Desejos para Perseidas
Naruto e seus personagens (c) Massashi Kishimoto.
Essa fic não visa fins lucrativos.
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Sakura POV
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Eu não tenho muitas lembranças da minha infância, as vezes fico imaginando se as coisas das quais me recordo realmente aconteceram ou se eu as criei, dentre várias memórias que guardo em mim, há aquelas as quais eu tenho um maior apreço.
Lembro do meu pai cortando pizza em minúsculos pedacinhos para que eu comesse, lembro também do meu primeiro dia na escola, da primeira vez que vi Sasuke e Naruto, e também da minha mãe na beira da minha cama a noite segurando um livro azul escuro cheio de figuras colorias no entanto, por mais que eu tente, eu não consigo lembrar-me do título desse livro, a história é bem comum, um menino que ficou entediado em seu planeta e decidiu viajar pelo espaço sideral e dessa forma viveu várias aventuras até que sentiu saudades de casa e voltou para lá.
Minha mãe leu essa história para mim em algum momento da minha infância, depois passou a mão em meus cabelos e por fim, um beijo na testa, e então saiu do meu quarto. Ela também faleceu antes que eu entrasse na adolescência, eu tinha apenas sete anos quando isso aconteceu.
Numa noite qualquer, minha mãe passou mal e a levamos no hospital, ela estava doente de alguma forma, e logo foi internada. Naquela época, meu pai me levou ao hospital, quando a vi deitada com um sorriso no rosto tive a impressão de que ficaria tudo bem, de que ela logo voltaria para casa. Silenciosamente, eu fui para perto da cama, ela calmamente pois a mão em minha cabeça e disse que estava com saudades. Fiquei no hospital por horas, foi quando ela me contou uma ultima história.
Num universo distante, uma menina tinha um grande sonho, ela desejava realizá-lo mais que tudo, esse desejo estava entranhado em seu coração, era profundo e denso. Um dia, enquanto viajava, viu uma estrela cadente, ela desejou realizar seu sonho, mas nada aconteceu. Ela sempre estava prestando atenção no céu, e fazia seu pedido a toda estrela cadente que via, em um momento de angustia, quando já achava que nunca iria conseguir realizá-lo, uma estrela cadente passou, e ao invés de pedir por seu sonho, ela almejou uma estrela cadente tão grande e tão densa que fosse capaz de lhe dar o que ela queria. Quase que de imediato, o céu começou a brilhar mais forte, uma chuva iluminada na escuridão começou, porém não molhava, não conseguia chegar na terra, parecia milhões de estrelas cadentes caindo ao mesmo tempo. Então ela desejou novamente, e finalmente seu desejo foi realizado.
Minha mãe nunca me disse qual foi o desejo da menina, ela falou que tal evento só realizava desejos profundos, desejos dos quais nós nem sabíamos que tínhamos, eram os desejos do coração. A menina então deu nome a essa chuva, ela a chamou de Perseidas.
É claro que isso é apenas uma história, Perseidas na verdade é uma chuva de meteoros, e seu nome foi dado porque ela passa perto da constelação de Perseu, o semi-deus filho de Zeus, tal evento magnânimo acontece uma vez a cada ano, e inspira muitas pessoas. No entanto, mesmo sabendo de tudo isso, eu sempre acreditei que quando eu visse Perseidas pela primeira vez, todos os meus desejos ocultos, todos os meus verdadeiros sonhos — inclusive aqueles que eu nem fazia idéia que eu tinha — viriam a tona, e então se realizariam.
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— Kiba-kun! — Gritei alto procurando pelo meu chefe. — Cheguei! — Passei por trás do balcão pegando meu avental, ouvi Kiba gritar em resposta um "Bem vinda". Eu sou funcionária da doceria de um antigo amigo do colégio, ele começou o seu negócio vendendo doces na escola, e quando conseguiu algum bom dinheiro, alugou um lugar e montou uma aconchegante doceria, mas logo o trabalho ficou pesado e ele não conseguiu conciliar os estudos com a loja, então largou o colégio logo no primeiro ano e se dedicou inteiramente aos doces.
Ele colocou a cabeça para fora da cozinha: — Sakura, venha aqui na cozinha, testei uma nova receita, quero que você diga se está bom. — E então se enfiou de volta nela.
— Já estou indo, deixe-me acabar de organizar aqui e já vou ai.. — A mãe do Kiba quase teve um treco quando ele falou que iria largar os estudos, e depois de muito ameaçá-lo, ele resolveu que terminaria o primeiro ano, foi quando ele me contratou para ajudar na loja.
Entrei na cozinha e ele virou-se pra mim com um pedaço de bolo num prato: — O que você está olhando? Pegue um garfo, prove!
— Calma, sem afoitamento. — Peguei um garfo e fiz o que ele me pediu, provei o tal bolo. — Ooh! Hm! O que você usou aqui? Está terrivelmente delicioso!
— É a primeira vez que escuto esse tipo de elogio.
— Terrivelmente porque eu poderia engordar de tanto come-lo! Conte-me logo, qual o ingrediente chave?
— Licor de cacau, heh. — Revelou como se fosse extremamente óbvio. Quando eu comecei a trabalhar aqui, meu salário era quase nulo, ambos trabalhávamos até tarde para compensar a manhã perdida no colégio.
— Eu nunca iria imaginar que era isso! Há, você é um gênio dos bolos! — Comentei sorrindo, e ele corou levemente. — Não seja modesto comigo ok? Vou voltar ao trabalho. — E então o deixei na cozinha, indo para o meu habitual lugar atrás do balcão.
Quando terminamos o primeiro ano, Kiba se rebelou outra vez e disse para a mãe que ia desistir de estudar de vez, que iria fazer uma espécie de supletivo e trabalharia na loja de doce em tempo integral. De novo a mãe dele teve um treco, mas o pai dele, um homem sábio, o apoiou, e aquilo foi o suficiente para que ele construísse a melhor loja de doces da cidade, sempre tínhamos muitos pedidos, Kiba sempre tinha uma receita nova, crianças adoravam os cupcakes que ele fazia, encomenda de doces para festas também não faltavam, e assim a pequena doceria Inuzuka cresceu — e o meu salário também.
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— Sakura, hoje vamos fechar cedo ok? — Informou Kiba através da janelinha.
— Eh? Porque?
— Tem muitos pedidos essa semana, não só de bolos mas de doces em geral, então você vai me ajudar aqui na cozinha pelo resto da semana, então fecharemos cedo pelo resto da semana também.
— Ah é, dia dos namorados. — Eu tinha me esquecido completamente dessa data, a loja ficava um caos na semana dos namorados, recebíamos os mais variados pedidos. — Ok, é para fechar agora?
— Ahn, não, vamos esperar mais um tempo, feche depois que nosso cliente assíduo fizer sua compra diária certo?
Olhei pro relógio e suspirei: — Certo...
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Tinham-se passado cerca de vinte minutos, uma mulher havia entrado e encomendado uma torta de coco com chocolate e uma criança entrou e paquerou nossa vitrine, levando como amostra grátis uma trufa de morango. Olhei pro relógio, e infelizmente precisávamos fechar. Comecei a serrar as cortinas, fui até a porta para trancá-la e lá estava ele, com a mão no trinco.
—Yo.
— Kakashi-sensei, pensei que não vinha hoje. — Dei um sorriso.
— Ocorreu um imprevisto. — Ele retribuiu o sorriso. — Vocês costumam fechar essa hora? Quer dizer, eu já passei mais tarde aqui e vocês estavam aberto. — Olhou o relógio no pulso.
— Ah, é que o dia dos namorados está chegando e estamos cheios de encomendas, essa semana eu vou ajudar Kiba na cozinha, então vamos fechar um pouco mais cedo. — Expliquei enquanto dava espaço para ele entrar. — Estávamos esperando você pra fechar, mas você estava demorando muito...
Ele entrou na loja e logo se dirigiu à vitrine: — Então não vou tomar seu tempo, hm... — Inclinou-se um pouco e ficou olhando atentamente para os doces.
Kakashi-sensei havia sido nosso professor — meu e de Kiba — no colégio, mas logo após terminarmos o primeiro ano, Kakashi-sensei foi convidado para lecionar numa universidade e em menos de um ano já havia se tornado sub-coordenador do curso de literatura e suas ciências.
— Kakashi-sensei! — Kiba saía da cozinha cumprimentando-o.
— Yo. — Disse levantando a mão.
No colégio, todas as meninas tinham uma quedinha pelo sensei, talvez fosse pelo jeito preguiçoso se falar, ou pelo jeito misterioso que ele demonstrava ter, ou até mesmo por ser um professor jovem mas ninguém sabia ao certo porque ele era tão popular entre as garotas.
— Ah, hm, antes que você escolha, eu gostaria que provasse uma nova receita. — Falou animado olhando para mim e depois para Kakashi.
— Claro, por favor.
Kiba correu na cozinha e ele o observou entrar para depois sorrir com os olhos para mim.
Quando Kiba abriu a doceria e Kakashi-sensei deu total apoio a ele, passava todos os dias e comprava um ou dois pedaços de bolo, e também dava uma ajuda com as notas, Kakashi se tornou uma pessoa fundamental para o que Kiba é hoje em dia, fez o que uma mãe não conseguiu fazer, acreditou e deu forças à um aluno que só precisava de mais um empurrãozinho, Kiba ficou bastante grato, e Kakashi se tornou referencia para ele.
— Hm... Isso é licor de cacau? — Perguntou colocando mais um pedaço na boca.
— Oh, você acertou! Sakura não soube nem palpitar haha.
— Em minha defesa, eu nunca provei licor de cacau, não tinha como eu saber o que era! — E fiz bico.
— Hm... Eu vou levar um pedaço desse, e um pedaço do de maçã. — E então limpou a boca e em seguida subiu a mascara.
— Essa é por conta da casa Kakashi-sensei! — Kiba deu um sorriso grato e então voltou para cozinha, eu logo fui pegando os pedaços dos bolos e embrulhando com a habilidade adquirida através dos anos.
No primeiro dia de aula no primeiro ano, quando Kakashi-sensei entrou na sala, todo mundo ficou meio esquisito. Ele parecia um ser de outro mundo, porque alem de ter chegado atrasado e ter dado uma desculpa totalmente esfarrapada — um gato subiu numa árvore e não conseguiu descer —, ter um corte de cabelo exótico e não se apresentar devidamente — ele apenas olhou para a turma e disse: "Então, vocês são os alunos? Hm... Abram o livro..." —, Kakashi-sensei fazia uso de uma máscara preta que cobria metade do seu rosto. Ninguém perguntou nada e ele também não explicou nada sobre isso, mas varias teorias surgiram, alguns disseram que ele era feio, outros que ele não tinha dentes, e houve até quem disse que ele era um E.T. e não tinha boca.
— Sensei, volte sempre! — Falei com um largo sorriso enquanto entregava a sacola com os pedaços de bolo, como de costume, ele afagou os meus cabelos e se despediu.
Quando eu vi o rosto de Kakashi-sensei pela primeira vez foi um choque. Ele era absolutamente lindo, e realmente parecia ser de outro planeta, porque ninguém no mundo poderia ficar tão bem com um corte de cabelo daqueles e com aquela expressão preguiçosa colada no rosto, no entanto, eu não entrei para o fã clube dele, eu já havia passado por experiências muito ruins com amores platônicos.
— Sakura, preciso de ajuda! — Kiba gritou da cozinha.
— Já estou indo!
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— Sakura-chan, o que você trouxe hoje? — Naruto perguntou sentando ao meu lado.
— Meu pai não teve tempo de preparar nada pra mim, então eu passei na loja e trouxe bolo. — Ergui a sacola e sorri. — E é claro que tem pra vocês dois! — Olhei pra Sasuke que acabava de chegar.
— Você não devia comer doces no intervalo. — Sasuke sentou do meu outro lado colocando uma pequena bolsa no meu colo. — Eu vou dividir com você.
Eu estudava com Sasuke e Naruto na parte da manhã, cursávamos o terceiro ano e ficávamos na mesma sala, na hora do intervalo, nós sempre almoçávamos na arquibancada da quadra, todos eram proibidos de ir ali no intervalo, mas nós dávamos um jeito, sempre fomos reservados e gostávamos de ficar apenas nós três juntos.
— Hm, você também pode pegar do meu, Sakura-chan! — Falou colocando um deposito no meu colo e eu sorri.
— Então nós vamos dividir tudo ok? — Eu abri o bentô de Naruto, tinha salmão cortado em cubinhos, creme cheese, cenoura ralada, arroz, camarões e bife refogado. — Eh, Kushina-san caprichou hein?
— Heh! — Então Sasuke enfiou os hashis dentro do bentô e pegou um cubinho de salmão com creme cheese.
— Nossa, faz muito tempo que eu não como salmão. Sua mãe se superou Naruto. — Disse com cara de satisfeito.
Nós nos conhecemos desde que nascemos, nossas mães eram muito amigas então não foi surpresa pra ninguém que ficássemos muito próximos. Algumas pessoas tinham uma idéia errada da gente, vivíamos juntos num grupo fechado e restrito, eu andava com os dois para cima e para baixo, tomávamos banho juntos — até uma certa idade é claro —, dormíamos juntos, comíamos juntos, sempre juntos.
— Hum, tá bom mesmo! — Disse depois de provar um pouco. — Vamos ver o seu agora, Sasuke-kun. — E então, eu abri a bolsinha, tinha omusubi recheado, alguns com bacon, outros com okaka.
— Oh! — Eu peguei um e dei uma mordida. — Hm, que delicia, Mikoto-san acertou em cheio, bacon! — Sasuke riu um pouco e pegou mais salmão, Naruto catou um omusubi e comeu quase que numa mordida só ao mesmo tempo em que enchia a mãe de Sasuke de elogios.
Na sétima série, eu tive uma louca paixão por Sasuke. Ele se tornou o menino mais bonito de todo o colégio, todas as meninas eram completamente apaixonadas por ele inclusive eu, mas ele não dava bola pra ninguém — pelo menos não na minha frente. Por sermos mais próximos, eu sempre brincava que nós éramos como um casal, falava que éramos feitos um para o outro, e ele apenas ria, fingindo não saber o que eu realmente queria dizer.
No final das contas, nós nunca ficamos juntos, e eu me cansei de pensar em Sasuke dessa forma, ele era o irmão que eu nunca tive, meu sentimento por ele era apenas fraternal e eu me convenci disso com o tempo. Alem disso, ainda tinha Naruto que nutria uma paixão secreta por mim desde que eu me lembro, nem eu e nem Sasuke ousaríamos feri-lo dessa maneira, estávamos bem desse jeito, uma célula de três.
O intervalo tinha acabado e nós havíamos retornado para a sala, sentávamos um ao lado do outro, começando por Sasuke na janela, eu logo após e Naruto ao meu lado. Nosso professor entrou na sala e particularmente, eu achei seu rosto um pouco macabro.
— Eu corrigi as provas de Literatura. — Ele começou com um sorrisinho cínico. — Vou entregá-las agora, então por favor façam silêncio. — Então ele começou a chamar os nomes, eu estava confiante de que tinha me dado bem, e por isso não fiquei muito preocupada mas para Naruto, parecia que o professor ia entregar um atestado de vida ou morte, eu dei uma risada com seu desespero sem nexo.
— Eu sei que Sasuke lhe passou as respostas, não precisa ficar nervoso. — Falei baixinho.
— E se estiverem erradas? E se... — Ele deu uma pausa dramática. — E se ele tiver descoberto que eu colei? — Eu cai na gargalhada.
Logo Sasuke foi chamado, e estampado em vermelho havia um dez em sua prova. Ele sorriu de canto tranquilizando Naruto, e então este foi chamado, ele se levantou como se estivesse indo de encontro a morte, mas logo relaxou quando viu um sete.
— Haha! Agora não preciso me preocupar! — Sentou-se na cadeira fazendo um barulho. — Com certeza vou ganhar meu PS Vita! — E ai estava o motivo de tanta pressão.
— Finalmente hein dobe? — Começou Sasuke. — Agora poderemos jogar juntos!
— Crianças, prefiro o 3DS... — Joguei os cabelos pra trás ao falar isso, Sasuke balançou a cabeça e comentou algo sobre eu não ter gosto pra portáteis, e Naruto concordou. Traidor.
Foi a vez do meu nome se chamado, me levantei calmamente e recebi a prova, havia um três circulado e em baixo um "Estudar mais!" sublinhado. Antes de voltar para minha carteira, falei com o professor, afirmei que devia ter algo errado, e este só me respondeu com um "Infelizmente, hein?". Viado.
— Ah, Sakura-chan, não se preocupe, você vai recuperar essa nota. — Falou Naruto dando um daqueles sorrisos que dissipavam a tristeza de qualquer pessoa.
— É, no próximo mês tem outra prova, você pode tirar uma nota melhor se estudar. — Concordou Sasuke colocando a mão no meu ombro. — Eu posso lhe ajudar se quiser, e posso lhe passar as respostas também como fiz com Naruto. — Ele olhou pra Naruto que balançou a cabeça fazendo um "sim".
— Vocês sabem que eu sou tapada com esse negócio de colar... — Suspirei pesadamente. — Eu vou tentar estudar um pouco mais, só que essa semana não vai dar pra pegar em nenhum livro...
— Hein? Porque?
— Muito trabalho.
— Você não precisa disso, não sei porque ainda fica nessa loja, Kiba pode contratar outra pessoa, você não pode se prejudicar por causa dele. — Sasuke me repreendeu como o meu pai faria se soubesse de tal nota, eu dei uma pequena risada e ele me olhou como se me censurasse.
— Calma, eu trabalho porque gosto, e Kiba é um ótimo chefe, e também tenho bolo grátis! — Sasuke balançou a cabeça negativamente. — Eu vou dar um jeito, não se preocupem.
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— Yo! — Kakashi-sensei entrou na loja com um pesado casaco preto. O inverno estava terminando, e os brotos das árvores já estavam começando a aparecer, havia sol lá fora, então me perguntei se estava tão frio assim para que ele usasse um casaco de aparência tão pesada e quente em plena tarde.
— Konnichuwa Sensei! — Fiz uma pequena saudação e ele veio diretamente para o balcão. — Na universidade é frio sensei? — Ele arqueou uma sobrancelha, talvez eu tenha sido petulante. Talvez.
— Um pouco. — Ele deu os ombros. — Ainda é inverno afinal.
— Hm... — Resmunguei enquanto ele olhava para a vitrine de doces. — Hoje eu recomendo o de nozes, está divino. — Ele disse algo como "Nozes não.." num sussurro baixo, como se fosse uma criança manhosa implorando timidamente a mãe para que não o forçasse a comer verduras. Fofo. As vezes eu conseguia presenciar esses momentos raros onde Kakashi-sensei parecia extremamente afável.
Esperei pacientemente que ele escolhesse alguma coisa, quando de súbito ele olhou para mim, senti-me corar com o olhar súbito sobre mim. — Eh... Vou levar um de nozes mesmo... — Falou como se não houvesse nenhuma outra boa opção.
— Tem certeza? — Perguntei sugestivamente e ele confirmou com a cabeça, um tanto incerto. Eu embalei a fatia do bolo e logo lhe dei uma sacola, ele agradeceu com um afago em meus cabelos, então como um estalo, uma ideia veio a minha mente.
— Kakashi-sensei! — Eu sai de trás do balcão apressadamente e fiquei frente a ele. Kakashi me olhou um tanto curioso, então continuei. — Sensei, eu queria lhe pedir algo! — Encolhi-me com um sorriso frouxo no rosto, ele apenas arqueou a sobrancelha e falou um "continue." sendo solícito. — Eu tirei uma nota ruim num teste de literatura, e como você já foi meu professor, então eu pensei que você... Ahn... Se puder e tiver tempo também, me ajudaria com a matéria.
Kakashi-sensei já tinha sido meu professor e sabia que eu não era uma aluna ruim, na verdade ele sabia que eu sempre tirei excelentes notas e sempre fui uma das melhores da turma, sabendo disso ele também entendia que eu tinha outros compromissos fora a escola, outras responsabilidades, e que eu não pediria a ajuda dele em vão. Seria ótimo se ele se dispusesse a ensinar-me a matéria para a próxima prova.
Ele me olhou atentamente, eu me curvei levemente fazendo uma reverencia para intensificar o meu pedido, e então eu ouvi um suspiro pesado. — Ok, é claro que eu vou lhe ajudar. — Por um minuto eu pensei mesmo que ele ia dizer não. — Quais dias você tem em mente para nossas aulas?
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Eu estava jogada na minha cama com o cabelo totalmente encharcado depois de um longo banho quente e relaxante, aos poucos meu travesseiro ia absorvendo a umidade do meu cabelo ficando completamente molhado, mas eu não me importei, ainda não tinha vestido um short para dormir, estava apenas com um blusão que Sasuke havia esquecido aqui, e é claro que eu estava com as minhas roupas intimas.
Meu celular piscou seguido de um beep. Olhei a tela, era um alerta do What'sUp, Sasuke e Naruto conversavam deliberadamente enquanto eu tomava banho. Acessei o aplicativo e logo dei uma conferida na conversa, o assunto começou em jogos, passou por comida, entrou no quesito festas, voltou para comida, e agora falavam sobre mim.
"Haruno S. says: Hein? O que vocês estão falando sobre mim?". Digitei rapidamente e logo enviei, alguns segundos depois a tela era atualizada.
"Uzumaki N. says: Muitas coisas!".
"Uchiha S. says: Achamos uma má ideia você ter aulas particulares com Kakashi-sensei.". Arqueei uma sobrancelha ao ler.
"Haruno S. says: Como assim?".
"Uzumaki N. says: Você vai ficar na casa dele, umas três vezes na semana, a noite, só com ele.".
"Uchiha S. says: Exatamente por isso.".
"Haruno S. says: Eu vou ESTUDAR com ele, vai ser bom."
"Uchiha S. says: Você poderia estudar comigo, eu disse que lhe ajudaria.".
"Haruno S. says: Kakashi-sensei é um profissional, o que eu aprenderia com você em uma hora, o Sensei me ensinaria em quinze minutos. Por deus, eu preciso tirar uma nota boa, vocês podem parar de pensar besteiras?". Bufei.
"Uzumaki N. request a file transfer.".
"Uchiha S. says: Só estou preocupado com a sua integridade.".
"Uchiha S. accepts the file.".
"Haruno S. accepts the file.". Suspiro pesadamente, Naruto havia enviado uma foto do lamém instantâneo que estava comendo.
"Uchiha S. says: Idiota.".
"Haruno S. says: Sasuke, apenas aceite, e depois dessa foto eu vou dormir, boa noite, até amanhã!".
"Uchiha S. says: Ok. Pense no que eu disse.".
"Uzumaki N. says: Sábado nós podíamos dormir na casa do Sasuke, não é Teme?".
"Haruno S. is offline.".
Larguei o aparelho em cima da mesa de cabeceira, e me aconcheguei na minha cama, o cobertor macio agraciava minha pele com o seu calor acolhedor, com os olhos fechados, minha mente começou a processar a curta conversa sobre Kakashi-sensei. Ele era bonito, misterioso, uma boa pessoa, tinha uma personalidade agradável — pelo menos era isso que dava a entender — mas com certeza Kakashi-sensei e eu teríamos algo dessa magnitude. Eu era uma aluna do ensino médio, inexperiente, com poucos atrativos físicos, ele com certeza jamais me veria de tal forma, eu era insignificante para ele nesse aspecto.
Suspirei, minha mente falhava, eu estava começando a pegar no sono, pensei mais um pouco sobre Kakashi-sensei, sobre como ele era bonito e tinha qualquer mulher aos seus pés, e algo nisso me incomodou, mas antes que eu pudesse negar isso com todas as minhas forças, eu havia caído no mais doce sono.
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A vida era feita de coincidências, disso eu não tinha dúvidas. Naquela tarde, Kakashi-sensei havia me informado seu endereço, me explicando calmamente como chegar lá, o engraçado foi que ele morava no mesmo prédio que Sasuke e era obvio que nenhum dos dois sabia desse fato. Sasuke morava na cobertura enquanto o sensei morava no quinto andar, se Sasuke soubesse daquilo, provavelmente iria aparecer no apartamento dele quando eu estivesse lá.
Entrei no prédio e o porteiro me cumprimentou, perguntei casualmente se Kakashi-sensei estava em casa — só por precaução. Entrei no elevador e apertei o botão para o quinto andar. O prédio era bem bonito, tinha sido construído à uns três anos, tinha uma bela vista para o mar, ficava numa rua calma e bem perto da parte agitada da cidade, era um ótimo local para se morar.
Toquei a campainha e esperei. Por trás da porta eu podia ouvir o barulho oco de passos se aproximando, e então a porta se abriu, ele estava descalço e sem camisa, com uma bermuda verde-musgo, tinha um pano de prato jogado em cima do ombro, sua habitual máscara estava cobrindo seu rosto. Ao me ver arqueou uma sobrancelha, e eu corei. Nunca havia visto Kakashi com tão pouca roupa, sempre o via na companhia de peças grandes e escuras, então nunca tive uma noção do tipo de corpo que ele tinha.
— Yo. — Eu ainda continuava analisando-o, ele era magro e forte, tinha ombros largos, eu consegui ver leve gominhos no seu tórax definido e acabei me perguntando se ele fazia algum tipo de exercício físico nas horas vagas.
— Konbawa Sensei. — Falei tentando manter um tom descontraído, ele continuou me olhando, talvez me analisando assim como eu estava fazendo com ele, afinal sempre que me via eu estava com um uniforme do colégio e com um avental na cintura.
Ele passou a mão pelos cabelos e então me deu passagem, eu entrei tirando os sapatos e logo estava na sala, tinha uma enorme TV pendurada numa parede, de um lado tinha uma porta de vidro coberta displicentemente com uma cortinha branca, tinha um sofá gigantesco e uma mesinha de centro perdida na imensidão dos outros móveis.
— Bonita casa. — Comentei educadamente, ele falou algo como "faço o que posso" e então me disse para sentar. O observei ir para a cozinha, notei suas costas largas desaparecerem pelos cômodos, quando voltou estava usando uma camisa azul-escuro de gola larga que tinha estampado em branco "X SEMANA DE LITERATURA MODERNA", um evento da universidade imaginei. Também estava segurando um livro fino de capa amarela, e imediatamente sentou-se ao meu lado.
— Então, o que vamos estudar querida? — Perguntou olhando para mim.
— Ahn, pré-modernismo.
— Certo... — Então ele começou a folhear o pequeno livro.
Ele começou a me falar de como estava a situação do Japão nessa época, como a literatura ocidental influenciou os autores japoneses, também falamos do crescimento da capital e coisas desse tipo, uma aula introdutiva, longa, cheia de curiosidades e fatos revolucionários, parecia uma conversa casual, onde debatíamos tais questões como se eu também fosse fluente no assunto, então ele se espreguiçou.
— Bem... — Ele deu uma olhada no relógio. — Que tal fazermos uma pausa? — Confirmei com a cabeça, então ele se levantou e voltou com duas chá. — Estava fazendo antes de você chegar, ainda está quente. — Beberiquei, realmente ainda estava quente. Ele ligou a TV e sentou-se ao meu lado, de imediato passava um documentário sobre pandas na Discovery.
— Gosta de documentários? — Eu perguntei enquanto o narrador dizia algo sobre a alimentação deles.
— Só daqueles que são narrados por atores ou cantores famosos. — Informou mudando de canal. Cartoon Network.
— Ben-10? — Dei uma pequena risada. — Você gosta de desenhos sensei?
— Imaginei que fosse isso que você assistisse nas horas vagas... — Eu ri, estiquei a mão em direção a ele.
— Eu não sou uma criança Kakashi-sensei! — Bufei indignada, ele me entregou o controle relutante, eu coloquei no Comedy Central, estava passando South Park. — Já viu ?
— Seu pai deixa você assistir isso? — E então olhou para mim com uma sobrancelha arqueada, eu gargalhei.
— Eu já falei, eu não sou uma criança! — Completei com uma piscadela, ele continuou me encarando com um olhar analítico, mais afiado, tentando descobrir algo.
— Certamente você não se parece com uma. — Falou com um tom diferente do habitual, era um pouco intimidador. Eu senti meu sangue subir, sabia que estava corando lentamente e tentei manter total controle, então eu vi a mão dele pousar em minha cabeça, me fazendo um carinho inocente. — Mas com certeza pensa como uma. — Minha face ficou ainda mais vermelha.
O resto da noite foi bem agradável, ficamos tão entretidos com a TV que esquecemos de terminar o assunto. Meu celular fez um beep, indicando que havia uma mensagem não lida, era Sasuke perguntando se eu estava em casa, não respondi. Olhei a hora e constatei que já era hora de voltar para casa, Kakashi-sensei se ofereceu para me levar em casa alegando estar muito tarde para eu voltar sozinha, eu insisti em ir só, e depois muito protelar ele se redeu com a promessa de que eu o ligasse quando estivesse em casa.
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Cheguei em casa e cumprimentei meu pai que estava na sala rodeado de papeis, ele fazia análise de investimentos para uma grande empresa, então vivia trazendo trabalho para casa. Fui direto para o meu quarto, respondi a mensagem de Sasuke com "estava no banho, até amanhã!" e então liguei para Kakashi-sensei.
"— Alô?"
"— Kakashi-sensei? É a Sakura." Informei gesticulando para a janela.
"— Já está em casa?"
"— Sim, cheguei quase agora. Então..." Eu não sabia mais o que dizer, era um daqueles momentos desconfortáveis que você quer dizer algo mas não sabe o quê.
"— Tudo bem, então tenha uma boa noite, até amanhã." Ele falou despreocupadamente.
"— Certo, você também... Até depois Kakashi-sensei, e.. Ahn, obrigada pela aula." Ouvi uma pequena risada.
"— Não, eu que agradeço pela companhia Sakura." E sem perceber, eu corava. "— Sakura?"
"— Ahn, oi. Desculpe, tenho que desligar. Tchau Kakashi-sensei."
"— Tchau, durma bem." Então desligamos.
Fiquei alguns minutos olhando pela janela e quase de imediato meu pensamento foi até Kakashi-sensei. Tínhamos passado uma noite bastante agradável, ele tinha me visto gargalhar como uma louca assim como eu o vi dando pequenas risadas, nada muito exagerado. Ele tinha me observado a noite toda e provavelmente achou que eu não tinha percebido, eu tinha notado o seu belo sorriso que sempre esteve escondido por uma máscara, e antes que percebesse eu também estava sorrindo.
E no segundo seguinte eu estava me forçando a tirar Kakashi-sensei do pensamento, mas sua voz insistia em ecoar na minha cabeça, a forma com que chamava meu nome, e o mais estranho era eu já havia ouvido varias vezes. Pulei na cama e enfiei a cabeça no meio dos travesseiros "Sakura. Sakura.", eu ouvia sua voz.
O que eu não sabia era que eu estava correndo um grande perigo.
O maior perigo de todos.
Me apaixonar.
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Bentô: Marmita japonesa / Omusubi: Bolinho de Arroz / Okaka: Flocos de peixe com shoyu / Ohayo: Bom dia / Konnichuwa: Boa tarde / Konbawa: Boa noite .
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Oii gente!
Espero que tenham gostado de Desejos para Perseidas.
Essa fic me veio a cabeça enquanto eu estava assistindo um documentário na Discovery, então daí o nome.
Pretendo narrar essa fic de acordo com meu bel prazer, isto significa que o ponto de vista da Sakura não será o único a ser trabalhado, os personagens vão narrar os capítulos de acordo com a necessidade de desenvolvimento da história.
Eu demorei muito para fazer esse primeiro capítulo, e estou satisfeita com ele, infelizmente eu não vou dar previsões para a postagem do próximo capítulo, porque eu fico muito estressada com os prazos e eu quero escrever com toda a calma do mundo.
Enfim... Demonstrem suas espectativas, critiquem, elogiem, deliciem-se, mandem uma review! Incentivar o autor é o método mais eficaz de motivação já conhecido, é como a formula matemática onde: Capítulos Lançados com Frequencia (CLF) é diretamente proporcional a Reviews (Rw). *lê viagem*
É isso gente, espero ter muita companhia na doce viagem por Perseidas,
beijos,
Loreyu.
