remo) que estava ao meu lado para que eles me dessem atenção e fiquei esperando.
Não foi preciso esperar muito, pois Black no segundo seguinte já lançava uma cantada barata pra cima de mim. (Volto a frisar a idade dos indivíduos no local para que vocês vejam como o garoto era precoce. ONZE ANOS), e Potter o ajudava.
Mas Potter era diferente. Quero dizer, Potter sempre foi diferente. Todo santo dia ele me pedia para sair. Eu não odiava isso, não no começo. Aliás no começo... sempre tive uma certa paixonite pelo Potter. Ele tinha um jeito especial de atrair as garotas. Não era como o Black que só era conhecido pela sua beleza. Ele cativava por sua beleza, pela sua atitude e por sua popularidade. A partir do quarto ano comecei a ter coragem e comecei a "dar mole" para ele.
O que aconteceu depois que mudou toda a história. Eu ia caminhando por um corredor (isso numa época na qual eu e ele quase namorávamos) até que ouvi risadinhas por detrás de uma pilastra. Era o Potter com uma garota. Como qualquer uma no meu lugar, me aproximei e tentei ouvir o que era falado para gerar risadinhas. Algo como exatamente "Ah não Tiago você está saindo com a Evans..." e um "Esqueça a Evans por hoje... vamos nos resolver..." foi dito e eu só me lembro que corri para o meu dormitório me esbarrando em varias pessoas graças ao rio de lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
Depois disso, no ano seguinte (este fato ocorreu no fim do ano letivo), fui nomeada monitora da Grifinória junto com Remo Lupin e comecei a marcar serrado os Marotos, que já eram marcados pelos outros monitores que haviam deixado Hogwarts e achavam que iam ter sossego comigo e com Lupin, amigo deles, na monitoria. Ledo engano. Meu ódio pelo Potter veio junto com minha maturidade para ver como injusto e irresponsáveis eles eram ao "brincar" com certos Sonserinos e pessoas que eles marcavam.
No começo eu ria de todas essas situações assim como os outros que assistiam as cenas. Agora eu é que chegava de cara vermelha e os mandava direto pra sala da Profª. McGonagall.
Mas por incrível que pareça, mesmo o Potter sabendo o que me fez ficar irada com ele de uma hora para outra, mesmo assim, ele continuou me chamando para sair. E aí percebi o quão cínico esse ser era e ainda é. E o pior, ainda pedia com um sorriso do tamanho do mundo, bagunçando aqueles cabelos dele que nunca estão penteados, e piscando o olho tão castanho esverdeado quanto seu par. Aí que o bicho pegou dentro de mim e eu comecei a ter mais ódio ainda (se possível) por ele.
Enfim, o resumo da história é esse. E ele continuou até esse dia me chamando para sair cinicamente, e eu lhe dando patadas e saindo assim que nem me dessem oportunidade.
E aí, perceberam o porque de eu ter ficado tão sem graça agora? Mas porque diabos eu tinha ficado lá e não ter saído ao lado do Remo sem pensar duas vezes! Era o que eu me perguntava e ainda me pergunto.
Fiquei encarando ele até que algo desastroso- estranho aconteceu. Eu comecei admirar a... beleza do Potter.
"Eu só posso estar ficando... louca..." dizia pra mim mesma enquanto observava os cabelos como sempre despenteados, os olhos que pareciam quase verdes, o físico que tinha ficado muito mais másculo e o tamanho? "Merlin, ele deve ter crescido no mínimo.. dez centímetros", pensei ao mesmo tempo que admirava seu maxilar relativamente largo e seus ombros perceptivelmente largos.
Claro que eu sou uma pessoa muito discreta pois o admirei sem que ele percebesse, estreitando os olhos como se estivesse com raiva dele.
Sou ótima atriz. Anote no seu caderninho.
Mas ele pareceu ter percebido de alguma forma. Não sei como, porque eu realmente finjo bem. E então deu um sorrisinho de lado, e saiu deslizando pela barreira me dando as...
"PERAÍ, PARA TUDO! O POTTER ME DEU AS COSTAS! O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI AFINAL! VÁ LÁ LÍLIAN E FALE COM ESSE RETARDADO PARA QUE ELE NUNCA LHE DÊ AS COSTAS AFINAL..." mas o pensamento me foi morrendo a medida que eu me dava conta do relógio que ficava pendurado em cima das plataformas.
Dez e meia e eu ainda estava lá, plantada na frente da barreira, com cara de idiota. Então pigarreei e balancei a cabeça para os lados como se espantasse algo e empurrei o carrinho com força e deslizei.
Um segundo de olhos fechados e ai tudo entrou em foco.
A locomotiva vermelha já espirrava fumaça graças ao aquecimento dos motores, e os alunos já faziam algazarra para pegar o melhor vagão. Respirei fundo aquele ar que me trazia boas lembranças para tentar espantar a confusão que estava a pouco na minha cabeça.
Depois segui em frente até que alguém esbarrara comigo.
- Olha por onde anda...- eu ia dizendo até que quando me virei vi quem era.
Típico.
- Oi Lua.- falei sorrindo de leve e ajudando a pegar a revista que ela derrubara no chão.
Bem, deixe-me explicar rapidamente minha amiga fisicamente: loira, extremamente loira, olhos azuis profundos que carregam SEMPRE eu digo SEMPRE um ar avoado, não muito baixa nem muito alta e seria considerada até uma das mais belas garotas de Hogwarts se não fosse seu descaso para com as roupas que eram altamente relaxadas e folgadas, e com seu cabelo que vivia bagunçado, assanhado e mal preso. Mas eu continuo achando ela bonita do mesmo jeito, apesar dos pesares. Ah, vale ressaltar os brincos em formato de cenoura que ela trazia as orelhas, SEMPRE.
- Ah, olá Lilly!- cumprimentou ela, sua voz macia como sempre, e me abraçou brevemente apanhando sua revista em seguida e andando lado a lado comigo.
Não é que a Lua não seja carinhosa. Pelo contrário, ela é até demais de vez em quando, mas é sua personalidade que dá a louca nela. Bem, fica difícil pra explicar com palavras. É melhor vocês mesmos verem com o dia-a-dia.
- Como foram as férias?- perguntou ela abrindo a revista O Pasquim e começando a folheá-la.
- Boas, e as suas?- respondi enquanto virava o carrinho dela para o canto esquerdo já que ela folheava a revista e não vira o conjunto de alunos do segundo ano correndo paralelamente à nós.
- Espantosas.- respondeu ela, do seu jeito, virando uma página como se nada tivesse acontecido.
- É melhor você ler essa revista quando estivermos lá dentro Lua, ou você pode esbarrar em... alguém!- falei enquanto virava, dessa vez com mais força, o carrinho pois outro grupo de alunos vieram correndo só que mais rápido.- Aliás, você não está lendo aquela revista viajada de novo não né?
Pronto, foi mal encontrar com minha amiga que falei uma besteira. Mas eu juro que eu tinha esquecido naquela hora que quem ofende o Pasquim, ofende a Lua. Ela não tem ligação nenhuma com alguém que trabalhe na revista ou algo do tipo, mas ela simplesmente se ofende ( e olhe que até hoje é a única forma que faz com que ela se ofenda). Ela me olhou de forma desafiadora e depois fechou a revista continuando a andar só que dessa vez mais rápido e mesmo olhando para frente, esbarrou em um aluno o fazendo cair.
O estardalhaço fora imediato. O garoto era apenas do segundo ano mas agia ousadamente. Se levantou com raiva e começou a gritar com Lua que apenas encarava o menino com um ar de paciente mãe.
- Ai, ai Lua...- murmurei comigo mesma e segui em direção a confusão. Me aproximei e falei:- Você.- e apontei para o garoto.- Baixe a bola e pare de gritar por favor.
- Mas essa Lunática esbarrou em mim!- berrou ele fazendo com que os presentes aglomerados rissem. Este era o apelido da Lua no colégio.
- Eu sei e ela vai pedir desculpas não vai... Lua?- pedi pacientemente sussurrando um "Me desculpe." Em seu ouvido.
Ela olhou para mim com o olhar desafiador de antes mas de repente ele mudou para um olhar sorridente- avoado e ela disse:
- Oh, sim. Desculpe aluninho... eu não tive a intenção está bem?- falou ela como se falasse com um bebê.
O garoto inchou feito um balão e quando ia gritar novamente lancei meu olhar repreendedor e ele saiu bufando e xingando Lua ao lado dos colegas.
Adoro o poder do meu olhar. Claro que meu distintivo de monitora- chefe ajuda. Bastante. Mas não importa. Meu olhar é fatal...
Voltando...
Encontrei Remo na minha frente orientando alguns alunos do primeiro ano, e me lembrei de que deveria estar fazendo o mesmo e pedi a Lua que levasse minhas coisas para o vagão e comecei a ajuda-lo.
Ele me olhou brevemente, corando como na situação anterior na qual nos encontramos, e prosseguiu ajudando os calouros, dessa vez com minha ajuda.
Eu não conversei muito com ele no início, mas quando já estávamos dentro do trem nos preparando e verificando alguns pergaminhos de orientação para os novos monitores, eu puxei (do jeito beeeem indireto que eu costumo falar):
- Remo... aconteceu algo com você estas férias?- perguntei, sentada ao seu lado, enquanto ele lia rapidamente me passando alguns papéis.
Neste momento, ele arregalou os olhos para a burocracia, depois olhou para mim, nervoso, tossindo levemente.
- N- não... por que Lílian?- gaguejou ele , engolindo em seco.
Eu estranhei (discretíssima), franzindo a testa e olhando para ele significante.
Ele pareceu reparar meu olhos indagadores e voltou a ler os papéis me respondendo simplesmente:
- Eu apenas... estive preocupado... você sabe... Voldemort e tudo...- falou ele arrumando os pergaminhos com um aceno de varinha, os fazendo fechar e ficarem amontoados numa mesinha que ficava no centro do vagão.
Eu suspirei e me deixei cair no banco. Voldemort. Meu segundo maior problema (depois dos Marotos).
É um bruxo que surgiu há uns dois anos atrás que contém milhares de seguidores (Comensais da Morte) e que aterrorizam a comunidade bruxa, tentando eliminar os sangue-ruim (como eu), e matando quem se opor e ficar em seu caminho. Basicamente é isso. Mas eu acho que hoje em dia o propósito dele não é apenas eliminar os sangues-ruins... Ele quer mesmo é "conquistar o mundo" e que todos sirvam a ele.
Bem, com isso, ele anda recrutando todos para serem Comensais e matando também quem ele sabe que é uma grande ameaça para ele. O problema é que nem todos aceitam servi-lo e ele simplesmente faz o que? Mata. Tortura. Escraviza. E coisas ruins reticências.
Um infeliz. Na minha opinião.
Mas ele ainda estava numa fase de ameaças à imprensa e poucos ataques. Mesmo assim a sociedade ficava cada vez mais aterrorizada. O medo vivia e ainda vive conosco. Espero que fique só nas ameaças mesmo...
Voltando a situação. Remo piscou os olhos várias vezes torcendo as mãos sentado, esperando que o trem começasse a andar e os monitores entrassem na cabine.
Devo confessar que ele ficou bonitinho fazendo isso. Todo ano era assim, só que antes ele era monitor e ele que recebia as informações. Hoje, ele era o monitor-chefe. Eu e ele. Engraçado não? Eu não estava nervosa... e ele sim. Eu, a emocionalmente desequilibrada, e ele, o pacífico e temperante. A situação nos transformou.
Mas não que eu estivesse me apoiando no Remo... De jeito nenhum! Mas me diga, o que poderia dar errado? Eu apenas tinha que dar as informações que eu li no pergaminho e só... Realmente, algo transformou o Remo nessas férias.
Neste exato momento que pensei nisso, o trem deu um solavanco e começou a andar. Eu me ajeitei no banco e cruzei as pernas colocando as mãos entrelaçadas em cima do joelho. O Remo estava com os braços para trás andando de um lado para o outro.
Sinceramente, se ele continuasse assim, ao invés de passar tranqüilidade para os monitores iria passar nervosismo e mostrar como nosso trabalho é difícil e muitas vezes tedioso.
- Remo... pára!- falei puxando ele pela manga o fazendo sentar ao meu lado.
Ah, apenas uma explicaçãozinha...
Você me pergunta:
Lílian, você odeia os Marotos com todas as suas forças, mas vale lembrar que o Remo Lupin é um deles... Porque você gosta dele e o chama de Remo?
Eu respondo:
Porque ele é o mais consciente dos quatro, ele é legal, já me ajudou com alguns deveres de DCAT, e bem sendo amigo de um deles é um pouquinho( repito, POUQUINHO) mais fácil de controla-los.
Voltando novamente...
Ele sentou-se e murmurou um: "Desculpe" fraco e continuou torcendo as mãos sentado.
Até que entrou um grupo de monitores novos. Eu e Remo nos levantamos rapidamente cumprimentando todos, apertando suas mãos. Eu não conhecia nenhum deles, nem o Lupin. Por isso começamos a passar as informações mais devagar, e sendo interrompidos poucas vezes.
Na verdade se eu achava que trabalho de monitor já era puxado (como, conduzir os alunos do primeiro ano para os dormitórios, fazer rondas a partir das nove da noite até à meia-noite, evitar produtos perigosos e de brinquedos e confisca-los, levar os "delinqüentes" ao diretor de sua respectiva casa e etc.), era porque eu não sabia metade do trabalho dos monitores-chefes.
Nós teríamos que além de fazer todo esse trabalho antigo, nossas rondas agora iam até duas da madrugada (eu odeio fazer rondas, não que eu tenha medo de escuro, mas é realmente chato, solitário e dá um pouquinho de medo sim, afinal, estamos num castelo cheio de quadros falantes oras!), fazer um relatório toda semana das pessoas mais "provocadoras de problemas" do castelo inteiro! (Isso inclui todas as criaturas que aqui existem, com exceção dos professores óbvio, contado com: Pirraça que provavelmente iria toda semana para o relatório, Hagrid que por mais que seja doce e eu o ame, ele trás muitos probleminhas com seus bichinhos de estimação, e até mesmo o próprio Filch que bem.. é um amor de pessoa, um amor de zelador!), fazer pesquisas dos brinquedos e objetos que trariam complicações para escola e mandá-los para o Filch indo a sala dele (o que não é nem um pouco agradável), podíamos mandar os "delinqüentes" em detenção com um pequeno porém, nós que iríamos vigiar e bolar a detenção( fiquei feliz e triste por esse daí. Feliz porque mandar detenção para os Marotos e ESCOLHER o que eles iriam fazer, é um dos meus sonhos de consumo. E triste porque EU que teria que vigia-los se fosse o caso.)
Bem, isso, mais um bocado de burocracia que se seguia bimestre por bimestre como reclamações e dicas que iriam dos alunos até os professores e que nós (eu e Remo) teríamos que levar diretamente ao Dumbledore.
Ufa... eu sinceramente fiquei cansada só de ler o pergaminho. Mas... enfim... é a vida.
Depois de umas três horas de reunião, nós dispensamos os novos monitores (que saíram com uma carinha de dar pena, com os ombros caídos e dois deles começando a fazer rondas nos corredores), eu me espreguicei longamente e Remo caiu no banco deixando a cabeça pender para trás.
- É... e é só o começo do ano.- comentei, sentando ao seu lado e deixando minha cabeça cair para trás também, ficando com a cabeça quase colada a dele.
Não que isso tivesse significado nenhum, aliás eu gosto do Remo muito... Como amigo! Claro...
- Lílian.- falou ele tomando coragem, pigarreando, voltando a se sentar normalmente e me encarando.
Eu sorri de leve.
- Será que estou prestes a ouvir o que andou realmente lhe incomodando desde que chegou?- perguntei, o fazendo corar um pouco.
O semblante dele era sério. Eu ri e depois, vendo sua face fiquei séria também erguendo a cabeça.
- É... me desculpe por ter agido com você dessa forma desde que você chegou.- disse ele a voz, pela primeira vez firme como do antigo Lupin, e o semblante mais tranqüilo.
Eu sorri calmamente colocando uma mecha dos meus cabelos que caiam sobre minha face, para trás da orelha.
- Que nada Remo... mas eu realmente queria saber o que aconteceu para você ter agido de tal forma...- falei o olhando nos olhos.
Eu falo assim com todo mundo. Tenho essa mania. Antes que vocês pensem errado... Quando converso algo sério, ou algo entre amigos, costumo olhar fundo nos olhos das pessoas. Para mim aquela velha frase está certa: "Um olhar fala muito mais que mil palavras."
Ele percebeu que minha conversa era séria e amigável e falou:
- Bem, eu não menti na hora que falei sobre Voldemort..
- Mas também não era só isso.- completei por ele.
Ele suspirou deixando os ombros caírem ao expirar.
- É... não era.- falou encarando agora o chão e torcendo as mãos.
Mas não foi preciso ele falar algo ou explicar mais nada, eu já sabia o que era...
- É sobre o ano passado não é?- perguntei baixando um pouco minha cabeça e voltando a encarar seus olhos.
Remo me olhou, e seu olhar era algo como culpa e sofrimento.
- É.- afirmou ele.- Eu realmente me arrependi todos os dias das minhas férias por não ter agradecido a você Lilly, a ajuda que me deu ano passado...- falou, voltando a encarar o chão.
"Eu bem que desconfiei" pensei, enquanto me sentava ereta novamente e o olhava sorrindo. Ah, o Remo é realmente uma peça! Não acredito que ele estava se culpando por uma besteira como aquela!
Bem, só esclarecendo.
Ano passado eu, com minha teimosia incrível, queria porque queria descobrir o que tanto o Remo tinha na família para viajar de mês em mês. Mas bem, teve um dia em que essa curiosidade aumentou pelo fato de que Black e Potter sussurravam um para o outro que "o dia da diversão estava chegando" justamente perto da época em que o Lupin iria viajar. Eu, que estava louca para saber o que era a diversão e também em favor da minha amizade com o pobre coitado amigo dos dois, ouvi a conversa inteira e consegui ouvir o dia, a hora e o local em que eles iriam se encontrar. Fui lá e bem... não era bem o que eu pensava.
Eu descobri que Lupin era, ou melhor, é...um lobisomem. Bem, no começo essa idéia soou arrepiante para mim também, mas depois eu vi o quanto ele sofria com isso. Fiquei estática durante uma noite inteira nos jardins do colégio pois descobri que lá era onde o Remo ficava (ele não viajava), só que ele entrava numa árvore chamada Salgueiro Lutador, que eu não consegui entrar. Ao amanhecer quando ele saiu rapidamente para tomar um ar do lado de fora (já humano novamente), ele me viu.
No começo ele ficou com raiva e os Marotos também já que era um segredo que só eles sabiam. Mas com o passar do tempo tudo voltou ao normal e o Potter continuou a me chamar para sair(já que ele havia parado durante esse tempinho), Black a me cantar ridiculamente(embora eu recebesse umas ameaçazinhas de que se contasse algo para alguém sobre aquilo eu estava morta) e Remo a conversar comigo só que mais frio que o normal. Não muito, mas comparado a antes com certeza.
Então eu deduzi que ele talvez estivesse pedindo desculpas por aquele comportamento dele, mas eu não entendi a parte da ajuda...
- Sim... mas... o que você quis dizer com..
- Ajuda?- interrompeu ele, já deduzindo.
Eu ri de leve e depois voltei meu semblante curioso colocando as mãos entre as pernas.
- Bem... você me ajudou, e ainda me ajuda bastante Lílian.- disse ele vagamente, encarando do chão à mim.
Minha expressão de confusão piorou e ficou tão engraçada que ele soltou uma risadinha pelo nariz. Eu não consegui acompanha-lo porque eu estava muito curiosa para isso.
- Com o quê...exatamente?- perguntei encorajando-o a falar tudo de uma vez.
Ele respirou fundo e me encarou de frente, as costas erguidas.
- Meu maior medo Lilly, de que as pessoas saibam, é de que elas se afastem de mim, ou mudem suas atitudes comigo por causa... disso.- falou ele, tentando achar as palavras certas para definir seu problema.
Eu aliviei um pouco a face de curiosidade e confusão, mas deixei o suficiente para ele tomar coragem novamente e completar:
- E com você foi totalmente diferente.- explicou corando de leve.- Você, embora não tenha falado muito comigo até porque eu que não te dei chance, você continuou e continua me olhando como sempre.. como se nada tivesse acontecido, e como se perguntasse o que aconteceu de tão grave para eu mudar com você! Como se aquilo não fosse nada demais... entende?- perguntou hesitante da minha resposta.
Eu fiquei extremamente corada nessa hora. Quis ser um avestruz e enfiar minha cara no buraco mais próximo. Você também ficaria se um garoto estivesse falando isso que o Remo falava comigo nessa hora! É praticamente uma declaração!
Tudo bem, desconsideremos o fato de que as vezes eu não sei interpretar certas coisas que as pessoas dizem...
Mas acho que ele não achou isso o suficiente e ainda falou mais:
- Isso tem sido uma ajuda para mim Lilly... isso... basicamente... é o que... me encoraja... as vezes... sabe...?- falou ele totalmente embaraçado agora.
Ok.
Quem não considerar isso uma declaração... precisa de atendimentos médicos! O Remo tava se declarando para mim ou era impressão minha!
Eu deixei o queixo cair por puro impulso. Juro! Foi impulso! Não fiz isso calculado. Ficou patética essa atitude minha na hora. Bem, enfim...
- Er... então... – tentei falar, mas minha voz saiu grossa.
Se a situação não fosse tão embaraçosa ele teria rido de mim e do jeito que sou uma pessoa equilibrada também teria rido. Acho que o nervosismo me deixou rouca. Minha cabeça raciocinava lenta demais... ele ainda estava olhando para mim esperançoso para que eu falasse algo que nos tirasse daquele silencio que por mais incrível que parecesse já demorara fazia no mínimo uns dez minutos.
Até que de repente, uma batida fez com que a porta da cabine fosse aberta com força.
Eram o resto dos Marotos, seguidos atrás por Alice e Lua. Nós que provavelmente não ouvimos eles se aproximarem, ficamos nos encarando estáticos, eu de queixo caído e ele torcendo as mãos de frente a mim, e depois de um minuto inteiro nós percebemos os outros presentes e olhamos para eles.
Todos tinham uma face contorcida em curiosidade. Lua e Alice tentavam enxergar por cima dos ombros dos altos garotos(me refiro à Black e Potter porque Pettigrew é praticamente um anão), Black tinha os braços cruzados e seu olhar era malicioso e eu juro que eu vi ele piscar maldosamente para Lupin que apenas corou mais (se possível), Potter tinha o cenho franzido e olhava de mim para Remo como se esperasse uma resposta.
- Er... com licença!- pediu Alice por detrás de Sirius, o cutucando no ombro e passando ao seu lado mesmo não dando tempo de ele abrir espaço para ela.- Lílian, que saudades!- disse ela, abrindo os braços e me abraçando em seguida.
A Alice é uma pessoa que faz coisas que não tem nada a ver com a situação frequentemente. Então, lembre-se disso. Bem, descrevendo rapidamente Alice para que você possa pinta-la na cabeça: cabelos castanho- escuros lisos com uma franja reta, assim como seus olhos também escuros, rosto arredondado, um sorriso cativante provocando covinhas e um corpo consideravelmente bonito. Dois centímetros mais alta que Lua, dois centímetros mais baixa que eu. Muito bonita na minha opinião. Black apenas não havia tentado nada com ela porque esta tinha um namoro firme já havia um ano com Frank Longbottom, amigo dos Marotos.
Bem, depois do abraço seguiu-se mais um momento de silencio na qual Alice me encarava com um sorriso do tamanho do mundo, e todos ainda encaravam a mim e ao Lupin curiosos.
Até que alguém, que eu não imaginei que fosse ela, falou:
- Lilly, nós não íamos ter uma conversa séria sobre Mini-Pufes?- perguntou Lua, ainda detrás de Potter, com sua voz melosa e seu semblante totalmente fechado numa interpretação forçada.
Tá, não era bem a frase que eu esperava que me salvasse da situação crítica. Mas já foi alguma coisa né! Ao contrário da lesa da Alice e os ridículos dos Marotos que não faziam nada. É! Fiquei com raiva!
- Sim... er... quero dizer... sim, claro, Lua!- falei, no começo a voz ainda rouca, mas depois pigarreando a voz voltou ao normal. – Era mesmo!- acrescentei saindo da cabine puxando Alice pela manga, mas sendo impedida por Black que se pôs na minha frente colocando aquele peitoral forte... hum! Ou melhor... aquele tronco enorme e brutal na minha frente, bloqueando a minha passagem.
- O que estava acontecendo aqui Evans?- perguntou ele, um sorriso maldoso no rosto.- O que estava acontecendo aqui para o Aluado estar assim... sem graça? O que você fez pra ele?- repetiu ele persistindo.
No começo eu achava intrigante esse apelido do Remo... Aluado. Mas depois daquela situação, eu entendi, obviamente. Daí deduzi que cada apelido tinha uma ligação...
Mas ou eu estava errada ou o Sirius é um tremendo "Almofadinhas", o Pettigrew tem tendência a ser um "Rabicho" e o Potter... bem, o Potter deve levar umas belas de umas "Pontas" para ter esse apelido!
HAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHHA!
Eu acho essa piada altamente engraçada e não canso de contar para as meninas que já encheram dela... ah! Mas vai, é engraçado não é? Ri comigo!
HAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAH!
Ai, ai... tá bom... passado o surto... voltemos a situação.
- Eu!- falei indignada.- Eu fiz algo para o Remo! Ah, vai se catar Black que eu tenho mais o que fazer! Se fosse ou você ou o Potter...
- Eu não te provoquei nem nada Evans.- falou o Potter agora também de braços cruzados.
- Que seja!- disse, indignada demais para começar a brigar com o Potter.- Pergunte ao Remo primeiro ao invés de ir logo me julgando Black! Agora, me dê licença!- e empurrei-o para o lado passando com Alice sendo puxada por mim.
"Até que enfim..." pensava enquanto ia arrastando Alice para meu vagão que por curiosidade nem eu sabia qual era. Virei para Lua e ela, que estava de novo absorta no Pasquim, percebeu que nós tínhamos parado no meio do caminho e ergueu os olhos sonhadores.
- O que houve?- perguntou ela, parecendo até que estava cantando de tão melosa sua voz.
Eu bufei e a Alice rolou os olhos, rindo.
- Onde é nosso vagão Lua?- perguntei, voltando a ter a velha paciência com minha amiga, me encostando na parede do corredor e rindo com Alice.
Ela sorriu, e começou a girar no meio do corredor. Eu franzi a testa rindo, e Alice gargalhava. Até que a loira parou e apontou para dois vagões adiante à esquerda e nós fomos até ele.
Não era.
Lua girou de novo e apontou outro mais a frente. Fomos. Também não era.
Ficamos nessa até chegar uma hora que eu não agüentei mais e perguntei, sem rir:
-Lua meu amor, porque você nunca lembra onde fica nossa cabine?- e então suspirei cansada.
Alice também já não tinha o mesmo ânimo do início e começou a girar a varinha entre os dedos encostada na parede do fim do trem até que seu namorado, Frank, apareceu em uma cabine no começo da locomotiva e pondo a cabeça para fora falou:
- Lilly, Lua, Lice... aqui!- chamou ele, acenando para nós.
Eu olhei para a Lua com uma cara de: "é, estávamos quase lá!" irônica, e fui em direção a cabine seguida por Alice sorrindo radiante para o namorado e Lua como se nada tivesse acontecido e apenas estivesse nos seguindo como sempre.
Chegando lá eu abri mais a porta e entrei como um tufão me deitando praticamente no banco inteiro.
Lua chegou por segundo, sentando-se num cantinho no qual eu havia deixando livre, encostando-se totalmente na janela, e Alice chegou depois trocando alguns beijos com Frank na entrada da cabine e depois sorrindo abobalhadamente para ele que correspondia pior que ela. Eu bufei e fiz cara de nojo, pigarreando para que eles parassem de melosidade e se sentassem logo.
Lua suspirou e disse:
- O amor é lindo...- não! Aí ela cantou, tenho certeza!
Eu, que agora tinha a cabeça para fora do banco, ficando de cabeça para baixo e deixando meus cabelos roçarem no chão, falei:
- É lindo e desocupado... sem ofensas!- acrescentei erguendo as mãos para cima me inocentando.
Alice que se sentara grudada em Frank, me olhou estreitando os olhos e sorrindo.
- Lilly, ainda esse ano você desencalha!- comentou ela, puxando risos de Frank e de Lua que lia avidamente.
Eu dei língua para ela arrancando mais risadas e continuamos o resto da viagem sem mais nenhum imprevisto.
Chegamos na estação de Hogsmead, e eu desci na frente, indo auxiliar os calouros para seguirem Hagrid.
Depois de uma meia hora fazendo esse trabalho que é muito chato (já que existem uns novatos que pelo amor de Deus, não sabem o que é esquerda nem direita! E outros tremiam tanto que mal conseguiam se mover e eu tinha que empurra-los!), fui com Lua, Alice e Frank para uma das carruagens guiadas por cavalos invisíveis, e seguimos em direção ao castelo.
Eu olhava pela janela da carruagem que seguia pelo caminho enlameado, o castelo e suas luzes e preparações para dar boas-vindas não só para os novatos e também para os que voltavam. Senti um nó na garganta. Naquele exato momento a ficha caiu maior e mais pesada do que nunca. Nós nunca mais íamos voltar à Hogwarts.
Isso pareceu afetar também os outros, até mesmo Lua. Todos olhávamos para Hogwarts, se aproximando cada vez mais, com os olhos tristes e engolindo em seco. O queixo de Alice tremia (ela é altamente sensível) e Frank a abraçava com mais força impossível, cheguei até a perguntar depois se os abraços dele não esmagavam os ossos. Lua tinha o ar mais viajado de todos. Olhava com tristeza e balançava a cabeça devagar positivamente como se concordasse com um discurso invejável.
Eu também senti meus olhos marejarem, então respirei fundo e tratei de olhar para o chão da carruagem, fungando forte. Realmente, Hogwarts era uma segunda casa, e em alguns casos, a primeira.
Seguimos em silencio, tristes demais para conversar algo, e quando chegamos, descemos ainda em silencio, apenas se pronunciando para ajudar a descer.(Frank nos ajudou já que o chão estava totalmente enlameado).
Ah, já disse como é a relação da gente com o Frank? Acho que não...
Pequeninas explicações:
O Frank é um rapaz que parece muito mais irmão da Alice do que namorado. Não porque eles sejam frios um com o outro, pelo contrario, é uma melosidade só! É fisicamente mesmo. O Frank tem um rosto arredondado (que nem da Alice), os cabelos castanhos escuros (que nem os da Alice) só que curto mas ainda lhe caíam sobre os olhos, olhos também castanhos (que nem os da Alice), um sorriso largo e bonito seguido por covinhas dos dois lados das bochechas ( olha que coincidência! Igualzinho ao da Alice!). Ele é extremamente atencioso e carinhoso, não só com ela, mas por incrível que pareça, comigo e com a Lua também. A Alice não tem ciúmes porque diz que confia nele. No começo eu desconfiei (aliás o rapaz é amigo dos Marotos oras bolas!), mas ele pareceu que só queria ser amigo mesmo. Eles são tão parecidos que gostam da mesma comida, da mesma bebida, do mesmo estilo de roupa, dos mesmos filmes trouxas, e são bons na mesma matéria: Herbologia. Sinceramente, as vezes me dá um enjôo isso! Não sei se eu conseguiria viver com uma pessoa que a mesma marca de pasta de dente é igual! (Apesar de que minha mãe adoraria esse tipo de genro...)
O tempo do Frank é dividido entre a gente e os Marotos. Se ele não andasse com freqüência conosco, ele seria um dos Marotos com certeza. Mas graças a Deus, ele anda com a gente e é uma pessoa salva! (É o que costumo dizer, fazendo com que a Alice me lance um olhar de assassina).
Frank Longbottom e Alice Chains, o casal perfeitinho de Hogwarts. Sendo seguidos por Lílian Evans e Lua McMoony, seguradoras oficiais da vela mais florida e cheia de babadinhos de toda a escola! Olha que fama linda, eu tenho hein!
E são eles que me seguem! Mas tudo bem!
Descemos das carruagens e seguimos direto para o Salão. Assim que entramos neste, parece que algum feitiço da alegria incendiava o local, porque instantaneamente colocamos sorrisos nos rostos e fomos em direção à mesa da Grifinória, conversando alto que nem os outros e nos sentando rindo e brincando.
Éramos todos da Grifinória e então passamos a maior parte do tempo conversando na sala comunal na falta do que fazer e para se ajudar nos deveres e trabalhos era bem mais fácil. A única coisa ruim de ser residente desta casa que amo tanto (e to falando sério!) são... quem! Os Mer... Os Marotos. Infelizmente, também residem lá! (Infelizmente com exceção do Remo, claro). Mas não sabia se ia ser tão bom ter o Remo na minha casa a partir de agora, ia ficar tudo bem constrangedor...
Dumbledore ergueu-se de sua cadeira depois que todos se sentaram, inclusive os novatos depois da Seleção, e falou com sua voz acolhedora e seu braços abarcando todo o Salão:
- Bem-vindos, bem-vindos mais uma vez à Hogwarts aos antigos, e bem-vindos pela primeira e espero que mais seis vezes os novos!- sua voz ecoou por todo salão e eu confesso que senti um breve arrepio... as vezes Dumbledore me traz uma paz tão... assustadora!
- Bom, esse ano infelizmente não temos nada de novidade o que não deixa Hogwarts menos interessante pois aqui há tanta coisa para se explorar que vocês nem imaginam... e há quem confirme...- e olhou significativamente para os Marotos. Eu funguei. Eles riram.- Bom, o sr. Filch mandou-lhes avisar que são proibidos todos os artigos de brincadeiras maldosas como Fresbees-Dentados, Bombas de Bosta e etc., e vários outros que se encontram na frente de sua sala ou podem ser lembrados pelos novos monitores-chefes.- e indicou Remo e eu com a mão esquerda.
Fiquei roxa de vergonha. Não gosto de ser chamada a atenção no meio de uma multidão. Principalmente quando essa multidão reside em Hogwarts... essa multidão é extremamente curiosa. Viraram todos as caras grandes para mim me deixando confundir com meus cabelos facilmente. Olhei para Remo. Sua expressão era serena e ele olhava para o diretor normalmente, embora um leve sorriso transpassasse em sua face. Remo e sua temperança... ele voltara a ser como antes agora.
Inspirada pelo gesto do meu amigo, eu respirei fundo e olhei da mesma forma para frente. É deu mais ou menos certo, se eu não estivesse me balançando tanto sobre as pernas que pareceu mais que eu estava dançando do que estivesse sendo modesta.
Bem, o resto do discurso de Dumbledore foi seguido por aquela palavrinha final que ele inventa a cada ano uma nova e que deixam todos rirem (a desse ano foi "Petúnias Flatulentas" e eu só não fiz a necessidade fisiológica numero 1 nas calças porque Black parecia se divertir com a minha cara e então parei quase imediatamente).
Nós comemos, enchemos a pança, e fomos para os nossos respectivos dormitórios.
(Peraí, assim era como eu gostaria que tivesse sido! Não como realmente foi!)
Comemos, enchemos a pança, TODOS foram para os respectivos dormitórios MENOS eu e Remo...
Que fomos para a sala da McGonagall, acompanhada da mesma, para ouvir trinta minutos de regras que existem no colégio (só as dez mais básicas), depois ainda tivemos que supervisionar os corredores até as duas da manhã.
Me digam, se alguém merece isso! Depois de uma viagem de mais de sete horas dentro de um trem, e um jantar maravilhoso desses a pessoa ser obrigada a ouvir McGonagall falar por meia hora que qualquer regra quebrada pode levar direto pra ela, cuspindo de leve na sua cara, e depois vigiar os corredores vazios (quem depois de uma viagem dessas e um jantar desses vai querer perambular pelos corredores!) até duas horas da manhã!
Eu esbarrei no mínimo umas dez vezes em pilastras pois fechava os olhos sem querer de vez em quando, e levei no mínimo uns dez foras de quadros, e gritei no mínimo quinze vezes com eles e com Pirraça. Bem, foi bem agitado o começo da minha noite...
Quando finalmente terminou eu topei com Remo em um corredor que era o nosso ponto de encontro, de frente a porta do Salão Comunal da Grifinória.
- Terminou?- perguntei esperançosa de olhos fechados novamente.
Ele olhou no relógio de pulso.
- Não, espere!- falou ele fazendo sinal para que eu parasse de andar arrastando os pés.- Dez...nove...oito...
Eu que já não tinha forças para falar pensava enquanto meus lábios mostravam o que eu pensava: "Sete...seis...tá chegando lá Merlin... três...dois..."
- UM!- quase gritou ele, a voz fraca, os cabelos despenteados, a cara amassada e as olheiras aparentes.
Neste exatíssimo momento, a porta da Sala Comunal foi escancarada e Lua apareceu, os olhos mais esbugalhados que o normal(se possível), uma camisola azul-bebê com chapeuzinho de dormir que tinha uma bolinha de pêlo na ponta, e chinelos estilo "vovó" brancos, me encarando espantada.
- Lílian, aconteceu um desastre com suas roupas íntimas!- gritou ela parecendo que estávamos perto do fim do mundo.
É, isso mais ou menos soou como fim do mundo para mim depois que eu vi a cena. Mas para Remo (necessitado de um bom sono, senão ele não faria isso) soou engraçado e ele começou a gargalhar e entres os risos havia um bocejo e outro (o que ficou bastante engraçado, imagine uma pessoa rindo e bocejando ao mesmo tempo). Bem... eu fiquei vermelhíssima e entrei com ela sem perguntar mais nada.
Corremos em direção da escada o mais rápido possível.
- Espero que isso não seja um sonho seu Lua...- comentei, enquanto subíamos de três em três degraus.
- Não é... você sabe que eu não fico anormal em situações que me deixam nervosa Lílian. – disse ela sua voz soando tão normal que parecia até ser sexy. (É, parece).
Lua é a primeira pessoa que eu conheço que reconhece que é doida mas não se percebe que reconheceu quando está doida. Entendeu? Bem, enfim... leia a frase mais vezes que você vai entender.
- Agora você tá me dando medo...- falei, ao perceber sua voz normal.
Lua suspirou quando chegamos lá em cima e abriu a porta teatralmente. (Até quando ela está sã, ela é dramática... quem disser olha quem fala, leva um murro!).
Entrei no quarto e fui visualizando aos poucos. As nossas outras companheiras de dormitórios já dormiam e Alice estava de frente a minha cama com uma cara meio estranha. Não consegui distingui-la. Enfim...
Fui me aproximando e vi que meu malão estava aberto, a esta altura Lua comentou:
- Eu sou sonâmbula Lilly, como você sabe...então...- disse ela seu ar voltando a ser avoado.
É, Lua era sonâmbula (um perigo eu sei!) mas era uma sonâmbula que fazia sempre a mesma coisa: roubava roupas intimas minhas e da Alice e colocava na gaveta dela. Então como a gente já está acostumada com isso, nós deixamos que no outro dia a gente recolhe tudo.
- É, eu sei Lua... mas o que...?- fui perguntando até que vi.
Meu malão se encontrava aberto, as roupas se encontravam espalhadas e entre elas minhas roupas íntimas todas com desenhos que pareciam demoníacos e com os dizeres:
"VÁ PARA O INFERNO, VADIA!"
Ou...
"VOCÊ NÃO VALE UM CENTAVO, CADELA!"
E muito mais frases delicadas de amor para mim, que se não estivesse com uma letra tão macabra e com um aspecto tão maléfico, eu riria.
Mas estava. Era assustador mesmo. A tinta usada fora vermelha e algumas pretas. Algumas marcas de tinta se assemelhavam incrivelmente com sangue. Percorreu um arrepio frio na minha espinha nessa hora. Eu estava de olhos arregalados e o queixo relativamente caído.
Fui me aproximando devagar e apanhei com as pontas dos dedos uma que tinha a cara de um boi com chifres e alguns palavrões nada delicados (existe palavrão delicado! Enfim...), e a encarei gelada, a expressão de quem não entendia nada ainda estampada na minha cara.
- Lílian, pode ter sido algo desse tal de Voldemort que tá atacando por aí... se você quiser nós podemos levar isso ao Dumbledore...- começou Alice até que eu cortei praticamente em cima do que ela dissera e ela assustou-se:
- VOCÊ É LOUCA! EU VOU LEVAR MINHAS CALCINHAS PRO DUMBLEDORE VER!- gritei (desagradavelmente).
Lua que voltara a sua expressão lunática soltou uma risadinha pelo nariz.
Alice continuou a me olhar severamente.
- Acho que sim.. ah, vamos Lílian e se for algo realmente sério!- perguntou ela, com olhar desafiador, cruzando os braços.
Eu bufei e aproximei com as duas mãos a calcinha para perto da cara dela.
- Você acha...- falei pausadamente histérica (ah vai a situação pedia histerismo!)- que o Voldemort... bruxo que está ameaçando a sociedade de morte... que mete medo em todos... vai perder seu tempo... ESCREVENDO MORRA SUA VADIA NUMA CALCINHA PARA MIM!- berrei tendo a certeza de que pinguinhos atingiram sua cara.
Alice estava inclinada para trás enquanto eu avançava mais. Sua expressão mostrou que ela considerara o que eu dissera mas depois acrescentou:
- É... mas sei lá...- e depois deu de ombros.
Meu coração foi se acalmando aos poucos para analisar a situação. Bem, o ano nem começara direito... e que eu soubesse eu não terminei o ano letivo passado brigada com ninguém... não podia ser os Marotos porque bem... (na verdade até hoje eu não sei porque não considerei os Marotos porque eles são capazes de tudo), não podia ser ninguém que tivesse acesso a minha mala antes...
Até que uma cena veio a minha cabeça:
Petúnia batendo os pés quando meu pai dissera que não iria levar ela de carro... a cara dela depois do meu caso com Baltazar... meu medo daquele "Que seja..." dela...
É! Fazia sentido... Petúnia não deixaria isso tão barato... E bem, no final das contas ela não deixou...
- Já sei quem foi...- falei, rolando os olhos e procurando nos bolsos minha varinha.
Alice se aproximara curiosa e Lua verificava as peças como se estivesse para compra-las murmurando consigo mesma comentários do quão ficaram interessantes cada uma.
- Quem?- cochichou ela.
Eu suspirei como se estivesse cansada, deixando os ombros caírem, cansada.
- Petúnia...- falei, voltando a procurar a varinha só que agora com mais cautela porque eu não tinha achado.
- Ah... sei...- comentou Alice rolando os olhos.
Então comecei a ficar preocupada.
Onde diabos estava minha varinha!
Meu coração acelerou e eu comecei a apalpar os bolsos com força, desesperada. Alice estranhou e me encarava com as sobrancelhas erguidas. Tirei a capa rapidamente e comecei a averigua-la vagarosamente. Depois olhei dentro da saia, dentro da blusa branca e até mesmo atrás da gravata.
"Meu Merlin, cadê minha varinha!"
Desesperei-me e então voltei ao meu malão, e comecei a jogar para todos os lados todas as minhas peças de roupa inclusive algumas na cara de Lua e Alice. Vi que não estava. Olhei em baixo da cama, dentro da mesa de cabeceira, em tudo que era canto (apesar de não ter arrumado ainda as coisas, mas sei lá, poderia ser brincadeira de alguém), e não achei.
Coloquei as duas mãos na cabeça e finalmente gritei desesperada:
- MEU MERLIN! PERDI MINHA VARINHA!- ou melhor, berrei.
As outras garotas do dormitório acordaram e correram rapidamente ao nosso encontro.
- Que aconteceu?
- Como assim, você perdeu a varinha Lílian!
- Que festa é essa à essa hora da noite! Eu quero dormir!
Disseram nossas três companheiras de quarto. Amanda Smith (autora da primeira frase, é, ela é legal, me ajuda muito em História da Magia), Emelina Vance(autora da segunda frase,muito gente fina mas de hábitos estranhos e adorava Animais Mágicos transformando nosso dormitório em quase um zoológico, mas do que eu tava reclamando! Lua era uma das minhas melhores amigas...tsc, tsc), e Marlene McKinnon (autora da terceira frase, que também é amiga, mas as vezes soa meio... grossa).
Cada uma com seu estilo de ser e de viver... que bem, vou explicar depois. Aliás, até porque o que importa agora é contar que fim deram as minhas calcinhas! E sutiãs também... claro...
- A Lílian perdeu a varinha Amanda...- explicou Alice também vasculhando minhas coisas.
As três começaram a procurar conosco e depois do que parecera uma meia hora eu, que já tinha os olhos marejados, disse:
- Eu estou fu...
- Lílian!- repreendeu-me Alice, sentando ao meu lado à beira da cama.- Não se desespera!
Eu ri sarcasticamente e falei:
- Como você quer que eu fique calma quando EU PERDI MINHA VARINHA ALICE CHAINS!- eu berrei, fazendo com que todas no quarto estreitassem os olhos e recuassem um pouco de perto de mim.
Marlene McKinnon bufou e falou, de braços cruzados:
- Ow Lílian, você não pensa!
- Quando estou nervosa, não Marlene...- comentei, rolando os olhos.
- Pois bem, deveria!- disse ela, se aproximando mais de mim.
Seguiu-se um breve silencio na qual todas pensavam na tal solução da Marlene mas ninguém conseguiu achar nenhuma. No final, Emelina perguntou:
- Como assim Marlene?
McKinnon suspirou cansada, rolando os olhos, como se estivesse entediada.
- Porque a Lílian tá se estressando tanto! É só mandar uma carta amanha para o Olivaras que ele devolve!- explicou voltando a sua cama (que era do lado da minha) e deitando-se mas sem fechar as cortinas, querendo saber o fim que daria aquilo.
Alice, Amanda e Emelina ergueram as sobrancelhas chegando a mesma conclusão. Lua continuava analisando as calcinhas uma por uma como se fosse compra-las. É... não era nada demais...aliás foi um furto de varinha, mas e daí que mal haveria nisso! Que mal...
- Mas esperem!- quase gritei, me levantando e ficando de frente a todas.
Elas arregalaram os olhos com meu pulo repentino e ficaram congeladas.
- Alguma de vocês... sabem por acaso...- perguntei pausadamente, estreitando os olhos desconfiada já da resposta.- O feitiço... para consertar isso...?- e apontei para Lua.
- Aí só hospício!- respondeu Marlene, já de braços cruzados novamente.
Eu olhei para ela com cara de "não é disso que estou falando!" e disse:
- Não! Isso que eu to falando é...- e fui até a cama, peguei a calcinha da mão de Lua rápido, e levei até elas.- DISSO!- completei, gritando desesperada.
Silêncio total. Dava para ouvir até grilos lá fora. Todas olhavam para os lados, desconcertadas, sem saber o que dizer. Até que Emelina disse:
- Você pode comprar outras em Hogsmead, na próxima visita Lílian...- comentou com sua voz baixinha de medo que eu gritasse.
- É, ou pedir para aquela loja do Beco Diagonal que eles mandam por correspondência!- completou Amanda fazendo afirmações com a cabeça.
- CLARO!- explodi, levantando os braços.- CLARO, VOU ESPERAR A PROXIMA VISITA PARA HOGMEAD QUE VAI SER DAQUI A TRÊS SEMANAS E VOU USAR A MESMA ROUPA DE BAIXO! OU MELHOR, VOU PEDIR PARA O BECO PARA MANDAR DIRETAMENTE PARA A MESA DO CAFÉ DA MANHÃ DA GRIFINÓRIA, QUEM SABE NÃO DÁ UMA INDIGESTÃO NOS SONSERINOS QUE VAO CAIR DE RIR DA MINHA CARA!
Segunda sessão de silêncio. É, parecia que dessa vez não tinha sido uma explosão em vão... elas captaram a mensagem. Eu comecei a choramingar coisas como : "Meu Merlin, porque logo eu? Porque Merlinzito porque! Para, para, para me deixa em paz, espírito de azar, chô, chô,me deixa em paaaaaz..."
Isso tudo eu choramingava sentada na beira da cama da Alice (de frente para a minha), com as mãos na cabeça, olhando para o chão desesperada. Até que ouvi um barulho. Olhei.
Lua estava recolhendo todas as minhas calcinhas e sutiãs e colocava no colo. Depois se levantou e foi andando pelo dormitório. Todas observavam seus passos curiosas.
- Lua, o que...?- eu perguntei enquanto ela se encaminhava para a porta.
- Vou pedir ajuda do professor de feitiços, óbvio!- respondeu ela com a voz de avoada predominando.
Ela tinha voltado ao estado "retardada". Até que depois de uns cinco segundos que ela saíra do quarto e fechara a porta que todas nós realizamos o que ela acabara de dizer.
- LUA!- berramos todas juntas correndo atrás dela.
Bem, o que aconteceu foi que todas tentamos passar pela porta ao mesmo tempo, resultando em uma queda conjunta e um rolamento-escada-à-baixo coletivo. Teria sido engraçado se todas nós não estivéssemos em pânico.
Quando chegamos no fim da escada, de frente ao Salão Comunal, ficamos um minuto massageando, ainda sentadas as partes que doíam, até que Alice gritou:
-ALI! OLHA ELA ALI!- e apontou para um canto da Sala que a gente só podia ver a Lua com seus cabelos loiros cintilantes com minhas roupas íntimas todas nas mãos.
Levantamos, mancando, segurando os cotovelos, segurando os quadris, e murmurando "Ai!", e tentamos correr em direção a ela, demorando um pouco para chegar no destino.
Ela conversava com alguém que não podíamos ver o rosto. Esperei pela primeira vez na minha vida, que fosse algum amigo imaginário dela (ela tem vários), mas depois que ouvi vozes masculinas (ALGUÉM ME SOCORRA!) respondendo, entrei em mais pânico ainda.
Corremos e chegamos perto dela.
Eu não agüentei. Fiquei congelada. Mas não é congelada...congelada.. congeladinha, não. Era congelada, congelada, CONGELADONA! Não mexi um músculo. Nada em mim mais trabalhava. Acho que nem o coração. Só o cérebro e muito lentamente.
Quem era que conversava com Lua?
Ninguém mais ninguém menos que os próprios... Black e Potter.
"ALGUÉM ME MATA AGORA!"
Era o que eu implorava por pensamento. Mas ninguém me ouvia. Aliás todas pareciam estar tendo o seu ataque de surpresa. Alice estava tão congelada quanto eu, com os olhos arregalados, com apenas uma diferença... para quem estava estática, ela apertava com força até demais meu braço. Amanda e Emelina também tinham os olhos quase saltando das órbitas e os queixos prestes a darem olá para o chão. Marlene tinha os olhos estreitos e engolia em seco de um em um segundo.
- Ah, aqui estão elas...- comentou Lua, voltando-se para nós.
Ai podemos ver a expressão dos garotos. No começo, eles tinham a cara voltada em desconfiança já que não sabiam se aquilo era verdade ou era brincadeira de Lua. Depois eles nos viram e uma expressão surpreendida veio à face de Potter e uma maliciosa para o Black. Ai percebi.
Estava eu com apenas a saia e a blusa branca aberta nos dois primeiros botões que eu abrira mais cedo para verificar onde estava minha varinha, Marlene, Amanda, Emelina e Alice com camisolas rosas do tipo seda ajustando as curvas do corpo de cada uma, na qual haviam se acentuado bastante nessas férias.
E então, com isso, descongelamos e começamos todas a falar ao mesmo.
- Não é verdade nada que a Lua falou...
- ENCOSTE NUMA PEÇA E VOCES VÃO VER!
- Deixe que nós resolvemos isso..
- O QUE VOCES ESTAO FAZENDO A ESSA HORA DA NOITE AQUI AFINAL!
- Lua, devolva tudo...
- A gente resolve tudo lá em cima, devolve Lua!
-Para, para, para tudo!- pediu Black, sua voz mais grossa que as demais, se sobrepondo, e ele tinha as mãos erguidas pedindo tempo.
Então ficamos em silêncio. Ele se deu por satisfeito e continuou:
- Tenhamos calma... a Lua não está mentindo que nós sabemos... e bem... vocês têm duas opções... ou nós consertamos...- eu bufei nessa parte, cruzando os braços desafiadora.- Ou...- continuou ele olhando para mim.- Você leva pro Flitwick... mas não garantimos que esta história não vá vazar se escolherem a opção dois!
E depois riu maldoso. Uma onda escaldante como magma veio subindo do meu estomago até minha cabeça. "Ai que ódio do Black!", foi o pensamento que veio em minha mente naquela hora.
Olhei para a cara do Potter pronta para me encher de raiva dele também, mas ele apenas olhava das roupas (Algumas calcinhas e sutiãs eram de aspecto...digamos...abusados... mas não muito! Aliás eu não sou uma prostituta), até mim e tinha um semblante sério, com uma sobrancelha erguida. Um calor repentino invadiu a Sala Comunal...
- Você não presta Black!- cuspi com os olhos estreitos de raiva.
- É o que todas dizem... não nessa entonação claro.- e piscou para mim em seguida.
Marlene nessa hora bufou e foi embora de repente. As outras apenas esperavam para ver o que acontecia, as faces curiosas. Eu pensava lentamente. É, realmente não tinha mais jeito... eles já tinham visto, e se não fossem eles... a história vazaria. Ah, não , eu já via a cara de certas pessoas se contorcendo de prazer ao saber da historia e das piadas que os Sonserinos iriam lançar para todo o castelo ouvir...
- Tá, concertem!- gritei de raiva e indo me sentar numa poltrona esperando que eles terminassem logo.
Eles se entreolharam. Black com um sorrisinho de lado, e Potter balançando negativamente a cabeça.
O Potter tinha estado estranho ou era impressão minha? Bem, eu não sabia e nem queria saber... só queria saber das minhas calcinhas e meus sutiãs que nessa hora estavam nas mãos dos Marotos mais perigosos da escola. Tive pena deles.
Depois de cinco minutos nos quais Amanda, Emelina e Lua já haviam subido para dormir, e só eu e Alice, estávamos sentadas, esperando, Potter virou-se e me entregou uma sacola preta que parecia que eles mesmo haviam conjurado. Black voltou-se e disse :
- Prontinho Lilly.
- Evans.- cortei logo, enquanto vasculhava dentro da sacola para ver se estava tudo certo mesmo.
- Esse é o seu nome.- falou ele, girando a varinha entre os dedos com uma mão, e a outra no bolso.
"Brincadeirinha idiota!" pensei, com raiva, verificando que realmente estava tudo certo. Depois me aproximei dele e o encarei nos olhos.
- Bem Black... tudo PARECE estar certo...- comecei ameaçadora.- Mas se por acaso eu perceber algum feitiço nas minhas... roupas íntimas...- ele abriu outro sorrisinho.- Você vai ver... que ai esse caso vai parar na diretoria mesmo.. só que por mim...
Me afastei e indiquei com a cabeça, as escadas para Alice.
- Vamos Alice... e vocês!- apontei para os dois.- Merecem menos cinco pontos cada, por estarem a essa hora da noite na Sala Comunal ao invés de nos seus dormitórios...
- Não existe essa regra Evans...- retrucou Potter.
- Deixa Pontas! Deixa... aliás... dez pontos... não é nada.- disse ele indo em direção a escada primeiro e Potter o seguindo olhando para frente. Até que ele parou, se aproximou do meu ouvido e sussurrou:- Bela lingerie Evans...- e subiu rapidamente com Potter em seu encalço.
