O vento
insistia em cortar o silêncio que dominava o lugar. Sakura
estava com receio até de respirar, temendo que qualquer
atitude sua pudesse piorar ainda mais a situação.
Imaginou que estava preparada para aquele momento, tolo engano. Nada
no mundo inteiro teria preparado seu coração para o
reencontro com aquele a quem por fim entregara seu amor.
Entre
seus pensamentos confusos, sentiu um leve cutucar nos ombros:
-
Ei garota, não preciso usar o Shintenshin no Jutsu para saber
o que você está pensando...
Sakura volta os olhos
para a amiga, sorrindo disfarçadamente:
- Não sei
do que está falando, Ino.
-Vamos lá, já não
somos mais duas garotinhas. É mais que hora de terminarmos com
essa disputa tola. E também não aguento mais não
saber o que se passa com você...
O silêncio
momentâneo entre a fala das amigas é interrompido por
uma figura estrondosa que faz uma chegada "impactante":
- Ei,
Kiba, qual a necessidade de fazer esse estardalhaço todo?
-
Você não tem estilo, Ino. Não me culpe por isso,
né Akamaru? – O amigo canino responde, com seu latido
característico, enquanto seu companheiro humano dá uma
boa olhada nas duas colegas à sua frente: - Mas por que vocês
duas não estão nos uniformes ninja de vocês?
As
duas se entreolham, num sorriso cúmplice. As duas estavam
exalando todo o frescor dos seus 18 anos, recém completos. Ino
trajava uma saia rodada em estampa floral de tons claros, combinada
com uma blusa branca de alças finas, bem alinhada ao corpo. O
cabelo estava solto, destacado apenas por um arranjo minúsculo
no topo da cabeça, prendendo a franja que era sua marca
característica, estava muito bonita, mas não tanto
quanto Sakura: A bela jovem de cabelos rosados usava um vestido verde
claro, de pano leve e esvoaçante, pouco acima dos joelhos e
rodado, cintura bem marcada, estilo frente única. O decote
discreto acentuava os seios bem definidos e o contorno ao dorso
desnudo fazia com que a pele "respirasse" por sobre a roupa.
Estava como uma manhã fresca, os cabelos novamente longos
presos num rabo de cavalo repousado sobre o ombro esquerdo dava um ar
de menina ao rosto delicado, porém decidido.
- Estamos de
folga hoje e não é da sua conta, seu mal educado. Disse
Ino, ainda aborrecida com a entrada barulhenta dele.
Kiba deu uma
boa olhada, pensando se era válido levar adiante a discussão,
dado à fama de temperamento curto de ambas... imaginou o
estrado de um golpe bem aplicado pelos punhos de Sakura e avaliou que
não, acabara de sair de um longo período de recuperação
no hospital de Konoha, não tencionaca voltar para lá
tão cedo.
- Bem, só estou dizendo isso porque a
Tsunade-sama convocou todos os shinobis da vila para um comunicado.
Dia estranho para se tirar folga.
Ino e Sakura entreolharam-se,
espantadas. Sakura não compreendeu, afinal era pupila de
Tsunade e estivera com ela a poucos minutos e nada ficara sabendo
sobre o comunicado que parecia tão urgente.
- Está
sabendo de alguma fofoca dos bastidores, Sakura?
- Estou tão
no escuro quanto você.
O rapaz deu de ombros, decepcionado.
- Bem, esperava que você soubesse de alguma coisa, porque
eu tô muito atrasado no meu treinamento com o Akamaru. Isso me
pouparia um bocado de tempo, mas fazer o que? Vamos, Akamaru!
Antes
que pudessem dar conta, os dois seguiam caminho por entre os telhados
da vila, aproveitando aquele pequeno trajeto para um mínimo de
exercícios.
- Bem Sakura, acho que o destino te deu uma
ajudinha, vai poder encarar isso depois.
Olhando para os próprios
pés, caminhando para a montanha dos Hokages, Sakura imaginava
por mais quanto tempo seria ajudada para arrumar desculpas para o
inevitável.
Não
muito longe dali, uma esfumaçante tijela de ramen estava para
ser devidamente "finalizada" por um certo freguês assíduo:
- É isso aí tio, tava com uma saudade desse
ramen... o Ichiraku Ramen é o melhor, sem dúvida!
Contente com o elogio de um de seus melhores fregueses, o dono
deposita uma generosa fatia de carne de porco:
- Por conta da
casa!
- Isso! Itadakimasu!
Antes que sequer sentisse o gosto
da "iguaria" tão apreciada, uma voz conhecida parece bem
irritada atrás dele:
- Oniisan, o que que você tá
fazendo aqui? Isso não é hora de ficar enchendo a
barriga com Ramen... deixa só a Tsunade-Sama descobrir que
você tá por aqui...
Quase engasgando, ele bebe o
conteúdo fumegante da tijela.
- Ô Konohamaru, isso
lá é maneira de chegar perto das pessoas? Olha lá
que eu te dou uns cascudos, pivete. A vovó-sama espera um
pouquinho, meu estômago tava colado nas costas já... não
dá prá fazer o meu trabalho morrendo de fome!
-
Tudo bem, mas ela me encarregou de levar você inteiro e sem
atrasos, ou seja, vamos logo oniisan!
- Tá, tá...
vamos logo com isso.
"Droga, nem deu prá apreciar o
ramen... ainda bem que o tio me deu dois cupons de desconto, depois
eu volto e vou me acabar de tanto comer!"
- Esse Naruto, sempre atrasado! – O
soco na mesa derruba uma das pilhas de papéis sobre a mesa –
Não se pode confiar nele prá nada, nem mesmo prá
entregar uma mensagem!
- Tsunade-sama, já enviei o
Konohamaru-kun para encontrá-lo, deverão estar aqui em
breve.
- O problema, Shizune, é que eu preciso falar com o
Naruto antes de qualquer outra pessoa. Ele deve escutar isso
primeiramente de mim. – Tsunade desaba cansada sobre a poltrona. A
assistente contorna a mesa de madeira antiga, ficando de frente para
a mestra.
- Sim, é uma coisa grande a se contar, creio que
ele vá se surpreender.
Olhando para a porta aberta,
Tsunade murmura entre os lábios:
- E você ainda tem
alguma dúvida?
Shizune fica um instante em silêncio,
parecendo evitar a pergunta, mas reúne coragem suficiente para
seguir:
- Mas e a Sakura, quando pensa em contar para ela?
Acredito que também deveria prepará-la.
Mais
tranquila, limita-se a olhar para a pupila.
-Sakura já
aguenta um soco ou dois, disso eu dou garantia.
- Tô aqui, prá que essa
pressa toda?
Ele estava visivelmente desarranjado, com cara de
quem tinha corrido muito para chegar até ali.
- Não
vejo o que poderia ser tão importante para que esse cara –
aponta para Konohamaru parado na soleira da porta – venha me
incomodar no meu horário de almoço.
Tsunade apoia o
queixo nas mãos, observando a figura à sua frente.
Dirige-se À ele séria:
- Naruto, sente-se. Shizune,
Konohamaru, deixe-nos a sós.
Ino e Sakura estavam quase alcançando o
local da reunião, quando Naruto aparece agitadamente na frente
das duas. A aparência dele é transtornada, algumas
lágrimas saindo naturalmente, sem que ele se importasse com
isso. Ao depara-se com Sakura, a primeira reação dele é
jogar-se nos braços da garota, procurando algum alento em seus
braços. Sakura sem entender, receia em confortá-lo ou
não:
- Na-Naruto, o que foi que aconteceu?
Ino apenas
observa, com o mesmo olhar de chocada que Sakura. Alguns instantes
depois, entre soluços, as palavras saem, atrapalhadas:
-
Sakura... eles... nos trairam... aqueles dois...!!!
- De quem
você está falando Naruto, por favor, controle-se! Vamos,
me diga de uma vez, o que aconteceu!
Acalmando um pouco os
soluços, visivelmente abalado ele encara Sakura, tentando
imaginar o quão doloroso seria aquilo para ela. Os segundos
pareciam uma eternidade, e cada vez que ele tentava emitir algum som,
parecia que alguém estava perfurando seus pulmões.
-
Anda logo Naruto, me diz o que aconteceu, que eu já estou
ficando preocupada!
Tomando coragem, pedindo desculpas a si mesmo
por ter que fazer a amiga sofrer daquela maneira, as palavras saem de
sua boca, sem um mínimo de sentido para ele:
- Sasuke e
Hinata vão se casar!
