O resgate do soldado Malfoy


Observação: Essa fic foi baseada na Batalha da Grã-Bretanha, que começou em julho de 1940 e foi travada entre as forças aéreas alemã (Luftwaffe) e britânica (RAF – Royal Air Force). Londres foi uma das cidades mais afetadas e ficou completamente destruída pelos constantes bombardeios. É exatamente aí o cenário montado para a fic. Universo Alternativo. A música utilizada é What I've Done, do Linkin Park, porque as letras dessa banda sempre me fazem lembrar de histórias relacionadas ao Draco! As citações em cada início de capítulo são dos respectivos autores descritos logo abaixo delas. Essa fic participa do I Challenge UA do Fórum do Grimmauld Place e também do Projeto Ficwriters Estações – Inverno.


Prólogo

1945. As ruas de Londres ainda estavam repletas de sombras do que um dia havia sido uma cidade próspera. O que restava dos casarões e grandes fábricas do berço da civilização industrial jazia em meio à fumaça de destruição provocada pelo frio intenso do inverno. Milhares de sonhos, ilusões e vidas caíram, sepultadas por montes de entulho inertes, o pouco que restava de uma nação.

Um homem caminhava pelas ruas naquele alvorecer. Os passos carregavam uma determinação que não condizia com o que lhe ia à alma. Ele era jovem, porém carregava nos ombros o peso de um século. A farda suja, rasgada e o coturno surrado eram incapazes de protegê-lo do vento que cortava a pele e secava os lábios e as lágrimas. Era quase como se fizesse parte daquela cidade: estava tão morto quanto ela. Seus olhos, de um azul acinzentado, esquadrinhavam os cantos cheios de entulho, talvez à procura de algo que tivesse perdido anos atrás, quando ainda julgava haver tempo para se ver livre daquele inferno que construiu aos poucos para si.

Ele sabia que morreria sem glória, velho e imprestável numa cama de um cortiço qualquer, exatamente como milhares de velhos e imprestáveis que não têm força ou convicção para agir. Em meio a uma guerra, foi o desertor, o traidor, o espião. E, no fim, carregava a sina de ser nada mais que um covarde. Um sobrevivente morto. Era assim que se sentia.

Ajustou a gola do sobretudo que vestia por cima da farda, como se ele pudesse proteger do frio invernal o seu coração gelado. Escondeu os cabelos loiros como podia com o quepe para se camuflar de si mesmo. Era alemão em cada gota do suor fétido e estava marcado por feridas de guerra, mas não se importava em ostentar pelas ruas o surrado uniforme da Royal Air Force britânica, um dos poucos tesouros que lhe haviam restado. Uma das poucas coisas que tinha o poder de fazê-lo retroceder os anos, como se pudesse voltar atrás e viver uma vida que já não era mais sua. Como se pudesse esquecer o toque macio dos fios ruivos que o marcariam para o resto da vida. Como se pudesse se negar a mergulhar naqueles olhos castanhos e se perder para sempre dentro deles.