Título: O Silencio da Tua Voz

Gênero: Angst

Classificação: Yaoi / Slash

Aviso: Harry Potter e personagens pertencem a JK Rowling. Fic sem fins lucrativos.

Pares: James S. x Scorpius x Albus S.


I

Os sentimentos não acontecem por acaso... Existem fatores que desencadeados, levam ao nosso interior estímulos constantes que mudam nossa forma de enxergar as pessoas que estão ao nosso redor.

E se gostar de alguém pudesse ser ditado por nossa razão... Muitas coisas seriam evitadas, muitos sofrimentos impedidos...

Muitos corações seriam poupados...

E só damos conta dessa mudança interior quando se é tarde demais...

Agora Scorpius entendia porque seu pai fez aquela expressão de preocupação e tristeza, o olhando nos olhos tão profundamente quando lhe disse que havia sido convidado a passar a semana num acampamento com a família Potter.

Porque ele já sabia muito antes de saber...

Porque ele viu em seus olhos, assim como viu nos olhos deles...

E mesmo querendo falar, sentindo seu coração se apertar ao ver a inocência no rosto do filho. Draco silenciou sua voz...

Havia momentos que era necessário passar para aprender a viver. Não estaria ao lado do filho para sempre, cuidando e tomando para si as dores que ele passaria...

Não dependia mais de suas escolhas... A escolha agora cabia unicamente a Scorpius...


Aquela semana foi uma das melhores que passou na vida e tinha certeza que jamais se esqueceria dela.

Já conhecia a família Potter, mas não tanto como passar o dia todo com eles.

Harry Potter era divertido. Gostava de participar dos jogos de Quidditch com eles quando alguns dos primos de Albus não queriam jogar e faltava um membro para formar os times. Ele nunca tomava o posto de goleiro nem de apanhador se mantendo apenas como batedor para equilibrar o jogo.

Por incrível que parecesse, Scorpius se mantinha como goleiro e Albus que sempre estava em seu time era o apanhador. Essa formação mantinham não somente em Hogwarts no time de Slytherin como numa brincadeira qualquer como ali.

James não gostava do posto de apanhador, ele preferia o de artilheiro e também sempre mantinha seu posto mesmo quando não estava em Hogwarts. Scorpius lembrava de ter visto uma vez ele discutindo com Rose que pediu para que ficasse no lugar de Victoria por ela ser muito cega para enxergar a Snitch.

Quando disputavam em Hogwarts, a rivalidade entre Scorpius e James era a mais esperada para a platéia, pois se tratava de um Potter e um Malfoy. Muito mais interessante que os apanhadores.

Enquanto tomava a frente dos aros, notou James lhe sorrindo de canto. – Quer apostar quanto que marcarei cinqüenta pontos em cinco minutos?

- Nunca conseguiu mais que dez na primeira hora! – rebateu erguendo o queixo.

E como dito, James parecia estar bem disposto a conseguir sua meta, pois ficava em posse da Quaffle muito mais que os artilheiros de seu time. Como esse time era formado de quem nunca entraria num time de Hogwarts, já era de se esperar que a habilidade do mais velho dos Potter superasse os demais.

No final, sempre acabavam disputando os dois, pois sua habilidade em defender os aros era incrível, como disse uma vez o tio de Albus, Ronald, que foi goleiro em sua época de escola.

No almoço a família toda se reunia e enquanto os mais velhos comiam numa mesa improvisada, os mais novos sentavam fora da cabana em um tronco tombado que tinha perto da varanda ou nos degraus desta.

Seu lugar sempre era na ponta do terceiro degrau e ao lado de Albus.

James vinha por ultimo e não se sentava preferindo recostar o corpo na grade que cercava a pequena varanda justamente a seu lado, pois era o único lugar que lhe permitia apoiar o copo de suco de abóbora sem que este ameaçasse tombar.

A noite era tranqüila e ficava deitado na relva em companhia de Albus apreciando as estrelas numa conversa qualquer.

Albus Severus... Seu melhor amigo...

Lembrava-se que o conheceu no primeiro ano quando se perderam da turma e nem faziam idéia para onde ir. Riram muito quando descobriram o caminho para Sala Comunal de Ravenclaw por engano e a monitora dessa Casa ficou revoltada com eles por quase entrarem em terreno das águias.

Depois disso passaram a conversar com freqüência e acabaram no mesmo dormitório no segundo ano. Foi também no segundo ano que conheceu pessoalmente James Sírius e acabou sendo o alvo de suas piadas.

Ficava revoltado quando o irmão mais velho de Albus ria de si. Isso o incomodava ao extremo, principalmente quando ele o tratava de criança.

Mesmo ali, já com catorze anos, James vivia lhe tachando de 'moleque'.

- Todos fiquem próximos do moleque Malfoy para não se perderem! – James anunciou em voz alta para os primos e os irmãos quando no terceiro dia de férias saíram para uma caminhada e acabaram tardando mais que o necessário em voltar e acabou por escurecer no meio do trajeto – Ele é nosso sinalizador enquanto tentamos achar um jeito de fazer fogo já que não podemos usar magia fora de Hogwarts.

Scorpius o encheu de socos, mas só conseguiu arrancar mais risadas do Potter. Só porque era o único loiro ali, visto que Victória não os acompanhava no passeio, não permitiria que ficassem tirando consigo.

- Vai se ferrar James!

Então teve que tropeçar em algo que no escuro não viu o que era e acabou torcendo o pé. Maldita sorte...

- Melhor continuar andando – Rose disse – Não estamos tão longe da cabana. Vejam, ali tem luz.

Realmente dava pra ver a luz que provinha da cabana, mas até chegar nela era um pouco demorado.

- Está bem? – Albus o ajudou a levantar e a recolher sua mochila.

- Estou... Eu acho... – mas quando foi dar um passo, teve que fechar os olhos e ficar imóvel tamanha dor.

Então se assustou quando James o puxou e o fez montar em suas costas o carregando o resto do caminho.

- Venha moleque. Quem manda ser estabanado? Pelo jeito sua linhagem aristocrática não foi feita para caminhadas rústicas em meio à mata.

Scorpius não respondeu.

Ali, envolvendo o pescoço de James com os braços e a cintura com as pernas, foi a primeira vez que notou como seu coração estava acelerado. Também sentia o calor do corpo dele e como o cabelo escuro era macio e lhe acariciava o rosto.

Foi depois desse dia que acabou notando coisas que não notava...

James era alto e sorridente, mas tinha vezes que o via sério e pensativo. Por ser mais velho a diferença entre ambos era grande. James já tinha o corpo definido...

Muitas vezes se pegava o observando. Vendo como ele embrenhava os dedos pelo cabelo retirando a franja dos olhos. Ou quando parava frente à janela com uma mão no bolso e a outra segurando uma garrafa de água.

E queria se estapear quando se dava conta que o olhava demasiado...

- Como está o tornozelo?

- Bem... – desviou os olhos assim que teve os olhos dele sobre si – Seu pai sabe muitos feitiços de cura...

- Deve ser porque é auror... – James deu de ombros ajoelhando frente ao loiro e tomando seu pé machucado para ter certeza que estava melhor – Não seja tão imprudente em terreno acidentado. Poderia ter quebrado ao invés de torcido.

Deveria agradecê-lo por ter lhe trazido o restante do caminho, mas sua voz não saía... E sentia como seu coração voltava a bater mais rápido com essa proximidade.

Observou como a franja lhe cobria os olhos, então estendeu a mão e lhe quitou os fios para trás da orelha só então se dando conta do que acabava de fazer.

Arregalou os olhos e reteve a respiração antes de empurrá-lo e se levantar da poltrona. – Melhor eu ir dormir...

Caminhou mancando até o quarto dando graças a Merlin que James não o olhou nos olhos e nem em seu rosto, pois sentia as bochechas queimarem. Certamente estava corado de vergonha.

Só não viu que James não o olhou porque seus olhos desviaram para a entrada da cabana onde ali parado e os olhando estava Albus.

O mais novo dos Potter desviou os olhos com uma expressão dolorosa e saiu a caminhar sozinho.

O vazio que sentia dentro do peito era tão sufocante que não agüentaria ficar dentro do mesmo quarto que o amigo e o irmão.

E o arrependimento de ter chamado Scorpius começou a assaltá-lo lá no fundo. Como se assim, ele nunca olharia dessa forma para James...


Scorpius não podia mais participar do Quidditch por causa do tornozelo e nem de outras brincadeiras que exigia esforço físico.

Ficava sentado na grama observando os outros se divertirem e se sentia frustrado por ter que passar o resto das férias de castigo por culpa do azar.

Muitas vezes Albus lhe fazia companhia e passavam o tempo jogando xadrez de bruxo ou snap explosivo.

Nesse dia estava sentado debaixo de uma arvore tentando ler um livro quando notou que James se afastava do jogo reclamando algo.

Ergueu os olhos e o viu desmontar da vassoura enquanto olhava para Victoria quem o chamava de volta.

- Assim não dá. É muito fácil vencer seu time sem o Malfoy de goleiro.

Scorpius abraçou o livro e baixou os olhos tentando ignorar a conversa, mas sentia como se algo dentro de si borbulhasse de uma sensação gostosa perante as palavras de James.

Voltou a erguer os olhos vendo como ele caminhava com a vassoura na mão direita e os outros voltavam para o jogo mesmo sem um artilheiro.

E se...

Mordeu o lábio inferior duvidando, mas queria fazer algo diferente do que ficar ali lendo um livro que ao menos se interessava.

- James... – sua voz saiu tão baixa, mas o Potter ergueu os olhos em sua direção atendendo o seu chamado – Não vai mais jogar?

O moreno caminhou em sua direção negando com a cabeça. – E você como está?

- Bem... – ergueu os ombros com desleixo deixando o livro de lado – Eu... Queria dar uma volta...

Viu como James fazia o mesmo movimento de embrenhar os dedos pelo cabelo para segurar a franja longe do rosto e olhava para outro lado, pensativo.

Talvez não devesse ter aberto a boca, se culpou mentalmente percebendo como soava muito estranho o seu comentário.

Então o Potter lhe estendeu a mão. – Venha.

Com o coração palpitante segurou a mão estendida e se pôs de pé. James montou na vassoura e o ajudou a montar também.

Quando se abraçou na cintura dele, voltou a sentir o calor que emanava de seu corpo e sorriu feliz.

Com suavidade tomaram altitude e se embrenharam pela mata passando pelas árvores... Esse foi o passeio mais emocionante que já teve. Não pela forma que voavam, mas pela companhia que tinha.

E desejou que esse dia não acabasse... Desejou poder fazer isso muitas e muitas vezes...

E quando retornaram antes do anoitecer, Albus estava sentado sozinho na varanda. Tinha nas mãos um caderno e escrevia algo nele.

Ainda mancando um pouco se aproximou e se sentou ao seu lado esticando o pescoço para ver o que fazia. Então o amigo fechou o caderno e o apertou contra o peito.

- Não posso ver?

Albus ergueu os olhos verdes e o mirou durante um tempo. Essa foi a primeira vez que reparava como ele tinha os olhos tão intensos que chegava a queimar. Talvez nunca antes ele o olhara dessa forma...

- Se divertiu? – e os olhos de Albus buscaram a paisagem ao longe mais perdido em si mesmo do que na imagem que se estendia diante de seus olhos.

Scorpius franziu o cenho pela mudança de assunto. – Sim. Foi divertido.

- Que bom...

Ficaram em silencio sem saberem o que dizer quando alguém o chamou.

- Hei Malfoy – era Victoria que estava lá dentro – Precisa tomar a poção pra dor e refazer o curativo.

Enquanto o loiro respondia e entrava na cabana, Albus deixou um longo suspiro escapar de seu peito e fechou os olhos com pesar.

Queria que Scorpius lhe pedisse que o levasse para passear... Que seus sorrisos fossem para si...

Queria apenas que ele o enxergasse...

Nessa noite, enquanto todos estavam dormindo, Albus permaneceu acordado. Apoiava o peso do corpo nos braços enquanto admirava o contorno delicado da nuca de Scorpius.

Levou os dedos até os fios platinados e sentiu como eram suaves ao toque.

Então afastou a mão sentindo-se morrer por dentro...

Ele era o motivo que o fazia sorrir, desde quando estavam no segundo ano. E sentia-se importante quando obtinha sua atenção, quando o fazia rir...

Quando ele encostava em seu corpo para lhe sussurrar segredos ao ouvido...

E as lagrimas deslizaram silenciosamente por seu rosto...


Longe de seus olhos, os Potter não estavam sendo os irmãos unidos que eram.

James já não ajudava a Albus em suas malandragens, nem o via com freqüência...

Albus preferia se manter distante de James, submerso em seu próprio mundo interior...

O mais velho o observava ao longe, vendo seu rosto triste e para onde seus olhos direcionavam quando achava que ninguém o mirava.

E se sentia péssimo...

Então buscava a figura pálida de Scorpius que conversava tranqüilamente com Rose até o momento em que ele o olhava. E lhe sorria timidamente...

Então baixava a mirada e se afastava de sua presença, com a certeza de que estaria ferindo sangue de seu próprio sangue.

Pois sentia na pele a mirada esverdeada sobre ambos...

Uma mirada extremamente triste...

E quando o ultimo dia terminava e guardavam as coisas para partirem, Scorpius respirou fundo se aproximando de James. Parou a poucos centímetros de distancia sem conseguir encará-lo.

Precisava dizer-lhe tantas coisas... Seu coração batia tão forte com a mera proximidade de seus corpos e borboletas revolviam agitadas em seu estômago.

E a necessidade de ficar mais perto dele era imensa, assim como era imenso esse sentimento que o aquecia inteiro...

Estendeu a mão trêmula e a pousou sobre o peito de James encostando a testa em seguida para se surpreender como o coração dele também estava agitado.

James apertou os punhos e não se moveu.

Não houve afastamento assim como não houve aproximação.

O vento soprou entre ambos e seu cabelo platinado dançou no ar por um momento junto com a camiseta de James e pôde sentir seu perfume...

Abriu os lábios para dizer-lhe, mas sua voz foi silenciada pela voz murmurada do moreno.

- Por favor, não diga... – surpreso, Scorpius abriu os olhos que até então estavam fechados – E não me obrigue a dizer...

E a dor foi profunda...

James afastou um passo cortando o contato de seus corpos. Sem mirá-lo recuou como as ondas do mar que deixam a praia levando consigo aquilo que outrora trouxera.

E foi como se levasse sua alegria também...

Abraçou-se a si mesmo na tentativa de se manter em pé e seguro. Sentindo desmoronar por dentro.

Quando James entrou na cabana se recostou na parede e tampou os olhos com uma das mãos soltando um entrecortado suspiro.

Harry o olhava tristemente. – Tem certeza do que fez?

James confirmou com a cabeça. Seus olhos buscaram a Albus que se aproximava do amigo com a mesma expressão de angustia que ultimamente não deixava seu rosto, roubando seus sorrisos e o brilho de seus olhos...

Ele passava um braço pelos ombros de Scorpius num conforto sem palavras...

E Harry leu nos lábios de James o que não ouviria em voz alta...

Por Albus...


Quando foi deixado em casa, Scorpius teve a mão segurada firmemente pelo amigo.

O olhou aguardando o que ele queria lhe dizer, vendo como ele o olhava daquela mesma forma intensa como havia o olhado depois que retornou do passeio com James.

Ele chegou a abrir a boca para dizer-lhe algo, mas como da primeira vez, Albus afastou a mirada e soltou sua mão.

Ficou ali no batente da porta vendo como ele se distanciava de cabeça baixa até onde sua família estava. Então seus olhos se pousaram em James, que o mirava penetrante.

Acenou com a mão para se despedir enquanto eles sumiam pela chave de portal.

Então sentiu uma mão se pousar em seu ombro e não esperou para girar o corpo e afundar no abraço paterno.

Draco acariciou o cabelo do filho com extremo carinho. – Vai ficar tudo bem...

Scorpius duvidou das palavras confortantes de seu pai, pois não tinha mais coragem de olhar para James...

Pois não seria mais como antes...

Porque o que sentia estaria ali, colocando uma barreira entre ambos.

Quando subiu para o quarto a primeira coisa que fez foi cair deitado na cama e tampar os olhos com os braços.

Queria dormir e nunca mais acordar, assim não precisava enfrentar a realidade e o que lhe corroia por dentro...

Não queria enfrentar Hogwarts... Não queria enfrentar a James...

Girou o corpo de lado e observou sua bolsa de viagem, jogada ao seu lado na cama. Ela estava um pouco aberta e dentro se via algo escuro.

Passou os dedos e retirou o objeto para ver o que seria.

Um caderno de capa preta...

O caderno de Albus...

Ele deveria ter colocado em sua bolsa antes de retornarem à casa.

Incorporou a fronte e puxou o caderno para ver melhor e ao abrir a capa, se impressionou.

Em cada folha havia um desenho. Em cada desenho o seu retrato.

Minuciosamente traçado. Cada expressão, cada curva e cada fio de cabelo...

Era Scorpius que preenchia cada folha em branco, dando vida ao nada...

E sorriu em meio as lágrimas que escapavam de seus olhos...

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Continua

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