DAYLIGHT
Conseguia contar as estrelas nos dedos aquela noite. A lua já não aparecia mais e a madrugada parecia longa demais. Aquela interminável escuridão pareceu dominar completamente o céu do mundo bruxo. A Armada de Dumbledore estava despedaçada. Harry, Ron e Hermione, em algum lugar por aí, fazendo alguma coisa que continuava segredo para nós. E Luna, que desapareceu no trem, não voltou até agora. Ela me fazia falta. Até as sombras pareciam mais escuras agora.
Porém talvez fosse uma sombra, talvez. Digo, era uma sombra, sim, mas estava viva. Aquela coisa escura, sem forma, rastejava pelo assoalho velho da Casa dos Gritos. Não tinha visto ela chegar. Aqueles olhos - ou seja lá o que fossem - amarelados pareciam me encarar, tentavam ler minha alma, de tão profundo que era o olhar. Realmente, não deveria nem ter vindo aqui, mas parecia um bom lugar para escapar dos meus próprios demônios. O ar estava mais frio do que o comum, poderia dizer que me lembrava um dementador, mas parecia muito mais sinistro.
Sem pré-avisos, a mancha negra girou e girou, gritou e rastejou, como uma bola de pinball, batendo nos móveis destruídos de um dos quartos. Levantei minha varinha e tentei seguir a criatura, mas era ela quem estava me seguindo. E finalmente ela parou. Num canto escuro, encolhida e frágil. Frágil.
Engano meu. A sombra, de repente, pareceu criar asas e começou a flutuar, tomando formas coloridas e barulhentas. Até parar em um Snape, com um nariz grandemente exagerado, cabelos mais compridos e oleosos do que o costume, olhos sinistros, avermelhados. Não era um sombra, no fim das contas, era um bicho-papão.
E aquilo me levou de volta àquela aula no terceiro ano, com o Professor Lupin, onde o meu grande medo era Snape me dar uns bofetões. Hoje, o medo não era exatamente do Diretor, era o mal que ele representava, eu compreendia. A sensação de tudo estar acabado, de que o bem não triunfaria, como nas histórias tão antigas. Me sentia um covarde, medroso, desistente. Um fraco.
E a imagem de Hermione sorrindo me veio à tona. De Harry, Ron, Ginny e Luna se divertindo. Das aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas nas reuniões da Armada De Dumbledore. Eu queria aquilo de volta. Queria todos eles de volta. Levantei a cabeça, segurei a varinha com força, a ponto de sentir meus dedos sem sangue, me concentrei na imagem do Diretor com aquela bolsa velha da vovó e sorri. Abri os olhos e ali estava, aquele chapéu de águia, o batom vermelho, os bobs na cabeça.
Me senti novamente vivo. E eu já sabia o que tinha que fazer.
Nós não estavamos mais sozinhos, tinhamos uns aos outros. Uma lealdade, um carinho que jamais Voldemort - sim,VOLDEMORT, não tenho mais medo do nome dele. - sonharia. A Armada de Dumbledore estava de volta, então. E eu sempre estaria ali por eles.
