¤ Prática e Teoria
por mrsdellicourt.


Disclaimer: Alguns personagens, lugares e citações pertencem a J.K. Rowling, Scholastic Books, Bloomsbury Publishing, Editora Rocco ou Warner Bros. Entertainment. Essa estória não possui fins lucrativos e pode conter spoilers, principalmente do sétimo livro.


Dezembro, 11.

Você é um fracasso, Lily Evans. Um fracasso bem grande. E não adianta tentar me convencer do contrário, consciência.

Lá estava eu, Lily, dezesseis anos, um metro e setenta e três, ruiva potencialmente problemática, Monitora Chefe e aluna aplicada da Grifinória, fazendo o meu caminho pelo jardim do castelo num domingo. Já comentei o quanto eu adoro os domingos? São dias perfeitos para aplicar detenções. Augustine me disse que, enquanto estava passeando por Hogwarts — e é claro que isso significava que ela estava se agarrando com algum Hufflepuff bonitinho ou um Ravenclaw estudioso —, viu duas pessoas voando no Campo de Quadribol. Eu havia percebido certa monotonia no Salão Comunal da Grifinória, e vi que nem Potter nem Black estavam lá para atazanar os alunos.

E é claro que eram eles os infratores, como eu pude constatar quando cheguei onde estavam. Era a minha chance.

— Potter e Black! Desçam já aqui! — eu gritei com a minha voz mais autoritária. Eles inclinaram as vassouras para baixo dramaticamente e pousaram com perfeição no gramado.

— Bom dia, Lily, minha flor. Estava sentindo a minha falta?

Ah, é. Potter tem essa mania incrivelmente irritante de achar que eu sou dele, e faz questão de me aborrecer com isso. Todos os dias eu tenho que agüentá-lo me chamando de ruivinha, minha flor, meu anjo, meu lírio, meu não-sei-o-quê e etcs, e se você está interessado em saber, diário, isso não é nada divertido. Ele levou a mão até o cabelo e o despenteou daquele jeito ridículo, deixando-o mais bagunçado do que já era. Eu cruzei os braços e olhei-o com a sobrancelha erguida.

— Evans para você, Potter. E não sou sua flor.

Ele riu, e Black acompanhou-o. Ah, Senhor. Sirius e James, os Marotos mais inconfundíveis de Hogwarts. Bem, por mais que eu queira evitar, uma apresentação é necessária. Os Marotos são James Potter, Sirius Black, Remus Lupin e Peter Pettigrew. Eles se auto-intitularam assim no quarto ano, mas são melhores amigos desde o primeiro. Os Marotos são simplesmente os maiores infratores de regras de Hogwarts, os recordistas de detenções e castigos e o terror da escola, mas, quase impossivelmente também, são aqueles que dão a Hogwarts o charme necessário.

É claro que você não entendeu nada, mas calma, eu explico. Por mais idiotas, chatos e impertinentes que fossem, seja azarando alunos da Sonserina só porque se acham superiores ou quebrando regras como se elas não valessem nada, eles eram aqueles que sempre conseguiam fazer as pessoas rirem com suas trapalhadas. Potter e Black são os garotos mais cobiçados pelas garotas de Hogwarts, e todas — eu disse todas, com uma pequena exceção de algumas Sonserinas — elas os amam. Os dois vivem em constante disputa para ver quem "pega" mais alunas, e eu acho isso repugnante, como também acho sem escrúpulos o que eles fazem com Snape, o Sonserino mais Sonserino que já conheci, e que infelizmente já foi o meu melhor amigo¹. Faz parte do meu passado negro, diário, e eu sinto que qualquer dia serei forçada a escrever sobre ele.

Tirando Potter e Black, que só aumentam a sua fama por serem jogadores de Quadribol, nas posições de apanhador e batedor, respectivamente, temos Remus Lupin e Peter Pettrigrew. Remus é o meu melhor amigo, companheiro de biblioteca e parceiro de vício por chocolate. Eu e ele somos os melhores da turma, empatados com Potter e Black, que são ótimos alunos e isso eu tenho que admitir — apesar, é claro, de só bagunçarem durante todas as aulas, derrubando caldeirões cheios ou soltando bombas de bosta quando o professor entra na classe.

Peter Pettigrew é um garoto baixinho, gordinho e estranho que eu sinceramente não entendo como está no grupo. Ele tem cabelo loiro sujo meio ralo, olhos pequenos e úmidos de rato e é mais guloso que a Magali dos gibis da Mônica.

— O que nos dá a honra de sua ilustre presença, Evans? — perguntou Black, com sua voz grave e... hm... máscula.

— Bem, Black, de acordo com a regra número 1.805 do livro Regras e Punições: Jardim de Hogwarts, por Helga Hufflepuff, capítulo Quadribol, página quinhentos e trinta e quatro, é terminantemente proibido voar mais alto do que 30m fora dos dias de jogo ou treino. — eu olhei em volta, girando na minha própria órbita, como quem procura algo ou alguém — Acho que não é o caso, certo?

— Nós sabemos disso — disse Potter, convencido como sempre.

— Ah, é? Então devem saber que estão os dois em detenção. — eu disse, um tanto aliviada por ser poupada do trabalho de ter que explicá-los.

— Não estamos em detenção. — ele disse. Eu estreitei meus olhos e, ainda de braços cruzados, confrontei o meu 1,73 de Monitora Chefe com o 1,82 de jogador de Quadribol dele.

— Eu dito as regras aqui, Potter. — eu lhe informei, meus orbes verde-esmeralda lívidos de cólera refletindo-se nas íris cor de âmbar esverdeadas dele. Calmamente, ele colocou a mão dentro da blusa e puxou um relógio de bolso preso por uma fina corrente de ouro que estava escondido dentro das vestes, e me mostrou. Depois, pressionou os dois botões laterais. A frente de ouro detalhada e ornamentada caiu, e eu vi um pequeno relógio.

Ergui ainda mais a sobrancelha. Era uma brincadeira? Depois ele apertou de novo e a face do relógio também caiu, dando lugar a uma nova face, também com o fundo branco, mas apenas um ponteiro e um pequeno retângulo em cima. O vidrinho protetor brilhante e transparente fazia reflexo com a luz do sol e não pude ver o que estava mostrando. Eu era esperta o suficiente para saber que aquilo era...

— Sim, Lily, um medidor de altura. São muito raros, você sabia? E você sabia também que é impossível confundir um desses, sendo que o próprio Dumbledore tentou e não obteve sucesso?

— É Evans, pelas barbas de Merlin.

— Que seja — Potter deu de ombros.

— Você realmente acha que existe a mais remota possibilidade de que eu não saiba?

— Não. — ele me mostrou, em silêncio, o pequeno retângulo — que eu sabia agora que mostrava a maior altura a que uma pessoa chegou a voar no dia —, que marcava 29m. Isso significava que ele não havia infringido a regra.

Potter se afastou de mim enquanto eu lutava contra o meu queixo, que queria cair ligeiramente, e montou novamente na vassoura. Black, que até agora apenas nos observava, o imitou. Os dois impulsionaram-se, levantaram vôo e ficaram planando acima de mim, em uma baixa altura.

— Vocês só sabem desrespeitar as regras! — eu gritei, visivelmente irritada.

— Isso não é desrespeito às regras, Lily! — disse Potter, e eu berrei "EVANS!". — Certo, Sirius?

— Certíssimo, Prongs! — Black sorriu — Isso é uma coisa que você não vai entender nunca, Evans, por mais livros que você leia.

Eu ri secamente, jogando a cabeça para trás. Naquela hora, eu achei que ele estava falando algo estúpido. Para mim, tudo poderia ser encontrado nos livros. Nada escapava de um grosso volume de Tudo O Que Você Precisa Saber Sobre a Magia, ou das fabulosas páginas amareladas de O Preço das Coisas Que Não Podemos Comprar. E agora eu sei que esse pensamento é tão mesquinho quanto "o dinheiro pode comprar tudo, até felicidade", o que todos nós sabemos que é uma grande mentira. Mas, de qualquer modo, eu disse:

— E posso saber o que é essa coisa tão magnífica, Black?

— Respeito à liberdade. — ele proferiu, orgulhosamente, e eu senti o meu coração parar de bater durante alguns segundos. Os dois empinaram as vassouras para cima e voaram até muito mais alto do que trinta metros. Eu me recuperei do meu pequeno transe, a ponto de ver um pequeno objeto reluzente despencar lá de cima. Era o medidor de altura. A força da queda fez a frente abrir e a face do relógio cair, e ele bateu na grade da arquibancada e caiu no gramado.

Eles voaram rapidamente para baixo, saltaram de suas vassouras e Potter se ajoelhou no lugar onde o medidor de altura havia caído. O vidro estava todo quebrado e o ponteiro retorcido girava descontroladamente, assim como os números do pequeno retângulo mudavam com uma velocidade alucinante, e isso só me deixava ver um borrão preto em constante movimento.

— Acho que foi a pressão, James — disse Black para o amigo, que parecia assustado e a ponto de chorar. Eu sorri.

— Detenção — disse, e com um floreio da varinha no ar, dois papéis caíram ao lado dos marotos, indicando o que eles deveriam fazer, onde e quando. Virei-me para Black. — Se vocês respeitassem como dizem que respeitam a liberdade, não ficariam tanto tempo de castigo, porque assim poderiam desfrutá-la mais.

Ele deu um meio sorriso torto. Eu me dirigi a Potter.

— Arranje um jeito de consertar isso e limpar essa bagunça — eu disse, minha voz autoritária e superior possuindo o meu corpo de novo. Girei os calcanhares e vim na direção do castelo. Já estava na hora do almoço, então eu me sentei na mesa da Grifinória e logo uma Tine animada e saltitante se juntou à mim.

— Aaah, que belo dia! Você não acha, Lily?

— Maravilhoso — eu disse, feliz por ter dado mais uma detenção aos malfeitores.

Augustine Devenish é a minha melhor amiga desde o primeiro ano de Hogwarts. Ela é quase o meu extremo oposto — agitada, extrovertida, brincalhona, barulhenta e marota. Ela é o Sirius Black do sexo feminino, incluindo a parte de ser idolatrada pelos garotos e invejada pelas meninas. Não sei nem como ainda não se juntou a'Os Marotos, se bem que ela passa tanto tempo no Salão Comunal com eles que falta muito pouco para que isso aconteça.

Tine prendeu o cabelo dourado num coque frouxo no alto da cabeça e sorriu para mim, com os olhos azuis brilhando de excitação. Eu a conheço há tempo o suficiente para saber que ela queria me contar algo, mas obviamente esperava que eu perguntasse. Soltei os talheres e olhei para ela, sorrindo.

— Muito bem, pode desembuchar.

— Sabe quem me convidou para sair? — ela disse, controlando-se para não gritar e totalmente agitada.

— O Gandhi? — eu perguntei, rindo. Ela fez cara de "quem-é-Gandhi?" e eu balancei a cabeça — Não, não sei. Quem?

Amos Diggory! — ela guinchou, e pude ver seu pé mexer de um lado para o outro de ansiedade embaixo da mesa. Engasguei com o meu suco de abóbora. Amos Diggory?

— O Amos? — eu vacilei, meio assustada — Sério?

— Aham!

Legal, era de conhecimento geral da nação que eu tenho uma quedinha por Amos Diggory desde sempre. Ele tem cabelo castanho claro com fios dourados e olhos amendoados perfeitos, e aquela carinha fofa de anjo e... e... ah! Eu nunca iria dizer à Tine que não saísse com ele, mas eu estava magoada porque ela era minha melhor amiga e... bem, isso não se faz.

— Puxa, Tin... que legal. — eu falei, meio desanimada. Ela pareceu confusa com a minha reação por um instante, mas então uma sombra de compreensão passou pelos seus olhos e ela tapou a boca com as duas mãos.

— Ai, meu Deus! Lil, eu esqueci completamente! Desculpa!

— Imagina, Tin... Pode sair com ele, eu não ligo, de verdade!

— Não mesmo! Eu tenho todos os garotos dessa escola aos meus pés, por que eu sairia justamente com o que a minha amiga... — eu lancei a ela um olhar mortal — ... tem grande afeição por?

Eu sorri, vendo-a se encaminhar até a mesa da Corvinal. Nesse instante, Amélie de la Fontaine, a francesa mais insuportável que Hogwarts já teve o desprazer de conhecer, sentou-se na mesa com sua seguidora, Alicia. Eu já havia terminado o meu almoço e levantei-me da mesa para sair, no mesmo momento em que Potter e Black entravam no Salão Principal, atraindo olhares como sempre.

Apressei-me até a ponta da mesa, onde eles sempre ficavam, e encontrei Remus discutindo algo com Peter. Inclinei-me sobre o tampo de madeira para falar com eles.

— Desculpe-me, Peter, mas será que você poderia me emprestar o Remus um instante? — eu pedi. Peter olhou para os amigos, que já estavam chegando na mesa.

— Claro — ele disse, meio assustado por alguém ser tão gentil com ele.

Eu peguei a mão de Remus e o ajudei a se levantar. Então, olhei para ele e sorri.

— Eu achei!

Ele teve quase a mesma reação que Augustine — ficou confuso por um instante, mas depois abriu um largo sorriso, eufórico.

— E onde está?

— No dormitório feminino — eu disse, meio envergonhada. Ele corou. — Venha, eu te levo.

Antes que eu pudesse começar a andar, puxando Remus atrás de mim, alguém segurou o meu braço. Adivinha quem era?

— Potter — 10 pontos para a Grifinória! — Me solte. — mandei, sem me virar.

— Posso saber para onde você vai com o meu amigo Moony?

Eu girei nos calcanhares e fiquei de frente para ele.

— Ao dormitório feminino — respondi, com a voz firme, fazendo Remie enrubescer ainda mais atrás de mim — Algum problema com isso, Potter?

— Lily, você quer sair comigo?

Eu bufei.

— Não, Potter, e é Evans pra você.

Ele soltou o meu braço e me olhou incrédulo, depois olhou para Remus com certa inveja.

— O que ele tem que eu não tenho? — perguntou, irritado.

— É mais fácil dizer o que você tem que ele não tem, Potter, e isso seria um ego do tamanho do meu desprazer em ficar na sua companhia, que, se você quer saber, é enorme. Você é o sujeito mais orgulhoso, prepotente e convencido da face da Terra. Me surpreende que o chão de Hogwarts não quebre com o peso dessa sua cabeça cheia de bobagem.

— Lily, pega leve... — Remus suplicou, prevendo o começo de uma nova briga.

— E você vem comigo! — eu gritei, puxando-o pelo braço e levando-o na direção da saída. Respirei fundo várias vezes, para acalmar meus nervos, e consegui. Quando eu estava quase passando pelas portas de madeira, a criatura falou de novo, dessa vez se dirigindo ao meu amigo.

— EI, MOONY! Cuidado. A Lily é minha.

Isso foi a gota d'água. Antes que eu pudesse perceber, estava gritando com Potter, dizendo-o que ele era nojento, asqueroso, idiota, repugnante e babaca, que eu nunca seria dele, que ele nunca me teria porque era convencido e egocêntrico, e que me dava vontade de cortar os pulsos só de olhar para ele.

Tudo bem, eu sei que exagerei, mas você tem que ver pelo meu lado, diário! Esse garoto me chama para sair desde o quinto ano! Ele é simplesmente uma praga na minha vida! Todos os dias, pelo menos duas vezes, ele me pede para ir a não-sei-onde com ele, diz que me ama e que quer namorar comigo. Como você quer que eu entenda isso? Como você quer que eu acredite que ele não vai me colocar num pedestal e me chamar de troféu? Potter é imaturo e arrogante, ele quer méritos e mais méritos. Já saiu com quase todas as garotas da escola e continua saindo com elas. Como você quer que eu ache que uma criatura dessas me ama?

Dispensei Remus e vim para o dormitório, onde escrevi tudo isso em você, descontando minha raiva em suas pobres páginas e derrubando algumas lágrimas. E eu continuo achando que sou um total e completo fracasso, diário, e vou te dizer exatamente o porquê: eu me sinto culpada. Eu, Lily Evans, estou com pena de James Potter.

É o meu fim.

צﺎﻨﺍ


N/a: oi, gente!
Bom, pra começar a n/a, eu gostaria de esclarecer certas coisas. Muitas de vocês me conhecem, apenas não me reconhecem. Eu sou a Lih Potter/Chelle Black/Bru Lachapelle, escritora de fics como Mini Saias, Mocaccinos e Deuses e Espelho, espelho meu. Depois de deletar todas as minhas fics e trocar de nome para um totalmente desconhecido, muitas ficaram se perguntando onde eu havia parado e tal... E aqui estou eu!

Prática e Teoria é uma fic que eu adoro e eu estou cheia de idéias para ela, mas só vou poder continuar de vocês me apoiarem, okay? Então eu preciso de críticas construtivas, elogios e xingamentos, mas, principalmente, de reviews!

Beijinhos e obrigada à todas.
mrsdellicourt.


¹ gente, sorry, mas eu sou totalmente contra Severus/Lily.