NA: Mais uma para o Twist & Shout. A música da vez é Here comes the Sun.


Dawn

Ela passou a gravidez inteira conversando com o bebê. Descrevendo para ele um mundo que não correspondia à realidade, e no qual valeria a pena nascer. Tricotando sapatinhos. Bordando lençóis. Decorando o berçário com estrelas prateadas e pomos dourados. Listando opções intermináveis de nomes, até acabarmos decidindo chamá-lo de Harry.

O parto foi difícil, demorado, exaustivo. Com lágrimas nos olhos, ela o pegou no colo a primeira vez, o chamou de "little darling". Eu registrei cada minuto das primeiras horas de vida dele, porque ela tinha me dito, milhares de vezes, que não queria perder nem um segundo, e essas fotos todas depois viraram álbuns que ela conseguiu, eu não sei como, arranjar tempo e disposição para fazer.

Não era incomum encontrá-la, com o bebê no colo, sentada na cadeira de balanço perto da janela, ainda mais nos primeiros meses, que foram durante um dos verões mais quentes de nossas vidas. Ela contava para ele contos de fadas trouxas, porque, de acordo com ela, era minha tarefa, como o bruxo puro-sangue da família, contar a ele os contos do Beedle, o Bardo - ou, quando estava feliz o suficiente, cantava suas músicas preferidas de bandas trouxas.

Beatles eram a banda mais freqüente. E, de todas as milhares de músicas deles, a que ela mais cantava era Here comes the Sun, especialmente naqueles momentos em que pareciam não restar esperanças.

Ela parecia se agarrar a cada palavra, como se repetir que tudo estava bem fosse fazer as coisas ficarem bem de verdade. Como se dizer que o inverno tinha acabado fosse fazer com que isso acontecesse. Como se ela tivesse uma esperança real de que o sol fosse nascer.

E ele nasceu.

Mas ela precisou morrer para que isso acontecesse, e ela nunca teve a chance de aproveitar isso.