Importante: Mais uma longfic com esse casal. Aqui vou seguir a linha oposta de "A Lei do Amor", enquanto a história lá era leve e descontraída, aqui o tempo vai fechar. Resolvi me desafiar ainda mais e desenvolver algo com todos os pressupostos do universo ABO. A trama aqui se sustenta basicamente em estupro e violência (tanto física quanto psicológica). Se não tem estomago, não siga. Se resolver seguir: considere-se avisado. Serei muito má aqui, má de um jeito que faz tempo que não sou hohohoho.

Como eu preciso de um Alpha cruel, não podia usar o Shino (ou ia acabar em sunshine and rainbows in paradise), daí resolvi colocar o Kankuro de Alpha. Ele vai estar descaracterizado e fora do personagem, claro. Porque ele foi muito amorzinho com o Kiba na história e se não fosse o Shinão eu até apoiaria o ship. Enfim, são ossos do ofício :D

Acho que de nota é só isso. Se chegou até aqui só preciso dizer mais uma cosita: Boa leitura!


the only noise

Kaline Bogard

Capítulo 01

Destroços do pós-guerra

Sunagakure

Kankuro estava muito entediado. Extremamente entediado. Modo recorrente de seu humor nos últimos tempos, alias.

Experimentara fortes emoções durante a guerra, presenciara e provocara conflitos contra inimigos poderosos, ações de vida ou morte que faziam a paz parecer a pior das opções. Sem a emoção, não se sentia vivo.

Mas a guerra acabou. Agora era hora de juntar os cacos e reconstruir o país. Não que Sunagakure tivesse sofrido grandes danos, pelo contrário. Sua posição privilegiada incrustada e cercada por paredões de pedra lhe valeu a melhor de todas as defesas. Era inacessível por terra, a defesa quase absoluta.

Tal proteção não se estendia aos shifters que precisavam sair dali para manter os inimigos afastados. Guerreiros que precisavam ir ao centro das batalhas garantir a soberania de Sunagakure a custo da própria vida.

O preço pelos compatriotas perdidos era alto. Custaria muito tempo recuperar, dependendo das gerações futuras garantir a perpetuação daquela vila e sua própria hegemonia.

No entanto, esse não era o assunto que reunira os membros do Conselho. Em absoluto. Aqueles homens, Alphas no geral, sentavam-se junto para discutir acordos de paz e ajuda mutua, estabelecendo alianças não apenas de cooperação, mas em busca da garantia de que uma nova guerra seria evitada a todo o custo.

Estavam a horas sentados ali, debatendo sobre quanto deveriam ceder e quanto deveriam exigir em questão de ônus e bônus, sempre visando o melhor para a nação, ainda que concessões eventuais fossem feitas.

Quem presidia a reunião era seu irmão caçula Gaara. Kazekage e único deles que não nascera Alpha. Na verdade nem mesmo Beta ou Ômega. Gaara era uma aberração, um monstro que nascia de tempos em tempos e escapava a classificação corriqueira das castas, algo a que chamavam de Anomalia. Justo como os Kazekage antecessores, como se nascer daquele jeito se tornasse requisito básico para ascender ao poder.

Graças a isso, Kankuro e Temari, única família do rapaz, gozavam de privilégios e regalias que dificilmente teriam acesso de outra maneira. E também a obrigações e deveres extremamente entediantes, como aquela em que participava.

— ... por isso Kumogakure solicitou o envio de alguns Betas para ajudarem a reforçar a reconstrução das obras — um dos Conselheiros mais velho foi falando.

Nesse ponto Kankuro prestou mais atenção na conversa.

— E o posicionamento do país? — Gaara pareceu avaliar as possibilidades. Desde o término da guerra ele andava mais focado em seu papel de Kazekage.

— Favorável. E isso encerra os termos do acordo.

— Os países estão pedindo shifters como apoio? — Kankuro franziu as sobrancelhas. A maquiagem que tingia sua face pareceu dançar.

— Sim — outro Conselheiro respondeu incomodado. A presença do irmão de Gaara não era bem quista. Mesmo que seus crimes de guerra estivessem perdoados, ninguém esqueceria todo o mal que aquele rapaz causara.

Kankuro não falou mais nada. A informação entrou em sua mente e plantou uma semente interessante. Pela primeira vez em meses o tédio desapareceu e alguma emoção embotou suas veias. Sim, informaçãozinha muito sedutora aquela.

Poucos minutos depois a reunião se encerrou. Os Conselheiros se levantaram um a um, despedindo-se do líder, que continuou sentado até que o último saísse. Por fim, Gaara lançou um olhar inquisidor na direção do irmão mais velho. Geralmente Kankuro era o primeiro a deixar a sala de conferencias...

— O que você quer dessa vez? — perguntou sem rodeios.

Kankuro reclinou a cadeira de modo a poder cruzar os pés sobre a mesa, numa atitude displicente e arrogante.

— Também podemos solicitar mão de obra de outras nações?

— Sim.

— Já solicitou de alguém?

— Será solicitado essa semana — Gaara respondeu simplista. Se Kankuro não tivesse chegado atrasado à reunião, saberia do detalhe.

— Dá tempo de incluir mais uma clausula?

— Que pretende?

Kankuro deu de ombros, sorrindo com um tanto de sarcasmo.

— Você sabe, estou em pena de privação de contato. Não posso chegar a menos de três metros de algum Ômega. Mas a restrição é só para os nascidos aqui em Sunagakure.

— Espera que eu arrisque nosso acordo de paz com Konoha apenas para satisfazer suas depravações sexuais? — Gaara soou frio.

— Que maldade, irmãozinho. Desde quando se importa com isso? Com boas relações públicas? Não é como se um único Ômega pudesse fazer a diferença pra eles, hum?

Gaara estreitou os olhos na direção de Kankuro, avaliando as opções. Não era um pedido que o surpreendesse, afinal de contas. No momento em que ele mostrou interesse pela conversa, já esperava algo nesse sentido.

— Um Ômega? — Gaara sentiu uma angustia no coração. A velha esperança que um dia achou estar morta, voltou.

— Só unzinho. E eu prometo que não dou mais trabalho.

— Não o mate — Gaara rosnou, se recompondo — Caso contrário vai assumir as consequências.

— Combinado. Eu aprendi a lição da última vez, Gaara. Prometo que agora não vou passar dos limites.

Gaara suspirou e anuiu. Mudar os termos e incluir aquele pedido seria simples. Talvez Konoha negasse e não teriam mais problemas. Ou, na pior das hipóteses, colocasse Temari de olho para evitar o pior. Preferiu dar um voto de credibilidade para o irmão e confiar de que agora ele estava com a cabeça no lugar.

oOo

Konoha

O clima estava ótimo. A Vila da Folha era uma das poucas que podia se gabar de quão afável a natureza lhe tratava. Primavera florescia radiante e esplendorosa, como se tentasse ajudar os shifters a tratar as feridas de guerra, presenteando com o colorido aromático das flores. Cor para alegrar os olhos, vida nova para homenagear as precocemente ceifadas.

Konoha fora uma das vilas que sofrera ataques diretos. Casas e construções importantes serviram de alvo para a mira inimiga. A reconstrução exigia esforço comunitário, momento em que os laços se tornavam mais fortes, com um ajudando o outro na medida das suas possibilidades.

Nesse cenário pós-guerra, Kiba não podia reclamar. Não perdera nada diretamente ligado a si. A mãe e a irmã estavam bem. A casa da família não sofrera nenhum ataque. Nem seus amigos mais próximos.

Podia se considerar um sortudo sem nem pensar demais.

Apesar disso, não podia comemorar. Ajudar na reconstrução de Konoha o colocava perto o suficiente do sofrimento alheio para que nascesse algum sentimento de júbilo em abundancia. Por todos os que não tiveram sua benventura, só podia oferecer ajuda e respeito. Não guardando a dor como se fosse sua, mas não permitindo que sua alegria costumeira expandisse além dos limites aceitáveis. Ao menos enquanto Konoha estivesse de luto por seus filhos perdidos tentaria não ser um pirralho hiperativo e barulhento, o que era bem difícil no fim das contas!

Quando sua energia acumulada ameaçava sufocá-lo, Kiba dava uma desculpa qualquer para se afastar do que fazia e ia para a floresta correr um pouco com Akamaru e descarregar as forças pelo menos um pouco. Ato recebido com indulgencia pelos demais. O garoto era um Ômega e essa casta não costumava ter muita resistência para atividades físicas.

As vezes esse tratamento diferenciado irritava Kiba. Okay irritava-o a maior parte do tempo, isso sim. Embora naquelas situações de desestresse fosse mais do que bem vindo, quando aproveitava para chamar por Akamaru e ir correr pela floresta. Esquecer das tragédias e das perdas, da necessidade de recomeçar e, por pouco tempo, ter a sensação de ser apenas um adolescente de dezessete anos. Livre.

Pois foi depois de uma tarde dessas, após saltar os galhos da árvore e repousar perto do lago silencioso, que Kiba voltou para casa e teve uma surpresa.

Sua mãe estava parada à porta, com os braços cruzados e uma expressão das mais sérias. Ao lado dela, permanecia Sarutobi sama, o atual Hokage de Konora em pessoal, igualmente solene. Tão solene quanto os outros dois conselheiros que Kiba desconhecia o nome, mas sabia de sua importância.

A visão o fez engolir em seco. Seria a vadiagem um crime tão grave assim?!