CardCaptor Sakura e seus personagens pertencem ao CLAMP. Apenas peguei-os emprestado.


Rich Girl

I – Fuga

"Já cansei de ficar aqui", pensou ela, enquanto observava o jardim através da janela. Estava tudo planejado para esta noite. Iria sair e se divertir. Para onde iria, ainda não sabia, já que não costumava andar pela cidade. Ninguém saberia, é claro, pois seu pai nunca a deixaria sair do castelo, ainda mais sozinha, sem a guarda de seu irmão mais velho. Sakura suspirou, apoiando-se sobre os cotovelos. Ás vezes se cansava de pertencer à família real e por causa disso nunca poder decidir sobre nada. Mesmo estando com dezesseis anos, ainda tinha que viver sob as regras que cercavam a alta sociedade. O que era um saco, na opinião dela.

Após o jantar, deu boa-noite ao seu pai, Fujitaka, e seu irmão, Touya, e subiu para o seu quarto, como fazia todas as noites. Deitou-se embaixo das cobertas e fechou os olhos, esperando. Quando o castelo se encheu de silêncio e todos pareciam dormir, ela se levantou. Colocou um vestido preto, que terminava um pouco acima dos joelhos. Abriu a janela cuidadosamente, sem fazer qualquer ruído. Olhou para baixo, sentindo o vento levantar seus cabelos. Um frio passou-lhe pela barriga. Apesar de seu quarto ficar no terceiro andar, havia construído uma corda amarrando diversos panos que pegara da lavanderia. Só esperava que eles fossem agüentar seu peso.

Amarrou uma das pontas ao pé da cama e jogou a outra para baixo, que caiu em cima da grama fofa. Tinha que ser agora. Passou pela janela e foi descendo, segurando firmemente nos nós que havia feito e apoiando os pés na parede. O vento atrapalhava, balançando a corda e jogando Sakura de um lado para o outro. Sem olhar para baixo, ela continuou descendo, até que seus pés encontraram a grama.

O problema agora era outro. Não havia como pular o muro, que era extremamente alto. Mas ela sabia que, por volta das onze horas, o porteiro deixava o seu posto para buscar seu jantar com a cozinheira. Escondeu-se atrás de uma árvore de onde podia observá-lo. Quando ele saiu, atravessou o portão correndo.

Mal podia acreditar que estava do lado de fora. Parecia que havia deixado todos os seus problemas para trás. Onde ela estava agora ninguém lhe diria o que fazer, ou como fazer, ou para onde ir. Tudo era uma decisão que ela deveria tomar, sozinha, sem ser influenciada por ninguém.

Caminhou pela rua. Observava as pessoas indo e vindo, conversando alegremente, os casais abraçados e se beijando. Todos curtindo sua noite de sábado. Os bares estavam abertos, lotados, e Sakura pode ver dezenas de cores nos anúncios luminosos e ouvir as diferentes músicas que se juntavam naquela única avenida. Agora poderia se divertir de verdade, como as pessoas normais. Nada de festas chiques e tediosas, com pessoas mais chatas ainda.

Ia atravessar a rua quando alguém puxou seu braço, trazendo-a para um beco escuro.

"Ora, ora... O que temos aqui?"

Ela levantou os olhos, vendo parcialmente dois homens vestidos de preto. Voltou-se para a rua.

"Com licença."

Um dos sujeitos colocou a mão no ombro de Sakura, empurrando-a contra a parede.

"Onde você pensa que vai?"

"Nós vamos nos divertir um pouco..."

Enquanto um deles segurava seus braços, o outro começou a deslizar a mão pelas suas pernas, subindo para dentro de seu vestido.

"Me solta!"

"Eu sei que você quer fazer isso."

Sakura fechou os olhos. Não conseguia se mexer, mas ainda podia gritar.

"Socorro!"

"Você vai gost..."

Ouviu um barulho de pancada. Outro. Sentia-se livre, mas ainda tinha medo e permaneceu de olhos fechados. Sem saber o que estava acontecendo, começou a chorar.

"Ei moça... Está tudo bem agora."

Ao ouvir aquela voz diferente, pacífica, Sakura abriu os olhos e viu, entre as lágrimas, um garoto da sua idade, olhando-a.

"Você está bem?"

"Es... estou..."

Olhou para baixo e viu seus dois algozes, desmaiados no chão.

"Daqui a pouco eles vão acordar. Vamos sair daqui."

O garoto andou até a luz da avenida. Sakura olhou melhor para ele. Era bonito e simpático. Ainda meio tonta pelo que havia acabado de passar, seguiu-o.

"Eu posso te levar até a sua casa, se você quiser."

"Não! Quer dizer... não precisa."

Não queria revelar ao novo amigo que ela era uma princesa, que morava em um castelo e que era a herdeira da maior fortuna do país. Se fizesse isso, ele se tornaria como as outras pessoas, que só se aproximavam dela pelo seu dinheiro. Estava feliz que ele não soubesse quem ela realmente era, e pretendia continuar assim. Por isso resolveu dar uma desculpa, ante o olhar preocupado do garoto.

"Eu moro aqui perto, posso ir andando sozinha."

"Tem certeza? Existem muitas outras pessoas por aí que podem tentar se aproveitar de você."

"Eu sei, mas tomarei cuidado."

Despediu-se e correu de volta para casa. Estava arrependida de ter desafiado as regras e saído de casa sozinha. Se aquele garoto não tivesse aparecido... Não queria nem pensar. Na sua mente só dizia para si mesma que nunca mais fugiria de casa, e que faria tudo que seu pai pedia.

Quando alcançou o portão, ele estava do lado do porteiro, de braços cruzados, esperando-a.


"Pai, me desculpe, eu..."

"O que você estava pensando?"

"Eu não sei..."

"Vá já para o seu quarto. E não saia enquanto eu não mandar!"

Sakura subiu, chorando. Fujitaka virou-se para o filho mais velho, que observava a cena.

"Fique de olho nela."

"Sim, senhor."

Continua...


Essa é minha primeira fic em capítulos, e espero que tenham gostado deste começo. Muitas coisas ainda estão pra acontecer, então continuem acompanhando! -