Disclaimer: InuYasha não me pertence... Infelizmente a Rumiko sensei teve a idéia primeiro. (soco no ar) Droga!
Dedicatória: Dedicado à Rin-chan, que passou de mera conhecida a uma amiga especial em alguns poucos dias.
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Seishin no Akuma
Por Domina Gelidus
Capítulo primeiro
Fique.
Sentiu a brisa afagar-lhe os longos cabelos prateados, permitindo-se fechar os olhos para relaxar melhor. Inspirou fundo, sentindo cada aroma distinto que passava pelo vento naquele momento, abriu vagarosamente as pálpebras e mirou o céu sem nuvens daquele final de tarde. Os tons do crepúsculo começavam a se misturar ao azul celeste da atmosfera, e os raios do sol ainda atingiam majestosamente a superfície do campo encoberto pela relva curta em que se encontrava. Precisava ficar mais atento, agora que se encontravam em terreno aberto. Pretendia continuar a caminhada até atingirem novamente a floresta densa, mas tivera que cessar a jornada por alguns minutos, para que ela descansasse. Não apenas ela, seu servo também parecia cansado.
- Sesshoumaru-sama... – ouviu a voz do youkai ao longe – Sesshoumaru-sama! Meu senhor... O senhor tem que... Sesshoumaru-sama?
- Diga de uma vez o que quer, Jyaken. – disse com o habitual tom frígido, sem encarar o servo.
- Hai, meu senhor... Rin! Aquela garota estúpida desobedeceu as minhas e as suas ordens! Saiu em direção ao rio, e levou Ah-Un junto com ela... – dizia, parecendo bastante contrariado – E me deu um cascudo antes de sair, ainda por cima... – completou, massageando um enorme galo na cabeça verde.
- Rin já se faz em idade suficiente para saber cuidar de si mesma e tomar suas próprias decisões, Jyaken... – respondeu, sem demonstrar emoção.
- Mas... Meu senhor... – dizia, os olhos arregalados e a expressão incrédula – Sesshoumaru-sama, o senhor acha que alguns golpes simples e uma pequena adaga podem salvá-la se algum youkai aparecer?! – indagou, mais para si mesmo que para seu senhor.
Sesshoumaru apenas suspirou frustradamente, e mirou seu servo com bastante irritação no olhar.
- Ah... – estremeceu diante do aviso – Hai, Sesshoumaru-sama... O senhor provavelmente a ensinou muito bem... – completou, fazendo uma exagerada reverência.
Mal terminou de falar, e voltou-se para a direção do estrondoso som que provinha de algum lugar ao longe. Imediatamente virou-se para observar a figura de seu senhor, e novamente estranhou, ele continuava imóvel. Abriria a boca para falar, mas fora interrompido pelos primeiros movimentos que o youkai a sua frente manifestara. Viu-o virar-se e observar algo atrás de si, imediatamente pôs-se a procurar o que seu senhor observava com tanta atenção.
- Ah-Un?! – indagou, arregalando os enormes olhos mais uma vez – Mas... O que?! – via que o youkai corria atordoado na direção dos dois, e tinha a pata dianteira ferida.
- Fique aqui, Jyaken. – ordenou, e passou por cima do servo, obstinado a chegar até ela antes que fosse tarde.
O cheiro do sangue aumentava a cada passo ligeiro que dava, contribuindo para aumentar a estranha sensação que crescia dentro de seu peito. Medo? Nunca! "Este Sesshoumaru não teme a nada..." pensou, enquanto aumentava a velocidade dos passos.
A cada metro mais perto, tentava imaginar o que estaria acontecendo para que ele não notasse nenhuma energia sinistra. Mesmo agora, enquanto se aproximava do local, ainda não sentia a presença de nenhum outro youkai além dele. Mas, se não eram youkais, então o que havia causado o derramamento excessivo do sangue de Rin?! Sim, excessivo. Podia sentir o cheiro forte adentrando-lhe as narinas sensíveis e aumentando aquela sensação que ele recusava-se a aceitar como medo. Correu, correu como nunca antes fizera. Entretanto, esperava encontrar uma cena um tanto menos caótica do que de fato encontrou.
Debruçado sobre uma grande pedra ao meio do rio, o corpo de Rin jazia estático. O líquido espesso e avermelhado que seu corpo ainda derramava, era levado correnteza abaixo, e sua pele alva beirava a transparência. Sesshoumaru inspirou fundo, podendo sentir o cheiro daquilo que ele jamais esperava que ocorresse com ela, daquilo que ele tentava protegê-la há tanto tempo. Aproximou-se cautelosamente até atingir o corpo inerte da garota. Lentamente, ele abaixou-se ao lado dela, puxando seu corpo para si e deixando à mostra um terrível e letal ferimento no peito.
Fitou a face pálida de Rin por longos instantes, a expressão ainda frígida; por um momento, uma melancolia derradeira tomou conta de seus olhos dourados. Tocou seu queixo delicado, num ato quase impensado, e sentiu a temperatura fria que seu corpo já atingira pela perda de sangue. Os olhos castanhos cerrados, a franja negra caindo-lhe pela testa e a expressão doce e serena, deram-lhe a certeza de que ele sentiria mais a falta dela do que desejara.
Olhou a sua volta e avistou, a alguns metros, a adaga que Jyaken a presenteara há dois anos atrás, caída na margem do rio. Sentiu uma dor forte no peito. Seria culpa? Não. Ele não havia feito nada de errado... Ou havia? Talvez tivesse sido imprudente demais em deixá-la sozinha.
"Iie! Era apenas uma humana.", gritou seu coração frio, na tentativa de amenizar a constante dor que crescia em seu peito. Levantou-se de imediato, estendendo o corpo de Rin sobre a grande pedra e segurando o cabo da Tenseiga com força. Estreitou os olhos, não houve nada. Não os via. Sabia que o que estava fazendo era inútil, já havia ressuscitado a menina uma vez, e não poderia fazê-lo novamente. Mas, se o sabia, por que continuava a observar a volta do corpo de Rin?
Não aceitava, não conseguia. Sentiu-se enervado, irritado, inútil. Sacou a Toukijin e virou-se, pronto a atacar. Mas atacar o que? Sesshoumaru não sabia. Não havia nada ali além dele e do corpo de Rin, não sabia o que havia acontecido ou quem havia cometido tal atrocidade com a garota. Por um momento, não se importou com mais nada, apenas pôs-se a fitar as árvores da beirada do rio, como a tentar fazer com que tudo aquilo desaparecesse em numa névoa ilusória. Em vão.
Não mais pôde se conter, grunhiu alto e sentiu seu sangue começar a correr mais rápido. Seus olhos dourados tornaram-se avermelhados e sua expressão começou a mudar bruscamente. O peito ainda doendo lancinantemente, como se a ferida tivesse sido feita em seu coração enregelado. Sentiu uma pontada forte, como se algo ou alguém tivesse apunhalado sua alma perdida. Sim, haviam ferido aquele Sesshoumaru. Não uma ferida aberta como a de Rin, mas que parecia sangrar igualmente. Gritou, gritou alto e dolorosamente, terminando sua transformação.
Abriu os olhos e sentou-se na cama de imediato. Suava frio e sua respiração era irregular. O que fora aquilo afinal?! Seus olhos estavam avermelhados, e suas marcas no rosto, mais vivas e maiores. Suas garras perfuravam o colchão, enquanto seus caninos estavam à mostra. Olhou à volta, não havia nada. Sentiu o sangue voltar a correr normalmente, enquanto a respiração voltava ao habitual estado de serenidade. A expressão frígida reinava novamente. Vagarosamente, ele se levantou, vestindo a parte de cima de seu quimono branco. Caminhou até a janela, sentindo a brisa fresca do verão atingir-lhe a face, agora tranqüila. Fitou, por alguns longos minutos, a lua cheia e majestosa que jazia alta no céu estrelado.
Apesar de sua expressão calma, sua mente trabalhava incessantemente, na tentativa de descobrir o porquê daquele estranho sonho que andava tendo todas as noites desde a última semana. Inspirou profundamente, ainda observando a noite lá fora. Virou-se, depois de alguns minutos, e dirigiu-se à saída do quarto. Caminhou lentamente pelos corredores do castelo, sabendo exatamente onde queria chegar. Não demorou muito para que seu objetivo fosse alcançado, e ele atingisse a porta do quarto de Rin. Tocou a estrutura com delicadeza e fechou os olhos, mas não demorou muito para tornar a abri-los: ela não estava lá dentro. Abriu a porta vagarosamente, e adentrou, sentindo o perfume de flores invadir-lhe as narinas.
Sua audição estava correta, Rin não estava no quarto. Mas, se não estava em seu aposento no meio da madrugada, onde mais estaria?
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Inspirou fundo a brisa noturna, e jogou-se de costas no gramado encoberto pelas flores coloridas. Abriu os olhos, sentia as pálpebras cansadas e pesadas, mas de nada adiantaria voltar para seu quarto e deitar-se. Há alguns dias que tinha um sono perturbado e irrequieto, com sonhos estranhos e dores terríveis de cabeça quando acordava assustada no meio da noite. Aquele dia não fora diferente; acordara assustada há algumas poucas horas, e sentia sua cabeça latejar e a sua mente confusa não a deixava voltar a dormir. Por fim, depois de travar uma longa disputa com o travesseiro, decidiu sair para caminhar no jardim do castelo. Claro, não sem antes passar pela porta do quarto de seu senhor, e certificar-se de que ele realmente dormia. Sim, era óbvio que Sesshoumaru nunca dormia e, se dormia, era por poucas horas; decidiu apressar-se.
Sentiu mais uma vez o calor da noite e a brisa fresca, tentando relaxar o máximo possível antes de voltar para o aposento. Suspirou cansadamente e sentou-se, mirando um ipê com as flores lilases, rodeado pelas pétalas que haviam caído durante o dia. Admirou a beleza e a tranqüilidade que aquela cena proporcionava, e levantou-se. Contudo, sentiu tê-lo feito um tanto rápido demais, sua visão ficou turva por um instante e ela teve de se ajoelhar para que não despencasse pelo jardim. Levou as mãos à cabeça e contraiu os olhos castanhos, sentindo a dor aprofundar-se ainda mais em sua mente. Algumas imagens passaram rápidas e angustiantes diante de seus olhos fechados, não conseguindo identificar a maioria.
Tudo terminou da mesma forma estranha com a qual havia começado. Soltou o fôlego preso em seus pulmões ansiosos e deixou as mãos pousarem sobre as flores, tratando de segurar-lhe o tronco. A respiração logo atingiu o ritmo irregular, e algumas lágrimas insistentes teimaram em correr-lhe a face alva, atingindo o queixo pontudo e caindo sobre as pétalas coloridas. Logo tratou de amenizar as batidas frenéticas de seu coração, na tentativa de colocar-se de pé e voltar rapidamente para o quarto; não queria que ele a descobrisse ali. Certamente que iria zangar-se, e ela não queria irritá-lo. Inspirou fundo, tentando levar a máxima quantidade de oxigênio para dentro de si que conseguia, e levantou a cabeça. Apoiou as mãos nos joelhos ainda trêmulos, e se levantou vagarosamente, mantendo os olhos cerrados.
- Rin! – ouviu a voz serena atrás de si, e arregalou os olhos.
Ele estava ali, havia descoberto sua fuga; mas será que havia visto a cena que acabara de se decorrer? Apressou-se em enxugar algumas lágrimas que ainda lhe molhavam as maçãs do rosto, e virou-se para ele com um sorriso doce.
- Gomen nasai, Sesshoumaru-sama! – disse, fazendo uma reverência – Eu não queria—
- Sente-se bem? – indagou ele, lançando-lhe um olhar desconfiado.
"Ele viu! Viu tudo!", desesperou sua mente.
- Hai, meu senhor. – apressou-se em responder, mantendo o sorriso estampado na face.
Sentiu o olhar de reprovação dele atravessar-lhe a alma, culpando-a e castigando-a devastadoramente. Contudo, continuou a sorrir, embora com menos intensidade.
- Sabe que não gosto quando mente para mim... – disse, encarando-a serenamente, mantendo o semblante frio.
- Não minto para o meu senhor! Eu... Apenas perdi o sono e decidi caminhar pelo jardim... Fiz algum mal? – indagou, procurando manter a expressão inocente.
Não houve resposta, ele apenas continuou a observar-lhe os olhos.
Sesshoumaru pudera ouvir o coração dela disparar com a pergunta que fizera, assim como sentia o cheiro das lágrimas salgadas que ela acabara de derramar. "O que está me escondendo, Rin?", perguntou-se internamente, ainda mirando os olhos castanhos e brilhantes da púbere. Notou quando ela abaixou finalmente a cabeça e suspirou, cansada. Observou que suas mãos estavam trêmulas, razão pela qual ela as esfregava uma na outra, e acabou por franzir o cenho quase que imperceptivelmente. Aquela situação o estava deixando intrigado, afinal de contas, o que havia acontecido para deixar a garota naquele estado?
Cessou seus pensamentos quase que de imediato. Estava se preocupando demais com o que acontecia a ela; até mesmo em seus sonhos ela o estava atormentando. Decidiu deixar aquela conversa para outra hora, visto que ela parecia constrangida com alguma coisa.
- O que é agora? – indagou, mantendo a voz etérea.
- Ah! Nada... Não é nada, Sesshoumaru-sama... – disse, balançando a cabeça negativamente enquanto agitava as mãos na frente do peito.
E por que é que ele a encarava com tanta atenção?! Não conseguiria esconder o nervosismo se ele continuasse com aquilo, pensou receosa.
- Eu... Eu acho melhor entrar... – disse, cabisbaixa, pondo-se a caminhar em direção ao castelo.
No momento em que seus corpos se cruzaram, sentiu a mão fria dele, segurar-lhe o braço esquerdo com firmeza.
- Fique. – sussurrou ele, mirando o horizonte a sua frente.
Rin sentiu claramente a face enrubescer e o coração disparar violentamente. Estagnou seus passos e sentiu como se seus pés fossem feitos de puro chumbo; não poderia se mover, por mais que tentasse. "Ficar?", pensou ela, não deixando de abrir um sorriso assim que assimilou o pedido que lhe fora feito.
Sesshoumaru tentara manter a voz de seu coração frio o mais longe possível, mas fora em vão. Não podia deixar que Rin simplesmente voltasse ao seu aposento, não quando sabia que algo estava errado com ela. Sem pensar, deixou o instinto de proteção tomar conta de si, e quando se deu conta estava segurando o braço fino e delicado da jovem, impedindo-a de caminhar adiante. Pôde ouvir o coração dela disparar e sentir o tremor que lhe passou pelo corpo. Sentiu o cheiro doce que os cabelos negros dela emanavam e, sem perceber, fechou os olhos na tentativa de aproveitar melhor o momento.
Rin estava recostada ao ombro de seu senhor, a cabeça baixa e os olhos cerrados. Era inacreditável como Sesshoumaru conseguia deixá-la calma e relaxada com apenas um toque. "Por favor, alguém pare o tempo...", pensou, inspirando profunda e serenamente.
Sesshoumaru notou que os músculos do corpo de Rin haviam finalmente relaxado; sentiu seu coração ficar mais aliviado. Mas, espere, por que estava se preocupando tanto com aquela humana? Afinal, não importava o tempo e a devoção que ela lhe dava, continuava sendo apenas uma simples e frágil humana! Exato. Era tão frágil que não podia conter o instinto de lhe proteger de tudo e de todos que lhe pudessem fazer algum mal. Abriu os olhos e lembrou-se vagamente das palavras de seu pai; teria ele encontrado o verdadeiro significado delas? Uma brisa gélida tocou-lhe a face, dissipando seus pensamentos.
- É melhor deitar-se... Está ficando mais frio. – disse, mirando o horizonte.
- Hai, Sesshoumaru-sama. – respondeu com a voz tristonha, devido à interrupção.
Sem mencionar mais nada, a garota pôs-se a caminhar na direção do castelo, desaparecendo entre as folhagens do jardim em seguida.
Sesshoumaru notava o cheiro de Rin se dissipando no ar, não podendo conter um suspiro ao sentir uma nova brisa acariciar-lhe a face. Fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás, procurando decifrar a mensagem que o vento lhe trazia. Sentia alguma coisa errada com Rin, mas não pudera decifrar o que estava acontecendo. Na verdade, havia alguma coisa errada com ele também, visto que não conseguia dormir direito durante as poucas horas de sono em que se atrevia a deitar-se. Sua mente ávida tentava procurar um motivo concreto para o comportamento de Rin, mas em vão. Soltou um grunhido de reprovação por estar pensando demais nela.
Com mais um suspiro, abriu os olhos subitamente. O que era aquela sensação? Observou as árvores a sua frente, procurando enxergar além das folhagens e sentir o cheiro do vento. Estranhamente, a mesma presença desapareceu tão rápido quanto surgiu, deixando Sesshoumaru estático e confuso, parado no mesmo lugar.
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- Tola! – gritou para si mesma, jogando-se contra o colchão macio – O que faz você pensar que ele nutre qualquer tipo de sentimento por uma humana fraca?!
Tinha medo de responder a sua própria pergunta. Tinha medo de estar certa, caso se atrevesse a fazê-lo. Então, com um longo e cansado suspiro, ela enterrou a cabeça contra o travesseiro, apenas voltando a levantá-la para tomar ar.
Levantou-se, depois de vários minutos tentando atenuar a balbúrdia na qual sua mente jazia, e caminhou até a janela aberta. Saiu até a varanda e debruçou-se sobre o parapeito de madeira, apoiando o queixo delicado e pontudo, o que demonstrava a personalidade forte que tinha, sobre os braços cruzados. Observava a lua, majestosa e cheia, bem no alto do céu estrelado. Seus olhos castanhos e decididos pareceram se perder na luz que ela emanava, fugindo para bem longe dali, para o passado. Lembrava-se claramente de quando ganhara aquele estranho presente do youkai sapo; uma adaga pontiaguda e afiada. Entretanto, acima de tudo, lembrava-se de como seu senhor a ensinara a arte da autodefesa. Sem perceber, deixou um sorriso doce lhe escapar dos lábios finos. Sem dúvida que isso já fora há alguns anos atrás, mas ainda podia sentir o cheiro suave dos cabelos prateados de Sesshoumaru.
"O que pensa que está fazendo?!", gritou uma voz dentro de sua cabeça. Rin automaticamente endireitou o corpo e desfez o sorriso doce, passando a sustentar uma expressão quase tão fria quanto à de seu senhor. Era óbvio que ela não poderia fazer nada a não ser sonhar com tal idéia absurda! "Pare de se iludir, Rin! Quantas vezes terei que repetir que você é apenas uma humana? E Sesshoumaru-sama não se dá ao luxo de envolver-se com humanos...", disse sua consciência, tentando atenuar as batidas frenéticas de seu coração.
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Abriu os olhos castanhos, incomodada com a forte luz solar que adentrava pela janela. Arrependeu-se por tê-la deixada aberta durante a noite, na tentativa de amenizar o calor do verão com a brisa noturna. Levantou-se preguiçosa, tentando espantar o sono esfregando os olhos. Bocejou e espreguiçou-se, afastando o lençol branco para os lados e saindo da cama. Caminhou de vagar até a penteadeira, e despejou a água da moringa de barro em um pequeno vasilhame ao lado. Lavou o rosto com prazer, deliciando-se com o frescor da água que lhe escorria pelo queixo e pescoço. Em seguida, enxugou a face com uma toalha felpuda, procurando o pente para pentear os longos cabelos negros. Fora interrompida enquanto ainda tentava desembaraçar as primeiras mechas.
- Senhorita Rin... – chamou uma criada, entreabrindo a porta do quarto – Está tudo bem?
- Entre Yasu. – saudou-a Rin observando-a pelo espelho – Está sim, por quê?
- Já se faz tarde, menina! – disse, adentrando o aposento e fechando a porta atrás de si.
A criada caminhou até Rin, fitando seu rosto bastante alvo no espelho da penteadeira. As orelhas pontudas sobressaíam pelos fios de cabelo dourados, presos em um coque alto e afável. Os olhos eram os mais belos que Rin julgara conhecer, possuíam uma mistura viva de verde, amarelo e azul, a volta da pupila vertical. Um pequeno e delicado símbolo negro no meio da testa completava a figura serena da youkai. Rin sempre se admirava quando via Yasu, não importava quantas fossem as vezes. Ela vestia um quimono simples que, por mais pobre e apagado que fosse, não conseguia esconder-lhe a beleza.
- Achei que estivesse doente. – disse Yasu, pegando o pente das mãos delicadas de Rin e pondo-se a desembaraçar os cabelos da menina.
- Não consegui dormir direito. – suspirou Rin, baixando o rosto cansado.
- Novamente?! Há dias que você reclama do sono, Rin-chan. Esta noite lhe farei um chá de ervas, tenho certeza de que se sentirá melhor amanhã! – disse, bastante solícita e sorridente.
- Arigatou, Yasu! – sorriu em resposta, esperando que a mulher terminasse de lhe pentear as mechas escuras – Espero que Sesshoumaru-sama não se zangue com a minha demora...
- Não há o que temer, pequena. Sesshoumaru-sama saiu logo cedo... Além de que ele não gosta que a senhorita faça os serviços dos criados! – repreendeu-a com o olhar.
- Não importa! Não sou nenhuma dama para ficar em meu quarto fazendo nada, enquanto posso ajudar você! – parou um instante para raciocinar melhor – Saiu? E para onde ele teria ido?
- E como saberia?! O senhor nunca nos diz para onde ou quando irá. Nem sequer levou Jyaken junto, pobrezinho... Está que não se agüenta de tristeza por ter sido deixado para trás. – disse Yasu, suspirando um tanto divertida.
Rin abafou um risinho, pegando uma fita azulada e entregando a Yasu, que prendia seus cabelos em uma trança firme e longa.
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Devagar e serenamente, ele caminhava pela floresta escura. O sol ainda jazia no topo do céu, contudo, as folhagens densas das árvores ao seu redor impediam que a luz chegasse até seu interior. Sesshoumaru não parecia se importar com o fato, não cessando o ritmo dos passos, e mantendo a expressão fria e o olhar obstinado. Quem o analisasse por alguns longos minutos, poderia inclusive dizer que estava tenso e ansioso.
Delicadamente, ele afastou alguns arbustos do caminho, caminhando mais alguns passos e parando de frente a uma antiga árvore robusta. Passou a fitá-la de modo inquieto, como a esperar impacientemente que algo acontecesse. Pareceu se passar alguns longos instantes até que qualquer acontecimento significativo realmente ocorresse. Inexplicavelmente, um rosto tortuoso e decrépito começou a surgir no centro do tronco robusto.
- Achei que já não o veria depois de nossa última conversa, Sesshoumaru. – começou a face, abrindo os olhos inexpressivos – Vejo que meus conselhos surtiram algum efeito... – continuou, observando o braço esquerdo do youkai, agora intacto.
Sesshoumaru permaneceu em silêncio.
- Veio agradecer a minha ajuda? – indagou, de forma sarcástica.
- Preciso de respostas, Bokuseno. – retrucou o youkai de cabelos prateados, observando atentamente o rosto inexpressivo.
Uma risada grotesca ecoou pela floresta.
- Seu pai devia ter-lhe ensinado boas maneiras, príncipe das terras do Oeste.
- Não brinque comigo, youkai. Tenho perguntas, e quero respostas concretas desta vez! – disse Sesshoumaru, mostrando impaciência.
- O que quer agora? – indagou a face.
- Há algo de estranho acontecendo em minhas terras... – começou, soltando um suspiro frustrado – Quero saber o que está acontecendo comigo, e quero respostas imediatas!
Um silêncio mórbido e incômodo pousou sobre os dois youkais, sendo quebrado após alguns longos minutos.
- Você exala a apreensão, youkai... – soltou um riso de desdém – Vejo em seus olhos que se preocupa com algo mais além de suas terras e seus sonos mal dormidos.
Sesshoumaru pareceu surpreso por um instante, entretanto, voltou à expressão frígida de antes após frações de segundo.
- O que sabe sobre meus sonhos?
- Nada sei sobre o que acontecerá a você, Sesshoumaru.
- Já lhe disse que não quero brincadeiras, Bokuseno! Diga-me o que está acontecendo nas terras do Oeste! – ordenou-lhe, com a voz firme.
Bokuseno riu-se, observando atentamente os nervos irritados de Sesshoumaru lhe saltarem das têmporas.
- Ora, Sesshoumaru... Já tem o que queria! Naraku está morto, você tem seu braço esquerdo de volta e conquistou o poder absoluto das terras do Oeste. O que mais pode um youkai desejar?
Silêncio.
- Talvez tenha finalmente encontrado o verdadeiro significado das palavras de seu pai... – continuou Bokuseno, ignorando a expressão irritada de Sesshoumaru – Há algo que queira proteger, jovem príncipe?
- Responda youkai! Ou não serei tão paciente quanto da última vez! – esbravejou Sesshoumaru, levando as mãos à Toukijin.
Mais uma vez, Bokuseno gargalhou, parecendo não sentir medo das ameaças do youkai de cabelos prateados.
- Sempre achando que o mundo gira ao seu redor, não é mesmo Sesshoumaru? – indagou, mirando diretamente os olhos do youkai – Sinto dizer-lhe que está errado, se pensa que você ou seu castelo serão afetados. Apenas estão no caminho dele.
- A quem se refere?
- Seu pai o mencionou a mim uma vez. Um youkai bastante incomum, devo dizer. Fazia acordos estranhos com os humanos de diversos vilarejos.
- Humanos? – indagou Sesshoumaru, franzindo o cenho.
- Sim. Tudo o que sei é que este youkai não tem a capacidade de se reproduzir com a fêmea de sua espécie, por isso se utiliza das fêmeas humanas. O resultado, no entanto, não é um hanyou, e sim um youkai completo.
- E o que isso tem a ver comigo?! – Sesshoumaru estava mais uma vez irritado com as delongas de Bokuseno, parecia que atacaria o youkai a qualquer momento.
- Já disse, jovem príncipe, que você está apenas em seu caminho! É um youkai muito poderoso, e certamente que não está lhe atingindo propositalmente. Só o que ele busca é a preservação de sua espécie, e isso nada tem a ver com você.
Sesshoumaru suspirou com desdém, dando as costas a Bokuseno e pondo-se a caminhar na direção oposta.
- É tudo por hoje, youkai. Mas não pense que sairá ileso se algo interromper mais uma vez a rotina de minhas terras, fui claro? – indagou, sem cessar os passos serenos.
Tudo o que ele recebeu em resposta foi a risada sarcástica de Bokuseno, não se dando ao trabalho de voltar até lá para lhe dar a lição que merecia. Apenas continuou sua caminhada de volta as suas terras, perdendo-se em pensamentos e deixando que seus pés o guiassem até o castelo.
Em sua mente, sempre ativa, ele remoia a conversa sem muito significado que acabara de travar com o youkai. Sentia apenas raiva por não ter um motivo suficiente para exterminar aquele que se atrevia a invadir suas terras. Suspirou, frustrado, e resolveu esquecer o assunto pelo momento. Apenas continuou a dar seus passos vagarosos na mesma direção de onde viera, deixando que sua consciência lhe traísse novamente, ao buscar a imagem da figura sorridente que certamente estaria a sua espera quando regressasse.
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- Pare! – gritou ela, sentando-se subitamente.
Tentou amenizar a respiração, mas o ar entrava e saía de seus pulmões com uma velocidade incontrolável. Levou a mão direita ao peito arfante, enquanto enxugava o suor da testa com a esquerda. Tentou focalizar o ambiente onde se encontrava, mas a visão estava turva e seus olhos teimavam em recusar-se a obedecê-la. Obstinadamente, Rin arrastou-se até a beirada da cama, apoiando um dos braços no móvel ao lado e procurando levantar-se. Contudo, no momento em que seus pés tocaram o chão, seu corpo desabou sem força alguma para manter-se, levando junto a xícara de chá, um livro grosso e pesado e uma pequena lamparina apagada.
Assustada com a falta súbita de energia, Rin não pôde evitar algumas lágrimas salgadas que lhe escorreram pelo rosto suado. Com muita dificuldade, ela conseguiu se sentar ao lado da cama, apoiado o rosto no colchão e procurando estabilizar as funções do corpo. Tão logo havia se restabelecido, sentiu a pontada aguda nas têmporas e aquelas vozes conhecidas lhe invadiram a mente mais uma vez naquela noite.
"- Não posso fazer isso! E não vou deixar que você faça! – gritava a mulher, tentando conter as lágrimas."
A imagem conhecida de uma mulher alta e de longos cabelos negros e olhos tão castanhos e profundos quanto os seus, invadiu-lhe a mente conturbada.
- Chega! – gritou com desespero, levando as mãos à cabeça e pondo-se a derramar mais e mais lágrimas.
"- Prefere vê-la morta então?! – desta vez um homem gritou, parecendo perturbado – Você já deve saber que ela não vai durar muito neste vilarejo!"
Pôde ver a imagem do homem com clareza, que discutia descontroladamente com a mulher.
"- Mudemos de vilarejo então! Eu não ligo... Não me importo de deixar minha família! Só não quero perdê-la... Deve haver algum jeito!
- E acha que me deixarão sair daqui com tudo que estamos devendo, mulher?! Pare para pensar... Essa é a nossa única maneira de prolongar a existência dela! Ou prefere vê-la nas mãos daqueles homens imundos que nos vieram cobrar os impostos ontem?! – bradou o homem, ainda irritado."
O que eram aquelas imagens afinal?! Via a mulher de pé, à frente de um homem de cabelos grisalhos e a barba por fazer, ambos discutindo incessantemente, como a decidir algo importante. O lugar de onde observava era pequeno e escuro, não lhe proporcionando uma visão muito adequada. O que era aquilo? Estava escondendo-se de alguém ou alguma coisa? Sentiu a pontada mais forte e as vozes começaram a se misturar, todos na sua mente falavam de uma vez, ensurdecendo seus pensamentos. As imagens começaram a se misturar e a aparecer mais rápida e desordenadamente. Desesperada, Rin enterrou os dedos pelos fios negros, puxando as mechas que agarrava na tentativa de amenizar a dor, mas era em vão. As vozes continuavam a gritar e as imagens teimavam em aparecer.
Sem saber o que fazer, ela gritou alta e dolorosamente, apoiando-se no colchão e obrigando o corpo a permanecer em pé. Cambaleou até a penteadeira e tentou focalizar sua imagem no espelho. Só o que conseguia ver era um borrão pálido, enquanto mais e mais figuras estranhas apareciam diante dela, gritando, discutindo e chorando por algum motivo desconhecido. Mesmo balançando a cabeça repetidas vezes, as imagens não iam embora, e a dor persistia a cada movimento seu. Sua visão continuava embaçada, o que lhe contribuía para aumentar o desespero que crescia em seu peito. Mas o que diabos estava acontecendo com ela?!
Mais uma vez ela sentiu as pernas amolecerem, entretanto não se deu por vencida. Tentou apanhar a moringa para refrescar o rosto, mas acabou por derramar todo o conteúdo no chão, não esquecendo do recipiente de barro, que se espatifou contra o piso de madeira. A pontada lancinante lhe atingiu as têmporas mais uma vez, e Rin não conseguiu segurar o corpo entorpecido pela dor. A garota caiu de joelhos, ainda com uma das mãos na cabeça, ela abafou um grito de dor, rastejando-se até a saída do quarto e apoiando-se na parede para se levantar novamente. Esperou mais alguns segundos até que se sentisse segura, e empurrou a porta, sentindo a brisa do corredor atingir-lhe o rosto já extremamente pálido. Calmamente, Rin inspirou fundo, podendo notar a diferença agradável que a brisa noturna lhe proporcionara.
As vozes transformaram-se em sussurros, e as imagens deixaram de povoar sua mente dolorida. Sentindo uma imensa onda de alívio, ela recusou-se a sair do lugar por longos minutos, apenas tentando relaxar depois de tudo o que acontecera.
- Deuses! Rin, querida, você está bem? – indagou uma voz doce de algum lugar do lado de fora – Por Kami, você está tão pálida...
- Estou bem... Está tudo bem agora. – respondeu a esmo, levando uma mão à testa e enxugando as gotículas de suor – Desculpe-me pelo barulho.
- Bem?! – exclamou a voz, agora mais próxima – O que houve com seu quarto, Rin-chan?!
- Não houve nada! Já disse que estou bem! – retrucou, desejando ter pronunciado as palavras com mais convicção do que de fato fizera.
- Olhe-se no espelho, minha jovem! Você está mais branca do que o quimono de Sesshoumaru-sama! – rebateu a voz de alguma mulher que já deveria estar às costas dela, arrumando a bagunça do quarto.
Rin suspirou calmamente, ainda de olhos fechados, tentando amenizar as batidas falhadas de seu coração e enxugar o suor frio que lhe escorria pelo rosto.
- Deixe-me em paz! Já disse que estou ótima... Foi... Apenas um pesadelo! – bradou, desta vez bem mais convincente que antes – Já pedi desculpas pelo inconveniente, agora por favor, me deixe sozinha... – completou, finalmente abrindo as pálpebras e tentando focalizar o corredor.
Sua visão pareceu bastante solícita desta vez, não demorando a mostrar o chão de madeira, o jardim do pátio e a figura de Sesshoumaru, parado a alguns passos da entrada de seu quarto. Rin pareceu ainda mais assustada do que há poucos minutos atrás, observando a figura de seu senhor sem conseguir pronunciar palavra alguma.
- Pode ir deitar-se, Fuyuki. – ordenou Sesshoumaru, com a mesma voz autoritária de sempre.
- Ainda acho que ela deveria tomar um chá, meu senhor... Veja como está branca... – dizia a mulher, aparecendo no campo de visão de Rin e tocando-lhe a face com as mãos velhas e enrugadas – E como está fria!
- Eu cuido disso, Fuyuki... Vá se deitar. – disse Sesshoumaru, ainda totalmente inexpressivo.
A figura envelhecida da youkai assentiu e logo já estava caminhando pelo corredor, de volta ao seu quarto.
- Não queria incomodar ninguém, Sesshoumaru-sama. – começou Rin, observando os longos cabelos alaranjados de Fuyuki balançarem com a brisa noturna – Principalmente, não queria incomodar o senhor! Gomen nasai! – completou, baixando a cabeça em uma pequena reverência.
Não houve resposta. Rin apenas continuou de olhos fechados e cabeça baixa, tentando decifrar o que seu senhor estaria pensando dela naquele momento. Provavelmente que era alguma humana maluca e intolerável, que se atrevera a incomodá-lo no meio da noite. Soltou um suspiro cansado, voltando a observá-lo, desta vez com a feição um tanto mais decidida.
- Estou bem, agora. – disse, tentando convencer a figura inexpressiva de Sesshoumaru – O senhor... O senhor pode voltar a descansar agora. Deve estar cansado por causa da viagem! – complementou, forçando um sorriso.
- Você tem mentido muitas vezes para mim ultimamente, Rin. – disse o youkai, com a voz séria.
Rin não respondeu, apenas ficou a fitá-lo com a expressão confusa.
- Meu senhor... Eu—
- Você não está bem... E o que aconteceu não foi apenas um simples pesadelo... O que está acontecendo? – indagou de forma decidida.
- Sesshoumaru-sama... Não está acontecendo nada! Eu não estou mentindo! Estou bem, estou bem mesmo! – respondeu, afastando-se da parede e procurando sustentar o corpo na tentativa de convencer Sesshoumaru.
Surpreendentemente, suas pernas começaram a formigar, até amolecerem por completo. A visão tornou-se turva novamente, e seus joelhos dobraram involuntariamente. Sentiu que a linha tênue de sua consciência iria se romper a qualquer momento, mas não iria desmaiar agora! Abriu os olhos com certa dificuldade, levando uma das mãos ao rosto e afastando algumas mechas negras. Abruptamente, ela se deu conta de onde estava: nos braços de Sesshoumaru.
- Gomen nasai... – murmurou, mais uma vez decepcionada por não ter atingido o tom desejado.
Sesshoumaru apenas a observava, segurando o tronco de Rin delicadamente, ele podia sentir o cheiro das lágrimas que ela derramara. A idéia de estar se preocupando com ela o enervava, mas o orgulho não fora grande o suficiente para afastar sua inquietação desta vez. Antes que pudesse impedir a si mesmo, levou a mão livre até o rosto pálido de Rin, tocando-lhe a face com uma delicadeza que Rin julgara inexistente em seu senhor. Logo, Sesshoumaru notou a temperatura fria em que ela se encontrava, tentando imaginar o que afinal havia acontecido para deixar Rin no presente estado. Jurou a si mesmo que poderia matar o primeiro que surgisse diante dele naquele momento, tal era o sentimento de impotência que reinava dentro dele. Por que ela se recusava a contar a verdade?
- O que houve? – indagou, mostrando um tom mais carinhoso na voz.
Rin fitou os olhos dourados dele por um instante, até descobrir o que já sabia há muito tempo: não poderia mentir.
- De fato foi um pesadelo... – respondeu, a voz ainda rouca e fraca – Algumas vozes e imagens aleatórias estão teimando em me acordar a noite... E minha cabeça dói mais a cada sonho. – disse, por fim, tentando levantar-se, mas percebendo que não tinha forças.
- O que bebeu para dormir esta noite? – indagou ele, serrando as pálpebras.
- Nada... – mentiu novamente, baixando os olhos.
- Rin... – bradou, em tom de aviso.
- Um chá que Yasu me preparou. Ela disse que iria me ajudar a relaxar... – confessou, como se fosse uma criança a contar a travessura para o adulto.
Um silêncio pairou sobre os dois, fazendo com que Rin se lembrasse de onde estava e deixando-a embaraçada. Sesshoumaru, por sua vez, apenas ficou remoendo o acontecimento daquela noite, no intuito de entender o que estava acontecendo com Rin. Estranhamente, parecia não se importar em estar segurando a jovem em seus braços, acabando por apreciar a situação por uma fração de segundos. Mas logo seu coração frio tratou de lembrá-lo das origens de Rin, obrigando-o a adquirir o semblante inexpressivo novamente.
Sem deixar de lado a preocupação que ainda parecia controlá-lo de alguma forma, Sesshoumaru se levantou, levando Rin junto com ele em seu colo.
- Sesshoumaru-sama... – murmurou ela, confusa – Para onde o senhor está me levando?
Não houve resposta.
Rin permaneceu a observar o caminho que seu senhor seguia. Não! Era simplesmente inconcebível! Ele não faria isso, não o Sesshoumaru que ela conhecia. Mas, se ele jamais faria, por que então estava fazendo?! Espere! Ela só poderia estar sonhando. Sim, estava confusa demais para assimilar o caminho que seu senhor seguia. Mas seus olhos não estavam pregando-lhe uma peça, como antes ela achava. Segundos mais tarde, e Sesshoumaru abria a porta de seu quarto.
- Sesshoumaru-sama—
- Fique aqui até que seu quarto esteja devidamente arrumado. – disse, parecendo alheio ao que estava fazendo.
Sem delongas, o youkai de cabelos prateados depositou a jovem sobre o colchão macio, pondo-se a observá-la por alguns instantes.
- Yasu virá ficar com você esta noite. – disse, virando-se na direção da saída e pondo-se a caminhar.
- Aonde... Aonde o senhor vai à uma hora dessas?! – indagou Rin, fazendo menção de levantar-se para ir atrás dele.
Sesshoumaru virou-se rapidamente, lançando-lhe um olhar de reprovação. Inexplicavelmente, não fora o suficiente para deter Rin, que continuou a preparar-se para colocar-se de pé.
- Já disse para ficar aqui! – ordenou, desta vez mais rudemente.
- Não! Não quero... Não quero dormir novamente! – retrucou, apoiando-se à parede ao lado da cama e tentando se equilibrar.
Sesshoumaru permaneceu imóvel, remoendo a possibilidade de a garota despencar novamente. Algo dentro dele queria correr imediatamente de encontro a ela, mas o outro continuava a dizer para que simplesmente virasse as costas e saísse do aposento.
- Não vou ficar aqui sozinha! – disse Rin decidida, tirando Sesshoumaru de seus devaneios.
- Yasu virá para lhe fazer companhia. – rebateu pacientemente.
- Onegai, Sesshoumaru-sama... – pediu, com os olhos marejados – Não me deixe... – disse, dando alguns passos na direção dele e subitamente levando as mãos trêmulas ao rosto ainda pálido.
Antes que atingisse o chão, contudo, sentiu-se nos braços do youkai mais uma vez. Instintivamente, agarrou-lhe o quimono branco, enterrando a cabeça no peito de Sesshoumaru, e pondo-se a chorar com vontade, soluçando e entornando lágrimas dolorosas e cansadas.
Sesshoumaru fora definitivamente pego de surpresa, não podendo maquinar nenhuma outra reação se não aquela; abraçando Rin e deixando que ela finalmente amenizasse a confusão de sua mente. Mais uma vez o orgulho não fora o suficiente e, mesmo sabendo que se arrependeria depois, Sesshoumaru apenas ficou ali, amparando uma humana pela primeira vez em toda a sua existência. "Não é apenas uma humana! É Rin!", gritou uma voz no fundo de sua cabeça teimosa.
- Onegai... – dizia ela, entre os soluços – Onegai...
- Não vou deixá-la, Rin. – disse sem pensar, tentando suavizar o desespero da púbere.
- Não! – continuou ela, soluçando cada vez mais – Onegai, Sesshoumaru-sama! – dizia, apertando o quimono entre as mãos fracas – Não quero que ele me leve! Não deixe que ele me leve! Onegai...
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Oi pessoal! (acena freneticamente)
Esse é o meu primeiro trabalho com InuYasha e, sabe, eu não tenho certeza se fiz um trabalho satisfatório (sorriso amarelo). Não será uma história muito longa – eu acho – por ser a primeira vez que faço algo diferente das minhas originais...
Bem, como vocês puderam notar no resumo e agora lendo o primeiro capítulo, há algum segredinho no passado da nossa adorada Rin, e o estúpido do Sesshoumaru ainda não descobriu o que é! O próximo capítulo já está em andamento, e eu gostaria muitíssimo de receber os comentários de vocês para que me digam se eu devo queimar toda a história ou continuar a escrever pra ver no que dá... (sorriso maroto)
Agradeço a Rin-chan pela paciência colossal na hora de me ajudar a postar, e a você que leu a minha tentativa de fanfic e que agora irá deixar uma review... CERTO?! (ameaçando com um bastão de baseball)
Vejo vocês no próximo capítulo... Ja ne! (acenando freneticamente)
