Declaração: Tudo é da JKR. A única coisa do HP que me pertence são os 7 livros na minha prateleira.
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ATRAVÉS DO TEMPO
Por Britael
Capítulo 1
A nossa história requer certa explicação antes de começar. Muito do que irá acontecer exigirá conhecimentos específicos que são restritos apenas aos acadêmicos mais dedicados. Peço então que me acompanhem por um breve momento enquanto discorro sobre o evento que originou essa aventura e alavancou o nosso herói para essa situação insólita.
Acho que o melhor seria começar pelo objeto decisivo para que esta jornada tornar-se possível, o Vira-Tempo. Mais correto seria dizer os Vira-Tempo, pois foram mais de um. Mas antes que eu me adiante cabe uma explicação do que é um Vira-Tempo.
Eles já vieram de várias formas e tamanhos, mas sua utilização foi sempre a mesma, permitir que seu usuário viaje através do tempo. A utilização é bem simples, ative o seu Vira-Tempo e volte no tempo por um período determinado. Como a maioria das coisas, é muito mais fácil usá-los do que criá-los e a criação dos mesmos é extremamente complexa.
Para começar a entender o funcionamento de tal aparelho é preciso compreender a teoria por trás de como certas substâncias podem armazenar essências básicas das esferas de magia. Esse estudo é denominado em tempos modernos de alquimia, mas muito antes de assim ser chamada ela já era praticada por sábios feiticeiros do mundo antigo, homens e mulheres que buscavam na natureza as características intrínsecas para que, combinadas, obtivessem os efeitos que desejados.
No caso do Vira-Tempo, o ingrediente fundamental são as areias do tempo. Um material lendário de origem ainda não explicada que servia de combustível para os Vira-Tempo originais e que guardavam o potencial de manipular o próprio fluxo do tempo.
Parece bastante impressionante, porém a realidade não é tão pomposa. Muitos materiais apresentam potencial para ser mais do que são, o segredo é destrancar esse potencial. E, pelo menos no caso das areias do tempo, esse segredo foi descoberto. Foram os gregos da antiguidade que, após muito trabalho, descobriram como manipular o fluxo do tempo.
Não fosse o afinco desses determinados artífices e feiticeiros, todo o potencial ainda estaria trancado, inerte, e o tempo continuaria fluindo pelos caminhos traçados durante a criação. Mas, feiticeiros e bruxas não são conhecidos por deixar as leis naturais agirem como foram concebidas...
O fato é que as areias do tempo originais eram um recurso limitado e raro. Um Vira-Tempo era um recurso muito interessante para ser desprezado e em pouco tempo vários foram feitos e seu uso foi tamanho que esse potencial para a distorção do tempo foi perdido na matéria original. Sem a matéria prima que continha o potencial da mudança, os encantamentos que o libertavam eram inúteis. Os Vira-Tempo então tornaram-se apenas lendas.
Séculos depois o movimento alquímico redescobriu-os. Os sábios do passado, ao estudar os vestígios dos Vira-Tempo originais conseguiram entender seu funcionamento e, o mais importante, como identificar o que era necessário para recriar as areias do tempo.
Mas, incapazes de encontrar um único grão das areias originais, sobrou para os alquimistas desenvolverem uma alternativa que funcionasse. Todos sabem que os substitutos muitas vezes não são tão bons como os originais, e esse caso não foi exceção.
A nova geração de Vira-Tempos era extremamente limitada em relação aos originais. O tempo podia ser manipulado, porém de forma bem mais limitada. O usuário podia voltar somente por curtíssimos intervalos de tempo, não mais que algumas horas, e nunca podia de fato alterar a linha do tempo. Se você não entende o que isso significa, vou simplificar: O que aconteceu terá de acontecer, não importa o que você faça.
É frustrante não? De que adianta ir para o passado, nem que sejam algumas horas, se você não pode alterá-lo? Bom, alguns viam utilidade, mas a maioria não considerava isso uma justificativa suficientemente boa para fazer valer o considerável investimento de recursos e trabalho para recriar esses míticos objetos perdidos.
O problema não era exatamente o potencial para mudar o tempo, mas o segredo de como destrancá-lo. O que os gregos antigos tinham descoberto era como destrancar o potencial das areias originais, o que os alquimistas tentaram fazer foi utilizar essa mesma solução para a sua nova areia. Mas isso nunca funcionou a contento. Por meio das mais avançadas técnicas esses especialistas em transmutação conseguiram aumentar, e muito, o potencial das novas areias, muito mais do que as originais, porém nunca conseguiram liberar mais do que uma minúscula fração do mesmo.
Para não dizer que foi um esforço em vão, basta dizer que eles conseguiram miniaturizar os Vira-Tempo e torná-los portáteis. Além disso seriam necessários milhões, senão bilhões, de utilizações para esgotar até o menor e mais fraco deles.
Bom, sinto tê-los aborrecido com todas essas explicações, mas já estou chegando a minha conclusão sobre esse assunto em particular.
Um vira tempo nada mais é que um imenso potencial de mudança temporal contido num pequeno frasco. Uma prateleira cheia deles representa um potencial de mudança realmente gigantesco. Um armário repleto poderia transportar uma vasta área séculos para o passado.
No Ministério da Magia inglês, localizado sob Londres, existia um armário exatamente com essa descrição. Ele teria permanecido intacto, armazenando seus preciosos artefatos, por muitos anos ainda não fosse um grupo de adolescentes.
Nessa noite em particular o mencionado grupo invadiu o lugar e começou um combate contra um grupo de feiticeiros mais velhos. No meio do conflito esses preciosos objetos foram destruídos por um feitiço errante. Os frágeis objetos espatifaram-se contra o chão no meio de uma nuvem prateada.
As areias do tempo assumem a forma de um pó prateado muito fino e leve. Na verdade, o menor vento poderia espalhar uma pequena quantidade por todo um ambiente. Como na maioria das construções localizadas no subterrâneo, o prédio do ministério possui um sistema de ventilação para renovar o ar do ambiente, circulando-o e purificando-o para ser reutilizado.
Naquela noite isso bastou para que em poucos minutos o fino pó prateado estivesse espalhado por toda a construção, desde os seus níveis mais inferiores até o átrio de entrada. Em circunstâncias normais ele acabaria sendo eliminado com o tempo, seguindo com o fluxo de ar e dispersando-se na atmosfera. O fato é que uma força externa tinha erguido proteções para que os mencionados adolescentes não conseguissem fugir e isso teve o efeito colateral de evitar que essas partículas escapassem, mantendo-as circulando no ambiente fechado.
Entenda o seguinte: Embora fosse trágico que esses preciosos objetos tenham sido destruídos, nada de mais grave deveria ter ocorrido. Como mencionado, as areias do tempo tem muito potencial para mudanças, porém destrancar esse potencial é algo dificílimo. Considerando esse fato, qualquer observador poderia argumentar, com razão, que isso não afetaria em nada o resultado do conflito entre os grupo que lutavam entre si nas profundezas do ministério.
Mas não havia de ser assim. Entra em cena o altar.
Esse artefato veio para a Grã-Bretanha apenas dois séculos antes. Vindo da América, onde havia sido usado por séculos para a realização de sacrifícios humanos. Sacrifícios esses feitos pelos feiticeiros Astecas, gerações deles, com o único objetivo de carregar o altar com energia entrópica.
Se você é como 98% dos feiticeiros você provavelmente não sabe o que significa energia entrópica, então explico: Energia entrópica é a manifestação da entropia. E entropia significa o fim, a destruição ou, mais comumente, a morte.
Ou pelo menos é o que a maioria dos estudiosos diria. Eles diriam que o altar estava carregado de energia negra, o combustível para as maldições e feitiços mais terríveis. Energia necromântica possívelmente armazenada para reanimar os mortos.
O que apenas os maiores especialistas diriam, e provavelmente gerariam polêmica caso o fizessem, e que na verdade existe uma distinção entre magia negra e entropia. A magia negra é um aspecto da entropia, mas não é a única característica. Além de representar o fim, a entropia também significa o caminho, o destino ou as possibilidades. A esfera da entropia é abrangente como os demais esferas, ela simplesmente é mais mal vista e incompreendida.
Supostamente, a entropia define as chances e o acaso. Se você possuir o suficiente de energia entrópica, tudo, até o mais improvável, torna-se possível e até mesmo certo.
E esse altar, carregado de potencial entrópico encontrava-se no Departamento dos Mistérios faziam várias décadas. Nunca compreendido, temido e pouco estudado, ele provavelmente permaneceria lá e inerte por séculos.
Ou melhor, deveria ficar. Durante a batalha, um feitiço da morte atingiu uma porta protegida por todo o tipo de encantamentos. Esses encantamentos reagiram de forma bastante negativa, e explosiva, com o poderoso feitiço, arrancando a porta do umbral e levando um bom pedaço da parede consigo. Esse evento expôs o segundo elemento da nossa equação, o famigerado altar.
A participação dele não é imediata, durante algum tempo ele ficou lá, exposto, intocado e reluzente no meio da sala semi destruída. Enquanto isso o combate continuava acirrado, graças a reforços vindo auxiliar um dos lados, feiticeiros de duas facções lutavam entre si e os adolescentes que de certa forma iniciaram a confusão agora tinham apenas uma participação marginal. Ambos os lados lançavam feitiços das mais variadas cores e formas em todas as direções destruindo tudo em seu caminho.
O conflito também havia se espalhado. No saguão principal, muito acima do Departamento dos Mistérios, dois feiticeiros de poderes assombrosos duelavam com a mais impressionante demonstração de técnica e poder das últimas décadas.
Alheio e desinteressado de toda a comoção, uma habilidade compartilhada por todos os objetos inanimados, um pó prateado levando por um sistema de ventilação ocupava de forma quase homogênea todos os recintos da construção, entrando em frestas e salas, atravessando portas e umbrais. Alguém que quisesse perceber e soubesse o que procurar iria encontrar muita dificuldade em identificar o fino pó prateado do ar circundante. Dessa maneira, não é de surpreender, que todos os combatentes respiravam a mistura, acumulando dentro de seus corpos o poderoso material temporal.
No calor da batalha, um combatente achou-se escondido atrás do altar azteca. Provavelmente pensou que a sólida pedra negra poderia resistir bem contra um ou dois feitiços do inimigo. Caso se tratasse de uma pedra comum, ele certamente estaria certo. Mas um observador atento enxergaria que o altar estava longe de ser comum. A luz parecia empalidecer, e se distorcer, ao redor da mesma, alguém que fosse mais sensível ou estivesse prestando bastante atenção chegaria a perceber uma mudança no ar, algo não natural e até mesmo algo errado cercando o artefato. Porém, para alguém temendo por sua vida, o sinistro bloco de pedra era um porto seguro.
Inicialmente o altar cumpriu bem a tarefa de escudo, ele agüentou dois feitiços cortantes sem apresentar nenhuma lasca e um feitiço explosivo chocou-se contra a superfície negra com igual resultado. Isso animou aquele que estava protegido, encheu-o de confiança. Confiando cada vez mais em seu aparentemente indestrutível escudo ele contra-atacou seu adversário com uma miríade de feitiços coloridos gritados a plenos pulmões.
Frustrado o atacante foi obrigado a saltar do caminho da barragem de feixes de luz. Enquanto recuperava o equilíbrio ele lançou o feitiço mais confiável que ele conhecia. O feitiço que havia falhado apenas uma vez desde que havia sido inventado. O temível feitiço da morte.
Reconhecendo o já famoso jorro de luz verde o defensor resolveu colocar o seu novo escudo a prova. Afinal, se ele não resistisse e explodisse, resultado usual de objetos colocados na trajetória do sinistro feitiço, o defensor permaneceria vivo, mesmo que talvez ferido. Um resultado infinitas vezes mais favorável que a alternativa.
Mas o que ambos ignoravam, e mesmo aqueles que já haviam estudado o altar desconheciam, era a reação que ele teria aquele feitiço em específico. Os arquitetos astecas originais que projetaram a pedra negra não estavam preparados para esse encontro. Tal feitiço era apenas sonhado pelos antigos feiticeiros negros.
Explico. O Feitiço da morte nada mais é do que um forte jorro de entropia. Uma concentração bruta, ou um pico, de energia entrópica formada e moldada por emoções negativas. Algo coincidentemente similar ao que o próprio artefato fora projetado para conter. E, conforme o esperado, foi o que o artefato tentou. Basta dizer que não obteve sucesso...
Voltamos então para a natureza da entropia. Entre tantos aspectos negativos ela é a própria definição do possível. Com uma concentração alta dela tudo se torna possível, e o altar havia sido usado muitas, e muitas, vezes...
O feitiço da morte acabou se mostrando mais do que o altar podia absorver. Ou, mais precisamente, o altar mostrou-se mais lento do que necessitava ser. Como dito o raio verde era um pico, e o altar absorvia a entropia lentamente. Sobrecarregado desta forma ele rompeu, e rompeu de forma completa.
O resultado mais provável seria uma explosão de energia mortífera. Uma grande bola destrutiva que engoliria a todos como um enorme feitiço da morte, engolindo tudo que estava no caminho. Praticamente todos que estavam no departamento dos mistérios e arrasando com mais dois andares acima do mesmo.
Mas estamos falando de entropia, e com ela as probabilidades se dobram. E então o improvável e até mesmo impossível aconteceu. Esse potencial destrutivo reagiu com outro. Graças ao poder entrópico contido no altar a nuvem prateada foi ativada. Todo o potencial temporal nela contido foi, num instante, libertado. Num piscar todo o Ministério da Magia, e todos que se encontravam dentro dele, foi preenchido por um brilho forte e cegante.
Num lampejo todos aqueles que haviam sido tocados pelas finas areias prateadas foram transportados. Não através do espaço, mas através de algo muito mais interessante. Todos foram transportados através do tempo.
Na escuridão absoluta, aquelas conseguidas apenas no interior das cavernas mais profundas, Lorde Voldemort abriu seus olhos. Olhos vermelhos, pálidos, muito diferentes do brilho temível de sempre. Encarando o espaço a sua frente o mais terrível feiticeiro negro do último século não conseguiu ver através do véu de escuridão e isso o preocupou.
Deitado de costas no chão do hall de entrada do ministério da magia, com a varinha ainda na mão, o líder terrorista repensava o que havia ocorrido. Num momento ele duelava com Dumbledore, no outro uma onda de impacto o atingia e ele apagava, desabando no chão como um feiticeiro inferior.
Após uma rápida avaliação o necromante chegou a uma conclusão alarmante: ele estava absolutamente esgotado. Algo havia drenado todas as suas reservas de magia! Nesse momento ele não possuía um único fiapo de magia que pudesse mover seu corpo reanimado em qualquer direção, muito menos conjurar um feitiço.
Mas por que Voldemort precisaria de magia para movimentar o próprio corpo? A resposta é justamente essa, o que ele possui é um corpo. Tom Riddle esta morto. Está morto desde o dia em que o feitiço da morte rebateu na cabeça de um conhecido bebê. Nenhum poder conhecido, nem ninguém por mais poderoso ou sábio, pode trazer os mortos de volta a vida. Tom apenas não seguiu sua jornada adiante por ser muito esperto, poderoso e possuir uma moral bastante questionável. Graças a essas precauções o espectro de Voldemort, ou o que alguém poderia chamar de sua alma, permaneceu errante.
Uma alma errante pode fazer muito pouca coisa, portanto, assim que pôde, ele construí para si um corpo para habitar. Como qualquer pessoa sensata sabe, ou deveria saber, nenhum ser que pode morrer pode criar vida. Portanto uma conclusão pode ser tirada, o corpo de lorde Voldemort não está, tecnicamente, vivo.
Em linguagem especializada, o espírito de Tom Riddle habitava um constructo mágico. Mais especificamente, um corpo humanóide, feito de sangue, veneno e essências necromânticas combinadas e animadas com os mais poderosos rituais negros. Mais comumente conhecido como Golem, ele possui reservas de energia mágica que o permitem mover-se. Neste caso em particular, trata-se de um golem feito específicamente para conter a alma descarnada de um feiticeiro, então essas reservas são muito maiores, pois as mesmas terão de, além de animar o corpo, alimentar os feitiços lançados pelo espírito.
Substâncias inanimadas podem possuir características intrínsecas de magia, e podem até mesmo armazenar grandes quantidades de quintessência mágica, mas somente criaturas vivas podem gerá-las.
E era por isso que Lorde Voldemort estava preocupado. As reservas que ele havia acumulado com um ano de cuidadosos rituais e poções, reservas essas que poderiam mantê-lo conjurando os feitiços mais poderosos durante horas sem parar, estavam totalmente esgotadas. Para sua mente aflita pelo menos havia um alívio, seu corpo continuava inteiro. A própria natureza mágica das substâncias que o compunham continuava mantendo-o coeso e, se sua vontade fosse bastante forte, talvez pudessem servir de combustível para alguma medida desesperada caso tudo o mais falhasse.
Voltando para o seu problema mais urgente, o necromante avaliou que ele poderia sacrificar parte do vigor e resistência de seu corpo para que ele animasse momentaneamente seus membros, permitindo-lhe mover-se. Era uma decisão difícil, pois ele estaria enfraquecendo-o e tornando a si mesmo mais lento após a recuperação. Mover-se agora significaria aleijar seu corpo para sempre, ou até reformá-lo ou arranjar um novo. Agonizantes momentos de indecisão passaram por sua mente enquanto ele aguardava um sinal.
O sinal veio, mas não melhorou em nada a situação do espírito habitando o constructo. Em algum lugar próximo um gemido e o ruído de movimento denunciaram que alguém acordava. Antes que as suas esperanças pudessem aumentar elas foram esmagadas quando uma voz cansada e jovem disse as palavras de um dos encantamentos mais simples.
"Lumos."
O brilho do feitiço de luz iluminou parte do ambiente, uma luz fraca vinda da varinha de um bruxo cansado iluminando parte do salão que há pouco tempo serviu de arena para os campeões da luz e das trevas em seu embate. E ao mesmo tempo que a luz preenchia o salão, Tom Riddle decidiu que não tinha mais alternativas.
Com deliberada lentidão, para minimizar os estragos, o feiticeiro negro começou a levantar-se. Silenciosamente ele colocou-se de pé e observou o seu jovem adversário abaixar-se sobre a figura caída de seu antigo professor e começar a sussurrar palavras preocupadas.
Rapidamente Voldemort considerou suas opções, ele certamente não poderia envolver-se numa luta com o garoto, não nesse momento. Seu corpo neste momento jamais obteria a precisão e velocidade necessárias. Além disso, se ele soltasse um feitiço haveria o enorme risco de que seu corpo se despedaçasse, de forma que, mesmo que ele tivesse sorte e acabasse com o maldito Potter ele provavelmente acabaria novamente descarnado e isso não era aceitável.
Com movimentos rígidos o lorde das trevas levou a mão a um dos bolsos da túnica e pegou um anel de ferro. Olhando para o objeto ele concluiu o que já esperava. O mesmo efeito que havia removido todas suas reservas e apagado os feitiços que iluminavam o saguão de entrada do ministério havia desabilitado sua chave de portal de emergência.
Enquanto pensava no que fazer, seus olhos atentos perceberam uma forma em trajes negros não muito distantes de onde ele se encontrava.
Harry não sabia o que havia acontecido, mas ele sentia-se mais cansado do que em qualquer outro momento de sua vida. Num momento ele estava observando o conflito entre o diretor de sua escola e o feiticeiro mais temido da atualidade e no outro ele estava caindo desacordado.
Pelo que parecia a primeira vez em sua vida, sua juventude o ajudou. Exausto e cego devido a escuridão o adolescente fez um esforço descomunal para equilibrar-se nos cotovelos e por fim sentar-se. Confuso e um tanto amedrontado ele perguntava-se o que havia acontecido e onde ele tinha ido parar. Lembranças de uma certa chave de portal e um cemitério voltaram rapidamente para a frente de seu cérebro e, meio apavorado ele levantou a varinha pronunciando o primeiro feitiço em que pensou.
"Lumos!"
Como que por milagre, mas na realidade era apenas mágica, uma luz tênue, mas clara o suficientemente, derramou-se da ponta da varinha, iluminando as proximidades. Com a claridade o garoto de cabelos negros começou a perceber o que havia ao seu redor. Após ajustar os óculos e se reposicionar ele quase tomba de novo ao ver um rosto encarando-o. Encimando uma pilha de escombros encontrava-se a cabeça dourada de uma estátua. A cabeça do centauro dourado que outrora enfeitava o saguão do Ministério da magia agora jazia agourento ao lado do rapaz caído, os olhos vazios e a feição de adoração não natural da escultura perturbaram o garoto e isso o motivou a renovar os esforços para se levantar.
Colocando-se de pé e equilibrando-se sobre as pernas bambas, Harry cambaleou enquanto caminhava entre os escombros da batalha. O chão de pedra outrora polido e brilhante agora estava recoberto de pedras menores e buracos, conseqüentemente o jovem precisava tomar redobrado cuidado onde ia pisar, calculando cada passo dado.
Arfando e gemendo baixo o garoto apoiou seu corpo num pedaço particularmente grande de coluna quebrada. Assim estabilizado ele pode olhar ao redor e identificou outra forma caída logo a frente de sua posição. Reconhecendo os longos cabelos prateados e a túnica de cor berrante ele forçou-se a abandonar o apoio e, preocupado, aproximou-se o mais rápido que pode do homem caído.
"Professor? Professor Dumbledore? Por favor, não esteja morto..." Numa voz pouco mais do que um sussurro o garoto caiu de joelhos do lado de seu mestre. Com cuidado ele tentou chacoalhá-lo e ergueu tentativamente sua varinha na direção do idoso.
Antes porém que tentasse o feitiço ele detectou um movimento no canto dos olhos. Virando-se assustado ele observou a poucos metros de sua posição a figura que ele menos queria ver numa situação dessas. De pé, com seus olhos vermelhos e rosto serpentino e pálido observando-o, seu maior pesadelo: Lorde Voldemort.
De modo bastante desajeitado nosso herói colocou-se de pé e apontou de forma ameaçadora sua varinha em direção aquele que, em sua opinião, representava tudo de ruim que já acontecera em sua curta vida. Enquanto ele aguardava o que ele imaginava que seria a última luta de sua vida e imaginava como ele iria disparar algum feitiço sem antes cancelar o feitiço de luz em sua varinha, seu adversário deslocava-se lateralmente, parecendo mancar enquanto movia-se para longe do garoto e do velho inconsciente.
Sem acreditar em seus olhos, Harry observou enquanto o feiticeiro mais poderoso do último século movia-se de forma espasmódica em direção a uma outra figura caída. Observado assim cuidadosamente, sem a varinha faiscante na mão, a atitude arrogante e o brilho vermelho nos olhos, o seu arquirival não era mais do que uma sombra do que foi. Seus olhos agora eram de um vermelho opaco, seu manto negro estava esfarrapado e coberto de pó e, além disso, ele mancava, equilibrando-se com dificuldades.
Antes que o jovem conseguisse decidir se iria iniciar o conflito, e se ia, como ia fazê-lo. O seu inimigo baixou-se atrás de alguns escombros. Sem tempo de reagir, tudo que ele pôde fazer foi abrir a boca enquanto um forte estampido tomou o ambiente. Num momento o lorde das trevas desapareceu, deixando apenas uma nuvem de poeira que preencheu o lugar que anteriormente ele ocupava.
Por alguns segundos o garoto olhou para o vazio onde antes seu inimigo estava. Sem saber o que fazer ele simplesmente esperava uma resposta. Da escuridão, um ruído alto clamou por sua atenção.
"Professor Dumbledore?"
