Disclaimer: os personagens de Naruto não me pertencem.

Dedicatória: para a Srta. Revoltada ("Não é justo eu não poder escolher o meu casal favorito!"), Ikathy, mais comumente conhecia como Ikete, Ika Maria e derivados. Minha diva, um Feliz Natal com o teu casal favorito :B Daquela que te ama, Motoca (só porque tu pediu .-.).

O Presente Perfeito

Capítulo Um: O Homem Perfeito

Tenten detestava o Natal. Era sempre um exagero de canções felizes, biscoitos de chocolate e presentes bem embalados que não traziam nada além de roupas íntimas ou utensílios domésticos. Uma explosão de vermelho. Vermelho para as roupas do Papai Noel, vermelho para os embrulhos, vermelho para as cortinas e tapetes e laços de fita e sinos irritantes. Mais um pouco, um pouquinho que fosse, uma canção, um pedinte, uma tentativa de venda de cartões decorados com purpurina e cola colorida e se afogaria no suflê com formato de bota que ganhara para a comemoração daquela, de acordo com as palavras de Temari, sua melhor amiga, "maravilhosa data festiva".

Não que ela fosse mórbida, infeliz ou o diabo. Apenas detestava tal tempestuosa movimentação. As pessoas agiam como tresloucadas e corriam pelas ruas com seus pacotes intermináveis, invadiam as lojas e mercados e floriculturas e tudo o mais em que houvesse algo para vender, sempre à procura do seu ideal de "presente perfeito", pois "todo mundo merece um". E habitualmente nada conseguiam além de entupir as avenidas e fazer com que os policiais tivessem um excesso absurdo de trabalho, tentando salvar todos aqueles reles e inseguros humanos de si mesmos. Porque o Natal era uma data tão humana que ela se sentia uma intrusa. Desaprendera a fazer parte daquela felicidade incomum conforme suas habilidades e seu tempo disponível se modificavam. Já não era uma mera moça do interior. Era uma detetive do esquadrão de caça.

Nem sempre abominava datas festivas. Isso apenas acontecia quando acordava de mau-humor ou quando estava em seu período nada tolerável do mês ou quando estava encarregada da segurança nacional. Era um dom: havia algo especial a ocorrer, uma data estúpida que seja, e lá ia Tenten a sofrer uma reviravolta temperamental - uma brutal reviravolta temperamental, do tipo que não pode suportar quando alguém bate na sua porta para cantar canções aborrecidas ou pedir esmolas ou tentar vender cartões decorados com purpurina e cola colorida.

Até mesmo as comidas se tornavam algo escasso no mercado.

Pombas, que inferno de gente que comprava todo o estoque de carne do país só para fazer a estúpida ceia e alimentar os pobres do mundo. Onde estava o verdadeiro espírito do Natal? Não que fosse religiosa, apenas não suportava o fato de que o supermercado estava sempre explodindo de pessoas nas duas semanas que antecediam as comemorações. E nunca havia perus o suficiente.

Mas fora dispensada para o Natal. O chefe do setor de Investigação de Tóquio tirara num sorteio, como em todos os anos, o nome dos membros que se safariam da loucura do final do ano. Como sempre, o país extrapolava em assaltos, raptos e estupros naquela época. Havia demasiada distração e objetos de valor circulando pelas ruas para que fossem simplesmente ignorados, por mais efetiva que se mostrasse a segurança pública. Ela detestava se encarregar do que fosse que se antecedesse ao Natal, Ano Novo ou Páscoa. E também detestava não ter o que fazer e ser obrigada a comparecer a festas estúpidas.

Como as festas de Sakura, sempre tão felizes, cheias e decoradas.

De todos os modos, Tenten acreditava que só continuava a manter contato com as suas amigas de infância porque moravam perto umas das outras. Não que não se gostassem, porque a verdade era o repleto contrário, mas por que eram completamente diferentes. Quando Temari era boca-suja e agressiva, Ino era voluptuosa, de tirar o fôlego, e Sakura era cálida, gentil e amorosa, principalmente com os filhos. Haviam de algum modo se afastado depois que o pequeno Akira e Momo nasceram. Os bebês Uchiha sugavam toda a disponibilidade da mamãe, embora fossem umas gracinhas. E Sakura estava sempre em casa, ocupada demais em cuidar das crianças, coordenar as empregadas e ser anfitriã das inúmeras festas e reuniões da empresa de Sasuke, seu marido.

Tenten a adorava, mas a considerava estupidamente submissa. E fiel. Tenten sempre tivera problemas com fidelidade. Não apenas a sua própria, mas a dos seus acompanhantes. Depois de um tempo desistira de empregar a palavra "namorado" para nomear um pênis que oferecia sexo casual. Não valiam as lágrimas, o compromisso e a frustração que traziam.

A maioria dos homens não a respeitava. O fato de ela ser uma mulher bem paga e bem sucedida parecia se mostrar uma afronta à sua masculinidade. E, se fosse do sexo masculino, detestaria saber que sua garota podia acessar a sua ficha e saber dos seus antecedentes criminais e sua vida inteira com apenas uma olhada nos arquivos nacionais. E persegui-lo pelo resto de sua miserável vida caso a traísse. Então eles pulavam fora e ela permitia que corressem para longe. Não fazia o seu feitio implorar para que permanecessem. Não tinha paciência, aliás, para os muito românticos, ou ciumentos.

Olhou para o relógio enquanto dobrava na rua que antecedia em duas quadras a residência dos Uchiha. Os aborrecidos pensamentos a abandonaram para que uma ruga de insatisfação surgisse em sua testa, uma característica sua, ao notar que estava atrasada.

Ino detestava atrasos. Mais do que mulheres mal vestidas. E que usavam jóias caras.

Como em todos os anos em que pudera lá comparecer, a casa de Sakura estava decorada. Ao que sabia, Momo, a caçula, adorava o Natal, o que era um incentivo para que houvesse ainda mais balburdia nos dias 24 e 25 de dezembro. Tenten sempre tentava fugir nessas datas. Ser obrigada a passar a virada da noite com os Uchiha era quase como assinar a sua própria sentença de morte. Uchiha Sasuke era bonito, cortês e tinha uma conversa agradável, mas ela não se sentia à vontade perto de um homem que, sabia, desdenhava da sua capacidade.

Fazia dois anos, Temari conhecera seu atual noivo e paixão desvairada, Nara Shikamaru, com cuja família vinha passando grande parte do tempo, exclusos os dias em que se encontravam para fofocar. E Ino estava sempre ocupada demais com o trabalho para perder tempo com o que fosse.

Exceto às quintas-feiras à noite. Aquela noite, ou seja.

Haviam combinado de, no lugar de irem ao restaurante de sempre, se encontrarem na residência de Sakura, porque ela tinha um enorme trabalho ainda pela frente, uma vez que os pais do marido iriam vir do interior do país para passar o Natal com eles. Naquela noite as crianças ficariam com a avó materna e Sasuke não estava na cidade. Tudo perfeito para o encontro do final da semana.

O Volvo vermelho de Ino já estava lá quando Tenten chegou, reluzente mesmo à meia luz, o mesmo para a caminhonete de Temari. Ela suspirou enquanto estacionava quando percebeu que seria a última a aparecer, o que também queria dizer que desafortunadamente precisaria escutar o mesmo sermão sobre pontualidade de todas as vezes.

Podia ouvir as vozes excitadas e risadas ao se postar em frente às portas duplas, preparando-se para bater.

- Tenten - Sakura apareceu no mesmo instante em que a outra erguia o punho. Tinha as bochechas coradíssimas e um copo de bebida cor de âmbar na mão, a outra posicionada estrategicamente sobre a maçaneta interior. - Estávamos mesmo falando sobre você - anunciou com um sorriso amável, dando-lhe passagem. - A vimos pela janela - explicou mediante o olhar curioso.

- Hn - Tenten, que não se sentia bem em meio à decoração natalina do hall de entrada, apenas encolheu os ombros num sinal de aceitação. Sua roupa confortável: calças jeans, casacão e coturnos pretos; destoavam da harmonia do ambiente. - Tudo bem - disse, encaminhando-se para a sala. - Tive algumas ocorrências de última hora.

- Como sempre... servindo a lei.

Ela voltou-se na direção de onde vinha aquela voz rouca e sensual, deparando-se com os cabelos loiríssimos de Ino, maravilhosa dentro de um suéter azul que combinava com os seus olhos claros. Havia um sorriso na face, embora não devesse estar lá, considerando o atraso de Tenten.

- Não seja tão sarcástica - a loira recebeu em resposta. - Devia ser mais agradecida pelo fato de uma amiga sua servir ao nosso país. Sou eu quem cuida dos raptos, mortes e tudo o que você pode imaginar deste lugar.

Ainda ouvindo o riso das duas mulheres que debochavam do seu dramatismo, Tenten encaminhou-se para a sala, tirando o pesado casaco no processo. Temari estava sentada no confortável sofá, os olhos virados para o teto, contemplativa, fumando um cigarro fortíssimo. Aquela era a sala das visitas, sabia, porque Sakura não permitia que os seus filhos convivessem com o aroma do tabaco. Ela era uma mãe deveras rigorosa.

- Então, - começou Temari, parecendo distraída um instante. - fiquei sabendo que você foi dispensada no Natal. Encontrei Kiba na confeitaria, há quase uma hora - então voltou os orbes para a recém-chegada e sorriu. - Sakura já está fazendo planos para você.

- Ora, - a citada soltou um resmungo de ultraje. - não fale como se isso fosse um feito terrível! - reclamou, jogando-se na poltrona. - Apenas... estava supondo algo.

Tenten arqueou as sobrancelhas àquelas palavras, receosa. Dentre as quatro, a mulher de cabelos rosados à sua frente era a mais perigosa no que dizia respeito às idéias malignas. Era indiscutivelmente gentil, um tanto quanto infantil em suas reações às vezes, mas a mais assídua, mais empenhada discípula do Cupido - fora ela, aliás, quem trouxera Nara Shikamaru para o convívio do grupo. E o apresentara uma a uma até que ele encontrasse o par perfeito.

Conhecendo-a daquele modo, elas sabiam que nunca era uma boa idéia fazer parte dos "planos para você". Eles geralmente vinham de modo cantarolado e delicado, com uma dose extra de convencimento no bater de pestanas e juntar de mãos muito formosas, acoplados à expressão ansiosa. Sakura adorava casos amorosos, exceto o seu. Ela era feliz com o marido, mas não tão feliz quanto gostaria. E nem poderia, com ele fora o tempo inteiro. Portanto, romances eram o seu hobby.

- Bem, - mas ela levantou-se num salto do local donde se acomodara, parecendo excitada, e bateu as palmas. - deixemos isso para lá! Acredito que não vou vê-las no Natal, então gostaria de dar-lhes seus presentes!

- Ohh, sim! - aquiesceu Ino, animadamente. - Mal posso esperar para ver um presente em especial - a fisionomia era forçosamente misteriosa e Tenten não soube dizer se era curiosidade para saber o que ganharia ou o quê. Não era boa em leituras faciais, não, pelo menos, as da loira ou Temari.

- Não soube o que comprar para você, senhorita "Meu Marido me Provê Tudo" - Temari apagou o cigarro dentro do copo de bebida vazio, abandonado por Sakura minutos antes, que havia sobre a mesa de centro. - Não usa perfumes pela alergia. Não usa poliéster, porque irrita. Não come chocolate, porque engorda. Não quer bibelôs, por causa das crianças. Maldita seja, mais um item para a lista e eu desistiria - resmungou.

Ino riu, puxando as sacolas abandonadas perto da porta e enorme árvore de Natal para perto de si.

- Faça como eu, meu bem - piscou, segurando então uma caixa perfeitamente embrulhada. - Dê-lhe sapatos. Todas as mulheres amam sapatos bonitos - e estendeu-a para Temari. - Principalmente se são modelos exclusivos usados no último desfile de Paris! - sibilou, exultante.

Sakura arregalou os belos orbes cor de jade. Soltou um gritinho de satisfação e correu para perto da amiga, que, gargalhando, lhe estendeu o seu.

A loira era terceira assistente de Sato Maya, a estilista mais famosa do país. Batalhara muito para chegar àquele posto, mas o esforço e dedicação necessários eram ainda maiores quando se chegava lá. Durante a faculdade de Moda, fizera todos os cursos complementares e estágios possíveis, alçando os degraus gradativamente. Em breve, Tenten acreditava, logo Ino teria o seu lugar no seleto rol das grifes de marca, apenas necessitava de mais experiência, mais dinheiro, mais contatos.

Constantemente as presenteava com peças únicas de desfiles de grandes grifes, principalmente os de Sato. Conseguia-os com freqüência e fazia ajustes para usá-los, quando Sakura não disputava para tê-los. Sasuke detestava que a mulher usasse roupas que houvessem sido usadas por outras pessoas, mas ele não entenderia a satisfação da esposa ao saber que a peça que trazia no corpo também passado pelo corpo de uma modelo famosa. E, não fosse isso, seria difícil e extremamente caro conseguir acesso às vestes exclusivas. Muitas delas sequer chegavam ao mercado.

- Oh meu Deus - balbuciou Temari ao ver o seu sapato.

Era um Henry Miller fantástico. Bico fino, salto agulha com quase 8cm, verde-água emborrachado. Não era algo que pudesse ser usado no dia-a-dia, mas o estilo exato da sua nova dona: chamativo.

- Eu sei - Ino parecia orgulhosa com as suas aquisições. - Foi difícil conseguir este. A segunda assistente, a vadia da Karin, estava doida por ele, mas consegui convencê-la de que por nada no mundo um número 36 alargaria para o 38 apenas por força do pensamento - deslizou a língua pelos lábios com satisfação e riu.

Os presentes foram entregues pela próxima hora, com os seus devidos comentários. Tenten ganhou coisas que não usaria: como saltos altos brancos e um lingerie azul-escuro; e fingiu que sim, apenas para não aborrecê-las. Também deu coisas que sabia que elas não usariam: livros e roupas de ginástica; mas elas fingiram que sim, apenas para não aborrecê-la. E elas estariam bem se, como em todos os anos, tudo terminasse por aí. Mas faltava o presente de Sakura. A mente maligna Sakura.

Ela sorria de modo suspeito quando lhe entregou uma pequena caixa envolta por uma fita.

- Tenho certeza de que gostará deste - piscou. - É um exemplar extraordinário.

- Espero que não seja um selo raro ou excentricidade tamanha - murmurou Tenten, ocasionando risadas nas mulheres, removendo a tampa.

Franziu o cenho.

Uma foto. Agarrou-a: era um homem. Um homem bonito, com olhos claros num tom pérola, pele leitosa e um queixo maciço que lhe dava um ar de imponência. Os cabelos castanhos eram compridos e muito lisos, o que fez com que ela soltasse um muxoxo de indignação ante suas madeixas onduladas, e tinha uma expressão séria, de quem não parece à vontade perante câmeras. Usava um terno preto, camisa social branca e uma gravata azul, foi o que pôde perceber, uma vez que podia ver apenas até um pouco abaixo do tórax.

Após alguns segundos de análise, uma especulação que a fez chegar a uma conclusão bastante favorável a respeito daquela fotografia, ergueu o rosto para fitar a amiga, uma sobrancelha arqueada em sinal de confusão. As outras três mulheres sorriam disfarçadamente da sua expressão e Tenten concluiu que era a única a estar por fora da história.

- O quê? - questionou, aborrecida, segurando o retrato e sacudindo-o no ar. - Ele foi raptado ou o quê? - repetiu. - Você está querendo que eu o encontre? Porque se for, não posso... - mas foi interrompida pelo gesto negativo de Sakura.

- É o seu presente de Natal - disse-lhe, delicadamente. Erguendo-se donde estava sentada, aproximou-se da amiga, pousando as mãos nos seus ombros, postada atrás do encosto do sofá. Abaixou-se para sibilar perto do seu ouvido. - O nome dele é Hyuuga Neji, é o melhor advogado de Sasuke. E acabou de se divorciar.

Temari pegou outro cigarro.

- Humfp - fez, tirando o isqueiro de dentro da enorme bolsa que jazia aos seus pés descalços. - É certamente um presente melhor do que roupas de ginástica!

Ino também se aproximou de Tenten, passando a mão pelos cabelos maravilhosamente dourados. Tinha um dedo postado sobre o queixo quando se pegou analisando a distinta imagem de Hyuuga Neji, que certamente combinava o bastante com a carreira que decidira seguir: era sóbrio e muito sério.

Os lábios torcidos em sinal de desgosto mediante a situação, ignorando o murmúrio aborrecido de Temari, que detestava exercícios físicos por mais que fosse incentivada a suportá-los, Tenten largou a fotografia no seu local de origem e fechou a caixa com um pouco de violência, empurrando-a para cima da mesa de centro. Sakura soltou um gritinho quando o objeto se chocou contra a madeira com brutalidade e pulou no seu lugar, largando imediatamente os ombros da amiga.

- Você sabe que eu não gosto disto - balbuciou Tenten, enfiando as mãos por entre os fios castanhos, desajeitando-os. - De você querer arranjar namorados para mim.

- Seja maleável, Tenten - Ino suspirou, como se já soubesse que aquela seria a reação que veriam. - Sabemos que faz mais de quatro meses que não se envolve com ninguém. E será apenas uma tentativa - abriu a caixa, agarrando a bela imagem. - Veja isto! Jesus, ele é maravilhoso - sacudiu-a em frente ao rosto da morena. - E bem sucedido.

- Deixe-a - Temari ergueu os ombros, dando um profundo trago. - Se ela não quer aproveitar a chance de ter um bom sexo, não discuta. Nós sabíamos que era isso o que Tenten faria desde o início. Ela é excessivamente moralista - não as olhava quando falou aquilo, mirando a árvore de Natal. – Bem, - disse um instante depois, sorrindo. - sendo assim, você perdeu, Ino. Passe-me o número do seu massagista orgástico. Eu sempre lhes disse que esperar que Tenten se empolgasse com isso seria loucura!

A loira alta fez um ruído com a garganta, um semblante de aborrecimento. Lançou um olhar longo para Sakura, como se a acusasse de tê-la posto em tal situação, e por fim postou as mãos sobre a cintura.

- Ora! - ofegou, irritada. - Nós devíamos ao menos tentar!

- Fato - Sakura maneou a cabeça numa concordância, erguendo a mão. - Principalmente depois de o último jantar - mordiscou o lábio. - Sabemos muito bem o que Neji pensa sobre o sexo feminino e o "sistema corruptível do governo".

Tenten, que até então se mantiver impassível perante a discussão, ergueu a cabeça.

- O que você quer dizer com isso? - questionou, as sobrancelhas arqueadas.

- Bem, - a mulher hesitou. - Neji acredita que a polícia é puramente figurativa e facilmente comprada quando necessário. Nós pensamos que, se o apresentássemos a você, conseguiria fazê-lo mudar de idéia. Não seria fantástico? - bateu as palmas, excitada. - São tão parecidos! E ele é magnífico, apenas um tanto quanto espirituoso em excesso.

- Ela não conseguirá - afirmou Temari, com certeza. - Acabará desistindo. Ele a convencerá de que está errada. Sabem como são os advogados, muito convincentes.

- Não me subestimem - grunhiu a morena, o queixo rígido.

- Tudo bem dizer não, Tenten - Sakura, acomodando-se na guarda do sofá, acariciou a sua mão, num gesto carinhoso. A voz estava delicada, a mesma que usava para dizer aos seus filhos que não havia necessidade de fazerem o que não gostavam apenas para se provarem capazes. - Está tudo realmente bem - garantiu, sorrindo. - Eu vou pegar a caixa e guardá-la. Podemos pensar num presente diferente para você.

Tenten refletiu um segundo com os olhos postos na figura de Temari, que parecia indiferente com a sua fúria.

- Não - disse. - Eu quero conhecê-lo.

- Perfeito! - Ino sorriu. – Ele comparecerá à festa de Natal da família Uchiha. Eu estarei fora do país, mas você certamente terá a ajuda de Sakura para se aproximar. E não será difícil, considerando que a sua profissão e o seu sexo lhe chamarão a atenção. Você verá, acabará se divertindo.

Olhando de uma a uma por um longo instante, sem proferir coisa alguma, a morena lançou no ar um longo suspiro de desânimo. Moveu a cabeça, tentando pôr os pensamentos em ordem, e então se voltou para Sakura, aquela que principiara a armar todo o mirabolante plano. A mulher sorria-lhe, cândida, como se nada pudesse livrá-la daquela aura angelical. E possivelmente não poderia, de fato.

- Vocês sabiam que eu aceitaria – disse num tom acusatório. – Desde o começo, não é mesmo?

A Uchiha concordou num maneio, lentamente.

- Desde o começo – repetiu, a voz afagadora.

-

O despertador tocou, como em todos os dias, às seis da manhã em ponto. Tenten se esquecera de desativá-lo, uma vez que não estava acostumada a ter folgas. Tinha uma vaga esperança de que, durante a madrugada, o telefone tocasse, solicitando a sua presença na Central, mas o apartamento se encontrou apenas cheio de um silêncio retumbante, rompido pelo movimentar dos ponteiros do relógio.

Aquele seria um dia consideravelmente cheio, ainda assim. Após correr uma hora pela redondeza, como era sua rotina, iria até a residência Uchiha: Sakura a solicitara para terminar os arranjos da ceia daquela noite, quando finalmente se depararia com aquele que as suas amigas declararam ser o "presente maravilhoso pronto para ser desembalado". Ela também se disponibilizara para levar Ino até o aeroporto, uma vez que a loira detestaria pagar vários ienes em uma corrida de táxi. Às cinco horas, tinha horário marcado com Lee, o melhor cabeleireiro do salão de beleza de Temari, o Sabaku No. E depois Tayuya cuidaria das suas unhas.

Ela detestava aquela sensação de estar sendo manipulada, mas nada poderia fazer para evitar. Uma vez que concordara com o disparate daqueles planos, coisa alguma poderia ajudá-la na hora da fuga. Só lhe restava aceitar e, como dizia Naruto, o seu comandante, "fazer o seu melhor".

Assim pensava quando parou em frente ao apartamento de Ino. A loira já a esperava na portaria, acomodada numa das poltronas com o seu milhar de malas. Usava óculos escuros, embora não houvesse sol. O céu estava nublado.

- Detesto ser obrigada a passar os Natais fora de casa – ela reclamava entre balbucios aborrecidos incompreensíveis enquanto o porteiro punha a bagagem no porta-malas do Hachi-Roku de Tenten. – Mamãe faz um terrível dramalhão. Não entende que não sou eu quem escolhe, mas Sato. O que posso fazer se sempre temos um desfile especial em dias de Natal? Basta-nos aceitar, não é mesmo? – movimentou a mão num gesto de desprezo. – E estou com uma terrível dor de cabeça!

A morena nada disse enquanto se acomodavam nos bancos do automóvel. Conhecia a mulher ao seu lado e sabia do seu humor volúvel. De nada lhe adiantaria iniciar uma discussão. Ino sempre, sempre venceria com suas conclusões exageradas e meticulosas.

- Oh - ela disse então, quando estavam à espera da chamada para o embarque. - Tenho algo especial para você, meu bem - e abriu a pequena maleta de mão que trazia.

- Espero que não seja outra fotografia - resmungou Tenten de mau humor, o que ocasionou risadas na loira. - Já é suficientemente ruim que eu tenha aceitado conhecer um calhorda machista e extremista como aquele advogado. Vocês deveriam se envergonhar de ludibriar uma amiga desta maneira.

- É para o seu próprio bem, meu amor - Ino piscou. - E você logo perceberá que não será um grande esforço. Beleza e dinheiro andam juntos, hoje em dia. E por sorte você os encontrou. Apenas aproveite a conversa e perceberá que o seu presentinho pode ser mais divertido do que aparenta a princípio. E mais eficaz - insinuou, maliciosa. - Então vamos tratar do que realmente importa - e abriu a maleta, tirando dela um embrulho um tanto quanto amassado. - Quero que você vista isto - entregou-lhe.

- Ultimamente não ando confortável com presentes misteriosos - a morena arqueou a sobrancelha, hesitante em descobrir o que era.

- Gostará desse - Ino sorriu, cândida. - É deslumbrante. Simples, mas charmoso. É um vestido para celebrar o Natal. Combinará com os seus sapatos, aqueles que lhe dei ontem - ajudou-me a me livrar do embrulho, expondo um vestido branco. Ela ergueu-o. Era um tomara que caia de poliéster, justo no colo, que se abria na cintura. Possivelmente ia até os joelhos. - Lindo - murmurou.

Então os auto-falantes anunciaram o seu vôo e ela levantou-se com pressa, fechando a maleta e largando-lhe a peça.

- Está na minha hora - passou a mão pelos cabelos loiros brilhantes, sorrindo. - Ligarei dia 25, possivelmente - abaixou-se para beijar a face de Tenten. - Vemo-nos em breve. Aproveite o vestido, minha cara. E acredite: ele fará toda a diferença. Au revoir, mon ami - pôs seus óculos escuros, balançando os dedos numa despedida e sumiu na multidão.

A outra esperou o avião decolar para partir.

O trânsito estava terrível quando tomou rumo para o Sabaku No, o que era previsível, considerando que estavam na véspera de Natal. Nem fazia idéia de como conseguira um horário com Lee para aquele final de tarde, sendo ele o cabeleireiro principal. Tenten detestava tardes em salões de beleza. Eram como casos perdidos. Nunca conseguia de fato ficar atraente. Era apenas uma moça relativamente agradável, sem uma beleza notável. Não tinha problemas com auto-estima, preferia se chamar de "realista".

Além de tudo, abominava o tipo de conversa obtida num local onde havia mulheres sem cérebro demais para serem contadas. Tudo girava em volta do peru, dos presentes e da roupa que usariam para o jantar especial ou fofocas a respeito da roupa que as demais usariam ou usaram nas últimas três décadas ou até onde a memória alcança. Sentia-se frustrada.

Naruto não fizera até então um único telefonema, nem mesmo a bipara, e isso a aborrecia ao extremo. Preferia fazer patrulha, o que fosse, no lugar de necessitar comparecer à feliz e indiscutivelmente colorida festa de Natal da família Uchiha. Nunca era apenas algo familiar, aprendera com o passar dos anos. Sasuke recebia às vezes alguns sócios e Sakura sempre convidava várias amigas. Sua lista de convidados era meticulosamente formada - e com antecedência e confirmação dos presentes. A Senhora Haruno, mãe de Sakura, era o que Tenten descreveria como uma perua. Desde que o marido falecera, há quase oito anos, vestia-se como uma jovenzinha e era um tanto quanto alcoólatra. Divertidíssima, é claro, mas uma péssima influência para os netos.

Com a mesada que ganhava da filha, mais a aposentadoria que ganhava da Força Aérea desde a morte do marido, uma vez que ele fora General, passava dias inteiros no shopping ou no Sabaku No. E Lee nunca dizia que seu cabelo estava cheio de pontas duplas, como dizia para Tenten.

- Jesus - Rock Lee sempre era absurdamente dramático. - Já vi macacos com cabelos melhores do que os seus, minha flor! - e homossexual declarado.

- Você deve ter visto milhões de macacos, acredito - reiterou a morena, lendo uma revista. - Agora ande com isso, Lee. Faça a sua mágica. Sabe que detesto passar horas presa a esta cadeira.

Ele soltou uma gargalhada sonora. E estupidamente afetada.

- Meu bem, nós não apressamos a genialidade - pegou uma tesoura e fingiu diversos cortes consecutivos no ar. - Agora - sua voz saiu num tom profundo. - começaremos com um corte!

Àquela hora, pensou Tenten cerca de duas horas depois, com certeza os convidados estariam começando a chegar. Sequer tivera tempo de colocar o vestido e nem mesmo conseguiria, pois o esmalte das unhas estava ainda molhado. Temari não aparecera. Kin, a outra cabeleireira, dissera que a dona necessitara sair logo durante a manhã.

- Shikamaru brotou aqui perto das nove - explicou, ligando o secador para usá-lo no cabelo de uma cliente. - Não creio que ela aparecerá durante o resto do dia, docinho. É melhor seguir seu rumo.

- Deixe-me levá-la até o carro, minha morena maravilhosa! - Lee postou as mãos sobre os seus ombros, guiando-a. - E muito cuidado com estes cabelos perfeitos. Deram um grande trabalho, portanto não os estrague! Evite o sereno e locais úmidos. Ligue o aquecedor quando entrar no carro. Aqui - agarrou-lhe a bolsa, enfiando as mãos dentro dessa. - Suas chaves, amor - entregou-as com a ponta dos dedos. - E volte mais vezes! - despediu-se assim que a viu fechar a porta do automóvel.

Embora ela houvesse passado quase três horas num salão de beleza e escutado todo o tipo de conversa estapafúrdia apenas para ficar apresentável para a ceia de Natal dos Uchiha, Tenten estava certa de que não estava nem perto da beleza de algumas das mulheres que lá estavam. Eram em sua maioria esposas dos sócios de Sasuke, homens velhos e poderosos.

Conseguia notar naqueles rostos femininos maquilados e ansiosos o brilho do interesse, a maneira como os sonhos de infância haviam sido destruídos. Algumas pareciam agradáveis, outras nem tanto. Era mais do que óbvio que não existia amor em seus relacionamentos, mas existia amor pelas suas jóias, pelos seus carros esporte e roupas e sapatos deslumbrantes. Perto de tamanhas presenças predadoras, a gentil Sakura, a amável Sakura, a perfeita mãe Sakura era apenas uma figurante. Uma figurante magistral, que levava tudo com mãos de fada, mas uma figurante.

Tenten detestava-os. Detestava aqueles ricos ordinários.

- São mesmo umas vadias interesseiras - ela ergueu os olhos da sua bebida ao ouvir a voz divertida da Senhora Haruno, que se acomodara ao seu lado. Estava chamativa no seu vestido amarelo, que lhe caía muito bem, o exato contrário da mãe de Sasuke: sóbria, uma ex-engenheira de sucesso. - Veja a esposa de Orochimaru - apontou para uma ruiva de corpo escultural que ria e conversava muito à vontade com o assistente do Uchiha. - Karin dormiria com cachorros, e eu digo os animais, para poder pôr as mãos em dinheiro.

Então a Senhora Haruno riu gostosamente. Tinha o rosto enrugado coberto por maquilagem, um batom vermelho nos lábios finos, e os olhos de jade idênticos aos da filha brilhavam de sarcasmo enquanto tinha os olhos postos sobre a figura magnetizadora da mulher de quem falara instantes antes.

- Certamente, meu bem, - deu palmadinhas amigáveis sobre a mão de Tenten, que estava pousada sobre a perna. - você detestaria conhecê-la. É escandalosa e vulgar. Eu sou Saya e você?

- Tenten - respondeu a morena, arriscando um sorriso ao cumprimento. - E eu a conheço, Senhora Haruno. Lembra-se que nós íamos à casa de Sakura todos os dias depois da escola para comer o seu bolo de chocolate, a receita secreta da família?

- Oh - Saya fez uma cara surpresa. - Mas você está tão bonita - Analisou-a. - Sakura me disse que você viria, porém achei que não a encontraria no meio de tanta gente desagradável! - riu. - Não sei o porquê de ela se sujeitar a isto. Minha filha, digo. Esta festa, estas pessoas. Não há mais o espírito de Natal, como havia quando ela era criança e nós nos sentávamos em torno da árvore e perto da lareira para abrir os presentes e cantar canções. Minha pequena menina é tão infeliz...

Tenten nada pôde dizer diante do ar nostálgico e infeliz da Senhora Haruno.

- Vamos falar sobre coisas boas - disse a senhora logo depois, movendo a cabeça. - No que está trabalhando? Cursou a faculdade de Engenharia Mecânica, como dizia que faria quando era menor? Ou pulou essa etapa e já está trabalhando com o seu pai? O velho Bunta. Lembro-me que ele fazia mágica com o carro de Kaitou.

- Não - a outra riu, tomando um gole do seu licor. - Sou policial. Trabalho para o Setor de Investigação da polícia de Tóquio.

- Não pensei que houvesse mulheres bonitas trabalhando nesse tipo de coisa - comentou Saya, surpresa.

- É o que todo mundo pensa.

Estavam conversando há algum tempo quando Sakura, que parecia distraída conversando com alguns conhecidos ali perto, notou-as. Trajava um vestido verde que a deixava muito bonita. Ela era ainda magra e com um belo corpo, considerando que era mãe de dois filhos, um de sete e outra de três. As crianças, a propósito, brincavam com os filhos dos convidados.

Sorriu e acenou, voltando então os orbes claros para qualquer ponto na enorme sala de visitas e se afastando. Instantes depois ela voltou acompanhada de um homem moreno alto, que a ouvia falar sem expressão alguma na face, apenas concordando. De repente ele de curvou um dos lábios, com malícia, e comentou qualquer coisa. A Uchiha riu, parecendo divertir-se, enquanto se aproximavam de onde Tenten e Saya estavam acomodadas. O advogado da fotografia, a presenteada o reconheceu assim que postou os olhos sobre a sua figura clássica, impecável em um terno bem cortado.

Tenten apertou com mais força o copo de licor na mão, hesitante em imaginar como seria aquela aproximação. Não fazia o feitio de moça nervosa, mas não gostava da idéia de confraternizar com um perfeito desconhecido. Tinha tendência para desconfiar de tudo que não conhecesse há mais de meia década, no mínimo.

A Senhora Haruno pareceu perceber aquele sutil movimento e tocou o seu braço num gesto reconfortante.

- Acho que eu irei pegar algum petisco agora - sorri-lhe, confidente, e levantou-se, prendendo a echarpe amarela sobre os ombros. - Venha se despedir de mim quando partir, querida - e sumiu.

- Neji, não seja assim tão egocêntrico - a voz risonha de Sakura estava à sua frente antes que a morena pudesse pensar em entreabrir os lábios pintados para se despedir da simpática senhora e então Tenten ergueu o rosto para fitar o rosto talhado em mármore do homem à sua frente, deparando-se com um par de orbes pérola brilhante maliciosos, algo divertido neles. A anfitriã os notou imediatamente e sorriu. - Tenten, este é Hyuuga Neji - pousou a mão sobre o bíceps dele, parecendo à vontade com a sua presença. - Essa é Ten, minha amiga.

Ela foi obrigada a levantar-se para cumprimentá-lo, aceitando o seu aperto de mão firme.

- Feliz Natal, senhor Hyuuga.

- Acredito que possa dizer o mesmo... Ten - Seu timbre era como uma carícia, testando a sonoridade daquele nome na sua boca. Foi a tal ponto perturbador que Tenten não encontrou palavras para definir a maneira como os poros do seu corpo se arrepiaram, conscientes daquele afago à distância. - É um prazer finalmente dar um rosto ao nome.

- Ohh - ela gemeu, lançando um olhar aborrecido para Sakura, logo ao lado. - Sakura deve ter falado demais ultimamente.

- Nada que eu não repetiria a um padre, meu bem - a Uchiha piscou, marota. - Agora vocês terão de me perdoar, mas eu acho que Momo acabou de derrubar refrigerante na roupa e a mãe de Sasuke não saberá o que fazer logo que ela começar a chorar - suspirou, virando-se especificadamente para a amiga então. - Por favor, Tenten, deixe Neji falar um pouco dele para você. Ultimamente o senhor Hyuuga tem sido o meu confidente, então eu creio que a nossa relação esteja sendo desigual - com um saltinho gracioso, animada, ela afastou-se.

A citada permaneceu muda por um tempo após a partida de Sakura. Sentia-se sem jeito, uma vez que aquele não era o perfil dos homens com quem conversava ou mesmo saía. Porém logo afastou aqueles pensamentos, que não serviriam para nada além de deixá-la ainda mais constrangida, e pigarreou, chamando a atenção para si.

Os olhos claros de Neji estavam fixos nas linhas do seu rosto, analisando-a. Tenten não saberia dizer o que se passava pela sua mente naquele instante.

- Então... - ela bebericou da sua bebida para se mostrar mais confortável e refrescar a garganta seca. - você prefere começar com os traumas de infância ou o quê? - perguntou, arqueando uma sobrancelha num gesto que tencionou fazer parecer gracioso, mas que suspeitava não ter se saído como o esperado.

Os lábios do Hyuuga tornaram a se curvar naquele sorriso de canto, uma pitada de malícia.

- Eu tenho uma pequena lei particular sobre não falar nada a respeito de mim até saber a bebida preferida da bela mulher ao meu lado - disse, um tanto quanto cortês. - Isso é licor?

Tenten rodou os olhos, um pouco sarcástica, mas sem parecer rude. Não se mostrou agraciada ou comovida pelo elogio, embora admirasse a maneira charmosa com que ele pronunciara aquelas palavras, ou mesmo a maneira como a observava, como se querendo descobrir todos os mistérios que ainda a encobriam. E desvendá-los. Sim, certamente ele quereria desvendá-los.

- Sim - ela concordou. - Mas eu prefiro um Martini de Maçã, o que você certamente não encontrará aqui - zombou. - Advogados - pronunciou logo depois, fazendo um pequeno estalo com a boca. Levou o copo aos lábios novamente, deixando a palavra morrer no ar. - Sempre têm leis convenientes para o seu próprio prazer e comodidade, não é mesmo? - o seu gracejo aumentou o sorriso divertido dele.

- Somos pagos para saber leis, usá-las para aprazer a uma dama são uma variação pessoal - explicou, a voz agradável. - E se pode dizer muito a respeito de uma mulher ao saber sobre a bebida que ela toma.

- É mesmo? - a morena novamente ergueu a sobrancelha, curiosa. - O meu tipo sangüíneo, talvez?

- Nada tão específico - ele disse depois de soltar uma curta risada. - Mas eu poderia dizer, por exemplo, - seus orbes claros brilharam. - que você hoje bebe algo como licor porque acredita que o vinho seco não seria o bastante para embriagá-la, mas acabaria ingerindo-o em demasia por essa segurança e não gostaria de ficar alcoolizada, então optou por uma bebida doce, que acabará por enjoá-la. Só a bebe quando sente necessidade de fazer algum movimento ou evitar o diálogo, porque há uma placa na sua testa anunciando para todos os presentes que não está interessada.

Ela mordeu o lábio enquanto o escutava, um pouco surpresa com aquela dedução clara e perfeita, que a resumia com precisão, ainda que não a demonstrasse. Tencionou levar o copo à boca, porém refreou o movimento, segurando o recipiente quase vazio com mais força.

- É uma grande conclusão, senhor Hyuuga - disse logo depois. - Entretanto o que faria se eu dissesse que está errado? - questionou, um toque de vivacidade naquelas palavras.

- Quem saberá? - Pelo jeito como pronunciou aquelas palavras, Tenten tinha certeza de que ele o sabia. - Você pode tentar readquirir o controle da conversa fazendo isto, com a tentativa óbvia de manter distância entre nós agora que sabe que eu sou um perigo para a sua perfeita encenação nesta terrível noite de Natal - deu um segundo de silêncio, como se esperasse que Tenten o fizesse e, como não o fez, ele sorriu mais uma vez, um sorriso quase imperceptível. - Será que eu posso te oferecer alguma outra bebida? - e observou que o licor chegava ao final.

A mulher refletiu se deveria deixá-lo se aproximar e trocar o seu copo por outro, o que lhe dava a oportunidade de continuar o diálogo, ou se afastar, uma vez que cumprira a aposta e conhecera, ao vivo e com aquela voz macia e instigadora, o seu presente de Natal. Então sorriu em retribuição, afável.

- Uma taça de vinho, por favor.

Ele voltou instantes depois e a manteve presa à sua conversa até que o relógio tocou as doze badaladas da meia-noite e Tenten achou que já dera tempo o bastante naquela festa e que estava na hora de ir embora. Por mais agradável que se mostrasse Hyuuga Neji, notara que aquele belo moreno era extremamente auto-suficiente, seguro de si e um tanto quanto mandão, características básicas no mercado da advocacia. O caso é que Tenten odiava caras mandões.

Procurou Sakura com os olhos um instante, encontrando-a junto de Sasuke. Eles conversavam com um casal, mas o Uchiha não se mostrava muito interessado, o completo oposto da esposa, que se esforçava em parecer simpática, um sorriso na face.

- Está na hora de voltar para torre, antes que minha carruagem se transforme em abóbora - zombou. - Foi um prazer conhecê-lo, senhor Hyuuga - estendeu a mão para despedir-se.

- Acompanho você - havia um tom de ordem disfarçado na sentença.

Tenten concordou e baixou a mão.

- Apenas preciso me despedir de Sakura e Saya. Demorará um instante.

Uma vez que ele a acompanhou, Sakura não pôde fazer nenhum comentário a respeito do desenrolar daquela noite. Despediram-se com beijos ternos e um abraço. Não encontrou a Senhora Haruno para fazer o mesmo, de modo que seguiu para o hall e encontrou Neji com o seu sobretudo em mãos. Sequer arriscou perguntar como ele o sabia.

Estava extremamente frio na rua e ela praguejou mentalmente enquanto andava sobre a neve escorregadia. A mão quente do Hyuuga se fechou sobre o seu cotovelo quando o salto do sapato deslizou, evitando-lhe uma terrível queda, e a morena gaguejou um agradecimento, aliviada. Recebeu apenas um sorriso cortês como resposta, o qual vislumbrou com o canto dos olhos logo antes de parar em frente ao carro preto. O aperto feito por ele sobre a sua pele não sumiu, apesar disso.

- Um belo carro - comentou, os orbes analíticos sobre o automóvel.

- Obrigada - Tenten pegou a chave no bolso. - Gosto de carros antigos.

- Você certamente tem um gosto peculiar - Neji ergueu mais uma vez o canto do lábio, mas dessa vez ela tinha certeza de que não o perceberia se não estivesse o encarando com atenção. Não conseguiu distinguir um tom de aprovação ou não, mas chegou à conclusão de que não fora uma crítica, a considerar pela sua expressão. - Deixe-me ajudá-la - soltou-a, adiantando-se.

Abriu a porta do carro e esperou-a acomodar-se para fechá-la com uma batida suave. Tenten baixou o vidro para agradecer.

- Obrigada - repetiu.

- Tenha uma boa noite, Ten - e a maneira como pronunciou o seu nome, de um modo quente e instigante, novamente deu-lhe aquela familiar e perturbadora sensação de vertigem. Foi só horas depois, quando pôde colocar os pensamentos no lugar, que chegou à conclusão de que aquilo não fora um simples articular, fora algo que beirara a indecência.

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N/A: Então, uma fic especial de Natal pra animar o povão! Hhuehue. Enfim, o segundo capítulo está quase pronto. Amanhã ou depois eu provavelmente postarei. E acho que hoje à noite posto o próximo capítulo de A Cor da Noite também. Estou enfrentando um pequeno bloqueio em relação a Os Deuses, mas estou fazendo o possível para continuar escrevendo. Vocês sabem que bloqueios são o inferno de um escritor.

Esta fanfic terá provavelmente três capítulos. E eu gostaria de receber muitas reviews, como presente de Natal! =3 Seria muuuito bacana. Principalmente porque eu ando enfrentando uns problemas pessoais e ando meio, bom, bem pra baixo. Assim sendo... me digam o que acharam desse UA (minhas fics são, em sua maioria, no universo original, então é meio que uma inovação para os meus padrões...) e as críticas e tudo o mais. É realmente, realmente importante o apoio de vocês pra mim hoje, em especial.

FELIZ NATAL. Obrigada aos que acompanham.