1° - Um exaustivo começo.

- Harry Potter ou Draco Malfoy?

- Harry Potter. Lógico! – a Ella falou com plena convicção.

- Eca! Preferir o nerd ao Draco? – a Mel parecia totalmente indignada (e bem, ela estava).

- Se vocês prestassem atenção às aulas, talvez não estivessem tão ferradas. – eu falei, já que aquelas tagarelas não deixavam eu me concentrar na aula. Mesmo assim eu anotava cada palavra que o Bins dizia.

Isso é uma proeza, eu sei, mas é preciso. Sempre é preciso!

Tudo bem, eu admito, História da Magia não é uma das melhores matérias, mas de novo, eu preciso! Os N.O.M's são este ano e eu tenho que estudar, e me dar bem em todas as matérias. Será que é difícil demais pra entender? Acho que não... mas enfim, Ella e Mel me irritam de vez em quando. Aqueles risinhos estridentes, sempre me desconcentram nas aulas.

- Pelas barbas de Merlin! Será que vocês duas podem parar? – eu grunhi entre dentes, e realmente senti que mataria as duas com o meu olhar.

- Nossa Sophs... relaxa aí.

Odeio quando elas me chamam desse apelido estapafúrdio.

- Pois é. Eu e a Mel só estamos...

- Me atrapalhando! – eu falei finalmente dando um soco no mesão que dividíamos.

- Não! A gente só estava conversando sobre...

- Eu sei sobre o que vocês estavam falando Melanie! Por mais uma vez, desde que aqueles filhotes de macaco pisaram nessa escola, vocês não sossegam. E não dão descanso pros meus ouvidos. – esbravejei, e acabei chamando a atenção de toda a sala, com a exceção do Bins que continuava a falar. Por Merlin... eu perdi tanta coisa!

- Noossaaaa! Alguém tá nervosinha hoje George!

Vara pau estúpido.

Mas o que diabos Dumbledore têm na cabeça ao colocar Sonserina e Grifinória juntas? Será que ele não percebe as faíscas na sala de aula? Hmm... claro que percebe. Ele pode ser um velhote caquético, mas ainda sim inteligente. Não que eu não queira mais ter a companhia da Mel durante as aulas (pensando bem, meu aproveitamento seria bem melhor), mas porque não despachar Grifinória e Lufa-Lufa pra bem longe de mim?

Mais um estardalhaço durante a aula por causa daqueles Weasleys sem graça. Não... eles não têm um pingo de graça, e mesmo assim esse bando de bunda moles riem de qualquer idiotice que um dos dois fazem (ou na maioria das vezes, os dois). Merlin com certeza desgraçou aquela mulher ao colocar essas coisas no mundo.

-

Sophia era aquele tipo de garota que podemos assim descrever, nada delicada. Flor que não se cheire, azeda, insuportável, dentre muitos outros adjetivos. Muitos atribuíam a aquela casca, sua personalidade forte, à grande dedicação nos estudos. Sempre séria e compenetrada durante as aulas, a nova monitora casca grossa da Sonserina e com um passado não muito claro.

Por ser uma das melhores alunas da escola, Sophia tinha uma certa popularidade, o que não lhe agradava nem um pouco. Mas grande parte dos créditos de sua fama ia para sua personalidade. Sua pose imponente, o olhar cortante e o tom severo na voz, faziam com que à irlandesa fosse temida em toda Hogwarts. Era realmente de se admirar que tivesse amigas.

Mel Kestooth, vinda de uma importante família bruxa de Londres, era uma belíssima ruiva com grandes e arredondados olhos castanho-esverdeados. Orgulhosíssima de sua casa, a bela Lufa-Lufa era artilheira do time de quadribol de sua casa, chamava a atenção de muitos garotos da escola por sua alegria contagiante e grande beleza, e já mantinha um namoro de algum tempo com o apanhador e capitão do time de sua mesma casa, Cedric Diggory.

Ella McSwall era o oposto de Mel. Bem, no começo. A escocesa nascida trouxa, aos 11 anos foi acometida pela grande e excitante noticia de que era uma bruxa e que tinha uma vaga numa escola para aprimorar suas habilidades mágicas. Sua família, pelo contrário, não se sentira tão feliz, tentado impedi-la a todo custo de ir, e a garota apenas chegou à escola com a ajuda de uma tia de quem nunca gostara na vida.

Por ironia (ou não) do destino, na primeira noite de suas vidas naquele enorme castelo de Hogwarts, elas foram vítimas de um pequeno e 'suave' trote planejado por Fred e George Weasley para os novatos.

Nada muito pesado, mas quando apenas três garotas, não muito ajustadas a tudo aquilo, têm seus traseiros exibidos a todo o Salão Principal, é totalmente traumatizante. A partir daquele momento, era praticamente impossível ver uma separada da outra. Podemos dizer que aquele ano (1989), as três não eram muito conhecidas por seus rostos (se é que me entende).

Na altura do terceiro ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Ella e Mel perdoaram os gêmeos, ganhando até certa simpatia por eles. Mas não Sophia. Uma Heaney nunca deixava passar uma humilhação.

Uma coisa realmente intrigante era a enorme diferente entre as três. Tanto na personalidade, quanto fisicamente.

Ella possuía uma beleza cativante. Tinha cabelos castanhos claros, na altura dos ombros, ondulados e brilhantes; uma fina linha definia seus lábios extremamente rosados, com um belo sorriso que provocava covinhas em ambas as bochechas; incomuns olhos castanhos, mas não por isso incomuns, e sim porque eles tendiam a um vermelho profundo, raramente visto; e um semblante angelical. Não era muito alta, mas possuía um corpo invejável, dos pés a cabeça. Sua timidez era algo que encantava mais, e aquele conjunto a davam um ar 'intocável'.

Mel esbanjava alegria. Seu sorriso perfeito iluminava qualquer cômodo; seus olhos arredondados, castanho-esverdeados transmitiam alegria; seus cabelos de um vermelho vivo, longos e com cachos nas pontas, brilhavam; os lábios carnudos e avermelhados eram pecado para qualquer um. A mais alta das três, Mel exibia um belo corpo esculpido graças ao quadribol, o que fazia meninos suspirarem e meninas morrerem de inveja.

Sophia transmitia mistério. Seus olhos extremamente grafite, pareciam sugar-lhe a um local escuro e desconhecido se a encarasse por muito tempo; cabelos pretos, brilhantes e lisos, mas não retos, que lhe batiam à altura da sua cintura; o sorriso, visto por quase ninguém, passava calma e tranqüilidade, em contraste ao semblante tão duro. Apesar de pouco se importar com o corpo, valorizando sobretudo o intelecto, Sophia era alta, magra, com seios fartos, mas pouco o exibia, pois estava sempre coberta pelo suéter, cachecol e, sobretudo da Sonserina. Seu semblante duro era mais perceptível devido ao seu maxilar muito aparente, os lábios sempre crispados, o cenho franzido e o olhar ameaçador.

Voltando aos gêmeos... A relação entre as três e eles nunca foi muito grande. Só durante confusões nos corredores e nas refeições. Mas nada que tirasse do sério a mais controlada das três. Ella e Mel passaram a rir constantemente dos dois, e do amigo inseparável deles, Lino Jordan, enquanto Sophia permanecia quieta com seu maxilar endurecido fuzilando qualquer criatura viva com seus olhos. Mas nesse tudo estava diferente. Sophia estava orgulhosa. Estava para começar seu 5° ano em Hogwarts, iria prestar os N.O.M's e havia recebido o distintivo de monitora. Nada poderia sair errado. Bom, ao chegar à escola ela percebera que tudo sairia errado no seu 'perfeito' 5° ano letivo. Fred e George Weasley haviam reprovado o 5° ano, por não terem alcançado notas satisfatórias em seus N.O.M's, deixando-os no mesmo ano, ou seja, junto com as três garotas.

O ódio que ela alimentava pelos dois já era crescente, e extrapolou-se desde o começo deste ano (se é que era possível. E aparentemente, era.).

-

Eu nem me dei o trabalho de olhar para os dois. É, porque é isso que eles querem, eu sei! Querem chamar atenção, me irritar, afinal, eles têm passatempo melhor? Parece que não!

Todo mundo ainda ria muito, uma verdadeira algazarra. Foi quando o Bins virou para a turma com aquela cara de quem tinha percebido toda aquela palhaçada naquele exato momento. Com todo o respeito que eu tenho pelos professores, mas o Bins é um babaca, parece que tá voando sempre (não que ele não esteja. Ah! Você me entendeu!). A Ella e a Mel ainda riam como duas desequilibradas, e eu, já não agüentando mais tanta risadinha no meu ouvido, lancei-lhes um olhar fuzilante.

- Me digam... o que é tão engraçado? – eu perguntei com grande desgosto.

A Mel imediatamente voltou a atenção pro pergaminho, finalmente copiando a matéria, e a Ella cobriu os olhos com aquela franja enorme que me irrita.

- Ninguém tá afim de ataque hoje Sophs... – falou aquela ruiva, com uma calmaria agonizante.

Ataque?! Eu não dou ataques! Eu sou a mais controlada das três. Elas sim vivem dando ataque; gritando estridentemente no corredor; e eu que agora sou a descontrolada? Ah! Faça-me o favor!

Olhei pro meu relógio de pulso. Hora das bolinhas de pergaminho. Incrível como eles são pontuais neste quesito. Digo, se eles tivessem o mesmo compromisso com os estudos e coisas sérias do que tem com a baderna, seriam verdadeiros modelos estudantis e de responsabilidade pessoal. Tá bom?! Eu por acaso tô ficando doente? Elogiando os Weasleys? Não... apesar de 'descontrolada', meu julgamento é justíssimo.

Não deu outra. Parei todas elas no ar com minha varinha, e olhei ameaçadoramente para os dois, que pareceram não se abalar nem um pouco. Deixei as bolinhas seguirem seu curso, e muitas transpassaram o espectro do nosso professor.

- Vamos meninos... não está na hora de brincar. – falou o Bins com um sorrisinho no canto dos lábios.

Ele não é tão mané assim!

- O intervalo já está chegando. – ele disse, virando-se novamente pro quadro.

- Mas é só daqui a meia hora! – resmungou entre dentes a Ella.

Ela olhava para mim com grande indignação, e eu mantinha aquele meu olhar severo. Coitada! Mas também, eu estava aborrecida! Como alguém pode deixar aquilo passar tão, tão... brandamente. Um mês de detenções daria para perdoar um ato desses, mas nada?! Isso é um absurdo! Será que eles nunca vão se ferrar nessa escola?

Meia hora depois nós saímos da sala. Eu ainda estava pasma, e admito, com muita raiva. Não é a toa que eu gritei um 'IMPOSSÍVEL!', muito bem gritado, ao transpassar o portal da sala. O Bins ainda falava pelos cotovelos, e as minhas costas aqueles cérebros de geléia da Grifinória ainda riam das coisas estúpidas que aqueles dois seres não paravam de matracar.

A Mel tem me dito nas últimas semanas que esses meus gritinhos ao fim da sala vêm se tornando constantes. Disse que para uma pessoa imprevisível como eu (de novo, palavras dela!), minhas reações estão tornando-se comuns.

Isso me despertou para uma coisa. Realmente, eu venho me incomodando demais com os lerdos dos Weasleys desde o começo do ano letivo, eu não tenho tido descanso daqueles dois. No meu primeiro dia de monitoria, até hoje (repito! Todos os dias, até hoje!) não há sequer um dia em que eu não encontre aqueles dois, mais o fiel companheiro deles, Lino Jordan, fora de algo comprometedor. Bombas de bosta, e mais artimanhas da Zonko's parecem estar espalhadas pelo castelo todo santo dia. Merlin será que eu não vou ter um dia tranqüilo? Agora eu entendo como o Filch se sente, com aqueles dois por aqui.

- Sophs, não precisa tanto. - me falou a Ella com aquela vozinha calma e relaxante.

- Pois é! Que stress! – veio gozando aquele macaco com os cabelos cor de tomate azedo.

NÃO! Eu não mereço. Não mereço, não mereço, não mereço, não mereço, não mereço!

Eu rosnei! Sinceramente, eu não me reconheço mais. Pensando melhor e mais calma eu me pergunto. Onde está aquele poço de calma e concentração chama Sophia Heaney? Por acaso ela partiu desse corpo? Eu gosto tanto dela.

Rosnar... eu nunca rosnaria em sã consciência.

Bom... passando minha fase cachorro louco, mas ainda transbordando de raiva, eu disparei pelo corredor aplicando detenções até os passarinhos que cantavam na janela. Ai...

-

Mel. Devo dizer que ela me surpreende sempre. Lembra-se da garota extremamente expansiva, sorridente e sem papas na língua? Pois é. Desconsidere tudo isso quando você a vê ao lado de Cedric Diggory, seu atual namorado. Sério. Ela parece outra pessoa, completamente. Centrada, calma, carinhosa e acima de tudo, atenciosíssima. Sinceramente, não se parece em nada com a Melanie que conheço. Digo isso porque eu já a conheço há um tempo e vi que ela já teve muitos outros namorados desde que entramos aqui, mas essa relação parece espantosamente, durar. Não, acho que fazendo toda a matemática, dá um total de 2 anos. Quem pensaria que a nossa Mel espevitada, namoraria tão firme e pareceria tão... apaixonada. Aquele garoto realmente deve fazer milagres. Me pergunto qual será o segredo embaixo daquela carinha de sonso e andar desajeitado.

Não que não goste dele, pelo contrário, ele é até... simpático. E não fique tão surpreendido quando eu falo isso, porque estou cansada de receber aquele comum espanto e os olhos esbugalhados. Eu gosto das pessoas, bem, não da maioria, lógico. Mas não é todo mundo que me tira do sério. Eu não costumo adjetivar pessoas carinhosamente, ou positivamente, isso já é quase um hábito, e já estamos sendo sinceros aqui, eu lhe digo, eu até gosto de ser assim.

Quero dizer, esse meu jeito 'ameaçador', como descrevem as meninas, mostra o quão isso é vantajoso para mim. Não que eu admita ser 'ameaçadora', mas já que pensam assim, assim é (não?). Voltando... creio que ele me traz grandes benefícios, como fidelidade, firmeza de caráter, personalidade. Como eu poderia explicar. Bom, o que eu tento dizer é que, quando alguém se torna tão duro ao ponto de espantar os outros a sua convivência, assim se prova que aqueles que chegam ao seu lado e permanecem ali são dignos de sua confiança. Pois eles provavelmente tiveram grande firmeza para chegar ali e sua fidelidade com certeza deve ser notada. Não, não, não. Não diga que eu sou metida. Eu apenas sei o quão difícil é adquirir minha confiança e o que é me agüentar todo santo dia.

Apesar de me manter ao máximo impassível, eu aprecio a companhia da Ella, da Mel e do Oliver.

O Oliver? Bem... o que eu posso falar dele? Ao contrário do muito que se diz nessa escola de babuínos enlouquecidos, o Oliver não é apenas 'o capitão do time de quadribol da Grifinória totalmente obcecado pela taça'. Bom, ele é. Mas também, há muito mais do que isso. Porque senão, eu confesso a você, eu nunca estaria com ele e há tanto tempo. Ele é inteligente, sensível e realmente se importa com as minhas opiniões, e não digo apenas com as relacionadas ao sistema de ensino adotado em Hogwarts. Ele parece realmente me entender, e me acolhe de forma aconchegante. As meninas chegam a dizer que o nosso namoro é muito mais um carinho de amigos, do que realmente um amor (ou paixão) entre homem e mulher. Já eu, penso o contrário. Não é porque nós não temos relações tão intensas e tão freqüentes como a Mel e o namorado, que nós não sejamos um verdadeiro casal. Quero dizer, nós temos tudo o que uma relação saudável tem, e nas doses necessárias. Não é preciso que nós estejamos 24 horas ao dia grudados ou pensando um no outro, até porque eu tenho as minhas prioridades, e ele com certeza tem as dele.

A Ella de vez em quando costuma me dizer:

- Nossa Sophs, às vezes você é tão fria com o Wood.

- Eu não sou fria! – eu sempre respondo.

E eu não sou. Apenas tenho a plena consciência de que um namoro não é dedicação integral, e sim mais como um passatempo. E, como eu já disse, ele me entende. Parece nunca se queixar, até porque, não tem motivos plausíveis. Se eu fosse aquele tipo de namorada carente e pegajosa, eu sofreria horrores, e eu lhe digo o porquê. Ele é o capitão do time de quadribol da sua casa e na maioria de seu tempo livre está elaborando planos e técnicas de jogo para a próxima vitória, então, se eu o pressionasse na tentativa de obter mais do seu tempo e de sua atenção, isso provavelmente não duraria 15 dias. E aqui estamos nós, pelo o que eu calculo, 1 ano e meio. E em assuntos como quadribol e rivalidades entre Sonserina e Grifinória, eu tento sempre manter-me imparcial, apesar de no fundo torcer pela minha casa (claro!). Enfim... a questão é que eu e o Oliver nos gostamos, senão não teríamos a relação de cumplicidade que temos um com o outro hoje. E isso é um fato.

Mas tanto quanto a Mel me surpreende, a Ella me intriga. Ela consegue ser tão misteriosa, com aquele olhar penetrante e invasor, como se fosse desvendar os seus piores e mais guardados segredos ao apenas lhe encarar, e ao mesmo tempo tão doce e meiga. Eu não sei o que há de errado com os homens em Hogwarts, sério! Como é que nesses cinco anos a minha querida amiga não teve um namorado sequer. Eu sei que ela parece reservada, sim, parece, porque se ela era, ao começar a andar com a Mel, você não tem mais qualquer pudor. Sobre nada! Ela já me disse que ficou com uns e outros por aí, mas fracamente, a Ella não é uma garota de se beijar e jogar fora. Muito pelo contrário. Mas foi como a ruiva disse a ela um outro dia...

- Você deveria agir com os outros da mesma maneira que age quando está conosco. Essa sua pose de santa afasta todos os garotos.

- Concordo.

Olha só. A suja falando da mal lavada.

- Não acho que seja isso. Acho que alguém tem que estar comigo pelo que eu sou, e não pelo o que eu aparento ser. – ela disse se empertigando na cadeira.

- Ella... me escuta, eu sei do que eu falo. – tentou explicar a Mel, num tom estranhamente maternal. – Não é que você tenha que ser espalhafatosa. Mas um pouquinho de ousadia não faria mal a ninguém.

- Hmmm... não sei não.

- Vamos. Você não é feia, é uma das melhores pessoas que eu conheço. Oras... você só não tem um namorado porque você não quer.

- Concordo mais uma vez. – eu falei, sem tirar os olhos do pergaminho em que eu escrevia.

- Olha só quem fala. – falou aquela morena abusada depois de algum tempo.

- Por acaso está insinuando alguma coisa? – eu perguntei, encarando-a fulminantemente.

- Não estou insinuando, estou afirmando. – enfrentou-me ela, com aqueles olhos que pareciam brasas ardentes.

Arrepios me sobem a coluna quando ela me olha daquele jeito. Não gosto da Ella com raiva. Não gosto nem um pouco.

- Afirmando o que? – eu perguntei sem transparecer o meu incômodo.

- Que você, ao contrário da Mel, não tem o mínimo direito de falar algo.

- E por que não? O que faz a Mel melhor do que eu neste assunto?

Eu realmente estava curiosa.

- Há. Por Merlin Sophia. Você não pode falar do meu modo de agir com as pessoas, quando você mesma nem se relaciona com elas.

- Ella, eu não estava criticando. Eu apenas concordo com a Mel quando digo que os garotos não gostam de meninas com essa pose de santa que você tem. Eles gostam de perigo, de animação, e muitas vezes, de alguém que os desprezem.

Ela parecia inconformada. Suas bochechas já estavam tomadas por um tom púrpura, e ela bufava como um animal furioso.

- Você não entende não é? Me deixa furiosa o fato de você ter um namorado, mesmo sendo a insuportável que é. Enquanto eu, eu que sempre trato todos bem, prezando pelo bem de todos sempre, acabo de mãos abanando.

Vai perceber que eu não a estrangulei naquele minuto. Sério, se fosse qualquer outro, hoje não estaria vivo para contar história. Mas note que não, ela continua ao meu lado. Isso porque só quem me fala verdades, e eu realmente as escuto sem lançar alguma azaração, são elas e meus pais (afinal, eu ainda não penso em morrer). Ah, e o Oliver, claro.

- Mas é exatamente o que nós tentamos te dizer Ella. – falou a Mel tentando amenizar a situação, já que nós trocávamos olhares mortais uma a outra.

- É! Só o que tentamos dizer é que ninguém precisa de alguém alisando suas cabeças sempre. Ninguém quer um santo do lado Ella. Isso é chato. – eu gritava a plenos pulmões. – E você sabe que eu sou estúpida sim. E que eu não faço nada para mudar isso, porque eu adoro ser assim. Você sabe do quanto eu gosto de saber que as pessoas sentem medo de mim, pois é assim que eu quero que seja.

A Mel se colocou entre nós duas, tentando interferir na briga.

- Sophs... está bom...

- Não Melanie. Não está nada bem. – eu esbravejei, já ficando rouca e lágrimas começando a brotar dos meus olhos. – Você... – comecei, enxugando as primeiras lágrimas com as costas da mão e pondo o dedo bem no rosto da Ella. – sabe muito bem. Eu não pedi pra ter um namorado. Nunca me insinuei para o Oliver, até porque não sou disso. Não pedi para ele querer ficar comigo, não fiz questão.

- Exatamente. Você nunca faz questão de nada. Nós somos testemunhas disso. Eu e a Mel vimos, o quanto o coitado penou para finalmente ficar com você. E até hoje você parece não dar o mínimo valor para tudo o que ele faz. Para a relação que vocês têm, porque quem só parece se esforçar para isso é o coitado do garoto.

- Isso é verdade. – disse a Mel bem baixinho.

- Você pode até não perceber, mas nós sim. Nós vemos o quão exausto o Oliver parece todos os dias, e mesmo assim parece dedicar-se com alegria e paixão, enquanto você vive afundada nos seus livros empoeirados e nesse constante mau humor.

- Você me pinta como se eu fosse uma carrancuda. A pessoa mais cruel do mundo. Eu adoro o Oliver. Vocês sabem disso. – eu disse olhando significantemente para as duas apesar da raiva.

- Nós sabemos. – falou a Mel, engolindo em seco.

- Nós sabemos sim. Mas você tem a cada ano se tornado mais egoísta, e mais carrancuda sim! Você não enxerga o que faz aquele garoto, e às vezes não enxerga o que faz com a gente. Não vê? Nós estamos brigando! Há quanto tempo isso não acontece Sophia?

- Não sei. – eu respondi displicentemente, voltando ao meu tom frio e usual.

- Por que eu ainda tento fazer isso? – perguntou-se ela, amolecendo o corpo deixando os braços caírem. – Você não se importa conosco. Não se importa de como vem nos tratando. Só realmente se importa com notas e livros.

- Poderia perceber o quanto de corda que a gente engole de você e por sua causa. – falou a Mel, meio cabisbaixa.

Pois é, a Mel cabisbaixa. Aonde mais você veria isso?

- Eu não sou tão ruim assim. – eu falei, mais para mim mesma, refletindo naqueles poucos segundos. – Sou?

Elas se olharam por alguns minutos, até que a Mel que parecia mais controlada que nós duas confirmou com a cabeça.

Eu sinceramente não sei o que senti naquele momento. Mas é como se tudo desabasse em cima de mim. Eu gosto de ser grossa, estúpida e provocar aquela sensação do estômago embrulhar-se nos outros; mas não com eles. Quando eu pensei na possibilidade de estar magoando as minhas amigas, minhas únicas amigas em todos esses anos de escola, meu chão pareceu ter sumido. E o Oliver? Como eu poderia estar maltratando aquele garoto que me faz tão bem? Que melhora o meu humor e que parece dizer as exatas palavras no momento em que eu mais preciso. Passado esse draminha... não por completo, porque eu ainda não declarei que eu chorei. É. Chorei feito uma criança desmamada. Pronto. Agora, passado o drama...

- Me desculpem. – eu falava soluçando, completamente vermelha e inchada, pela situação.

Elas me faziam carinhos na cabeça, e pediam desculpa por tudo. A Ella principalmente. Impressionante como aquele instinto de mãe, bem, não de mãe, mas aquele cuidado extremo com os outros, que não consegue deixá-la ver ninguém chorar, sem que ela tente confortar a pessoa, a faz ser extraordinária. E acho que é por isso que eu sinto tanto impacto ao ouvir suas palavras. Elas me melhoram a cada dia. Acho que naquele dia eu realmente despertei.

Aliviada, voltei à Sala Comunal da Sonserina e encontrei aqueles novatos paspalhos fazendo confusão. Bem, não só os novatos.

- Saibam que não é permitido esse tipo de indecências. Nem nos corredores, e nem aqui. – eu disse friamente para aquele loiro paspalho que me olhava com desdém.

Tem muito potencial esse daí!

- E quem é você pra me dar ordens Heaney?

- Eu sou uma monitora seu bebezão. Como você bem já sabe.

- É Draquinho... vamos embora daqui. – falou àquela garota que tinha uma semelhança incrível com um buldogue.

Realmente me intrigou. Incrível. Coitadinho de um filho daquilo ali.

- É Draquinho... – comecei ironicamente. - VAI!

Já disse que adoro os meus gritos não?

Pois é. Eles foram. Lógico, que só depois daquela menina-cachorro voltar ao chão depois do pulo que deu como reação ao meu grito.

Impossível. Essas crianças não aprecem mais crianças. Você vê por todo o castelo esses garotos e garotas de 12, 13 anos de idade, agarrando-se tão indecentemente pelos corredores e salas comunais pelos quatro cantos. Nessas horas eu sinto tanta falta da infância que eu tive. Acho que foi o que lhes faltou. E agora com tantos rumores sobre o Lord das Trevas, desde a volta do Potter, o Sirius Black á solta, Dementadores ao redor do castelo, parece que é a única coisa que lhes restou fazer. Quantos hormônios! Eu ainda não aceito, e satisfatoriamente, aplico-lhes uma boa detenção. Na falta do que fazer deviam estudar... isso sim.

-

Meus dias como monitora são felizes! Sim, sim, sim! São extremamente felizes! E sim, isso é uma cena pouco vista.

Depois da minha conversa com as meninas eu encontrei com o Oliver, e finalmente percebi o semblante cansado dele. Como é que eu nunca tinha visto isso antes? Péssima, péssima, péssima namorada! Mas tentei compensá-lo. Prefiro não entrar em detalhes aqui, mas posso dizer que eu o presenteei, e que ele mesmo não entendendo nada, pareceu muito feliz ao ir embora. Conversamos, namoramos e ele até estranhou a minha excessiva atenção e carinho.

- Por que você está tão carinhosa hoje?

Eu o olhei desconfiada e um pouco chateada e me libertei do seu abraço. Ele automaticamente, enlaçou-me naqueles fortes braços.

- Não que eu não esteja gostando. – explicou-se ele no meu ouvido, fazendo-me rir. – Mas me diga, o que aconteceu?

- Nada. Só percebi que não tenho sido muito atenciosa com você ultimamente.

- Hmmm... não havia percebido isso. – falou ele, como o doce de pessoa que é.

- Não fale isso. Você sabe que sim.

- Nunca reclamei de nada Soph.

- E nunca iria. Não é do seu feitio. – eu disse, beijando-o levemente.

- Mas eu realmente não tenho motivos para reclamar. Tenho?

- Claro que tem! – eu disse me endireitando de súbito no sofá, já que estava deitada em seu colo. – Eu não tenho percebido o quão cansado você anda. Olhe só essas olheiras, a sua aparência. O quanto está magro, pálido, precisando de um bom sono. E ainda sim, está aqui comigo.

Ele sorriu para mim. Aquele sorriso me traz tantas sensações boas, uma calma. Em seguida me beijou com fervor, um fervor que não tínhamos há muito tempo. Uma intensidade que eu percebi que sentia falta.

Separamo-nos e ainda ofegante, eu sorri.

- Eu não estou aqui obrigado. – começou ele depois de alguns minutos, quando eu já tinha voltado a me acomodar em seu colo, e trocávamos carinhos. – Estou aqui porque realmente quero estar com você, e esse horário parece ser o único que podemos ficar assim.

- Eu sei. – respondi automaticamente, e só então percebendo o quanto eu realmente gostava de tudo aquilo. – Parece que não fazemos isso há anos, não?

- Pois é. – disse ele satisfeito, me pressionando mais contra seu corpo.

Senti um fogo incomum brotar dentro de mim. Tudo parecia tremer e clamar por mais um pouco de contato com ele, sentir mais daquele calor que o corpo dele emanava. Virei-me, subi um pouco, até que meus olhos o encarassem frente a frente. Ele então sussurrou no meu ouvido:

- Te amo.

Eu senti aquele frio na barriga de novo. Aquela paixão que tinha no começo, tomou conta de mim novamente. O nosso namoro realmente tinha esfriado, e eu não tinha me dado conta do quanto. Beijei-o, como há muito não fazia, e aquelas sensações aumentaram, fazendo com que nós aprofundássemos o gesto. Senti a mãos dele começarem a percorrer a extensão da minha cintura, fazendo com que cada toque me causasse arrepios.

- Oli... – eu comecei, e ele apenas respondeu com um gemido fraco. – Você está cansado... acho melhor ir.

Eu falava, sendo interrompida por beijos.

- Não estou tão cansado assim. – disse ele sorrindo e beijando-me novamente, agora se deitando sobre mim. – Acho que ficar mais um pouco não me fará nenhum mal.

Eu ri. Tudo aquilo estava me deixando estranhamente, relaxada. Eu estava gostando de tudo e as coisas iam evoluindo. Eu tentava resistir gemendo abafadamente, mas não parecia querer me separar dele realmente. Acabar com todo aquele clima seria muita maldade, até mesmo para mim.

Bom... você já sabe muito bem o que aconteceu. Por isso não preciso entrar em detalhes tão sórdidos. Ah! Por que será que eu me sinto tanto como a Mel nessas horas? Não. Eu sou tão mais... mais... ah! A Mel e o namorado parecem fazer isso por diversão, passatempo... existem mais descrições? Bem... sinceramente não me vêm a cabeça agora.

Voltando ao meu dia feliz de monitora. Mel, hoje tenho que admitir que o que você diz quando você faz, bom... Coisas boas realmente vêm quando você alivia as tensões! (E pare de me lançar esse olhar!)

Finalmente! Finalmente eu consegui. Aqueles palhaços vão ter o que merecem pelo menos por um dia. Vão sofrer, vão implorar para que eu pare. Tá... tudo bem, me empolguei.

Bem... não é a primeira vez que eu vejo aqueles três cochichando durante a aula, e pela grande esperteza Weasley, sempre que me ligo para a conversa, eles param. Mas dessa vez eu consegui! Graças a Lino Jordan! Nunca pensei que diria isso, mas... obrigada.

Bem... como já disse já os peguei falando baixo, como em segredo, muitas vezes. Mas nunca consegui ouvir nada. Hoje, ouvi Lino Jordan conversando com George Weasley:

- Cara... nosso estoque tá baixíssimo. Precisamos ir a Zonko's logo. – ele disse um pouco nervoso para o ruivo, muito baixo.

- Nós iremos no fim do dia. – falou ele, muito tranqüilo.

Eu sussurrei para mim mesma: 'No fim do dia? O passeio para Hogsmead é só daqui há umas semanas.', e então tudo se tornou muito claro. Lógico! Eles iriam usar novamente uma das passagens secretas que o Filch vive falando para sair do castelo. Mas como? Se pela última reunião dos monitores, os diretores das casas disseram que todas elas já tinham sido inspecionadas e lacradas? Então captei um pouco mais da conversa dos dois.

- Vamos usar o mapa? – ele perguntou curioso.

George lançou um tapa forte na nuca do negro. Parecia não ter piedade nenhuma naquele gesto.

- Não fale dele assim seu burro. – disse ele entre dentes. – E não, não usaremos ele. Não tem ninguém vigiando a entrada e a noite não tem ninguém no corredor.

- Mas e o Filch?

- O Filch vai estar muito ocupado.

Ele mantinha um sorriso malicioso no canto dos lábios que me provocou um arrepio. Juro que não entendi nada.

- Hmmm... – gemeu ele com a mesma malícia do Weasley. – O que estamos planejando?

- O Fred está cuidando disso.

- Muito bem então. 7 horas na velhota de um olho só?

George olhou-me de esguelha. Ele percebeu que eu havia ouvido tudo. Afinal, só um burro não perceberia. De novo aquele comichão apossou-se de mim, me deixando inquieta. Ele com a sua delicadeza, novamente estapeou com violência a nuca do amigo.

- Você fala demais, seu idiota. – falou ele olhando para mim. – E mais... você não vai dessa vez. Eu vou sozinho.

- Ah, fala sério George! Eu tenho que ir cara. – retrucou ele inconformado.

- Não Lino. O Filch tá de olho na gente. Eu vou rapidinho e volto.

- Mas como é que você vai sozinho cara? A Dedosdemel já vai tá fechada! Como é que você vai chegar à Zonko's?

- Quer calar a boca Lino?! – falou, olhando significantemente para todos os cantos. – Pode deixar que eu me resolvo. Já tá decidido. Eu vou sozinho!

Bem... acho que eu me toquei que já tinha escutado o suficiente. Desliguei meus ouvidos da conversa dos dois e assim que me dirigi a porta, senti um olhar sobre mim. Senti-me inquieta, não gostei daquela sensação. Dirigi-me a sala do Filch e chegando lá, ele estava mexendo naqueles objetos e coisas indefinidas muito nojentas dele.

- O que quer aqui Heaney? – perguntou ele com aquele bafo asqueroso na minha face.

- Só vim te dar um aviso seu aborto imprestável.

É. Eu já sei há muito tempo que o Filch é um aborto. Mas shhh... não conta, porque aparentemente, é segredo! Enfim... ele espremeu mais ainda a cara para mim, mas com os rabinho entre as pernas, engoliu em seco e falou:

- Fale logo. Sou um homem muito ocupado.

- É, eu posso perceber. – eu disse, observando minuciosamente sua mesa. Depois de alguns segundos eu voltei a falar. – Bom... fique de olho hoje, durante todo o dia. Parece que vão aprontar para mantê-lo ocupado.

- eu sempre fico de olho Heaney. – disse ele carrancudo.

- É, eu posso ver. – debochei.

Ele fungou e bufou.

- São os Weasleys não? – ele voltou a falar depois de um tempo.

- Não sei de nada Filch. Apenas estou lhe dando um aviso. Coloque guardas em todas as passagens secretas, e fique de olhos abertos. Todo o cuidado é pouco.

- Todas as passagens secretas já estão lacradas.

- Bom... parece que uma não está. – eu falei com pouco interesse.

- E qual é?

- Já disse que não sei seu imbecil. – eu esbravejei, sem perceber que estava ofendendo um funcionário do castelo.

Calei minha boca imediatamente, e lancei um olhar de desculpas.

Tá. Eu sei que pedir desculpas para o Filch é humilhação demais. Mas ainda sim. Ele é um funcionário da escola. Eu devo o mínimo de respeito a ele, pelo menos aqui dentro.

- Está bem Heaney. Verificarei suas informações.

- Bom. – eu disse, já saindo de sua sala e ele parecia ter voltado à atenção para suas coisinhas asquerosas e fedorentas.

Voltei para o corredor das salas de aula, indo em direção a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Aquele professor, o Lupin, parece-me ser o mais competente professor que Dumbledore já contratou para esta matéria. Digo, não que não tivemos professores bons, mas muitos deles não duraram ao longo desses cinco anos, um por ano tem sido a média. Dizem que é como uma azaração à matéria, mas desconfio que seja. Depois do estardalhaço na primeira semana de aulas, com o episódio do bicho-papão transformando-se no professor Snape vestido com as roupas da avó do Longbottom, ele se tornou bem popular e querido por todos os alunos. Eu não achei uma coisa muito respeitosa, afinal, o Snape ainda é nosso professor. O que tenho a dizer é que este homem parece mesmo entender tudo sobre ela, e dissecá-la perfeitamente para todos os alunos. Simplesmente formidável. Espero realmente que ele permaneça em Hogwarts.

Mas continuando o que eu dizia... eu estava voltando, e quando passo pelo portal para a entrada na sala, ouço algo sussurrando bem perto do meu ouvido.

- Já foi nos dedurar pro Filch, Heaney?

Eu me virei espantada. Bem, espantada e levemente entorpecida. O que tinha sido aquilo? Nunca, nunca, nunca em minha vida tinha tido tamanha sensação. Estranho.

- Weasley! – eu berrei com o coração acelerado pelo susto.

Eu não esperava uma recepção daquelas. Não mesmo.

- Eu! – disse ele com aquela cara de mamão podre.

- Nunca mais faça isso na sua vida seu idiota!

- Por que Heaney? Tem medo de não resistir? – sussurrou ele mais uma vez, mordendo o lábio inferior.

Aquilo pareceu derreter meu cérebro. Por Merlin! O que será que eu tinha àquela hora? Que eu saiba não havia bebido uma garrafa inteira de firewhisky. Eu tinha minha boca entreaberta, e só após alguns segundos percebi que ele me olhava estranhamente.

- O que é que você tanto olha? – eu perguntei rispidamente.

- Você, oras. – disse ele dando de ombros e me olhando de cima abaixo novamente.

E eu estava gostando daquilo. Como é possível?! Tenho que marcar minha consulta no St. Mungus urgentemente. Check up, logo!

- George! Venha logo se sentar. – gritou o outro Weasley, do outro lado da sala, na última fila de cadeiras (como sempre!).

- Já estou indo Fred. – ele falou com a voz um pouco rouca, estranhamente sensual.

Sensual? Eu disse isso mesmo?! É, eu disse. Estou dizendo... preciso saber o que há de errado. Acho que bati a cabeça e ainda não sei.

- Soph? – chamou uma voz bem distante. – Soph? – de novo a voz, que parecia se aproximar. – Sophia?! – gritou a voz, que agora parecia estar ao meu lado.

Num estalo eu pareci despertar de um transe. Aquele ruivo asqueroso ainda me olhava com um brilho estranho nos olhos. Eu o fuzilei com meu olhar, mas que pareceu não afetá-lo nem um pouco. Não gosto disso. Parece que não tenho efeito algum sobre ele. Realmente não gosto.

Então me lembrei da voz que me chamava. Virei-me, e percebi o Oliver olhando intrigado de mim, para o Weasley. Ele tossiu exageradamente, limpando com eficiência sua garganta e tirando o outro de sua distração.

- Algum problema? – disse ele com a voz um pouco grossa demais.

- Claro que não Wood. – falou o gêmeo, mexendo-se inquietantemente.

- Não Weasley. – ele o olhou com certa firmeza e depois se virou para mim, já com o semblante doce. – Está tudo bem Soph?

- Ah... sim, sim. – eu respondi, ainda vagando em meus pensamentos.

- Então está bem.

Sorriu ele, depositando um ardoroso beijo em meus lábios, deixando todos que passavam um pouco envergonhados.

- Ham ham... – tossiu o Weasley exageradamente, assim como Oliver fizera há poucos minutos atrás.

Percebemos a situação em que estávamos, nos olhamos envergonhados e encaramos o ruivo meio corado a nossa frente.

- Boa aula Oli. – eu disse, beijando-o levemente na bochecha.

- Pra você também Soph. – ele encostou seus lábios aos meus e virou-se para tomar seu caminho.

No mesmo minuto pareceu lembrar-se de algo, dando meia volta e voltando ao lugar onde estava há 5 segundos, do meu lado.

- Weasley.

- Sim. – alarmou-se ele, que ainda me encarava com certo constrangimento.

– Amanhã teremos um treino às 9 da manhã, está bem?

- Ok.

Oliver já ia seguindo seu caminho para aula, quando eu caminhei atrás dele e cutuquei-o por trás. Ele levou um grande susto, arfando com o peito alto, e sorrindo em seguida.

- Algum problema querida?

- Não Oli. – eu sorri e continuei. – Só não acho que será possível nos vermos hoje à noite. – eu tinha um semblante chateado.

Um pouco de teatro, confesso. Mas não poderia revelar meus planos a ele, senão algo poderia dar errado.

- Por que não me falou lá? Algum problema com o Weasley? – perguntou ele desconfiado.

- Não! Imagina! Só não queria expor nossa vida a ele... sabe como é.

Ele fez com a cabeça positivamente, um pouco chateado pelo meu cancelamento.

- Ah vai! Eu compenso amanhã. – eu sorri sensualmente.

O mesmo sorriso surgiu em sua face, como se eu tivesse o contaminado.

- Mas me diga... algum problema?

- Não Oli. – eu disse já rindo. – Só algumas burocracias de monitoria. Algo bem chato, e que me exige exclusiva atenção. Não poderia deixar você de lado, e acho que nem conseguiria.

De novo aquele sorriso e olhar malicioso tomaram conta de minhas feições, fazendo com que os olhos daquele garoto a minha frente, brilhassem. Ele fica realmente tão lindo deslumbrado com algo.

Sorriu sensualmente e beijou-me com fervor. Eu senti que se aprofundasse mais as carícias não responderia por mim, e por favor, nós estávamos em pleno corredor. Apoiei minhas mãos em seu peito trabalhado com muito pesar, e quebrei o contato de nossos lábios. Ele novamente sorriu, e eu virei-me, entrando finalmente na sala de aula.

Lupin nos deu uma aula muito bem trabalhada, interessantíssima. Apenas o percebi meio cansado, mais pálido que o normal, como se estivesse doente. Além da minha preocupação com o professor Lupin (sim, eu realmente fiquei preocupada), senti durante todo o tempo de aula um olhar fixo às minhas costas. Quando finalmente não me agüentava mais em agonia, percebi George Weasley um pouco distraído, com o olhar em minha direção, remexendo-se em sua cadeira no fundo da sala. Pensei 'Não é nada demais. Deve estar entretido com mais um de seus planos mirabolantes para perturbar a vida de alguém que nunca lhe fez nada.', voltei a prestar a atenção no assunto e copiá-lo e não sei se foi a excessiva concentração, mas não senti mais aquele peso sobre a minha nuca. Cheguei a cogitar uma possibilidade, e com ela, me veio um leve arrepio gelado na espinha, mas não, só podia ser loucura da minha cabeça.

-

Às sete horas da noite, estava vestida com minha capa preta e saindo da Sala Comunal da Sonserina. Estava atrasada! Eu, atrasada?! Quem já viu algo parecido?

Cobri minha cabeça com o capuz, impossibilitando qualquer um de perceber quem eu realmente era, devido ao escuro. O professor Snape me parou no primeiro corredor, e com sua voz desdenhosa e arrastada perguntou-me quem eu era e que ao invés de sair da Sonserina deveria estar me preparando para me recolher. Eu continuei muda, e quando já estava quase me dando meia volta e obrigando-me a voltar para minha casa eu lhe mostrei meu distintivo de monitora. Ele deixou escapar algumas palavras de desaprovação, mas logo se calou. Eu era uma excelente aluna, nunca quebrava as regras, e ainda mais, estava no meu direito de monitora, tinha minhas rondas a fazer. Ele liberou meu caminho e eu segui em frente. Mais um empecilho e eu nunca pegaria o Weasley aprontando.

Madame Nor-r-ra surgiu a minha frente quando já estava quase à curva do corredor da velha de um olho só. Apesar de toda a vontade que tive de jogar aquela gata horrível para longe, eu não o fiz. Primeiro porque eu não gosto de maltratar animais, por mais feio que eles sejam, ainda são animais; segundo porque o corredor estava silenciosíssimo, e o miado daquela gata estragaria tudo.

Peguei-a no colo, com um pouco de nojo (confesso), e coloquei-a ao lado, não impedindo mais o meu caminho. Com passos largos e silenciosos, segui até a estátua. O que eu vi foi realmente estranho.

Cabelos extremamente ruivos, ainda mais vermelhos (se é que é possível) devido à iluminação por archotes do local. Tão estranho. De provocar arrepios, como aqueles filmes trouxas que vi uma vez na casa da Mia em uma das férias. Voltando... ele estava estranhamente entrando (é, entrando), na corcunda da velha. 'Como isso é possível?', eu me perguntei em pensamento acelerando meus passos chegando à parte de trás da estátua da velha. Sua corcunda estava completamente fechada. Eu passei minhas mãos pela pedra fria do objeto. Não era ilusório, era realmente duro e firme. Pedra. Não havia como ninguém passar por ali, até mesmo um bruxo.

Peguei um archote de seus apoios, e aproximando o fogo do chão, iluminando-o, não percebi nenhuma fresta aberta. Apalpei todas as rachaduras e falhas, nenhuma era uma abertura. Examinei novamente a estátua. Aquela velha realmente me passava sensações ruins. Não havia nada em falso ali. Não era possível. Eu tinha visto com meus próprios olhos aquele magrelo travesso atravessando aquela estátua, eu sei que vi!

Eu não estava louca. Tinha-o visto entrar, e como entrara, teria de sair. Acomodei-me no parapeito da janela, que estava escura, e devido a minha capa, camuflei-me muito bem. Lembro que esperei por muito, tentei me distrair, mas inevitavelmente o sono foi chegando, e por mais que lutasse, ele acabou me vencendo. A outra coisa que me lembro é de algo me cutucando e assim que abri os olhos, um grande e belo sorriso brilhante fora de foco, posicionado a minha frente. Ainda estava escuro. Percebi pelo estalar do fogo dos archotes e a fraca iluminação do corredor. Assim que retomei a consciência percebi quem era o dono daquele sorriso.

- Ainda bem que você não é uma pessoa difícil de se acordar Heaney.

- Então você voltou!

- Voltei. – disse ele sorrindo.

- Aonde você foi? Como passou pela estátua?! Me diga Weasley!

- Calminha garota! – ele falou, posicionando a palma de sua mão a poucos centímetros do meu rosto. – Eu te esperei por alguns minutos, mas eu tinha um compromisso, não podia esperar mais.

- Compromisso?

Eu ainda estava um pouco tonta e confusa. Mas ao centrar-me percebi as várias sacolas cheias com emblemas da Zonko's em suas mãos.

- Você é louco? – eu esganicei. – Sair do castelo com Sirius Black à solta! Com Dementadores em cada brecha de saída? Você podia ter sido morto!

- Relaxa... eles nunca irão me pegar. – disse ele todo pomposo.

- Ah não? Não há uma saída sequer sem um Dementador. E se pegassem...

- Alguém sentiria muita falta. – falou sensualmente muito perto de mim.

Eu novamente rosnei. Isso está virando um hábito?? Mudei de assunto rapidamente ao perceber a malícia no olhar daquele ruivo.

- Eu sabia que você iria comprar mais artimanhas! Como conseguiu? Me fale agora! Senão... senão...

- Senão o que Heaney? – ele perguntou bem humorado.

- Senão eu vou buscar o Filch, o Dumbledore. Fazer com que você, seu amigo e seu irmão idiota sejam expulsos aqui de uma vez! – eu disse rispidamente, mas em sussurros.

- Você não pode fazer isso.

- Não posso? Por que não posso han?

Eu continuava ameaçadora e ele apenas ria. Ria, com um bom humor incomum. Que eu não vejo em muitas pessoas.

- Porque até você Senhora Monitora, está quebrando regras nesse exato momento. – disse ele após o ataque de risos, satisfeito.

- Não me diga! – eu ri desdenhosamente. – Eu estou cumprindo o meu dever garoto. Fazendo minha ronda. Não há nada errado com isso.

Ele voltou a rir gostosamente. Eu fiquei confusa, começando a olhar furtivamente para todos os lados daquele escuro e arrepiante corredor.

- O que há de tão engraçado? Que eu saiba ainda não me tornei uma palhaça como você Weasley? – eu esbravejei, já corando as maçãs do rosto.

Sentia aqueles dois pedacinhos das minhas bochechas queimarem. Graças a Merlin estava suficientemente escuro, e ele não percebeu.

- Você pelo visto ainda não checou o seu relógio.

Eu olhei e uma surpresa fulminante tomou conta de todo o meu corpo.

- Não é possível! Eu só cochilei por 5 minutinhos! – disse mais pra mim do que para ele, encolhendo meus olhos de medo.

Meu coração batia aceleradamente. Toda aquela horrível sensação de medo espalhou-se por todo o meu corpo. É horrível, horrível. Nunca mais quero sentir aquilo de novo.

Eram 3 da manhã! 3 da manhã! Como eu iria voltar a Sonserina? Como eu iria passar dessa ilesa? Como eu viveria com a culpa de ter quebrado uma regra tão importante quanto o horário de recolhimento, e ainda mais com um bruxo perigosíssimo à solta. Eu realmente não sei. Mas o que eu não entendo foi a minha reação. Eu num impulso, abracei George Weasley com tamanha força, que senti que o esmagaria. Ah! Pouco importa se eu o esmagaria... eu estava nervosa! Mas isso não justifica o fato deu que eu abracei George Weasley!

- Desculpe-me.

E nem de que eu o pedi desculpas! Afinal, eu estava ali por culpa dele!

- Não faz mal. – gabou-se ele, com o peito cheio de ar.

Eu no momento seguinte lhe dei um forte soco no peito, tirando a força todo o ar que ali continha há 2 segundos. Ele tossiu forte, massageando o peito e olhando-me indignado.

- Tá louca garota? – falou, após sorver novamente o ar.

- Não! – eu disse já descontrolada. – Mas se estou aqui é por sua culpa. Por Merlin! Como é que eu vou voltar para o dormitório agora?

Falei mais para mim do que para ele. Mas ele como o intrometido que é, não deixou de ouvir.

- Eu posso te ajudar.

- Não preciso.

- Então está bem. Só depois não diga que não ofereci. – ele falou dando de ombros e já saindo dali.

Eu bufei.

- Não quero te dever favores Weasley. – reclamei.

- Você não tem outra solução Heaney. – gabou-se.

- Eu sempre tenho soluções.

Menti, ainda maquinando, tentando pensar num jeito de chegar segura à Masmorra da Sonserina. E nada! Simplesmente não me veio nenhuma solução. Eu teria de ser ajudada pelo Weasley. É o meu fim, ele está bem próximo, eu sei.

Ele ergueu a sobrancelha esquerda, e com aquele olhar indagador, eu me senti rendida. Já disse. Não sei o que está havendo comigo? Por que essas reações meu Merlin?!

- E então? Já achou alguma? – ele perguntou depois de algum tempo me encarando.

Quando eu balancei a cabeça negativamente, passando a encarar o chão, senti ele se aproximar. Ao olhá-lo novamente, percebi que ele já estava bem próximo de mim, com aquele olhar invasor, e um sorriso no canto dos lábios, como se gostasse bastante do que via.

- E você por acaso achou alguma aqui? – eu perguntei desconfiada, o desafiando com o olhar.

Ele riu, e balançou a cabeça, como que para espantar pensamentos.

- E então? Vamos logo?

Eu confirmei e começamos a andar. Ele me levou por passagens secretas, de corredores um pouco estreitos e escuros. O Weasley teve alguma dificuldade devido as várias e cheias sacolas, mas nada que demorasse mais do que meia hora para chegarmos ao destino final. Incrível. Pelo caminho normal, levaríamos no mínimo uma hora. Realmente fascinante todas aquelas passagens secretas. Particularmente, comecei a simpatizar com elas.

Na entrada da Sonserina, ele falou:

- Está entregue. – e sorriu.

- Obrigada Weasley. – eu realmente tinha que agradecer.

- Não foi nada. Afinal, você me deve uma.

- Lógico. – bufei, rolando os olhos.

- Mas foi realmente um prazer. – ele sorriu e completou a frase, que eu pensei já estar terminada. – Boa noite Heaney.

Eu fiquei estática, enquanto via aquele vara-pau ruivo entrar pela passagem secreta. O Weasley, me desejando boa noite? Será que aquele era o começo de uma...? Argh! Não!

Enfim... depois de alguns minutos ali parada, percebi que tanta fuga não serviria para nada se eu não entrasse logo. Não consegui pegar no sono, por muitas vezes lembrando-me daquele olhar intrigante que aquele garoto me lançara por várias vezes ao longo do dia, e aqueles sorrisos que realmente mexiam com meu subconsciente. Por várias vezes, balancei minha cabeça para tentar afastar essas imagens, e ao fechar os olhos, aquele grande e lindo sorriso vinha a minha mente. Tentei me lembrar das piores e mais desagradáveis coisas que eu já tinha visto na minha vida, e assim fui conseguindo pegar no sono.

-

- 9 da manhã! 9 da manhã! – eu saí gritando da minha cama para o banheiro.

Como eu podia estar acordando às nove da manhã?! Eu ainda tinha tanto a fazer. Tomei um banho muito rápido, apesar de saber que nunca chegaria a tempo no Salão Principal para ver o Oliver antes do treino. Por isso vesti a primeira peça de roupa que encontrei no meu baú. Esta era um vestido branco leve e todo soltinho. Calcei as sandálias brancas que a Mel havia me presenteado no último feriado e prendi meus cabelos num coque desajeitado. Corri, descendo as escadarias apressadamente em direção aos jardins. Não fui tomar café naquele momento, pois sentia que precisava ver o Oli antes. Cheguei no campo de Quadribol, quando todo o time saía do vestiário, prontos para começar o treino. Eu caminhei até o centro, onde o Oliver estava e já tinha me avistado. Ele tinha um sorriso doce nos lábios e seus olhos brilharam ao me ver naquele campo.

Chegando ao centro, ele enlaçou-me em seus braços, num abraço quente e forte. Eu o pressionei mais contra mim, sentindo o cheiro agradável que seus cabelos exalavam. Um desejo surpreendente havia tomado conta de mim naquele momento, e eu o queria ali mesmo, até que fosse na frente de todos. Olhei em seus olhos e o beijei com necessidade, sentindo um prazer indescritível.

- Bom dia amor. – eu disse ainda ofegante ao quebrarmos o contato de nossos lábios.

- Muito bom dia. – falou o Oli sorrindo.

Eu ri, e ainda abraçada a ele, percebi o resto do time chegar a nós. Oliver estava distraído, olhando para mim, enquanto o Potter tentava chamar sua atenção. Até que alguém tossiu forte, como se limpasse a garganta. Só então ele pareceu despertar do transe, e ainda abraçado a mim, virou-se para o nanico Harry Potter.

- O que foi Harry?

Oliver tinha realmente grande carinho por aquele garoto. Bem, fascinação e carinho. Segundo a história dele, o time da Grifinória estava sem apanhador há uns dois anos atrás, quando um irmão dos Weasleys se formou e deixou Hogwarts. Um belo dia a McGonagall tirou-o da aula dizendo-lhe que havia encontrado um novo apanhador para o time. No começo ele temeu, o garoto era do primeiro ano, e de acordo com alguns, só tinha voado em uma vassoura de verdade na sua primeira aula de vôo de vassouras. Quem diria, ele realmente era bom. Bom não, ótimo!, pelo que o Oliver fala. Ele tinha se mostrado super ágil e tinha completo domínio no vôo. De uma hora para a outra, aquele garoto tinha se tornado tão famoso no Quadribol, quanto pela sua cicatriz. O Oli como um bom capitão, deu todas as dicas e ajudou o Potter como pôde, estreitando ainda mais seus laços com ele e finalmente tornando-se amigos.

Bem, o Oliver às vezes pode ser um pouco chato com quadribol. Um pouco não (eu assumo), muito! É muito chato você só ouvir falar de táticas e 'Temos que ganhar a taça!', acredite em mim quando digo, eu sei. Principalmente esse ano. Sei que ainda estamos nas primeiras semanas de aula, mas já durante as férias eu escutava 'Soph, nós precisamos ganhar a taça de quadribol esse ano. Eu preciso! É meu último ano como aluno na escola e como capitão do time. Não quero ir sem saber como é ganhar aquele prêmio.'. E eu realmente o entendo.

Tudo bem que ninguém gosta de uma matraca repetindo isso a cada cinco minutos, mas o que temos que ver é que, ele realmente deseja isso. E luta, batalha e se esforça para conquistar. Se eu quisesse tanto uma coisa e fosse a minha última chance de consegui-la eu seria tão persistente ou mais. Admiro isso no Oli, realmente admiro.

Voltando ao campo de quadribol... Harry Potter estava nos encarando com a sobrancelha levantada e o cenho franzido.

- Acho que ele quer saber quando o treino começa Oli. – eu falei, o mais simpática possível.

Mas não pude deixar de olhá-lo de esguelha com certa raiva naquele momento. Primeiro, eu estava aproveitando o meu namorado. Sei que não era a hora, local, nem momento ideal, mas estava, e não gostei de ser interrompida. E segundo, nunca fui com a cara desse Harry Potter. Não me venha dizer que é preconceito de sonserino, porque não é. Eu simplesmente não fui com a cara dele, e também não venha me dizer que é porque eu não o conheço, porque eu o conheço sim. Várias vezes eu estive ao lado do Oliver, presenciando conversas dos dois, e ele me pareceu um tanto quanto obtuso demais. E também percebi que não é por problemas que ele é assim, todo deslocado, afinal, problemas todo mundo tem. Ele com certeza gosta de toda essa atenção. Se ele fosse um excluído, odiado por toda a humanidade, mas não, ele tem amigos, é inteligente (pelo que eu soube), enfim...

- Ah sim. – falou o Oli finalmente (e infelizmente) me soltando do abraço.

Eu enlacei seu pescoço com meus braços e num último beijo me despedi dele. Ele ainda pediu para que eu ficasse para assistir ao treino, mas eu disse que tinha coisas a fazer. E na verdade tinha. Mas também usei isso como desculpa para não ter que sentir novamente o olhar daquele gêmeo em mim. Pois é, assim que ele entrou na quadra, eu ainda abraçada ao meu namorado, ele me olhava, como se quisesse me tirar dos braços do Oliver.

Intrigante.

-

Mesmo tarde para um café da manhã, voltei ao castelo e me dirigi ao Salão Principal. Assim que cruzei a porta me deparei com uma cena um tanto quanto, inusitada.

A Ella estava conversando animadamente com Cedric Diggory, enquanto não se via a Mel em canto algum daquele salão. Isso era estranho, estranho demais. E mais estranho ainda era ver aqueles dois daquele jeito. Era incrível como eles pareciam estar se dando bem. Nas poucas vezes em que os vi conversando, ou que conversaram fora da minha vista, e apesar dele o ser o namorado da Mel e estar sempre por perto, não lembro de nenhuma ser tão... divertida. Não que isso seja grande coisa, não, não é nada demais, pelo contrário. É bom ver que no nosso círculo de amizades nossos namorados se dão bem com as nossas amigas, e vice-versa (ainda bem que é assim com o Oliver e com o Cedric), e também é bom pra Ella. Digo, foi bom vê-la sorrindo daquela maneira com alguém que não fosse nem e nem a Mel. Tudo bem que era o namorado dela, mas já era um bom começo, não?!

Eles não haviam percebendo a minha presença e eu já estava tão perto deles que podia ouvir sua conversa.

- Então eu cheguei lá e o Pirraça estava infernizando o Filch com um objeto muito estranho...

- Hmmm... – murmurou o Cedric em meio a risada.

- Daí o Barão Sangrento chegou, e eu jurei que se o Pirraça não fosse um poltergeist teria sujado as calças naquele momento.

Pirraça? Barão Sangrento? Francamente! Não se tem melhores coisas pra conversar não?!

O cedric ainda sorria audivelmente junto com a Ella, quando ela voltou a falar.

- É tão cômica a cara que ele faz quando o Barão aparece.

- Cômica!

- O que é tão cômico? – perguntou a Mel surgindo do nada até para a minha surpresa, que não estava voando.

- Ahm... er... – gaguejava o Cedric ainda pela surpresa.

- Pirraça. – falou a Ella naturalmente.

- Pirraça?! – indagou a Mel erguendo uma sobrancelha.

Opa! Mau sinal.

- É amor, o Pirraça.

- E o que tem de tão cômico no Pirraça, Ella?

- Nada Mel. – respondeu a Ella, extremamente inocente. – Só estava contando uma história pro Cedric.

Ele piscou para Mel confirmando a razão, e eu ainda parecia estar invisível ali. Em outras situações eu não gostaria disso, odiaria, mas em uma como essa, eu estava agradecida.

– E desde quando vocês conversam? – perguntou a Mel num tom displicente, mas todos sabíamos a quantidade de veneno contida ali.

Agora você me entendeu? A Mel com ciúmes é uma situação de perigo. Lembro-me de quando ela namorou um garoto do 6° ano quando estávamos no nosso 2°. Segundo ela, 'Aquela loira aguada estava dando em cima do meu namorado.'. Ahm... aquela garota realmente sofreu.

Mas bem... a Mel já estava roxa de tanta raiva, o Cedric quase morto de tanta vergonha e a Mia totalmente corada. Estava tão constrangida coitadinha. A Mel realmente deveria ter se controlado, mas falar isso é a mesma coisa que falar que hipogrifos odeiam doninhas para o jantar. A ruiva realmente exagerou, a Ella quase não sorri com os outros e quando o faz, é repreendida dessa maneira. Mas como eu já disse, é uma condição inata da Mel, ela é assim e acho difícil mudar. O Cedric a cutucava a todo minuto, e eu a olhava de esguelha, enquanto a Ella já estava sentada quase roendo as unhas de tanto nervosismo.

- Fica calma Ella. – eu pela primeira vez falei alguma coisa e fui notada pelos outros.

Mas a maior surpresa é... eu, consolando? Pois é...

- Me desculpa. – falou a Mel após bufar e não agüentar mais o olhar furioso do namorado. – Você é minha amiga. Pensei besteira... não agi com a cabeça.

- Já não era sem tempo. – eu disse, ainda tentando acalmar a Ella que tinha caído no choro.

A Mel se descontrolou novamente e começou a gritar comigo.

- Ah Sophia! Você sabe como eu fico quando estou com ciúmes!

- Vem... vamos tomar um copo d'água com açúcar. – falou o Cedric pelo braço delicadamente.

Nós duas ficamos estáticas, de boca aberta por alguns segundos, enquanto ele nem olhava e levava nossa amiga para a saída do Salão.

Após a surpresa, vi o rosto da Mel tomar um tom púrpura que passou a se confundir com seus cabelos, e sua boca começando a espumar de raiva. (Tá... isso ficou exagerado, mas ela estava quase lá.)

- Cedric Amos Diggory! – berrou ela, quase soltando fumaça pelo nariz.

Ela já ia saindo, batendo os pés fortemente no chão, quando eu a agarrei pelo braço com toda a firmeza que eu tinha.

- Mel! – disse entre dentes.

- É o meu namorado me dando as costas e indo embora com outra, Sophia. – dizia ela se mexendo freneticamente para tentar se soltar.

- A outra... é sua melhor amiga Melanie! – falei severamente.

- Ele foi com ela Sophs... ela tava dando em cima dele. E aquele babaca tava adorando.

- A Ella? Por favor Mel! Não delira!

- Isso porque não é o teu namorado!

- Ah! Faça-me o favor criatura. A Ella é tua amiga. Jamais faria isso com você. Será que não percebe que você está exagerando?

Mel engoliu em seco. Ela sabia que estava errada, que estava sendo infantil, e que de nós três, a Ella era a que jamais roubaria o namorado de alguém. É. Eu já disse que não sou santa, mas também não sou de dar confiança pra qualquer um. Mas, acontece né?

- É que eu tenho tanto medo de perdê-lo Sophs. – disse a Mel já com lágrimas brotando dos olhos.

- Se comportando assim, não vai ser nem um pouco difícil. – curta e grossa. - Você sabe o quanto ele odeia essas suas crises Mel. Eu já te disse para se controlar.

- Você não sabe o quanto é difícil.

- Tem razão, não sei. Mas contar até dez, respirando fundo, não é tão difícil também.

- Pra você é muito fácil. O seu namorado te ama, e nenhuma garota chega perto dele por isso.

- Você sabe muito bem que não é por isso. – eu disse com um sorrisinho no canto da boca. – E tem mais Mel... o Cedric também te ama. Esse garoto é louco, apaixonado por você. Porque acredite, é meio difícil de lhe dar com você, e olhe há quanto tempo vocês estão juntos...

- Eu sei.

- Não parece. Comporta-se como uma ogra panaca todas as vezes.

- Noossaa...

- Mas é verdade! Por Merlin Melanie... a Ella é um doce de pessoa, quase não fala com ninguém abertamente. Você deveria estar feliz por ela, ao invés de estar fazendo ceninha.

- Tem razão.

Via-se claramente a culpa naqueles olhos castanho-esverdeados. Ela engoliu em seco e manteve o olhar perdido, sem foco nenhum.

- Bom... agora preciso resolver alguns problemas. Vê se vai se acertar com aqueles dois, por favor.

Eu a abracei (realmente. Minha suspeita de estar ficando doente aumenta a cada dia.) e saí.

Os problemas da monitoria acabaram me ocupando por todo o dia, me impossibilitando de almoçar, saber se tudo já estava bem entre as meninas, e se o namoro da Mel ainda continuava as mil maravilhas (o que eu não duvidava), e de ver o meu próprio namorado.

Um tormento.

-

N/A: Me perdoem, Sophia é um ser complexo e quase ou muito parecida com a que vos escreve. Argh, tá vendo? Ela baixa em mim de vez em quando. Bem... espero que gostem pessoas.