Rapunzel gritou e fechou seus olhos, quando uma estaca de gelo veio em sua direção e por um momento pensou que fora atingida.
— Queira se retirar, Rapunzel. Eu e a rainha iremos resolver alguns assuntos particulares — disse para a criada assustada, que percebera que havia uma barreira de gelo a sua volta. Sua voz era carregada de sarcasmo. O Rei sempre imponente com sua pose, jogou seus cabelos brancos para trás e tirou a capa que sempre vestia.
— Vossa Majestade, se me permite. Acho que poderiam resolver esse assunto mais tarde… Quando estiverem mais calmos… — sugeriu, trêmula.
— Iremos resolver isso agora, Rapunzel. Jack já disse para se retirar. O que ainda faz aqui? — A rainha estava fria, tão como seu coração. Sua postura era felina, parecia pronta para o ataque. Por um momento, a loira assustada pensou como pareciam elegantes em sua postura real e suas roupas bordadas, mesmo quando usavam seus dons.
Apressado a mordoma deixou o cômodo, correndo por entre os corredores até esbarrar em alguém, caindo no chão logo em seguida.
— Rapunzel? — A criada olhou para cima e viu um par de olhos esmeralda a encarando. — Estás bem? Para qual razão corres tanto?
A loira que sempre mantém um sorriso em seus lábios, chorava assustada. Atrás do jovem de cabelos castanhos, uma ruiva vestida com uma armadura completa vinha correndo com uma espada na mão.
— Hiccup, eles estão brigando — a expressão no rosto do rapaz passou de leve a preocupado. — E-e dessa vez é diferente, eles estão brigando com os dons deles — sussurrou a última parte como se fosse algo proibido a dizer.
— Onde eles estão? — Rapunzel olhou assustada para a General do Exército. — ONDE ELES ESTÃO? — Repetiu a pergunta chacoalhando a loira.
A ruiva tirou as mãos de Hiccup da criada, jogou-o na parede e lançou lhe um olhar raivoso. Ele devolveu um olhar triste.
— Controle-se, Hiccup. A criada está assustada, temos sorte que não entrou em pânico — soltou o jovem de sedosos cabelos castanhos. — Além, de que é óbvio por que estão brigando — desdenhou, magoada.
Hiccup iria responder a General se não fosse o estrondo que ouviram na Sala do Trono. Antes que percebesse, já estava correndo tão veloz, quanto suas pernas permitiam. O palácio nunca pareceu tão grande e os corredores nunca pareceram tão pequenos.
— Não, não, não — sussurrava para si mesmo enquanto via a porta ficar cada vez mais perto, estendendo sua mão para conseguir tocar. Ouvia passos o seguindo, mas ignorou tudo. Seu objetivo era alcançar a porta. Morreria por isso.
Quando perto o suficiente, empurrou a porta com todas forças. Seus olhos se arregalaram de terror, enquanto lágrimas brotavam. Suas pernas fraquejaram, enquanto desejava ter chagado mais cedo.
— Jack? Elsa? — Ele deslizou no chão para o lado de seus corpos caídos, banhados em sangue com uma estaca de gelo enfiada em cada um.
Jack e Elsa estavam de mãos dadas, quando ouviram seus nomes abriram os olhos e sorriram para Hiccup.
— Hey, Hiccup — Jack tossiu sangue logo após, tentou falar mais alguma coisa, mas não achou sua voz.
— Fique quieto somente uma vez, Jack — a Rainha reprendeu com a voz fraca, mas sorrindo, levou sua mão para o rosto do castanho. — Oh, Hiccup, nós não temos muito tempo, entende?
— Não digas bobeiras, Elsa. Irei salvá-los — pegou a mão da loira que passava por seu rosto.
— Não sejas bobo, Hiccup — o jovem virou para o Rei, que limpava o sangue em sua boca com a manga de sua camisa. — Nem todos os finais são felizes, porém saibas que não me arrependo do que fiz e vivi com você. Negaria um último beijo?
— Que pergunta tola, Jack. Nunca negaria nada ao meu amor.
Ele inclinou a cabeça para perto do albino, deixando a mão da loira e lhe deu um beijo, conseguia sentir um gosto metálico em sua boca. Ao se separar, Jack sorriu e fechou os olhos. Parecia dormir.
— Parece que Jack já foi. Olhe a felicidade em que partiu, Hic… Obrigado por ter entrado em nossas vidas, você trouxe cor e calor ao cinza congelado que estávamos acostumados. Shiu…! Não chore, meu amor. Nós amamos você.
— Eu não conseguirei viver sem vocês. Eu sou egoísta, Elsa. Eu roubei Jack de você e lhe roubei de Jack. Como agora conseguiria ficar sem os dois? — Elsa aquele ponto já chorava. — Não me deixe, por favor. Eu não vou aguentar. Eu amo tanto vocês.
— Te entreguei meu coração pela sua coragem e valentia, não pode simplesmente acabar com sua preciosa vida por nós dois. Fomos burros o suficiente para acabar com a nossa. Se houver um outro lado, Hiccup, não quero lhe ver lá tão cedo. Jack e eu estaremos te aguardando no momento certo. — E dessa vez, quem tossiu sangue foi a Rainha. — Merida?
— A suas ordens, minha rainha — disse e prestou continência, olhando para frente.
— Ora, Merida, então hora final usas de tais formalidades? — Elsa riu, mas acabou se engasgando com o sangue e desistiu de rir. — Sei o quanto amas Hiccup — a ruiva olhou nos olhos da rainha, temerosa —, é perceptível, minha cara. Mas nunca faltou com lealdade a nós, por isso colocamos-lhe no posto de General. Por isso, na minha morte, peço mais uma vez a sua lealdade. Não deixe Hiccup se matar. Por favor, me prometa isso — a General fez sua expressão mais séria e confiante.
— Eu prometo, Vossa Majestade. Darei a minha vida, se for preciso.
A Rainha sorriu, grata.
— Não se esqueça de dizer a minha irmã o quanto a amo — voltou seus olhos ao jovem a sua frente. — Estou indo, Hic.
Hiccup se aproximou e lhe deu um beijo apaixonado e desesperado. Quem ligava para o sangue quando o outro amor de sua vida estava partindo?
— Te amo, sim? — Elsa sorriu e logo depois fechou os olhos, respirando pela última vez.
— Elsa, Jack, eu prometo irei encontra-los aonde quer que vocês renasçam, quero mais que tudo estar ligados a vocês por toda a eternidade. — E Hiccup chorou como nunca alguém havia presenciado, afinal não era qualquer um que encontrava duas vezes o amor e o perdia de uma só vez.
