Pêndulo
Minha.
Ela era minha e eu nunca duvidei disso.
E eu nunca questionei os motivos para isso.
Da mesma forma como nunca acreditei que pudesse ter um fim.
Fazíamos parte de um ciclo vicioso, onde eu era o único ganhador.
A moeda de troca não era equivalente e sempre, por mais que ela acreditasse que estava ganhando, tinha tudo a perder.
Eu obtive informações valiosas, trocadas por falsas palavras de conforto;
Força por esperança;
Sua alma por migalhas de atenção.
Era insuportável e ao mesmo tempo prazeroso, pois eu sentia falta de envolver alguém; tecer verdades onde só havia ilusão e mentiras; conquistar confiança e tirar proveito disso. Ela me proporcionou tudo o que eu desejava e, ainda assim, era difícil de suportar tanta inocência.
E mantínhamos o nosso diálogo secreto.
Dia após dia, como se isso não fosse passar;
Como se ela não fosse nunca me deixar;
Eu não conhecia seus traços, apenas suas palavras infantis e solitárias, seus sentimentos e suas lamentações; muitos desses sentimentos eu não conhecia, embora soubesse perfeitamente como fingir que a entendia.
Era fácil enganá-la.
Porque ela nunca iria me deixar até que eu tivesse extraído daquela alma tudo o que eu precisava.
Ela nunca iria me deixar por vontade própria;
Ela estaria sempre disponível;
Eu acreditei.
O pêndulo do tempo ditava os dias que passavam e marcavam a cadência das palavras. Sempre inocentes;
Às vezes com medo;
Às vezes inseguras;
Mas sempre minhas.
E quando fiquei forte o suficiente para me fazer real e conhecer a cor dos seus olhos e os seus cabelos rubros, eu me vi só.
Apenas por um segundo nos encontramos e passado, presente e futuro se encontraram naquele momento intenso;
Onde de todas as coisas que eu poderia sentir a única que me abateu quando os olhos dela se fecharam foi pena.
Menina tola.
Olhei ao meu redor e respirei pela primeira vez em muito tempo. Sua vida estava por um fio e faltava pouco, muito pouco, para que tudo finalmente tivesse o desfecho desejado por mim desde o princípio.
O tempo não era forte o suficiente para me derrotar;
Eu era o pêndulo do relógio da minha vida;
Eu sempre venceria a morte;
Mas ela nunca percebeu isso.
E no instante seguinte tudo se confirmou;
O relógio voltou a funcionar apenas para Ginny e a chance de ter sua vida salva escapou entre os dedos do herói.
Ele nunca veio ao encontro da menina tola que se entregara a mim e graças a isso não pude olhar seus olhos castanhos novamente, não pude resgatar a intensidade dos segundos em que trocamos olhares pela primeira vez.
Não havia mais admiração, medo ou esperança, pois nela não restava mais vida;
Não haveria último suspiro.
Menina tola.
No fim, não houve nenhum adeus;
Nenhuma falsa esperança;
Nenhum reter final de olhos;
Nada, além da sua partida.
N/A.: Fic escrita para o XVIII Challenge Gin'n'Tonic da Sessão Tom/Ginny do Fórum 6V.
