Título:Eles não têm tempo
Autora:Nayla
Classificação: K+
Categoria:MS, slash
Capítulos:drabble
Advertências:angst all over the place
Resumo:"- Você tem que parar. – Enjolras o chama; - Eu não sei como. – Grantaire sorri."
Enjolras respira fundo e se vira para encará-lo, segurando a garrafa de vinho que roubara do moreno com força, com raiva. Grantaire ri, gesticula e fala sobre um monte de coisas que não fazem sentido nenhum, ele sempre fala muito e nunca diz nada. Enjolras já parou de tentar decifrar suas ladainhas bêbadas, já parou de acreditar no que ele falava.
( Eu acredito em você, ele tinha falado outro dia)
Grantaire para de falar, começando a tremer as pernas em um tique nervoso, olhando tão intensamente um certo ponto no chão que seus olhos começam a lacrimejar.
- Você tem que parar. – Enjolras o chama.
- Eu não sei como. – Grantaire sorri e seu sorriso implica vários outros fracassos.
- Parar de beber. – Ele especifica. - E agora. Não temos tempo.
- Eu não sei como. – O outro repete, ainda com a sombra daquele sorriso nos lábios, porque ele sabe disso mais do que ninguém. Ele se lembra de como era ter tempo e de como era vê-lo deslizar, cair por seus dedos como areias de uma ampulheta.
- Eu acredito em você. – Enjolras rebate as suas palavras de volta para ele e elas atingem o alvo. Grantaire parece machucado e o loiro pensa bom, assim ele vai pensar duas vezes antes de me dizer isso novamente.
Mas ele está errado, ele está completamente errado porque as próximas palavras a deixar os lábios do moreno são:
- E eu acredito em você, isso não é suficiente? – Mas em sua defesa, ele diz isso para se impedir de dizer outra coisa. – O que mais você quer?
- Você poderia morrer, Grantaire, já pensou nisso? Existe a possibilidade e isso é algo que merece ser levado em consideração com sobriedade.
- Você me julga cego, Apollo, e é engraçado. Isso é terrivelmente engraçado porque foi você quem me cegou em primeiro lugar, com toda essa sua luz, que brilha mais forte do que o sol.
- Eu nunca quis cegar ninguém, quanto mais você. Sou seu amigo.
- E isso é tudo que você sempre será, infelizmente. – Grantaire responde e se inclina para frente. Enjolras afasta a garrafa para longe, mas não é a garrafa que o moreno procura; são seus lábios.
O beijo é gentil e rápido, apressado, um mero roçar de lábios.
- Pronto, Enjolras. Isso é o mais sóbrio que eu posso ficar, você está satisfeito?
- Não. – Ele solta a garrafa de vinho, que se parte em mil pedaços, derramando todo seu conteúdo, quando colide com o chão, porque o loiro precisa usar suas mãos, as duas mãos, para segurar o rosto do estudante, para tomá-lo para si.
Eles colidem um contra o outro e dói, mas é uma dor boa.
- Que idéia maravilhosa, Apollo. – Grantaire ri, contra o pescoço dele. – Amanhã vamos morrer, então hoje vamos viver.
Enjolras não responde. Eles não têm tempo para isso, eles não têm tempo para descobrir se são amigos ou amantes, eles não têm tempo para diferenciar as coisas nas quais eles acreditam das coisas que eles amam; eles nunca tiveram tempo, para falar a verdade.
( Eles quebram o pouco tempo que têm, partindo-o ao meio, quebrando-o nos menores pedaços, estilhaçando-o como vidro.)
O tempo acaba, amanhece e o vinho daquela garrafa se confunde com sangue no chão, mas ninguém percebe.
