Insônia

Chega até a ser confortante esse frio. Aqui, nesse túmulo é onde irei ficar por toda a minha eternidade, até que só me sobre pó. É estranho pensar que um dia já fui vivo e hoje me mantenho "vivo". Não tenho mais o desejo de "viver" lá fora. Nas minhas veias, corre o sangue amaldiçoado. O sangue em que eu jamais pensava em ter um dia. Não tenho mais nome; apenas uma alcunha. E é com essa alcunha que eu comecei a me odiar. Meu novo nome mais patético: O filho de Drácula. Cheguei ao ponto de perceber que o amor entre pai e filho não é incondicional. E não é lá grande coisa o que eu descobri. Era de se esperar de um vampiro. Tenho nojo disso, tenho nojo de mim mesmo. Se é certo ou não o que eu estou pensando, deverei permanecer aqui, até esclarecer isso. Que raios me partam que eu descubra. Irei continuar aqui do mesmo jeito, mantendo uma promessa. Não me sinto no dever de viver mais. Já vivi, já foi o suficiente. Já vi o que tinha de ver, e não gostei dessa mixaria que é o mundo. Não o culpo, ó grande divindade que os protege. Porém, tenho desgosto de pensar em ti, que não dá a mínima satisfação para quem está "meio-vivo". O que será da humanidade depois? Sei que minh'alma não irá à lugar algum, mas ainda assim é incerto o que acontecerá comigo quando somente me restar os ossos aqui neste lugar. Até me deixa curioso também o que aconteceria se eu acordasse décadas depois, neste mundo. Acho que até lá teriam me descoberto, só espero que eu tenha me "escondido" bem. Algo me incomoda, ainda. Existe algo me perturbando essa noite. Seria possível que ele teria voltado? Não. É apenas mais um que tenta desesperadamente, nesse mesmo dia, o trazê-lo. É incrível como estes babacas tentam século após século ressuscitá-lo. Se eu pudesse rir, riria. É sempre a mesma coisa; Um Belmont surge e acaba com toda a balbúrdia desses malucos. Ainda me pergunto como que fui passar do lado de meu pai para os "padres". Ainda assim, não gosto de ser usado como uma arma. Já fiz o que tinha de fazer e ao meu ver, já está tudo acabado. Mas o quê esse lunático pretende hoje? Não entendo. O que foi esse frio na espinha, eu também não sei dizer. Não era para eu estar sentindo isso. Era para estar morto. Consigo me mover também. Meu coração pouco a pouco palpita sobre o meu peito. Merda. Estou vivo novamente.

- ...Eu acordei.

- ...Porquê?

Sinto essa vontade de respirar. Esse suspiro súbito me trouxe de volta esse ar poluído que até eu tinha vontade de respirar novamente. Isso é estranho... Não gosto disso. Eu estou prevendo que não será mais um aniversário comum, papai. Sinto que você está voltando para esse inferno que é aqui. Sinto até uma pena de você, que também não consegue descansar em paz. Porém, não posso deixar que você perambule por aí, sedento de caos. Mais uma vez, estou andando por este solo, o qual imaginei que jamais pisaria novamente. Estou pálido. Meu cabelo já não tem a coloração de antes. É cedo, ainda. Mesmo que aqui neste local não tenha nenhuma alma viva, contando comigo, a lua ainda está latejante no céu. Que sorte a minha. Pelo menos o que deixei continua sobre esta escrivaninha. Ainda me pergunto porquê que estou fazendo isso. O sabre ainda está afiado. Por que não deixo os Belmonts cuidarem disso? Malditos ratos. Por que tenho a sensação de que eles não darão conta do recado? É hora de ir. Espero que eu possa ouvir essas botas tocando este assoalho novamente. E que este sabre jamais seja usado, com exceção de que seja para te exterminar. Sei que está me observando, Drácula. Você e essa sua marionete. Vai ser uma noite longa. Aguarde-me, Drácula. Agora que acordei, não há mais volta também. Os lobos uivam pela minha chegada. Ou presumo que uivam por você. Que "inveja". Agora, o que importa é que eu—

- ...Irei te matar, pai.