Observava nervosamente o trem parado à sua frente. A fumaça já saia de suas chaminés e muitas crianças se aglomeravam em suas portas para conseguirem entrar, provavelmente ansiando por cabines vazias em lugares bons, pensou ela sentindo um frio na espinha. Ela não era uma menina sociável, não sabia muito bem como fazer amigos, e nem se importava muito para falar a verdade, mas o pai não perdia tempo em instruí-la a se aproximar de estudantes com sobrenomes influentes e de preferência da sonserina, casa onde ela DEVERIA ficar, sem desculpas. Olhou para seu pai, que conversava animadamente com algum conhecido, e sentiu-se ligeiramente enjoada. Seu pai só se preocupava com o maldito trabalho. Não reclamava, claro, ela sabia muito bem o que o pai fazia – ele mesmo a ensinava coisas sobre seu trabalho sempre que podia – mas queria que pelo menos uma vez na vida os dois tivessem uma interação que não fosse relacionada à instruções sobre como agir ou sobre seu futuro. Abaixou a cabeça, suspirando. Ela não tinha nada a ver com seu pai, absolutamente nada. Nem na aparência ela se passava por filha dele.
Seu pai era alto, magro, com cabelos curtos, loiros e levemente encaracolados. Tinha um par de olhos castanhos e feições finas. Já ela, era o completo oposto do pai, que gostava sempre de lembrar como ela era parecida com a mãe. Era baixa – e mesmo que ainda estivesse com 11 anos, duvidava que fosse crescer muito. – e tinha longos cabelos negros e ondulados. Seus olhos eram grandes, extremamente verdes e arredondados, fazendo-a manter sempre em seu rosto uma expressão de surpresa. Era magra, mas tinha o rosto ligeiramente rechonchudo, lábios carnudos e formas mais arredondadas. Exatamente como sua mãe.
Virou-se para observar uma aglomeração anormal de ruivos. Após poucos segundos notou então que eram todos da mesma família. A mãe, baixinha e rechonchuda, abraçava e beijava seus filhos – visivelmente desconfortáveis – carinhosamente. O ruivo mais velho, que ela reconheceu como sendo o pai, se despedia dos filhos polidamente, provavelmente achando que o carinho da mãe já era mais do que suficiente. Olhou então para dois ruivos idênticos, que implicavam com o irmão mais novo, enquanto uma ruivinha chorava ao lado da mãe. Suspirou, invejando toda aquela simplicidade, uma simplicidade que nunca teria.
Tentando afastar os pensamentos melancólicos, Amélie Griffiths despediu-se de seu pai, sem prestar muita atenção em suas ultimas recomendações, e adentrou o Expresso de Hogwarts, pronta para seu primeiro ano na Escola de Magia e Bruxaria mais famosa da grã-bretanha.
Procurou por uma cabine afastada e vazia, não queria conversar nem fazer amizades naquele momento, tudo o que Amélie queria era ficar em paz durante a viagem. Logo encontrou uma cabine no fim do vagão em que estava, e decidiu permanecer por lá. Sentou-se próxima a janela e ali ficou, ignorando o mundo ao seu redor. Era tudo o que ela precisava por enquanto, paz e tranqüilidade para organizar seus pensamentos.
De repente, ouviu a porta se abrindo com um baque.
-Ei, Fred! – Um daqueles ruivos que observara mais cedo gritou, enquanto entrava na cabine. – Achei uma cabine vazia, vem pra cá!
-Opa! Essa daqui está ótima! – Outro ruivo, idêntico ao que acabara de sentar-se à sua frente, entrou e sentou-se ao lado do, obviamente, irmão gêmeo. – Achei que teríamos que sentar com algum sonserino psicótico.
-Você sabe que jamais permitiria tal coisa! – O outro falou, fingindo-se de indignado. – Sempre há a opção de viajarmos pendurados pelo lado de fora do trem.
-Ah, isso seria definitivamente divertido, George! – Ele riu, provavelmente imaginando a situação.
Os dois conversavam ignorando completamente a existência de Amélie, que começou a sentir-se incomodada. Tinha encontrado aquela cabine para ela, e agora dois ruivos matracas e irritantes iriam ficar importunando sua viagem? Irritada, Amélie pigarreou, tentando em vão chamar a atenção dos gêmeos à sua frente. Sentindo-se cada vez mais irritada, Amélie pigarreou novamente, dessa vez o mais alto que podia, enfim conseguindo a atenção dos irmãos, que olharam para ela como se tivessem acabado de perceber que ela estava ali.
-Ah...Olá! – Um dos dois disse, descontraído. – Sentimos muitíssimo nossa terrível falta de educação,– Amélie duvidou muito daquela afirmação. – Não somos dados à esse tipo de coisa, não é George?
-Mas é claro que não, Fred! – O outro respondeu, com uma educação exagerada. – Nossa querida mãe nos educou muito bem! – Falou, virando-se para Amélie. – Meu nome é George Weasley...
-E eu sou Fred! Weasley, é claro. – Ele disse como se não fosse óbvio. – Sei que é difícil de acreditar, mas nós realmente somos irmãos. E você, quem é?
-Eu sou Amélie Griffiths. – Ela respondeu, impaciente. – E eu realmente adoraria que vocês dois saíssem daqui. Sei que é difícil de acreditar, mas vocês dois estão realmente me irritando.
-Nós? Mas isso é realmente muito difícil de acreditar! Somos uns doces!
-Não, vocês não são. – Amélie respondeu, querendo se livrar logo daqueles dois. - Vocês dois são muito inconvenientes e irritantes. Tudo o que eu mais queria era viajar sozinha e vocês dois apareceram aqui para me torrar a paciência.
-Hm, até que faz sentido... – Um deles disse, com a expressão pensativa. – Ei Fred! Lembra-se sobre o que você disse sobre sonserinos psicóticos?
-Claro que sim, George.
- Pois então, acho que estamos na mesma cabine com uma quase sonserina psicótica
no fim das contas. – Ele disse, levantando-se. - Acho melhor procurarmos outro lugar, se não acabaremos infectados pelo vírus mortal que assola essa raça.
-Concordo plenamente, George. – O outro falou, fingindo assombro. – Sabe-se lá o que de terrível poderia acontecer conosco.
Amélie abriu a boca para responder, completamente indignada com o que acabara de ouvir, porém os gêmeos já haviam saído dali. Respirou fundo, tentando ignorar todas aquelas coisas que ouvira. Tentando, mas não conseguindo.
Seu pai sempre falara bem da casa de Sonserina, dizia que para lá iam os melhores bruxos que existiam. Dizia que era uma casa apenas de alunos inteligentes, elegantes, extremamente bem relacionados, ambiciosos e, o melhor de tudo, de sangue puro. Por que então aqueles dois falaram tão mal dos alunos de sonserina? Será que sua mãe tinha razão no fim das contas?
O resto da viagem seguiu sem maiores contratempos. Após algum tempo, o Expresso de Hogwarts chegou ao seu destino, e todos os alunos desceram, alguns indo em direção à carruagens, outros – só os primeiranistas, ela notou – foram em direção à alguns barquinhos atracados ali perto.
-Olá! – Falou alguém que sentara ao seu lado no barco. – Você é Amélie Griffiths, não é?
-Sim. – Ela respondeu, desconfiada. O menino era moreno, com o cabelo e os olhos escuros. Não tinha cara de muitos amigos. – Por que?
-Bem, eu sou Montague, - Ele respondeu com arrogância. – Nossos pais estavam conversando hoje, na plataforma. Aparentemente, ele quer que eu me aproxime de você.
-É? – Amélia perguntou entendiada. Agora o pai decidia com quem ela deveria andar também. – Que bom.
-Não se preocupe, quando nós formos mandados para a sonserina, conheceremos muitas companhias adequadas lá. Então nossos pais não precisarão mais se importar com isso.
-É claro. – Ela respondeu, desinteressada.
Fizeram o resto do caminho em silêncio. Ela não estava com a mínima vontade de conversar, muito menos com aquele garoto arrogante que seu pai considerava boa companhia. Chegaram então ao hall de entrada do castelo, e foram recepcionados ali por uma bruxa bem mais velha, de óculos e chapéu pontudo, que começou a explicar como funcionaria a seleção. Amélie não precisava realmente ouvir aquilo, já que passou maior parte da infância ouvindo seus pais lhe explicar como eram as coisas em Hogwarts.
Depois que a bruxa terminara de dizer tudo o que precisavam saber, ela os guiou até o Grande Salão, onde vários alunos já estavam sentados esperando a seleção de novos alunos começar. Aquilo deu um nó no estomago de Amélie, que não lembrara de jamais ter se sentido tão nervosa em sua vida. Aquele seria o momento em que sua vida seria decidida, pois poderia ser tanto o orgulho do seu pai, quando a vergonha. Mas, para falar a verdade, já não sabia se queria tanto assim ser o orgulho do pai que tinha.
Ficou absorta em pensamentos, sem se importar muito com os nomes que eram chamados. Era óbvio que estava nervosa, pois não tinha a mínima idéia em que casa cairia. Toda a família de seu pai fazia parte da sonserina, então, se fosse pensar por esse lado, tinha grandes chances de ser selecionada para lá. Porém, como sabia muito bem, sua mãe não fora da sonserina, e não conseguia se lembrar de ninguém de sua família por parte de mãe que tivesse sido selecionado para lá também. Fazendo suas contas, ficou impossível para Amélie determinar para onde era mais provável que fosse selecionada, pois o chapéu seletor ainda considerava coisas como sua personalidade e vontades.
- Griffiths, Amélie. – Ouviu a bruxa chamar, e, tentando ignorar a sensação de que borboletas voavam em seu estomago, caminhou até a banqueta onde o chapéu seletor esperava para ser colocado em sua cabeça.
Sentou-se, olhando automaticamente para as duas cabeças ruivas logo à frente, que agora cochichavam entre si e riam. Fechou os olhos, irritada com a certeza de que falavam sobre ela, e suspirou, assim que o Chapéu Seletor foi colocado em sua cabeça.
-Hm... – Ele começou a resmungar, deixando Amélie mais nervosa ainda. – Hm... Interessante... – "Isso só pode ser algum tipo novo de tortura." Amélie pensou, irritada. Aquele Chapéu só iria ficar resmungando? Ouviu o Chapéu dar um risadinha, e percebeu que ele provavelmente ouvira o que ela pensara. – Gostei de você, menina. Você tem qualidades que a fariam se sair bem em qualquer casa que eu a colocar... Porém, nem todas te farão crescer como bruxa e como pessoa... Eu poderia te colocar na sonserina, - Amélia sentiu um arrepio. – Mas acho que essa casa não te faria tão bem quanto deveria. Você tem muito a mostrar, mas também tem muito a aprender, e eu consigo sentir um futuro brilhante à sua frente se eu te colocar na casa certa. Por favor, algum dia me conte se eu tomei a decisão certa. GRIFINÓRIA.
Amélie com certeza não esperava por isso. Ouviu uma explosão de aplausos da mesa da grifinória, e ao levantar, olhou brevemente para os ruivos, que agora permaneciam com uma expressão genuína de surpresa em seus rostos. Aquilo com certeza fez Amélie se sentir melhor com relação a decisão do Chapéu. "Não sou uma sonserina psicótica, no fim das contas." Sorriu e, com aquele pensamento, se juntou aos seus novos colegas de casa.
-Olá! – O menino que estava à sua frente a cumprimentou, simpático. – Eu sou Olívio Wood, qual é seu nome?
-Amélie, Amélie Griffiths. – Ela respondeu, ligeiramente tímida.
-Bem vinda à Grifinória, Amélie! – Ele disse, sorrindo. – Você vai gostar bastante, é só não dar muita atenção ao chato do Charlie. – Ele disse, apontando para garoto ruivo sentando ao seu lado.
-Não dê ouvidos à ele, Griffiths. – O garoto falou, sorrindo carinhosamente, como se sentindo a apreensão dela. – Ele diz isso porque sou obrigado a dar detenções para ele e seus amigos três vezes por semana. Eu sou monitor chefe, qualquer duvida que você tiver, pode falar comigo, tudo bem?
-Tudo bem, obrigada. – Amélie falou, ficando cada vez mais a vontade. – Como é seu nome mesmo?
-Charlie, Charlie Weasley. – E Amélie tremeu de raiva ao ouvir a voz da pessoa que estava se sentando ao lado dela. – Ele é nosso irmão modelo.
-Nossa, quase tinha esquecido que vocês dois vinham esse ano para cá. – Charlie disse, visivelmente assustado. – Vieram coroar meu ultimo ano em Hogwarts, não é? Vão me fazer dar detenções em minha própria família.
-Não se preocupe, querido irmão. Vamos ter cuidado... – Um deles disse, fingindo seriedade.
-Para não sermos pegos, é claro. - O outro completou, rindo da cara de desespero do irmão mais velho. – Ah, você nos surpreendeu em menina. – Ele disse, virando-se para Amélie.
-É, quem diria que a aprendiz de sonserina psicótica no fim viraria uma grifinória psicótica! – Os dois riram e viraram para conversar com os irmãos, deixando uma Amélie irritada, e com o pressentimento de que aqueles dois ainda iriam infernizar muito sua vida.
N/A Editei esse capítulo, porque eu tinha escrito ele na pressa de uma aula, e agora acho que ficou melhor :) Espero que tenha gente gostando ^^
