AVISO: A fanfic a seguir apresenta garotos se beijando, alguns palavrões, menção a violência (implícita, juro! As séries da HBO ou o noticiário são bem piores) e uma ou outra cena de luta. Não é gratuito, tudo tem um motivo.
Leia por sua conta e risco!
I
O sol brilhava, tímido. Ele não era suficiente para esquentar a tarde ligeiramente fria, que anunciava que dias de frio mais rigoroso estavam por vir. Mesmo assim, os adolescentes no campo de futebol estavam encharcados de suor depois de um treino puxado.
Harry deitou-se na grama, como alguns de seus outros colegas de time faziam. Ron juntou-se a ele.
- Cara, eu estou acabado – resmungou o garoto ruivo, limpando o suor do rosto na camiseta. – Se continuarmos assim, será que conseguimos derrotar Durmstrang no próximo jogo?
- Ron, você é um ótimo goleiro. Nosso time este ano está perfeito, agora só precisamos continuar treinando e dar o nosso melhor no dia do jogo.
- Assim espero.
Os dois ficaram mais alguns minutos jogados na grama antes de rumarem para o vestiário, a fim de tomarem um necessário banho antes de voltarem para casa. Enquanto se ensaboava, Harry pensou pela milésima vez em como era estranho treinar sem a presença de Malfoy. Os dois, que eram zagueiros, viviam disputando para ver quem era o melhor – quem corria mais rápido, quem defendia mais gols, até mesmo quem conseguia se alongar mais. Às vezes, essa disputa atrapalhava o treino e até mesmo alguns jogos, mas em geral era o combustível para que os dois se esforçassem ao máximo. Não era à toa que o time de Hogwarts era em um dos melhores de Londres.
Entretanto, Malfoy havia desistido de jogar no primeiro dia do ano letivo. Aquilo era sem dúvida estranho, visto que o garoto vivia para o futebol. Ele poderia ser uma péssima pessoa, mas com certeza era um ótimo jogador. Desde que havia desistido, Malfoy andava quieto e cabisbaixo, algo inédito para o garoto metido que adorava ser o centro das atenções. O mais estranho de tudo era que o loiro nunca mais importunara ninguém, coisa que deveria ser o passatempo predileto dele.
Algo estava muitíssimo errado com Malfoy. Porém, toda vez que Harry mencionava isso a Ron e Hermione – seus melhores amigos –, eles faziam pouco caso do assunto, alegando que Malfoy provavelmente estava preocupado em entrar para uma boa faculdade para impressionar a família. Era uma explicação razoável, levando em consideração o pai rígido dele, mas ainda assim Harry achava que algo havia acontecido com o garoto.
- Vai logo, Harry, eu estou morto de fome! – reclamou Ron, já completamente vestido e encostado à porta do vestiário, esperando o amigo.
- Pode ir na frente, eu acho que esqueci meu livro de matemática na sala – explicou Harry, ao constatar que a sua mochila estava mais leve do que de costume. – O Snape vai me matar se eu não fizer a lição de casa.
- Puts, nem me fala. Eu vou com você.
Ron mal terminara de falar, seu estômago fez um barulho indecentemente alto. Ele ficou vermelho como um pimentão enquanto Harry ria.
- Ron, vai na frente que eu te alcanço depois.
- Beleza!
O moreno terminou de arrumar suas coisas e rumou para dentro do prédio da escola. Hogwarts era uma escola de ensino secundário¹ fundada pelo governo, que se destacava das outras por conta de um excelente ensino aliado a uma das construções mais belas da região – antes de ser transformada em uma escola, ali era uma antiga e nobre residência. Ainda assim, o local espaçoso fora reformado na medida do possível sem estragar a arquitetura original e contava com uma imensa biblioteca, laboratórios de última geração, quadras esportivas impecáveis e um majestoso jardim que era usado como área de lazer pelos estudantes.
Os passos de Harry ecoaram no chão de mármore enquanto ele se dirigia à sala de Matemática. Geralmente os corredores ficavam apinhados de alunos, mas, como a aula havia terminado fazia algum tempo, era possível ouvir todo e qualquer barulho no corredor vazio. Até mesmo os alunos dos clubes que se reuniam após a aula naquele dia não deviam estar mais lá.
Harry estava cansado e queria ir logo para casa. Acelerou o passo, mas estacou ao pensar ter ouvido algo vindo do banheiro masculino que ficava próximo à sala de Matemática. Parecia que alguém estava... chorando?
"Deve ser impressão minha", pensou. Deu mais dois passos, mas parou de novo. Seu coração bateu rápido, a adrenalina começando a fazer efeito. "Acho melhor dar uma olhadinha, só por garantia".
O mais silenciosamente que pôde, ele se aproximou da porta e colou o ouvido nela. De fato, aquele som era de choro. Mas quem iria chorar no banheiro da escola depois da aula? Seria algum aluno transtornado?
Um dos maiores defeitos de Harry era a curiosidade. Claro que poderia ser vista como uma qualidade, mas, pelo número de vezes em que ele se metera em uma enrascada por ser muito curioso, era mais crível que fosse um defeito mesmo. Assim, ele não se repreendeu ao perceber que abria a porta com o máximo de cuidado, como que para não chamar a atenção da pessoa do lado de dentro do banheiro.
O que viu deixou-o chocado. Draco Malfoy estava parado em frente às pias do banheiro. Arrumava um lenço verde, que contrastava com suas roupas pretas, ao redor da garganta. Os cabelos loiros estavam desgrenhados, mas o que mais chamava atenção eram as lágrimas que desciam por suas bochechas pálidas. Os olhos cinzas estavam encobertos por óculos escuros, apesar do pouco sol que fazia lá fora.
- Ele ainda vai me matar... – murmurou Malfoy para si mesmo, com a voz embargada.
Harry prendeu a respiração. A cena em si era tão estranha que poderia ser uma ilusão causada pelo cansaço e pela fome, mas aquelas palavras proferidas pelo loiro não faziam sentido. Claro que ele era odiado por muitas pessoas por conta de sua personalidade péssima, mas haveria alguém que seria capaz de matá-lo? Ou seria apenas uma forma de expressão?
Antes que o moreno pudesse perder-se em pensamentos, Malfoy percebeu que a porta do banheiro havia sido aberta, e o responsável por abri-la era ninguém menos do que Harry Potter.
Os dois encararam-se por alguns segundos, processando a informação de que haviam sido pegos no flagra. Porém, o loiro foi mais rápido.
- Ora, seu... – rosnou Malfoy, cobrindo a distância entre eles com passos rápidos. Agarrou a gola do casaco surrado do outro e o chacoalhou com violência. – O que você está fazendo aqui?!
O choque de Harry logo deu espaço à raiva.
- Posso perguntar o mesmo para você, Malfoy. Mas acho que a resposta já está bem clara – o moreno cuspiu as palavras, arqueando uma sobrancelha para as lágrimas que ainda escorriam no rosto à sua frente.
Aquilo foi o suficiente para que Malfoy fechasse seu punho e o direcionasse ao rosto de Harry. Porém, o moreno desvencilhou-se de forma rápida e empurrou o outro garoto para longe, fazendo com que ele perdesse o equilíbrio. Malfoy instintivamente se agarrou a Harry ao perceber que iria cair, e logo os dois estavam engalfinhando-se no chão do banheiro.
Alguns socos e chutes foram distribuídos entre ambos. Antes que Harry pudesse revidar um chute em sua coxa com um soco no estômago do loiro, percebeu que os óculos escuros de Malfoy haviam escorregado do nariz pontudo, deixando à mostra um olho inchado e roxo.
Era impossível que Harry tivesse causado aquilo, visto que nem havia tocado no rosto do outro garoto. Surpreso, retirou os óculos do rival e examinou bem o machucado.
- Malfoy, quem fez isso com você?
O loiro, que até então se debatia tentando acertar o garoto acima de si, congelou. Harry franziu o cenho, e algo dentro de si mandou que ele retirasse o lenço do pescoço de Malfoy. Ficou chocado ao constatar marcas esverdeadas ali, provavelmente menos recentes do que o olho roxo. Parecia que alguém havia tentado... Mas era impossível... Quem em sã consciência tentaria enforcar Draco Malfoy?
- Se você contar para alguém, eu te mato – foi a resposta do loiro. Seus olhos cinzas começaram a ficar cheios d'água novamente. – Eu juro que te mato.
- Quem fez isso com você? – pressionou Harry. Por mais que odiasse o garoto, nunca seria capaz de desejar que ele fosse enforcado até a morte...
- Não é da sua conta.
Harry ainda processava o que acabara de ver quando Malfoy empurrou-o, tirando-o de cima de si, e sentou-se no chão. O loiro arrumou o lenço ao redor do pescoço novamente, como se estivesse sozinho. Evitou olhar para os olhos verdes ao falar:
- Se você puder fazer a gentileza de devolver os meus óculos.
Harry ignorou a mão estendida à sua frente e tocou o lenço verde, sem jeito.
- Foi alguém da escola?
Mais lágrimas percorreram as bochechas pálidas, indo até o queixo pontudo e caindo nas roupas caras – que agora estavam abarrotadas pela luta entre os dois.
- Não é da sua conta – repetiu Malfoy, retirando a mão de Harry de seu pescoço com truculência. – Me deixa em paz!
Harry continuou sentado enquanto Malfoy levantava-se com o resto de dignidade que lhe sobrara e saía do banheiro masculino. Ele ainda ficou alguns minutos digerindo aquele acontecimento, antes de também sair dali e voltar hesitante para casa.
Seu livro de matemática permaneceu esquecido na sala de aula.
Nos dias seguintes, Malfoy evitou Harry como se ele fosse a praga. Não que o loiro fosse muito discreto, mudando drasticamente de caminho ao perceber que o outro garoto estava por perto. Harry ainda não sabia o que pensar sobre o incidente do banheiro, então não uma tomou atitude. Havia pensado em discutir sobre aquilo com Ron e Hermione, mas o jeito como Malfoy o olhara quando ele descobrira os hematomas fê-lo ficar de boca fechada.
Entretanto, sua curiosidade havia aflorado. Harry passou a observar Malfoy com frequência, por vezes até de forma inconsciente. Depois de uma semana, já havia memorizado as aulas que o loiro assistia, o local em que ele passava a hora do almoço, as cores de roupa favoritas dele, entre outros detalhes. Harry estava principalmente intrigado pelo fato de Malfoy ter se isolado dos colegas, até mesmo dos "melhores amigos" – se é que aquele relacionamento de chefe e subordinados que ele tinha com Crabbe e Goyle pudesse ser chamado de amizade. Pansy Parkinson, que vivia de braços dados com Malfoy, olhava magoada para o loiro sempre que os dois passavam um pelo outro no corredor.
Desse modo, Malfoy estava sempre sozinho. Sentava sozinho na aula, recusava-se a fazer trabalhos em dupla ou em grupo, passava os horários de almoço comendo sozinho e lendo algum livro à sombra de uma árvore. Depois que a aula acabava, ele praticamente evaporava. Harry chegara a ficar alguns dias de tocaia na entrada do prédio, esperando o outro sair. Porém, passados quase quarenta minutos, ele desistia, achando-se ridículo. Era possível que Malfoy estivesse assim desde o começo das aulas, mas Harry não havia reparado antes.
Até mesmo a presença do loiro nas redes sociais havia diminuído de forma drástica. Se antes o garoto compartilhava imagens "engraçadas" – sempre em detrimento de outras pessoas –, notícias sobre futebol e até algumas fotos de si mesmo, agora o máximo que acontecia era ele curtir algum vídeo esporádico que colocavam na página dele.
Aquilo não cheirava nada bem. E Harry estava cada vez mais febril para descobrir aquele mistério.
- Harry, você está ouvindo? – perguntou Hermione, balançando a mão na frente da cara do amigo. Estavam sentados em uma das mesas do jardim.
- Desculpe, eu me distraí – Harry sentiu as bochechas corarem de leve. Não estava sendo o melhor dos amigos nos últimos dias.
- Tudo bem. Enfim, estávamos pensando em ir no cinema na sexta à noite.
- Ah, claro. Qual o filme mesmo?
- Acho que o nome é O habitat dos animais fantásticos ou qualquer coisa assim – Ron torceu o nariz. Harry sabia que o ruivo preferia filmes de ação, mas, desde que começara a namorar Hermione, havia aprendido a ceder mais. Não sem antes resmungar um pouco, claro.
- É sobre um explorador que cuida de animais mágicos – explicou Luna, com um brilho sonhador no olhar.
- Esse filme teve ótimas críticas – emendou Neville, enquanto mastigava seu sanduíche de pasta de amendoim.
Harry concordou com a cabeça e instintivamente procurou Malfoy com o olhar. O loiro continuava sentado à sombra da árvore de sempre, com um livro a tiracolo e um suco de caixinha na mão. Apesar do vento frio, ele não usava mais o lenço verde no pescoço. Harry suspirou, aliviado. Percebeu que Hermione lançava um olhar preocupado em sua direção.
- Quais são os atores, mesmo? – perguntou, tentando desviar a atenção da amiga.
O delicioso cheiro de fritura invadiu suas narinas, fazendo seu estômago roncar de forma preguiçosa. Harry salivou e, sem pensar duas vezes, começou a atacar o prato à sua frente.
A lanchonete em que se encontravam estava parcialmente vazia, o que era anormal para uma sexta-feira à noite. Era possível que a chuva que caía do lado de fora do estabelecimento houvesse afastado algumas pessoas da rua.
- O filme deveria ter tido mais cenas de ação – resmungou Ron, com a boca cheia de batatas fritas.
- Acho que teve um bom equilíbrio entre ação e desenvolvimento da história – comentou Luna, depois de dar uma tragada barulhenta no milk-shake de amora. – Cenas de ação desnecessárias fazem um filme perder a qualidade.
- Concordo. E os efeitos de computação gráfica estavam impecáveis – acrescentou Neville, animado. – Aqueles animais eram realmente fantásticos, espero que lancem bonequinhos logo.
Ron deu uma risadinha zombeteira do amigo, ganhando uma cotovelada discreta de Hermione. O ruivo adorava chamar Neville de nerd, julgando-o por conta de sua mania de colecionar filmes, livros e bonequinhos.
Enquanto os outros conversavam, Hermione aproximou sua cadeira da de Harry.
- Posso estar enganada, mas acho que Draco Malfoy está sentado naquela mesa no canto – sussurrou, os olhos brilhantes esperando por uma reação do amigo.
O moreno desviou os olhos sem pensar duas vezes para onde ela apontava de maneira discreta. Lá estava aquela cabeleira loira, levemente molhada de chuva. Harry arqueou uma sobrancelha ao perceber que o garoto estava debruçado sobre um livro, e parecia escrever algo em um caderno. Sua única companhia era um pedaço de torta de limão semidevorado.
- Será que ele está esperando por alguém? – perguntou, mais para si mesmo do que para a amiga. Não parecia o caso, entretanto.
- Não sei – Hermione estreitou os olhos, como se analisando o garoto ao seu lado.
Harry largou seu sanduíche pela metade.
- Já volto, vou ao banheiro – anunciou para os companheiros de mesa.
De fato foi ao banheiro, para que Hermione não suspeitasse mais do que já deveria estar. Depois de lavar as mãos, verificar se não tinha nenhuma alface presa no dente e arrumar os cabelos desgrenhados – que ficaram mais desgrenhados ainda –, Harry fez um percurso diferente para voltar à sua mesa e acabou na mesa de Malfoy.
- Posso sentar? – perguntou, sem esperar permissão.
O loiro pareceu um pouco chocado, mas franziu o cenho em seguida.
- Ia adiantar se eu dissesse que não?
- Não muito – admitiu Harry, dando de ombros.
Olhou o mais discretamente que conseguiu para os livros de Malfoy. Ao que parecia, ele estava fazendo o dever de História em uma lanchonete em plena sexta-feira à noite. Aquilo ficava cada vez mais surpreendente. Malfoy percebeu a olhadela nada discreta e fechou o livro e o caderno.
- Você não tem mais o que fazer, não? – O loiro cruzou os braços na frente do peito, em uma atitude claramente defensiva. – Tipo, sei lá, salvar cachorrinhos na rua ou resgatar donzelas em perigo?
- Por que você não faz isso em casa? – Harry apontou para o caderno. Se fosse em outros tempos, teria ficado irritado com a atitude de Malfoy; mas agora a curiosidade gritava mais alto do que qualquer resposta engraçadinha que poderia ter dado.
- Eu sei que o nome é lição de casa, mas a lição é minha e eu faço ela onde quiser – retorquiu o loiro. – O que eu faço ou o que eu deixo de fazer não é da sua conta, Potter.
Ao ouvir aquelas palavras, a memória daquele dia no banheiro masculino voltou à mente de Harry. Ele examinou o garoto à sua frente com calma. O olho não estava mais inchado, e apenas uma leve coloração indicava o que havia acontecido. O pescoço, por outro lado, já estava curado.
- Quem foi que te bateu, Malfoy? – Harry abaixou a voz para que somente o outro conseguisse escutá-lo.
- Você me bateu naquele dia, esqueceu? – Uma sobrancelha loira foi arqueada. Ao ver que Harry não iria desistir tão fácil, ele continuou: – Por que isso te interessa tanto, Potter? Por acaso quer mandar um cartão de agradecimento para o responsável?
- Adoraria ver você aprendendo uma lição, mas isso parece muito mais sério do que uma briga entre adolescentes. Normalmente não se tenta enforcar os outros.
- E se eu te disser que entrei para um clube de BDSM, hein? – disse Malfoy, um sorriso sarcástico brincando em seus lábios finos.
Harry imaginou um Malfoy vestido apenas em uma calça de couro justa com franjas, amordaçado enquanto um homem forte e musculoso segurava um chicote atrás dele. Sentiu-se corar ao pensar no outro garoto em uma situação sexual, ao que Malfoy deu uma risadinha.
- Não acho que seja esse o caso. Participar de um clube de BDSM não faria você deixar o time de futebol e se isolar de todos.
- Está com saudades, Potter?
- Só se for de ganhar de você no treino – Pela primeira vez desde que se sentara à mesa, Harry sorriu.
- Nos seus sonhos.
Os dois olharam-se de forma mais amistosa, lembrando-se de todas as competições que promoviam entre si nos treinos de futebol. Quando o silêncio começou a ficar incômodo, Harry coçou a cabeça.
- Se você quiser se juntar a nós ali na outra mesa...
Malfoy pareceu surpreso.
- Me juntar a um bando de perdedores? – Ele fez um barulho de escárnio com o nariz. – Sua generosidade realmente é notável, senhor Perfeição, mas eu não iria nem se a minha vida dependesse disso.
Harry franziu o cenho, recordando-se das palavras ditas pelo loiro dias atrás. "Ele ainda vai me matar...".
- É sério, Malfoy. Tudo bem se você não quiser me contar quem te bateu, mas você ainda tem que contar para alguém. Nem que seja um professor, ou até mesmo para o diretor.
Malfoy baixou os olhos para o garfo que estava esquecido na mesa, pegou-o e começou a brincar com o pedaço de torta de limão.
- Falando assim, até parece que você está preocupado comigo – murmurou.
O moreno não sabia o que falar. Fitou o garoto à sua frente pela primeira vez na vida como um ser humano com sentimentos, sensível e abalado; diferente do pivete mimado que costumava ser. Respirou fundo, sem saber como lidar com aquilo. Se fosse em outros tempos, tentaria deixar o outro irritado com alguma provocação, ou até mesmo jogaria aquele momento na cara do outro no futuro. Em vez disso, resolveu ser mais maduro. Afinal, não era à toa que ele tinha quinze anos, e não cinco.
- E quem disse que eu não estou?
Malfoy levantou o olhar da torta, aturdido. Encarou o moreno procurando por sinais de mentira, mas só encontrou a verdade. Harry Potter estava preocupado com Draco Malfoy.
- Harry, o que você está fazendo com esse cara de fuinha? – A voz de Ron alcançou-os, e logo o ruivo estava parado em pé ao lado de Harry.
- Eu... hã... vim perguntar sobre o trabalho de matemática – Malfoy levantou uma sobrancelha, mas nada disse.
- E a Hermione não podia te dizer o que quer que seja? – perguntou Ron, desconfiado.
- É que... eu queria saber se eu anotei o e-mail do Snape certo.
- E estava certo?
- Hum, sim.
- Então vamos logo – Ron puxou o amigo pelo braço, ainda com uma leve careta em sua face.
Harry olhou para trás enquanto andava na direção de seus amigos, mas Malfoy já havia terminado a torta de limão e guardava os livros na mochila, sinalizando que estava de saída.
Quando se sentou, Neville tinha batatas fritas penduradas na boca e imitava uma morsa. Luna e Ron riam gostosamente enquanto Hermione abafava uma risada e revirava os olhos. Ao perceber Harry, ela lhe lançou uma pergunta muda, que o garoto fez questão de ignorar.
O resto da noite passou de forma divertida, apesar de Harry não conseguir tirar da mente um certo loiro brincando com um pedaço de torta de limão.
¹ O ensino na Inglaterra é diferente do Brasil. Lá, o ensino secundário vai desde os 11-12 anos aos 15-16. Minha intenção era fazê-los com 17 anos, mas, como nessa faixa etária os jovens têm outro tipo de ensino (sixth form ou college), geralmente em outra escola, optei por diminuir a idade deles.
N/A: Comecei a imaginar como seria a cena do banheiro em um UA de ensino médio, e de repente esta história foi se desenvolvendo e tomando proporções inesperadas (pra quem passou a vida inteira escrevendo fanfics de no máximo 500 palavras haha). Ela vai ter uns 4 capítulos, postados com um intervalo de uma semana entre eles.
Logo aviso que fiz algumas modificações na história original, como laços familiares e coisa do tipo. E, claro, como não tem nenhum Lord das Trevas loucão torturando e matando todo mundo, nossos personagens lindos tiveram uma adolescência normal – a que eles mereciam ter tido nos livros, sniff sniff.
Espero que você tenha gostado e, por favor, deixe sua opinião nos comentários!
