Prólogo
por Little V.

Abriu as portas – não sem antes respirar fundo - e olhou para o lugar de sempre. Era um ritual que nunca ousara quebrar em sua época de aluno e agora, na posição de professor, também não o faria. Os olhos, castanho-seriedade, passaram rapidamente pelo azul (que representava ora descontração, ora alegria) e deixaram transparecer no físico toda a alegria que sentia na alma. Seus olhos, voltados para cima e concentrados em não assumirem a mesma tonalidade daquilo que miravam, formavam pequenas ruguinhas nos cantos, revelando o sorriso do jovem rapaz.

O céu encantado do salão principal de Hogwarts sempre encantara Teddy Lupin, de alguma forma. Dessa vez, ele estava límpido, enfeitado somente por uma límpida lua nova, tão nova que mal passava de um risco.

Sempre que se encontrava naquele espaço contemplava o céu sonhadoramente, como se tentasse descobrir toda a magia e o simbolismo por trás dele. "Ele reflete o ambiente", disse uma vez seu padrinho, a quem tinha em alta conta. Em sua opinião, porém, ele refletia o que cada um queria do ambiente. Às vezes havia chegado a se questionar se todos viam o céu igual, porém nunca encontrou resposta a isso, igualmente. Preferia manter-se com os mistérios, eles pareciam bem mais atraentes a seus olhos sempre atentos.

Assim que deixou seus devaneios se perderem em meio a conversas e reencontros, sentiu-se novamente um pouco tenso. Aquele seria o jantar de sua apresentação oficial como professor de DCAT – uma tremenda responsabilidade. Minerva, a quem conhecia e estimava desde que se conhecia por gente, havia sido extremamente confiante. Não duvidara um segundo sequer da capacidade de Teddy, sempre ressaltando que "competência e formalidade" - algo que sempre viu no rapaz - era algo indispensável à carreira de mestre.

Teddy olhou ao redor, buscando gravar algumas feições que se espalhavam pelas mesas. Todas elas refletiam a mesma coisa: alegria por estar de volta. Hogwarts era e sempre seria a segunda casa e lugar preferido da maioria das pessoas que se encontravam dentro daquele salão. Pensamentos e sentimentos nostálgicos vieram à tona, e foi impossível não abrir o maior dos sorrisos e relaxar. Estava em casa, não havia por que não tirar os sapatos e sentir-se confortável. Com esse pensamento, atravessou o salão e sentou-se ao lado de Neville, outro antigo conhecido, com quem iniciou uma intrigante conversa sobre plantas aquáticas e seus efeitos medicinais, até que sua atenção foi - novamente - roubada pelo discurso inicial da diretora McGonagall.

Não prestou verdadeiramente atenção ao que ela dizia, entrando novamente em seus devaneios ao observar a agitada mesa da Grifinória. Por Morgana, como sentia saudades dos tempos em que ali ainda colocava em prática suas peraltices. Voltou a si com cutucadas nada leves em suas costelas, as quais o assustaram em primeiro momento, mas logo o fizeram entender do que se tratava.

"Teddy Lupin? Por favor, queira se apresentar".

Levantou-se inteiramente vermelho – desde os cabelos até os olhos -, algo que arrancou fortes risadas de todos os presentes. Deu um breve "Alô" a todos, sorrindo abertamente e finalizando com um gracejo que deixou a todos perceberem como estava envergonhado por ter sido pego no flagra pela diretora em pleno devaneio.

"Como vocês já devem ter percebido, além de nosso novo professor de DCAT, ele é metamorfo".

Nesse momento, um assovio alto demais para passar despercebido, mesmo em meio a tanta fuzarca, se fez ouvir. Sem duvidar quem era a dona daquele assovio, Teddy logo começou a rir. Poucos metros adiante, perto da ponta da mesa da Grifinória encontrava-se uma moça em seus 17 jovens anos, trajando o uniforme de Hogwarts, o qual só realçava ainda mais seus cabelos cor de fogo, sempre despenteados, curtos e com a habitual franja. Não encontrá-la em meio à massa era inimaginável: Lily saltava aos olhos. Teddy redobrou o sorriso ao ver uma carinha que representava tanto sua casa. Lily Luna sempre o lembraria do conforto do lar e tê-la ao seu lado durante o ano letivo, em Hogwarts, seria o mesmo que uma volta deliciosa no parque.

Analisou a ruiva por alguns segundos, onde a viu puxar uma salva de palmas para si, sempre com seu ar autoritário somado a seu sorriso – era incrível que conseguisse fazer as duas coisas ao mesmo tempo, costumava pensar Teddy. Não pôde deixar de notar que em toda sua simplicidade, brilhava em meio às outras pessoas. Nunca imaginou Vic dessa forma. Sempre a vira como um pedaço de carne e, pelo mesmo motivo, encontrava-se agora solteiro e sem a noiva. Aquietou o coração e deixou-se levar pelo momento, pensando que, caso algum dia tivesse de se apaixonar novamente, rezava aos céus que fosse alguém tão incomum como Lily.

A diretora continuou seu discurso e iniciou-se o processo de seleção. Teddy viu pequeninos aflitos sentarem-se no banquinho e ouvirem, atônitos, o veredito. Viu o jantar ter seu início e vários jovens atacarem seus pratos como verdadeiros leões – lembrou-se de ser exatamente igual e deixou um pequeno riso escapar. Voltou os olhos à sua mesa e comeu com prazer as delícias oferecidas. Frango, torta de abóbora, com suco de abóbora, e um tipo esquisito de feijões, que eram adocicados e caiam deliciosamente bem com outro grão salgado que não soube identificar.

Mal pôde se entreter novamente na conversa com Neville, teve de abandonar a mesa e ajudar os alunos mais novos com suas respectivas casas. Foi então que encontrou com dois rostos bem familiares caminhando em sua direção.

"Teddy!"

Uma pequena garota loura correu, tirando os transeuntes do caminho, para logo se agarrar a sua cintura. A diferença de altura entre Teddy e Dominique, irmã de sua ex-noiva, era gritante. Não se entreteu, porém, com a pequena loura, e sim com a ruiva que vinha logo atrás e que completou o abraço, esmagando a outra entre eles.

"Olá, professor Lupin", sussurrou marota a ruiva, passando a mão nos cabelos já despenteados de Teddy, que adquiriram a famosa tonalidade azul, arrancando risinhos dos mais próximos.

"Olá, Lily".

Não puderam trocar mais palavras, porém, porque Teddy se viu ocupado com um grupo de alunos que, ao invés de seguirem a escada para a torre da Corvinal, estavam a subir para as masmorras. Antes de partir, porém, recebeu discretamente um bilhete de Lily, o qual o pedia para ir se encontrar com ela e o restante da "família" no salão comunal da Grifinória. A senha, na posição de professor, era algo fácil de descobrir.


"Teddy!"

Viu-se novamente enrolado em cabelos ruivos e louros, dessa vez não só de Dominique e Lily, como também de Hugo e Louis. Cumprimentou a todos com extremo carinho e pensou se deveria fazê-lo, afinal poderiam achar estranho um professor tão íntimo de seus alunos. Logo tirou aquele pensamento da cabeça, lembrando-se de que sempre vira seus professores como membros da família. Minevra, Hagrid e Neville bem representavam isso.

"É bom ter você por aqui, cara!"

"É bom te ver, Hugy" disse, arrancando risos de todos. Hugo detestava o apelido e sempre fazia careta quando era assim chamado.

"Então teremos mesmo que te obedecer agora Teddy?"

"É certo que sim, Lily. E é bom que me respeitem a partir de hoje, se não coloco todos em detenção", terminou, fazendo cócegas em Dominique, quebrando o contato visual com uma Lily sempre sorridente.

Cada um dentro daquela sala contava idades diferentes. Lily e Hugo com 17. Louis com 12 anos recém-completos e Dominique com seus 15 anos. Teddy, o mais velho, aos 27, sentia-se voltando anos e mais anos atrás ao se ver em volta daquela turminha.

Ficaram horas a conversar e discutir sobre Hogwarts, sobre a vida, sobre assuntos importantes e sobre nada em especial. O salão, de inicio cheio de curiosos que não tiravam os olhos do professor que parecia tão jovial e descontraído, foi se esvaziando até que restaram nas poltronas somente um ainda empolgado Teddy, acompanhado de uma igualmente empolgada Lily e outros três rostinhos adormecidos. Hugo e Dominique não duraram nem meia hora, devido ao cansaço, e o mais resistente fora Louis, sempre elétrico. Assim que Teddy se viu sozinho com Lily, sentiu-se ainda mais descontraído. Dos ali presentes, ela sempre fora sua favorita, junto aos irmãos.

"Então, nervoso para os primeiros dias de aula?", perguntou-lhe, brincando com uma mecha de cabelo, jogada de forma espaçosa na poltrona.

"Um pouco, mas já sei que logo na primeira aula terei você como aluna, então as coisas ficarão mais fáceis".

Lily ficou subitamente entretida na conversa e deixou escapar um enorme sorriso que, na opinião de Teddy, era como voltar aos 10 anos de idade e brincar com a pequena bebê de cabelos ruivos e olhos castanho-esverdeados que sempre lhe sorria.

"Você não tem que se preocupar, Teddy. Todos vão te amar como professor e também como pessoa".

O moreno não pode ficar mais feliz ao constatar que, desde que tivesse o amor daqueles que ali se encontravam, estava de bom tamanho.

Passados mais alguns momentos, onde ficaram a descrever as férias um para o outro, sentiram-se cansados e, vendo que já passava da hora de estarem na cama, Teddy resolveu se retirar. Era um professor e deveria estar, ao mínimo, apresentável na manhã de suas primeiras aulas.

"Eu acho que já deveríamos ir, Lily. Está bem tarde e não quero que minha aluna preferida chegue à primeira aula feito um trapo. Eu seria obrigado a te colocar em detenção por dormir logo no primeiro dia, ainda mais na minha aula", disse, piscando.

"Estou vendo que você vai ser um professor bem malvado, Teddy Lupin!"

Ainda rindo, levantaram-se e foram até a entrada da torre. Lily, vendo-se pela primeira vez próxima a Teddy e podendo falar-lhe em particular, transmitiu os desejos de seus pais ao moreno.

"Meus pais pediram que tomasse conta de você, Teddy, e mesmo que eles não me tivessem feito tal pedido, eu o faria. Nada de cigarros e café o dia todo, isso vai te fazer muito mal. E nada de noites insones, como eu vejo que já têm sido", nesse ponto, a ruiva passou devagar os dedos embaixo dos olhos do moço, que estavam escurecidos e formavam bolsas.

Teddy deixou os olhos se fecharem e só sentiu o toque suave de Lily em seu rosto, passando pelas olheiras e por parte da barba mal feita.

"Você não precisa cuidar de mim, Lily", murmurou, com um sorriso a brincar nos lábios por saber que ela se preocupava verdadeiramente.

"Você sempre diz isso. E você sabe que eu nunca dou ouvidos".

Teddy abriu os olhos a ponto de vê-la sorrindo e pegando seu rumo aos dormitórios, não sem antes acordar aos primos com um pequeno grito. Antes de sair de vez do salão, porém, Teddy a olhou. A ruiva, um segundo antes de virar as escadas e sumir em meio ao dormitório feminino, mirou o olhar verde em Teddy, dizendo-o por meio de baixas palavras para ter uma boa noite e para que fizesse a barba.

Teddy saiu, então, com um sorriso nos lábios. Estava gostando da perspectiva de ser professor, desde que seus dias acabassem daquela forma tão suave. Sem problemas, sem preocupações, sem medo algum, somente numa atmosfera de leveza.

Dirigiu-se a seu quarto e finalmente teve uma noite em paz, como lhe desejara Lily. Seu último pensamento antes de se entregar ao cansaço foi o de que regressar a Hogwarts, afinal, era sempre a melhor coisa a se fazer.