É difícil para eu dizer quando exatamente eu percebi que eu estava competindo com o Haruka-chan pela atenção do Makoto. Eu sempre fora um para estar debaixo dos holofotes, mas isso, até então, nunca tivera relação com a vontade de chamar a atenção de alguém em especifico.

Eu sempre gostei do Mako-chan. Seu jeito gentil, o sorriso caloroso, seu timbre calmo e relaxado. Somos quase o oposto um do outro, se você pensar bem. Ele é alto e eu sou baixo. Ele é calmo e eu sou elétrico. Ele é quase tímido e eu... bem.

O sentimento certamente não viera da infância. Quanto a isso eu tenho absoluta certeza. Mas após nosso reencontro, com a aproximação, os planos, as ideias para trazer o clube de natação de volta, tudo aquilo de certa forma mexeu comigo. Talvez, se eu pensar bem, acho que eu saberia sim dizer quando eu me dera conta que eu queria o Mako-chan. Que ele me abraçasse, me beijasse, sorrisse para mim. para mim.

'Mako-chan, como vai? Posso passar na sua casa hoje? Queria te mostrar algumas ideias que eu tive para o clube. Abraços Nagi-san ;-)', eu enviara pelo celular, sem ter algum tipo de segunda intenção. Fora logo após conseguirmos aprovação do colégio para iniciarmos o clube em Iwatobi.

'Claro, vou estar te esperando', ele respondeu. Instintivamente sorri.

Eu tinha alguns desenhos, conceitos e ideias rabiscadas por todo o meu quarto. Juntei todos em uma pasta e coloquei-os na mochila. Mako-chan não morava tão longe, então resolvi correr até sua casa. Não me faria mal um pouco de condicionamento e aquela ação me trazia as memórias felizes que eu tinha da infância que eu partilhara com Haru-chan, Rin-chan e o Mako-chan.

Ao chegar eu estava um pouco suado, meu corpo demonstrando o quão fora de forma eu estava. Me senti envergonhado de chegar assim na casa de um colega mas acabei deixando para lá, afinal, o que eu podia fazer. Além disso, era só o Makoto. Assim eu pensei, pelo menos. Quem abriu a porta fora um dos irmãos dele. Um garoto que não devia ter mais que oito anos, tinha os cabelos bem curtos e o sorriso igual ao do irmão.

"Boa tarde", falei, sorridente, dobrando minhas costas para ficar na mesma altura do menino. "O Mako-chan está?"

O garoto, também sorridente virou-se para dentro da casa e soltou um estrondoso "Niiii-chan, visita para você!", e saiu correndo de volta para dentro da casa.

Makoto veio em seguida, passando pela porta que separava a casa do portão, tendo que abaixar a cabeça ao passar, que era muito pequena para ele. Abafei um sorriso, achando aquilo estranhamente adorável.

"Oi Nagi-san, você demorou, por acaso veio correndo?", ele falou obviamente notando o suor em meu rosto.

"Hahaha, sim, a sua casa não é tão longe e eu resolvi vir correndo.", eu não pude deixar de corar.

"Haha, desculpe pelo transtorno. Vamos, entre.", ele virou-se de lado me dando passagem. Deixei meu tênis na entrada, desculpei-me pela intromissão e adentrei sua casa.

O irmão de Makoto que havia me recebido estava na sala com a irmã do nadador. Ambos deviam estar fazendo suas tarefas de casa mas pelo clima mais parecia que eles estavam brincando de guerra de bola de papel. A mãe de Makoto estava na cozinha, provavelmente iniciando o jantar da família que iria servir â noite. Quando entrei Makoto chamou a atenção de sua mãe e me apresentou. Ela parecia se lembrar de mim de quando eu viera à casa deles antes, na infância, e fiquei feliz dela se lembrar de mim mesmo após tanto tempo. A senhora perguntou se eu ficaria para jantar, e eu respondi que não me importava desde que estivesse tudo bem com o outro garoto".

"Faço questão.", Makoto respondeu. E eu sorri novamente.

Seguimos para o seu quarto. Quando cheguei fui logo abrindo minha mochila e espalhando os papeis sobre a mesa. Organizando pilhas e cadernos.

"Muito bem, então, a minha ideia era a seguinte...", e expliquei para o garoto alto, sobre os logos que eu queria criar. Os uniformes, e como precisávamos de mais membros para o clube. Makoto ouvia tudo atentamente, esporadicamente opinando em algum ponto ou fazendo alguma pergunta.

Em certo momento ele se levantou, saiu da posição diretamente oposta a mim em que ele estava e colocou-se ao meu lado, vendo um desenho que Haru-chan tinha feito com mais atenção. Ele ficara tão perto que eu podia sentir sua respiração em minha orelha. E o calor de seu peitoral em meu ombro, tão largo e rígido. Aquilo mexera comigo. Era estranho, não era a primeira vez que eu o tinha tão próximo de mim. Sem falar na quantidade de vezes que eu já o vira sem camisa. Mas até então, até aquele momento, eu nunca tinha sentido nada de diferente por ele. Até aquele momento.

"...então, o que você acha?", ele indagou.

"O quê?"

"Perguntei se você gosta do desenho que o Haru-chan fez pro pôster do clube".

"A sim, claro, gostei sim", falei, ainda sem ter certeza do que ele falava. Por um momento eu me esquecera por completo o que eu estava fazendo.

Da parte debaixo da casa pudemos ouvir a mãe de Makoto nos chamando para jantar. Olhei o relógio e me surpreendi com as horas, que haviam se passado em um piscar de olhos. Descemos. Assumi meu lugar ao lado de Makoto. Cumprimentei o pai dele, que estava na ponta da casa e agradeci pelo jantar. A comida estava ótima, e todos eram muito agradáveis. A maneira que o nadador lidava com seus irmãos, agindo quase como um segundo pai para eles, lhes dando bronca quando brincavam com a comida, ou compartilhando parte de sua refeição com eles. Tudo aquilo criara um sentimento de admiração por ele. Algo que até então eu não havia me tocado. Algo a mais.

"Bom, está na mina hora. Nos vemos amanhã no colégio", falei, após o jantar.

Mako-chan me levou até a porta e se despediu de mim. Virei-me para seguir meu caminho, me sentindo um pouco triste de ter que deixa-lo. Instintivamente virei-me de volta para a casa dele, olhando para sua janela por onde a luz acesa brilhava.