Capítulo I
Os irmãos Winchester encontravam-se novamente na estrada. Mas, como Dean havia dito, dessa vez seria diferente: Nada de problemas, nada de demônios ou coisas sobrenaturais. O irmão mais velho achava que eles precisavam de um descanso; de um tempo longe de tudo isso. E Sam, que também já estava farto de andar de cidade em cidade; de motel em motel, concordou.
Sam e Dean adoravam caçar, quanto a isso não havia dúvida. A caçada fazia parte da vida deles. Era como respirar. Mas dessa vez eles estavam realmente cansados, melhor dizendo, exaustos. Nas últimas quatro semanas eles haviam passado por mais de cinco cidades, tentando desvendar misteriosas mortes de mulheres que estavam ocorrendo cada vez com mais frequência. Tudo começou em uma cidadezinha pequena, fora do mapa.
Bobby, ao saber que eles estavam nos arredores da cidade, contou-lhes o que estava acontecendo. Sam e Dean concordaram prontamente em dar uma checada na cidadezinha e tentar descobrir a causa das mortes. Depois de dois dias na cidade eles já tinham algumas peças do quebra-cabeça e sabiam que se tratava de Changelings¹, mas não contavam com o revés que viria a seguir: Os irmãos Winchester estavam quase solucionando o caso quando outras mulheres começaram a ser mortas, aparentemente sem explicação alguma, nas cidades vizinhas.
E assim os irmãos foram seguindo de cidade em cidade, tentando completar de uma vez por todas esse quebra-cabeça macabro e acabar logo com tudo isso. Depois de um mês andando pelas cidades, interrogando, pesquisando e, claro, mantendo contato contínuo com Bobby, finalmente conseguiram solucionar o caso e dar um fim às mortes e aos Changelings.
Mesmo com toda a hospitalidade oferecida pelos moradores das cidades rurais pelas quais passaram, eles se sentiam completamente exauridos de suas forças. Foi aí que decidiram tirar alguns dias de "folga". Na verdade a idéia partiu do irmão mais velho.
Dean dirigia o Impala pela estrada de terra que saída da última cidadezinha em que eles haviam estado, cantarolando uma música dos Ramones enquanto Sam o olhava com um sorriso no rosto. Era surpreendente ver Dean sorrindo depois de todo o trabalho que eles tiveram nas últimas quatro semanas.
Dean, percebendo que seu irmão o olhava, deu um sorriso mais amplo e perguntou, olhando para Sam por um momento:
— Hey, Sammy, o que você acha de tirarmos uma semana de folga?
— Como? — Sam não havia entendido, devido ao volume alto do rádio.
— Eu perguntei o que você acha de tirarmos uma semana de folga, longe de tudo isso. — Falou Dean, enquanto diminuía o volume do rádio. E acrescentou, percebendo a expressão de dúvida no rosto do irmão — Pensa só, maninho: uma semana na cidade grande, longe dessa poeira toda, comendo cheeseburgers! As únicas galinhas que veremos serão de uma espécie bem mais... Interessante. O que me diz? Longe de problemas, demônios e coisas sobrenaturais. Uma semana só para nós.
Sam continuava fitando o irmão, mas agora estava rindo.
— Você, definitivamente, não é um homem do campo, hein? E quando às galinhas... Eu dispenso. — Falou, colocando uma ênfase quase imperceptível na segunda frase.
— Ah qual é, Sammy! A História das galinhas foi brincadeira, quero mesmo uma semana em família. Eu bem sei que você também está farto dessas cidadezinhas esquecidas por deus — falou, apontando para os enormes campos agrícolas que podiam ser vistos até o horizonte em ambos os lados da estrada. Ele tinha certeza que só esse argumento não bastaria, de modo que continuava pensando em algo para falar em seguida, mas, para a sua surpresa, Sam se deu por vencido.
— É... Realmente eu quero mudar um pouco de paisagem. Não aguento mais ver mato para todo o lado que eu olho. Para falar a verdade, também estou com saudade da civilização. Tenho a impressão de que passamos esse ultimo mês em outro mundo! É como se não existisse nada além do campo. E, não fossem as ligações do Bobby, eu teria certeza disso.
Dean havia encostado o carro de vagar e olhava para seu irmão como uma criança que acaba de receber autorização para fazer uma travessura.
— Que dizer que você concorda? — Dean estava incrédulo — Quero dizer... Seu deleite é me contradizer... Se eu digo preto, você diz branco; se eu digo direita, você diz esquerda! Está me surpreendendo cada dia mais, maninho! O que vem a seguir? Vai me dizer que você é a fada do dente?!
Sam agora tentava olhar sério para Dean, mas era impossível diante das palavras engraçadas e, em parte, verdadeiras.
— Seu palhaço — falou num tom brincalhão — Não posso negar que tenho um certo prazer em te contradizer... Mas, geralmente, só o faço quando tenho certeza de que você está errado. Enfim, chega desse assunto... Eu me rendo. Esses dias de descanso vão me fazer muito bem. – Completou Sam, colocando as mãos na nuca e recostando-se mais no banco do carro.
— Ah, muito bem maninho, prometo que não se arrependerá! — disse Dean, num tom de voz muito animado, dando uma piscada e apertando as bochechas do irmão em seguida.
— Ai! Isso dói, sabia? — Mesmo tentando parecer zangado, Sam não conseguia deixar de sorrir.
Então Dean deu a partida no Impala e eles seguiram pela estradinha de terra. Sam volta e meia olhava para o irmão, e o mesmo lhe retribuía o olhar, cantarolando a música que tocava no rádio e provocando gostosas risadas em seu irmão quando errava a letra de alguma música, ora por esquecer a letra, ora de propósito, só para ouvir o som das gargalhadas de Sam e deixá-lo levemente corado devido aos risos.
O mais novo dos Winchester olhava para os campos, agora com uma cor alaranjada devido à luz crepuscular, enquanto pensava em como seriam esses dias que se seguiriam. Olhou novamente para o seu irmão, notando pela primeira vez como os olhos dele brilhavam quando lhe retribuía os olhares. Seus olhos estavam radiantes e ainda mais bonitos com as cores do pôr-do-sol refletidas neles.
Ora, mas que bobagem. Não havia tempo para ficar perdido em devaneios. Era melhor ele ligar para o Bobby e perguntar se tinha algum motel nas proximidades, afinal de contas a noite estava chegando e eles estavam cansados demais para dirigir de madrugada. A possibilidade de dormir no carro não era sequer cogitada. Além de ser muito perigoso, era extremamente desconfortável.
Então Sam pegou o celular e ligou para Bobby enquanto eles seguiam pela estrada, sentindo o vento em seus rostos e olhando para o céu que começava a ganhar as cores frias da noite.
¹ Criatura que toma a forma de crianças e se alimenta da mãe, matando qualquer um que fique entre ela e o alimento.
